Deputado afirma que Luis Miranda gravou conversa com Bolsonaro
10 de julho de 2021 | 00h27
BRASÍLIA - O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) afirmou nesta sexta-feira, 9, que foi gravada a conversa entre o deputado Luis Miranda (DEM-DF), o servidor público Luis Ricardo Fernandes Miranda e o presidente Jair Bolsonaro, no dia 20 de março. Em uma publicação no Twitter o petista escreveu que "são 50 minutos de muita informação e baixaria". A pessoas próximas, Pimenta disse que Miranda exibiu um trecho da gravação a um grupo restrito de parlamentares, em Brasília.
Auxiliares de Bolsonaro têm certeza de que existe esse áudio e temem os desdobramentos da crise. Segundo o site O Antagonista, o presidente não teria mencionado apenas o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), como responsável pelo esquema de corrupção que envolveu o contrato de compra da vacina indiana Covaxin. O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), e o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas, também teriam sido citados. Os três formam o núcleo do Centrão, bloco que sustenta Bolsonaro no Congresso.
Impeachment parece descer sobre Brasília, mas as aparências enganam
Demétrio Magnoli
Sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em geografia humana pela USP. / o globo
Nuvens de chumbo. As taxas de aprovação de Bolsonaro desabaram para 25%, enquanto a alta finança e o agronegócio finalmente abandonam o presidente. O cerco se fecha no Congresso, com a CPI da Covid, e nas ruas, com manifestações em plena pandemia. A sombra do impeachment parece descer sobre Brasília. Aqui, porém, vale o mais clássico dos chavões: as aparências enganam.
Impeachment exige, além de crimes de responsabilidade, que não faltam, um alto nível de consenso político e social. Consenso político: a ruptura de uma expressiva maioria parlamentar com o Planalto. Consenso social: o rechaço majoritário à figura do presidente, expresso não só em sondagens de opinião mas em massivas mobilizações populares. As duas precondições estão ausentes do cenário.
Na sua primeira etapa, a CPI da Covid documentou a extensa coleção de crimes do governo federal contra a saúde pública. Normalmente, CPIs têm a missão de desvendar mistérios. No caso da CPI em curso, não havia mistério: à luz do dia, o governo federal deixara a nação à mercê da pandemia, agravando desastrosamente a crise sanitária. A tarefa dos senadores circunscrevia-se à coleta de provas dos crimes cometidos pelo presidente e por seu círculo próximo.
A missão foi cumprida --mas, no lugar de um relatório devastador, base política e jurídica para o impedimento presidencial, a CPI desviou-se para um labirinto de investigações sobre obscuros esquemas de corrupção na aquisição de vacinas. O novo foco a converte em ferramenta de uma estratégia eleitoral. Renan Calheiros desempenhou papel crucial na reorientação, o que nada tem de casual.
A corrupção é a nota musical perene da vida política nacional desde a redemocratização. Hoje, a troca do foco do crime maior, contra a saúde pública, pelo menor, as artimanhas corruptas que cercam o contrato da Covaxin, atende aos interesses da campanha lulista. Até 2003, o PT exibia-se como o partido dos diferentes: uma ilha de santidade em meio ao oceano da depravação. Depois dos traumas do mensalão e do petrolão, inverteu seu discurso, passando a apresentar-se como o partido dos iguais: não somos nem mais nem menos corruptos que os outros.
Sob essa ótica, a CPI está destinada a marcar a testa de Bolsonaro com o sinete da corrupção. Seu relatório final, adiado para as calendas, não servirá para gerar a ruptura entre o Congresso e o Planalto, mas para sustentar um álibi eleitoral.
As ruas também não são o que parecem. Sob a direção de partidos e movimentos que orbitam ao redor do lulismo, as manifestações antibolsonaristas são esculpidas de forma a evitar a unidade. É por esse motivo que, ao lado da bandeira do impeachment, os organizadores erguem estandartes contra a "política neoliberal" e as privatizações.
