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Fernando Haddad cria no JN a autocrítica a favor

Entrevistado no Jornal Nacional, Fernando Haddad inventou uma nova modalidade de autocrítica. O substituto de Lula na corrida presidencial fez uma autocrítica a favor. Ele admitiu que há no Brasil muita roubalheira e incompetência, mas são de responsabilidade de outros partidos. Quem assistiu ficou com a impressão de que o PT nunca foi o problema do país. O Brasil é que é o problema do PT.

Haddad foi instado a reconhecer as culpas do petismo no mensalão e no petrolão. Respondeu que os escândalos só vieram à tona porque os governos petistas fortaleceram os órgãos de controle, a Procuradoria e o Judiciário. De resto, a corrupção na Petrobras vem desde a ditadura, alegou.

Sim, o preso da Lava Jato Renato Duque, um coletor de pixulecos que José Dirceu plantou na diretoria da Petrobras, encontrou-se com Lula no aeroporto de Congonhas. Mas isso aconteceu quando o pajé do PT já estava fora do Planalto, desconversou Haddad. Nessa versão, Lula estava preocupado com “um rumor” segundo o qual Duque “poderia estar envolvido num esquema de propina.” O diabo é que o roubo existia. E nada foi feito.

Dilma não é ré em nenhum processo, Haddad retrucou a certa altura. É investigada, replicou William Bonner. Ah, a Rede Globo também é investigada na Receita Federal e nem por isso merece juízo de valor antecipado, fustigou o candidato, como se desejasse conquistar a militância que grita “abaixo a Rede Globo” nos comícios.

Recessão? Desemprego? Culpa da sabotagem do PSDB e das pautas explosivas que Eduardo Cunha detonou no Legislativo. Delações? Ora, elas atingiram também tucanos, emedebistas, pepistas… A maioria aliados ao PT, insistiu Renata Vasconcelos. E da oposição também, reagiu Haddad, como se a delinquência dos sujos anulasse a roubalheira dos mal lavados.

No trecho final da entrevista, Haddad atingiu o ápice da sofisticação retórica. Ao justificar o fiasco eleitoral de 2016, quando disputou a reeleição à prefeitura de São Paulo, o poste de Lula ergueu com suas desculpas um monumento autocrítico, uma espécie de Arco da Derrota. Justificou a vitória do tucano João Doria no primeiro turno com o seguinte lero-lero:

“…2016 foi um ano muito atípico na cidade de São Paulo, o clima que se criou no Brasil, de antipetismo, porque se represou informações sobre os demais partidos, foi enorme. E o que aconteceu em 2016? O Temer assumiu a Presidência da República e o Tasso Jereissati, ex-presidente tucano, admitiu ontem em entrevista, que o maior erro do PSDB foi ter contestado as eleições de 2014, foi ter aprovado pautas-bomba contra o governo da Dilma e ter embarcado no governo Temer.”

Ao constatar que o entrevistado estava disposto a tudo, menos a reconhecer as próprias deficiências, os entrevistadores quiseram saber se o erro foi do eleitor paulistano. E Haddad: “O eleitor foi induzido a erro.” Na manhã deste sábado, ao escovar os dentes, o pupilo de Lula pode ser surpreendido por uma voz vinda de dentro do espelho: “Olá, candidato, eu sou a autocrítica. Vim apresentar você a você mesmo.” JOSIAS DE SOUZA

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