Depois da pandemia ainda restará a velha crise
24 de outubro de 2020 | 22h00
Brasil, Estados Unidos e muitas outras economias ainda levarão mais de um ano para sair da profundeza de 2020. Dezenas de países só voltarão em 2022 ao patamar de 2019, se as projeções estiverem razoavelmente corretas. Sem um segundo surto de covid-19, a maior parte da América Latina estará recuperada em 2023, segundo estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas o caso brasileiro, mais uma vez, é especial, tão especial quanto o de um senador – vice-líder de governo – flagrado com dinheiro na cueca. O País ainda levará uns dois anos, talvez três, para exibir um produto interno bruto (PIB) parecido com o de 2014, anterior ao do grande tombo. Mas a economia terá de funcionar num cenário global diferente daquele conhecido até há pouco tempo.
O Brasil tem sido um país diferente, no mau sentido, há uns dez anos, e o esforço de “normalização” iniciado em 2016-2017 foi em grande parte abandonado em 2019. Para começar, crescimento foi o padrão mundial depois da crise financeira de 2008-2009. Com maior ou menor vigor, a maior parte das economias voltou a avançar, até o desastre da pandemia. Na maior economia da América do Sul, no entanto, erros políticos, agravados com a pilhagem do Estado, minaram a prosperidade.
Mas isso foi pouco visível inicialmente. A primeira fase depois da crise financeira foi promissora. Depois da queda de 0,5% em 2009, o País logo se recuperou. Mas tropeçou em 2012 e três anos depois afundou numa recessão inteiramente made in Brazil, enquanto a vizinhança continuava em crescimento. A economia brasileira encolheu 3,5% em 2015 e 3,3% em 2016 – uma perda acumulada de 6,58% em dois anos.
O PIB cresceu lentamente nos três anos seguintes, 1,3% em 2017, 1,3% em 2018 e 1,1% em 2019, acumulando um avanço de 3,74%. O País chegou a 2020, portanto, sem ter retomado o nível de atividade de 2014, ano anterior à recessão brasileira. Então chegou o novo coronavírus e, com ele, um dos maiores tombos econômicos, talvez o maior da História republicana. Em um trimestre a produção de bens e serviços diminuiu 9,70%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A reação começou logo em seguida, como em muitos países, puxada pelo consumo e favorecida por medidas emergenciais. O Tesouro assumiu custos de centenas de bilhões de reais e o Banco Central (BC) afrouxou a política monetária, criando condições para aumento do crédito. A atividade voltou a crescer, embora sem retornar ao nível pré-pandemia, e há cerca de um mês as projeções para o ano começaram a melhorar.
A maior parte das estimativas aponta contração econômica na faixa de 4% a 5%, neste ano. O FMI ainda projeta para 2020 um PIB 5,8% menor que o do ano passado e expansão de 2,8% em 2021. As projeções do governo, do mercado e de entidades multilaterais indicam ritmos diferentes de recuperação, nos próximos dois anos, mas, de modo geral, insuficientes para o retorno ao patamar de 2014. Na melhor hipótese, a economia tocará esse nível em 2022 e talvez o supere ligeiramente.
Mas a dúvida mais inquietante é outra. Não se sabe quando o Brasil crescerá como um grande emergente. A expansão, pelas projeções de médio e de longo prazos, ficará entre 2% e 2,50% ao ano. Nenhuma das fontes indica um desempenho melhor. É esse o crescimento potencial – sustentável sem desajustes – avaliado por muitos especialistas. Há quem sugira um potencial abaixo de 2%.
São cálculos inseguros, mas certamente a economia brasileira tem perdido vigor há muitos anos. Desde 2000 o investimento em máquinas, equipamentos e obras ficou em média na altura de 18% do PIB. A partir de 2015 permaneceu entre 15% e 16%. A taxa supera 24% ou 25% em emergentes mais dinâmicos.
Além de baixo, o investimento tem sido pouco produtivo. Muitos bilhões foram aplicados pelo setor público em obras interrompidas ou concluídas com muito atraso. Também se falhou na formação de capital humano. Houve redução do analfabetismo e aumento da inclusão escolar, mas outros objetivos essenciais foram negligenciados. Nos anos 2000 pouco se cuidou da qualidade da escola fundamental. Tratou-se muito mais de facilitar o acesso a faculdades e o governo central demorou a valorizar a formação técnica.