Vivian Mendes, da coalizão Povo na Rua, explicita a rejeição à tática de frente única: "Nós trabalhamos para que as forças de direita não tenham voz nas ruas. A rua é de todos, mas vamos nos esforçar para que elas não tenham fala ou protagonismo". Tradução: os protestos de rua devem preparar a campanha eleitoral, cristalizando a polarização entre Bolsonaro e Lula.
A operação de mobilização limitada funciona. As manifestações são suficientemente amplas para produzir impacto político, mas permanecem restritas o suficiente para não precipitar um desenlace indesejado. O que se pretende não é impedir o presidente, mas sitiá-lo na sua casamata de Brasília até o dia do voto.
O interesse nacional é remover um presidente catastrófico, que rendeu a nação ao coronavírus e, ameaçando a democracia, planeja contestar sua inevitável derrocada eleitoral. O interesse da esquerda lulista, por outro lado, é prolongar a tragédia para retornar ao governo no turno inicial das eleições. A falência do chamado "centro" político assegura o triunfo do segundo sobre o primeiro.
Um dia após ameaça de Bolsonaro contra eleições, Arthur Lira critica 'oportunismo'
10 de julho de 2021 | 11h27
Atualizado 10 de julho de 2021 | 12h08
BRASÍLIA – Um dia após declarações do presidente da República Jair Bolsonaro suscitar nova ameaça à democracia e desencadear fortes reações no Congresso e Judiciário, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado do governo, fez declarações sobre a força das instituições, oportunismo e responsabilidade dos membros de poderes nas redes sociais. Sobre as eleições de 2022, o deputado afirmou ainda que o eleitor é quem dará o veredito. Além de Lira, um grupo de oito dirigentes partidários divulgou uma nota em defesa da democracia e dizem que nenhuma forma de ameaça a ela "pode ou deve ser tolerada".
“Nossas instituições são fortalezas que não se abalarão com declarações públicas e OPORTUNISMO. Enfrentamos o pior desafio da história com milhares de mortes, milhões de desempregados e muito trabalho a ser feito. Em uma hora tão dura como a que vivemos hoje, saibamos todos que o Brasil sempre será maior do que qualquer disputa política. Tenhamos todos, como membros dos poderes republicanos, responsabilidade e serenidade para não causar mais dor e sofrimento aos brasileiros”, escreveu Lira no Twitter, neste sábado, 10.
O tom das declarações de Lira é mais ameno do que o repúdio demonstrado pelos seus demais colegas às falas do chefe do Executivo, depois que, na sexta-feira, 9, Bolsonaro subiu o tom e chamou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, de “imbecil” e “idiota”. Integrantes da cúpula dos Poderes fizeram questão de condenar publicamente a atitude, considerada golpista, e só aventada por quem é “inimigo da Nação”.
Alvo dos xingamentos, Barroso divulgou uma nota na qual destaca que a tentativa de impedir as eleições configura “crime de responsabilidade”, primeiro passo para a abertura de um processo de impeachment contra o chefe do Executivo. Ao Estadão, o presidente do TSE afirmou que pode assegurar a disputa de 2022. “Eu não paro para bater boca. Cumpro o meu papel pelo bem do Brasil. Mas eleição vai haver, eu garanto”, afirmou Barroso, que também integra o Supremo Tribunal Federal (STF).
Eleito presidente do Senado com o aval do Palácio do Planalto, assim como Lira, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) se distanciou afirmou que não aceitará retrocessos ao estado democrático de direito. Foi também uma resposta às últimas manifestações das Forças Armadas.“Todo aquele que pretender algum retrocesso ao Estado democrático de direito, esteja certo, será apontado pelo povo brasileiro e pela história como inimigo da Nação”, afirmou Pacheco. “As eleições são inegociáveis”, afirmou Pacheco.
As declarações de Bolsonaro na sexta-feira vieram na esteira da iminência da mudança constitucional para a adoção do voto impresso ser derrotada na Câmara. Ainda no Twitter, Lira falou sobre o papel da Casa presidida por ele ser um espaço para diálogo.
