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Confuso, mas útil

Se os analistas andam meio incertos e os institutos de opinião chegam a divergir entre si, como Datafolha e Ibope nos dois últimos levantamentos com poucos dias de diferença, o que dizer de nós, simples observadores? Nunca foi tão apropriado o clichê que atribui às pesquisas a imobilidade de uma foto, não ao movimento de um filme ou mesmo à rapidez de uma selfie. Por isso, tenho ouvido a frase “ainda não sei em quem vou votar, vou esperar até a última hora”.

 

Há inclusive uma nova categoria, a dos convictos que vão votar contra, jamais a favor. Também não está fácil decifrar um processo em que, segundo as previsões, o candidato ganhador de todos os concorrentes no primeiro turno perderia para cada um dos outros no segundo.

 

O problema talvez não esteja nas pesquisas, mas na vontade oscilante dos pesquisados. Não por acaso há quatro nomes para disputar a final com o ex-capitão: Ciro, Marina, Alckmin e Haddad. Outro enigma é saber com segurança até que ponto a facada alterou a intenção de votos favoráveis à vítima. Esperava-se que a popularidade do candidato atingido iria crescer muito mais do que de fato cresceu. Será então que o “tiro” de mentira teria abalado mais os eleitores do que o de verdade? Ou seja, será que a rejeição cresceu mais depois que o “mito” posou para a tal foto como o cara que resolve tudo a bala? Dentro da própria campanha do PSL parece que há quem ache que o atentado não foi bem aproveitado eleitoralmente, perdendo a chance de vender a imagem de um pacificador em vez de reforçar a do beligerante. Mas, neste caso, o que faria com a imagem do guerreiro que tantos votos tinha atraído para a sigla?

 

Com quatro candidatos brigando por um lugar, eles se transformam em maiores rivais entre si, mais até do que em relação ao primeiro colocado, impossibilitado pela nova cirurgia de continuar sua campanha.. Na última pesquisa do Ibope, Bolsonaro subiu quatro pontos e alcançou 26% das intenções de voto. No segundo lugar aparecem agrupados Ciro (11%), Marina (9%), Alckmin (9%) e Haddad (8%).

 

A estratégia que cada um dos quatro vai adotar agora deve ser a do chamado voto útil. Alckmin, por exemplo, que é contra todos “os tons de vermelho”, acha que só ele é capaz de derrotar o PT numa etapa decisiva. Já Ciro Gomes ataca em duas frentes: é o único que pode enfrentar com vantagem Bolsonaro e espalha que “Haddad não é Lula, Haddad é Dilma”. Enquanto isso, Marina Silva, ex-petista, critica o candidato do PT, que, por sua vez, conta com a transferência dos eleitores de Lula. Como se vê, ao eleitor não vai faltar emoção — nem confusão. 

Zuenir Ventura

O GLOBO


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