'Acabar com a epidemia vai requerer esforço contínuo', diz OMS
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em coletiva — Foto: Reprodução/Twitter WHO
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, reforçou nesta segunda-feira (20) que o relaxamento de medidas de isolamento social ou quarentena não significa o fim da pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
Tedros também falou do uso de testes rápidos, que detectam os anticorpos para o novo coronavírus, para determinar quem já foi infectado e tem imunidade à doença. Alguns países planejam usá-los – ou já começaram, como a Alemanha – para estudar formas de suspender medidas de quarentena ou distanciamento social.
"Nós damos as boas vindas ao desenvolvimento acelerado e à validação de testes para detectar anticorpos para a Covid-19 – nos ajudando a entender a extensão da infecção na população", disse Tedros.
"Dados iniciais de alguns desses estudos sugerem que uma percentagem relativamente pequena da população pode ter sido infectada, mesmo em regiões muito atingidas. Apesar de testes de anticorpos serem importantes para saber quem foi infectado, testes que acham o vírus são uma ferramenta fundamental para achar casos ativamente, diagnóstico, isolamento e tratamento", afirmou Tedros.
Os testes do tipo PCR ou moleculares são os testes que "acham o vírus", e são úteis principalmente nos primeiros dias da infecção. Já os de anticorpos podem ser usados a partir do sétimo dia, porque detectam se o corpo da pessoa já consegue se defender do vírus.
Entenda o que é o 'pico' da epidemia de coronavírus e por que é impossível prever o tamanho dele em São Paulo
Por Abrahão de Oliveira, Ana Carolina Moreno, Gabriel Larangeira, Luciana Cantão, Mariana Aldano, Pedro Favali e Roberson Kimura, SP1
Desde 17 de março, a Covid-19 já matou pelo menos mil pessoas só no estado de São Paulo por causa da doença. Até o último domingo (19), as estatísticas oficiais somavam 1.015 vítimas fatais, sem contar as mortes ainda suspeitas, um número não divulgado pelo governo.
Apesar da média de 30 mortes por dia, as autoridades dizem que o "pico" da epidemia, ou seja, o pior momento dela, ainda está por vir.
Mas quando ele vem, e qual será a quantidade de mortos que ele vai provocar, é uma questão incerta, segundo o médico infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo.
"Vocês não conseguem prever com exatidão o pico", afirmou Uip a jornalistas na semana passada.
O coordenador disse, porém, que isso é uma notícia boa. "Isso significa que nós estamos conseguindo alargar e achatar a curva. Quanto mais diluída essa curva for, melhor para o sistema de saúde."
"Agora, nós vamos ter o pico. Nós vamos estar diante ou de uma montanha ou de um pico do Everest. Isso é algo que obviamente nós estamos vendo no decorrer do dia a dia", afirmou.
Aras pede ao STF inquérito para apurar relação de deputados com atos contra a democracia
Por Márcio Falcão e Fernanda Vivas, TV Globo — Brasília
O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu nesta segunda-feira (20) ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de um inquérito para apurar a organização de atos contra a democracia no país.
A investigação tem como pano de fundo atos realizados neste domingo (19) em todo o país e que tinham entre os manifestantes defensores do fechamento do Congresso, do STF e da reedição do AI-5, o ato institucional que endureceu o regime militar no país.
O caso está em sigilo no STF e tem entre os alvos deputados federais, o que justifica a competência da Corte para o caso.
“O Estado brasileiro admite única ideologia que é a do regime da democracia participativa. Qualquer atentado à democracia afronta a Constituição e a Lei de Segurança Nacional”, afirmou o procurador-geral, Augusto Aras.
Em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro chegou a discursar em um evento (veja no vídeo abaixo) no qual os manifestantes gritaram palavras de ordem contra o Supremo e Congresso e o fechamento das duas instituições. Mas ele não é alvo do inquérito. Na manhã desta segunda-feira (20), Bolsonaro defendeu o Supremo e o Congresso "abertos e transparentes".
Para a PGR, não há nenhum indício de que o presidente tenha vínculo com a promoção desses eventos.
O foco da apuração é a estruturação desses atos, que podem ter violado a Lei de Segurança Nacional.
A Lei de Segurança Nacional define como crime a propaganda pública de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social.
No artigo 23, a norma diz que é crime "a incitação à subversão da ordem política ou social, à animosidade entre as Forças Armadas ou entre estas e as classes sociais ou instituições civis".
Bolsonaro discursa em Brasília para manifestantes que pediam intervenção militar
O presidente Jair Bolsonaro discursou neste domingo (19) durante um ato em Brasília que defendia uma intervenção militar, o que não está previsto na Constituição.
Dezenas de simpatizantes se aglomeraram para ouvir o presidente, contrariando as orientações da de isolamento social da Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar a propagação do coronavírus. Foi a maior aglomeração provocada por Bolsonaro desde o início da adoção de medidas contra a pandemia no Brasil. Na véspera, ele já havia falado para manifestantes que se concentraram em frente ao Palácio do Planalto.