“A Câmara avançará nas reformas, continuará a ser o poder mais democrático e plural do país e não se deixará levar por uma disputa que aprofunda ainda mais a nossa crise. A Câmara será sempre a voz de um povo livre e democrata e sempre estará pronta para ajudar o Brasil a continuar a crescer e se encontrar com seu destino de país desenvolvido e socialmente justo”, disse.
O presidente da Câmara também citou as eleições. “Deixemos que o eleitor tenha emprego e vacina, que deixe o seu veredito em outubro de 2022 quando encontrará com a urna; essa sim, a grande e única juíza de qualquer disputa política. O nosso compromisso é e continuará sendo trabalhar pelo crescimento e a estabilidade do país”, escreveu.
Dirigentes partidários
Presidentes de oito partidos da chamada terceira via também divulgaram uma nota em defesa da democracia e do direito do voto após as declarações do presidente Bolsonaro. Na nota, os dirigentes, incluído o do ex-partido de Bolsonaro, o PSL, ameaçam fazer oposição ao governo.
“Quem se colocar contra esse direito (eleições) de livre escolha do cidadão terá a nossa mais firme oposição”, dizem os presidentes de partidos ACM Neto (DEM), Baleia Rossi (MDB), Bruno Araújo (PSDB), Eduardo Ribeiro (Novo), José Luiz Penna (PV), Luciano Bivar (PSL), Paulinho da Força (Solidariedade) e Roberto Freire (Cidadania).
Na nota, os presidentes de partidos falam também sobre a democracia. “A Democracia é uma das mais importantes conquistas do povo brasileiro, uma conquista inegociável. Nenhuma forma de ameaça à Democracia pode ou deve ser tolerada. E não será. Nas últimas três décadas, assistimos a muitos embates políticos, tivemos a sempre salutar alternância de Poder, soubemos conviver com as diferenças e exercer com civilidade e responsabilidade o sagrado direito do voto”, escrevem.
Seis desses mesmos dirigentes compõem o grupo de 11 signatários de uma carta contra a adoção do voto impresso, proposta em discussão na Câmara. Na nota deste sábado, 10, eles reafirmaram a confiança no sistema atual de votação.
“Temos total confiança no sistema eleitoral brasileiro, que é moderno, célere, seguro e auditável. São as eleições que garantem a cada cidadão brasileiro o direito de escolher livremente seus representantes e gestores. Sempre vamos defender de forma intransigente esse direito, materializado no voto.”
Assinam o documento:
- ACM Neto (Democratas);
- Baleia Rossi (MDB);
- Bruno Araújo (PSDB);
- Eduardo Ribeiro (Novo);
- José Luiz Penna (PV);
- Luciano Bivar (PSL);
- Paulinho da Força (Solidariedade);
- e Roberto Freire (Cidadania).
Leia abaixo a íntegra da nota.
"A Democracia é uma das mais importantes conquistas do povo brasileiro, uma conquista inegociável.
Nenhuma forma de ameaça à Democracia pode ou deve ser tolerada. E não será.
Nas últimas três décadas, assistimos a muitos embates políticos, tivemos a sempre salutar alternância de Poder, soubemos conviver com as diferenças e exercer com civilidade e responsabilidade o sagrado direito do voto.
Temos total confiança no sistema eleitoral brasileiro, que é moderno, célere, seguro e auditável.
São as eleições que garantem a cada cidadão brasileiro o direito de escolher livremente seus representantes e gestores.
Sempre vamos defender de forma intransigente esse direito, materializado no voto.
Quem se colocar contra esse direito de livre escolha do cidadão terá a nossa mais firme oposição."
O Fanfarrão Omar Aziz nos estertores da morte política
Consta que o fanfarrão senador Omar Aziz (que vive os estertores de sua morte política, eis não se elege nem para síndico em Manaus, segundo informações oriundas de amazonenses), resolveu, num ato de pura bravata, mandar prender o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias.
Tudo porque este não deu sustentação à falsa narrativa pretendida pelo presidente da CPI do Circo.
A bem da verdade o senador experimenta uma espécie de "Canto do Cisne" (contava-se que o cisne, ao pressentir a chegada da morte, cantava uma belíssima canção de despedida de sua existência).