A reversão será complicada. Com as contas oficiais estouradas, obras públicas, principalmente federais, dependerão de capitais privados. Mais do que em outros momentos, será essencial formular bem os objetivos, identificar os gargalos e cuidar da eficiência de cada passo. Mas nem o Orçamento de 2021 está pacificado. Além disso, o ministro da Economia insiste em poucos temas, como os custos da folha salarial e a recriação da CPMF, uma aberração. O ministro da Educação fala da sexualidade dos estudantes, o do Meio Ambiente dificulta a proteção das florestas e o de Relações Exteriores segue a Casa Branca, mesmo contra grandes importadores de produtos brasileiros. Enquanto isso, o presidente se concentra na reeleição e na proteção de filhos suspeitos de travessuras, como rachadinhas.
Com esse desgoverno, quem precisa de coronavírus para ir mal?
JORNALISTA
Especialistas repercutem artigo de Gandra Filho na ConJur
Em artigo de pouco mais de 40 páginas, publicado com exclusividade pela ConJur, Ives Gandra Martins Filho, ministro decano do Tribunal Superior do Trabalho, busca compreender o viés fortemente protecionista da Justiça do Trabalho e seu confronto com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal em matéria trabalhista à luz de casos concretos, adentrando nas possíveis motivações e nas consequentes reações à jurisprudência oriunda do TST.
A reforma trabalhista, aprovada em 2017, na visão do ministro, nasceu para dar mais equilíbrio à relação de forças entre empregado e empregador no Brasil e desafogar, ao menos em parte, a Justiça do Trabalho, desde sempre "castigada por uma quantidade brutal de demandas". "Os resultados apareceram, mas seriam ainda mais impactantes não fosse pela resistência de juízes laborais país afora em seguir a jurisprudência estabelecida pelo Supremo Tribunal Federal, o que muito tem irritado os ministros da Corte Suprema."
Para Gandra Filho, o ativismo judicial que parte do Judiciário trabalhista pratica tem resultado num excessivo protecionismo laboral, capaz de gerar insegurança jurídica e maior desemprego. "Querendo-se fazer o bem e promover o desenvolvimento social, acaba-se por retirar dos agentes econômicos (trabalhador e empresário) o seu natural protagonismo, a autonomia negocial coletiva e o equilíbrio nas relações laborais", escreve o ministro.
"É certo que o jogo de forças envolvendo o Poder Judiciário trabalhista e a Suprema Corte brasileira há anos vem desaguando no enfraquecimento da própria Justiça do Trabalho e, por que não dizer, trazendo repercussões negativas às relações trabalhistas", diz o professor de pós-graduação em Direito do Trabalho Ricardo Calcini, colunista da ConJur.
Os argumentos de Gandra Filho são defendidos pela ABMT (Associação Brasileira de Magistrados do Trabalho), diz o presidente da entidade, Otávio Calvet. "Embora seja reconhecido o perigo de decisões protecionistas, ativistas e pautadas por ideologias, cabe à JT aplicar a legislação que já é protetiva dentro da uma atuação independente, balizada por um julgamento técnico imparcial, afastando voluntarismo e ativismo judicial."
"O artigo certamente é um alerta para que a Justiça do Trabalho possa cumprir a sua missão social, que é a pacificação do conflito capital e trabalho sem fazer uma interferência na atividade econômica para além daquilo que é desejável e permitido dentro do quadro constitucional", diz Cristiane Grano Haik, especialista em Direito do Trabalho e da Previdência.
"Também aborda de forma contundente um fenômeno a que a comunidade jurídica e a sociedade assistem atônitas, uma verdadeira guerra entre o TST e o STF, e entre o Poder Judiciário e o Poder Legislativo. Enquanto esta batalha persiste, a falta de segurança jurídica se instaura nas relações trabalhistas e deixa uma marca indelével que os protagonistas de tal guerra ideológica insistem ignorar: que a insegurança jurídica gerada pelas suas desavenças contribui profundamente para a aniquilação de postos de trabalho formais", finaliza Haik.
Na mesma linha segue Rodrigo Marques, do Nelson Wilians Advogados, especialista em Direito do Trabalho. "A Justiça do Trabalho sempre foi reconhecida pelo seu protecionismo, por ser uma forma de 'equilibrar' possíveis relações desiguais entre empregados e empregadores. A reforma de 2017 trouxe mais segurança e responsabilidade nas demandas trabalhistas para ambas partes. Contudo, em decorrência do protecionismo existente, mesmo que os requisitos de validade tenham sido integralmente observados, diversas cláusulas normativas são anuladas e desconsideradas pela Justiça, sob o argumento de trazer mais equilíbrio às relações laborais, apesar dos funcionários estarem sendo regularmente representados por seus sindicatos.
Assim, de fato, muitos empregadores acabam, inclusive, repensando possíveis negociações coletivas."