Do alto de uma caminhonete, Bolsonaro disse que ele e seus apoiadores não querem negociar nada e voltou a criticar o que chamou de "velha política".
"Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder."
Ele fez o discurso em frente ao Quartel-General do Exército e na data em que é celebrado o Dia do Exército. Os manifestantes também pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Pouco depois, o presidente postou em uma rede social um trecho do discurso em que diz aos manifestantes:
"Eu estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil."
Alguns apoiadores do presidente carregavam faixas pedindo "intervenção militar já com Bolsonaro". As faixas tinham o mesmo padrão e pareciam ter sido feitas em série.
Bolsonaro discursou em Brasília para apoiadores que defendem uma intervenção militar no Brasil — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Até as 15h50, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) não haviam se manifestado sobre o discurso.
Bolsonaro afirmou aos simpatizantes que todos os políticos e autoridades "têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro".
"Todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro. Tenho certeza, todos nós juramos um dia dar a vida pela pátria. E vamos fazer o que for possível para mudar o destino do Brasil. Chega da velha política", afirmou.
Bolsonaro disse aos manifestantes que podem contar com ele "para fazer tudo aquilo que for necessário para que nós possamos manter a nossa democracia e garantir aquilo que há de mais sagrado entre nós, que é a nossa liberdade".
Mais cedo, os apoiadores de Bolsonaro fizeram uma carreata por Brasília e passaram na Esplanada dos Ministérios, onde também fica o prédio do Congresso.
Demissão de ministro e governadores
Na semana passada, Bolsonaro demitiu o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, depois de embate público envolvendo medidas de restrição social para combate à pandemia do novo coronavírus.
Contrariado pela defesa de Mandetta das medidas de isolamento pregadas pela OMS, nas últimas semanas Bolsonaro fez passeios por Brasília, que geraram aglomeração de pessoas.
O presidente também tem criticado governadores que adotaram medidas de restrição de movimentação de pessoas como forma de conter a disseminação do coronavírus, entre eles o de São Paulo, João Doria, e o do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.
Bolsonaro chegou a editar uma medida provisória para concentrar o poder de aplicar medidas de restrição durante a pandemia. Entretanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os estados também têm poder para aplicar regras de isolamento.
Também na semana passada, Bolsonaro criticou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a quem acusou de estar conduzindo "o Brasil para o caos".
A crítica de Bolsonaro a Maia se deu em meio à discussão pelo Congresso de medidas econômicas para enfrentamento da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus.
Uma dessas medidas, já aprovada pela Câmara mas que ainda aguarda análise do Senado, obriga o governo federal a compensar os estados e municípios por perdas de arrecadação nos próximos meses. Bolsonaro e sua equipe são contra essa medida, defendida por Maia. PORTAL G1
Fiesp apresenta plano para reabrir a economia
Leo Branco / O GLOBO
SÃO PAULO - Em meio ao avanço da pandemia de coronavírus e à prorrogação das medidas de isolamento social em alguns estados, a federação das indústrias paulistas (Fiesp) divulgou neste sábado (18) um plano nacional para retomada das atividades econômicas.
Seguindo a linha adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a entidade patronal não estabelece uma data, mas parâmetros para o processo de reabertura da economia. Segundo a assessoria da Fiesp, as realidades de estados e municípios Brasil afora são diversas, assim como também são as competências para definir o que abre -- e quando abrir.
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O documento de 70 páginas sugere uma retomada por etapas. No primeiro dia, poderiam abrir creches e escolas, comércio varejista, restaurantes e o transporte no horário de pico. A proposta será entregue ao governo.
No dia 14º dia, ou seja, duas semanas depois, abririam shopping centers e demais serviços. No 28º dia, seria liberada a entrada em parques mediante controle de acesso. No 42º dia, quase um mês e meio após a volta de escolas, estaria liberado o acesso a cinemas, academias, teatros, museus e universidades, segundo o documento.
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O documento traz ainda sugestões de novos horários para as atividades econômicas, de modo a evitar aglomerações. Boa parte da indústria funcionaria das 6h as 15h. O comércio varejista abriria das 12h as 21h. Serviços de escritórios ficariam na faixa de 10h às 19h.
As regras de convivência, segundo o documento, deveriam ser avaliadas a cada sete dias e, com isso, os “e, com isso, os protocolos relaxados ou intensificados.” Uma liberação completa dos protocolos estaria condicionada à evolução da epidemia no país, diz o documento.
Sugestão será enviada à Casa Civil
Segundo a Fiesp, o documento foi elaborado por 40 membros do conselho da entidade, além de médicos que se debruçaram sobre os planos de retomada econômica de 16 países onde a pandemia de Covid-19 está em estágio mais avançado, como Estados Unidos, Itália, China e Espanha.
O documento deve ser encaminhado ao ministro da Casa Civil, Braga Netto, presidente do comitê de crise do governo federal contra o coronavírus, além de governadores e prefeitos. A ideia é o plano servir de guia para governos planejarem a retomada das atividades, segundo nota à imprensa assinada pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf.