Importante lembrar que sua esposa (Nejmi Aziz) e seus três irmãos Murad, Amin e Mansur Aziz, foram presos por graves indícios de desvios de recursos públicos; Omar só não foi preso em razão de seu mandato no Senado.
Prisão por prisão, o placar está em 4 X 1, sendo 4 as prisões decretadas contra os Azizes e 1 a prisão da pantomima da CPI do Circo.
Se recorrer ao VAR, o placar passa para 5 x 1, com a prisão do próprio Omar, que prefere andar por MAUS CAMINHOS.
O Jornal da Cidade Online é hoje uma voz em defesa da nossa pátria.
Covid-19: Brasil tem mais de 19 milhões de casos acumulados
O Brasil passou de 19 milhões de casos confirmados de covid-19 desde o início da pandemia. Nas últimas 24 horas, foram registrados 57.737 novos diagnósticos da da doença e, com isso, o total de pessoas infectadas desde fevereiro do ano passado chegou a 19.020.499. Ontem (8), o número estava em 18.962.762.
Ainda há 1.009.534 casos em acompanhamento, situação das pessoas cuja condição de saúde é observada por equipes de saúde e que ainda podem evoluir para diferentes quadros, inclusive graves.
Já o número de vidas perdidas para a pandemia alcançou 531.688. Entre ontem e hoje, as autoridades de saúde confirmaram 1.509 novas mortes por covid-19. Ontem, o painel de informações da pandemia estava em 530.179.
Ainda estão em investigação 3.515 falecimentos . O termo designa mortes com suspeitas de que podem ter sido causadas por covid-19, mas com origem ainda sendo analisada por equipes de saúde.
O número de pessoas que se recuperaram da covid-19 somou 17.479.277.
Os novos dados estão na atualização diária do Ministério da Saúde divulgada nesta sexta-feira (9), que consolida informações levantadas pelas secretarias estaduais de Saúde.
Estados
O balanço diário do Ministério da Saúde também traz os dados por estado. São Paulo é o que registra mais mortes por covid-19 (131.960), seguido pelo Rio de Janeiro (56.559), por Minas Gerais (47.756), pelo Rio Grande do Sul (32.142) e pelo Paraná (32.211).
Os estados com menor número de mortes pela doença são o Acre, com 1.764; Roraima, com 1.778; Amapá, com 1.865; Tocantins, com 3.301; e Alagoas, com 5.483.
Vacinação
Conforme o painel do Ministério da Saúde sobre a operacionalização da campanha de imunização contra a covid-19, até o momento foram distribuídas 147,3 milhões de doses às unidades da federação.
No total, foram feitas 112,774 milhões de aplicações de vacinas, sendo 82,8 milhões da primeira dose e 29,9 milhões da segunda e da dose única.
Edição: Nádia Franco / AGÊNCIA BRASIL
Estudo mostra que desigualdade na Região Metropolitana do Rio é igual à do Nordeste
Selma Schmidt e Arthur Leal / O GLOBO
RIO — Quando o assunto é desigualdade de renda nas metrópoles, o Nordeste e o Rio têm muito em comum. Um abismo que foi agravado pela pandemia de Covid-19. Pesquisa feita pelo Observatório de Metrópoles, em parceria com a PUC do Rio Grande do Sul e o Observatório da Dívida Social, revela que os 10% mais ricos da Região Metropolitana do Rio tiveram uma renda média per capita, no primeiro trimestre deste ano, 74,6 vezes maior que os 40% mais pobres e que ganham até um quarto do salário mínimo (R$ 275). Uma relação que era de 35,6 vezes em igual período de 2020.
Vulnerabilidade social: Movimentos de combate à fome ressurgem no Rio durante a pandemia da Covid-19
No primeiro trimestre deste ano, os mais pobres tinham renda média de R$ 96,8, e os mais ricos, de R$ 7.271 no Rio. No ranking da desigualdade, a Região Metropolitana do Rio — inclui 22 municípios entre eles o do Rio e os da Baixada — só perde para a de João Pessoa, na Paraíba: lá, quem está no topo da pirâmide tem rendimento 99,9 vezes superior aos dos mais carentes. O levantamento foi feito com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad trimestral), realizada pelo IBGE.
