27% do STF dão aos outros 73% péssima fama COMENTE
Há no Supremo Tribunal Federal muitos por ques sem porquês. Com fome de Justiça, o brasileiro se pergunta por que certas togas insistem em beneficiar encrencados sem explicar o porquê do desprezo pelo esforço anticorrupção. Antes, o esdrúxulo era oferecido no varejo. Agora, chega no atacado. Em poucas horas, três decisões esquisitas: Gilmar Mendes mandou soltar o tucano Beto Richa. Dias Toffoli suspendeu ação penal contra o petista Guido Mantega. E Ricardo Lewandowski interrompeu um julgamento em que Lula sofria uma goleada: 7 a 1.
O pedido de liberdade de Richa desceu direto para a mesa de Gilmar. Não passou pelo procedimento da distribuição por sorteio. Foi enfiado dentro de um processo já julgado. Envolve uma ADPF, arguição de descumprimento de preceito fundamental. Relatada por Gilmar, resultou na proibição das conduções coercitivas. A ADPF é ferramenta apropriada para a discussão de teses jurídicas, não de casos individuais de pessoas em litígio com a lei.
Confuso, mas útil
Se os analistas andam meio incertos e os institutos de opinião chegam a divergir entre si, como Datafolha e Ibope nos dois últimos levantamentos com poucos dias de diferença, o que dizer de nós, simples observadores? Nunca foi tão apropriado o clichê que atribui às pesquisas a imobilidade de uma foto, não ao movimento de um filme ou mesmo à rapidez de uma selfie. Por isso, tenho ouvido a frase “ainda não sei em quem vou votar, vou esperar até a última hora”.
Há inclusive uma nova categoria, a dos convictos que vão votar contra, jamais a favor. Também não está fácil decifrar um processo em que, segundo as previsões, o candidato ganhador de todos os concorrentes no primeiro turno perderia para cada um dos outros no segundo.
Centro fica espremido e eleitor se alinha em batalha de extremos
Aos poucos, o eleitor se acostuma com a barulheira que chega dos extremos. O crescimento contínuo de Jair Bolsonaro (PSL) e a decolagem acelerada de Fernando Haddad (PT) empurram a corrida presidencial cada vez mais para os polos da disputa. Os apelos do tal “centro” político não se propagam no vácuo.
A população que vai às urnas em três semanas começa a tratar com normalidade a batalha entre uma direita notadamente radical e uma esquerda ferida pelo impeachment e pela prisão de Lula. Haddad está longe de ser um extremista, mas até agora sua moderação foi abafada pela animosidade do partido.
Ciro, entre morrer na praia e vencer
Ciro Gomes é o único candidato que vence as disputas de segundo turno. Todas. Nos demais confrontos, há na prática empate, com exceção de um confronto ora improvável. Ciro bate Jair Bolsonaro com folga e Fernando Haddad de lavada, se lê no Datafolha. No momento, Ciro é o recurso de segunda e última instância dos que rejeitam petistas e bolsonaristas.
É o candidato no centro geométrico da eleição, embora não ocupe o centro do espectro tradicional da política --e boa parte do eleitorado nem liga para isso.