A recomendação da Fiesp vem na esteira de diretrizes globais para a retomada das atividades econômicas pós-epidemia. Na última quarta-feira (15) a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou aos países que dedidirem aliviar as restrições impostas para combater a disseminação do coronavírus a esperar ao menos duas semanas entre cada etapa da reabertura, a fim de medir o impacto da medida antes de um novo relaxamento.
O anúncio veio um dia depois de a Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia, estabelecer três critérios técnicos para o relaxamento das medidas de distanciamento social. Para a Comissão, os países devem verificar se houve uma diminuição significativa de casos por um período "estável", se há capacidade suficiente de assistência à saúde, especialmente em termos de unidades de terapia intensiva (UTIs), e se há capacidade de realizar testes em larga escala.
Nos Estados Unidos, na quinta-feira (16) a Casa Branca delineou um plano com três etapas para retomada das atividades econômicas. Além disso, o governo do republicano Donald Trump deixou a cargo dos estados a decisão de abrir novamente o comércio.
Tropeçando na informalidade -O ESTADO DE SP
Dezenas de milhões de pessoas vulneráveis entraram no radar do governo com a chegada do coronavírus. Cerca de 75 milhões ganharam acesso à ajuda mensal de R$ 600 por três meses, com base no primeiro grande pacote de apoio aos mais necessitados. Outros 7,5 milhões poderão receber o benefício, se for mantida a ampliação recém-aprovada na Câmara dos Deputados. Dinheiro já foi creditado para muita gente. Para muitos beneficiários foi preciso criar, às pressas, contas bancárias. Milhares formaram filas diante de agências da Caixa, embora os procedimentos, em princípio, fossem realizáveis por meio eletrônico. Quantos sabiam disso e quantos tinham acesso à internet? Era preciso socorrer o maior número possível, até para conter o contágio, mas logo surgiram dificuldades inesperadas. Na emergência, pobreza e desigualdade tornaram-se obstáculos adicionais à ação governamental, no Brasil e na maior parte dos países latino-americanos.
Ao examinar a ação econômica na região durante a pandemia, o economista Alejandro Werner, do Fundo Monetário Internacional (FMI), destacou o desafio ligado à pobreza e à informalidade. O mexicano Werner dirige o Departamento de Hemisfério Ocidental do FMI desde janeiro de 2013, depois de exercer funções públicas e acadêmicas.
“É possível”, disse ele, “que os governos não possam chegar aos lares vulneráveis, por meio de transferências tradicionais, em lugares carentes de sistemas de assistência social e onde predomina a informalidade.” Além disso, acrescentou, “é mais complicado fazer chegar a assistência às empresas menores e às do setor informal”.
Essas dificuldades foram encontradas no Brasil e podem ter sido mais graves em outros países da região, especialmente naqueles com acesso mais limitado aos sistemas eletrônicos de comunicação. Alejandro Werner chamou a atenção também para o desafio de localizar os informais. “Dado o alto nível de informalidade na região, os países deveriam usar todos os registros disponíveis e métodos possíveis para chegar às empresas menores e aos trabalhadores informais”, sugeriu.
A elevada informalidade na América Latina foi mostrada claramente num gráfico exibido por Werner. Os dados são de 2016, mas dificilmente, a julgar pela experiência brasileira, o quadro terá melhorado nos anos seguintes. Cerca de 40% dos trabalhadores homens eram informais, assim como pouco mais de 35% das mulheres. Nos dois casos, a taxa de informalidade nos países avançados era cerca de um quarto da observada entre latino-americanos. Os números da região eram também piores que os de outras áreas emergentes e em desenvolvimento.
Além de causar sofrimento e morte, a pandemia jogou os latino-americanos na pior recessão desde os anos 1950, quando as estatísticas de contas nacionais começaram a ser produzidas na maior parte da região, observou Werner. Pelos cálculos do FMI, a economia regional deve recuar 5,2% em 2020, número muito parecido com o estimado para o Brasil (-5,3%). Para o conjunto prevê-se repique de 3,4% em 2021, seguido de crescimento anual de 2,7% entre 2022 e 2025. No caso brasileiro, as projeções indicam expansão de 2,9% no próximo ano e de 2,4% no período seguinte. Mais modesto que a média regional, o desempenho estimado para o Brasil, depois da recessão, está relacionado, explicou Werner, ao potencial de crescimento do País, “já relativamente baixo” antes da pandemia.
Não há surpresa na resposta. Werner conhece bem as limitações da economia brasileira, explicáveis por muitos anos de investimento insuficiente em infraestrutura, em máquinas, em formação de mão de obra e, paralelamente, de escassa integração nas cadeias globais. Há muito tempo o FMI aponta essas deficiências.
A retomada, lembrou o economista, envolverá um trabalhoso conserto das contas públicas, depois dos gastos para conter a pandemia, incluído o apoio às famílias isoladas. Como a Organização Mundial da Saúde, o FMI tem defendido o isolamento social como medida preventiva. É mais um a contrariar a Doutrina Bolsonaro.