Para o economista Marcelo Ribeiro, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da UFRJ e pesquisador do Observatório das Metrópoles, um dos coordenadores do estudo, o alto grau de informalidade explica a posição da Região Metropolitana do Rio:
— O Rio de Janeiro está com o patamar de desigualdade semelhante ao do Nordeste, principalmente ao de João Pessoa e Recife, apesar de sua maior complexidade econômica. Isso porque boa parte das suas atividades econômicas são precárias, oferecendo um nível de remuneração muito baixo. São atividades informais, como a de camelôs. Uma das coisas que se observa ainda que é, durante a pandemia, o aumento da desigualdade do Rio se dá, principalmente, pelo fato de as pessoas de baixa renda terem perdido muito rendimento. E essa perda vem do fato de elas estarem com vínculos muito frágeis no mercado de trabalho.
A quarta edição do Boletim Desigualdade nas Metrópoles mostra também que a situação do Rio é muito pior do que a média brasileira. Enquanto no início de 2020 quem estava no topo da distribuição de renda ganhava, em média, 29,6 vezes a mais do que os da base da pirâmide, agora eles ganham 42,3 vezes mais. Os dados levam em consideração empregos formais e informais, mas não auxílios como o emergencial e o Bolsa Família. Os números foram atualizados.
— O aumento das desigualdades no Brasil, mais especificamente nas metrópoles, já vinha ocorrendo desde 2015. Já partimos de um patamar extremamente elevado. No último ano, no entanto, há um enorme salto nessa desigualdade, fruto de um contexto em que quase todos perdem, mas os mais pobres perdem relativamente muito mais — explica Andre Salata, da PUC do Rio Grande do Sul.
Impacto em áreas mais pobres do RJ
E é em lugares da Baixada Fluminense, como nos barracos do bairro Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, a apenas 25 quilômetros do Centro do Rio, que se tem a visão clara do tamanho da segregação. Nas ruas mais internas do bairro — nem todas totalmente asfaltadas — , os muros improvisados, feitos com telhas e tapumes, assim como as cabras, cavalos e galinhas que convivem pelas vielas ao lado de cães e gatos, dão sinais claros de que, ali, a vida já é muito diferente dos grandes centros.
A Solange da Conceição Reis, de 35 anos, é uma dessas pessoas, que, junto com seus quatro filhos – Vitória, de 16 anos, Julio César, de 18, Raíssa, de 4, e Lucas, de 13, vive numa casa improvisada, bem próximo ao local onde funcionava o lixão, e construída basicamente a partir de lascas de madeira e tapumes. Água? só de madrugada, e, mesmo assim, quando há poucas bombas ligadas. A energia elétrica chega, mas, com a geladeira quebrada e sem condições de consertar, ela recorre a ajuda de vizinhos, que vivem em situação igualmente complicada. Ela conta que, o que já era difícil, piorou com a chegada da pandemia.
— Para mim piorou bastante. Antes eu podia trabalhar até aqui na reciclagem, mas agora estamos tendo muito mais dificuldades. Eu tenho um filho que toma remédio controlado e preciso acompanhar as aulas da escola com ele, para garantir que ele tome o remédio. Agora na pandemia, os lugares também não estão contratando, estão só dispensando. Meu último trabalho foi como camareira num hotel, mas, de lá pra cá, já tentei vaga em supermercado e só estavam mandando gente embora. Também procurei uma ex-patroa para trabalhar na casa dela como doméstica, mas ela também disse que por enquanto não dava por causa da pandemia — contou.
Solange conta que ela e vários outros moradores ali, hoje, só não estão passando fome por causa da ajuda de ONGs, como a Casa Semente, que se desdobra para ajudar com cestas básicas, água tratada e acesso a computadores e impressoras, que eles utilizam para conseguir montar seus currículos.