Calcini lembra da promulgação da Emenda Constitucional 45/2004, conhecida à época como a Emenda do Poder Judiciário. "A Justiça laboral teve sua importância reconhecida com a ampliação de sua competência material em razão da modificação do artigo 114 da Constituição. De lá para cá, porém, o que se viu foi a perda gradual de sua atuação institucional até então conquistada. Isso porque questões judicializadas, que ficavam restritas às instâncias ordinárias da Justiça Trabalhista, chegaram ao conhecimento da Suprema Corte que, na maioria dos casos, impôs resultado contrário às decisões advindas do TST."
"É necessário refletir em que medida essa queda de braço entre a Justiça do Trabalho e Supremo é saudável para a própria preservação e aplicação dos direitos dos trabalhadores", finaliza.
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Revista Consultor Jurídico, 23 de outubro de 2020, 15h10
STF forma maioria para dispensa de licitação na contratação de advogados
O Plenário do Supremo Tribunal Federal formou maioria para dar parcial provimento a ação declaratória de constitucionalidade que trata da inexigibilidade de licitação para contratação de advogados por entes públicos. A ADC foi proposta pelo Conselho Federal da OAB.
O relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, propôs a seguinte tese:
"São constitucionais os arts. 13, V, e 25, II, da Lei nº 8.666/1993, desde de que interpretados no sentido de que a contratação direta de serviços advocatícios pela Administração Pública, por inexigibilidade de licitação, além dos critérios já previstos expressamente (necessidade de procedimento administrativo formal; notória especialização profissional; natureza singular do serviço), deve observar: (i) inadequação da prestação do serviço pelos integrantes do Poder Público; e (ii) cobrança de preço compatível com o praticado pelo mercado".
O julgamento acontece no Plenário virtual e se encerra no fim desta sexta-feira (23/10). Seis ministros acompanham o voto do relator: Marco Aurélio, Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli.
Segundo a OAB, apesar da literalidade de dispositivos da lei de licitações (Lei 8.666/93), ainda há "controvérsias judiciais em diversas jurisdições do país, ao passo em que os advogados que contratam com a Administração sofrem reiteradamente condenações por improbidade administrativa".
Por isso, entende que se faz "indispensável a declaração (...) da plena aplicabilidade da norma, a fim de revitalizar o seu caráter coercitivo e
restabelecer a segurança jurídica, impedindo que as imputações de improbidade administrativa causem a inaplicabilidade dos dispositivos".
O ministro Barroso, ao invocar o artigo 37, inciso XXI, da Constituição, identificou que há expressa autorização constitucional para o legislador ordinário criar hipóteses de dispensa de licitação. Segundo o dispositivo, "ressalvados os casos especificados na legislação", a Administração deve contratar por meio de processo licitatório.
Mas reconheceu que, apesar dessa autorização, "é preciso estabelecer critérios e parâmetros dentro dos quais a contratação direta de serviços advocatícios pela Administração Pública, por inexigibilidade de licitação" estará de acordo com os princípios constitucionais que incidem na matéria, entre os quais a moralidade, a impessoalidade e a eficiência.
Assim, entendeu que a contratação direta de serviços advocatícios — prevista pelo artigo 26 da lei das licitações — deve observar as exigências formais e de publicidade contidas na lei, especialmente o dever de motivação expressa, a fim de permitir a verificação de eventuais irregularidades pelos órgãos de controle e pela própria sociedade.
Quanto à "notória especialização" — artigo 13 do diploma —, Barroso considerou que a escolha "deve recair sobre profissional dotado de especialização incontroversa , com qualificação diferenciada, aferida por elementos objetivos e reconhecidos pelo mercado.
Sobre a "natureza singular do serviço" — art. 25, II, da Lei 8.666 —, fixou que os serviços advocatícios prestados sem licitação não podem ser feitos por órgão ou entidade da própria Administração. Isto é, o objeto do contrato não pode se referir a "serviço trivial ou rotineiro".
Apenas excepcionalmente, portanto, poderá haver contratação de advogados privados — desde que plenamente configurada a impossibilidade ou relevante inconveniência de que a atribuição seja exercida pelos membros da advocacia pública.
Barroso também definiu que é preciso que a Administração "demonstre que os honorários ajustados encontram-se dentro de uma faixa de razoabilidade, segundo os padrões do mercado, observadas as características próprias do serviço singular e o grau de especialização profissional".
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ADC 45
Revista Consultor Jurídico, 23 de outubro de 2020, 21h12
'Delegada de esquerda', Martha Rocha ameaça polarização entre Paes e Crivella em eleição no Rio
O nome de urna tem “delegada” e seu material de campanha emula um distintivo. As propostas, porém, vão no sentido oposto da agenda de “lei e ordem” associada às candidaturas de policiais.
A deputada estadual Martha Rocha (PDT), ex-chefe da Polícia Civil na gestão Sérgio Cabral, se tornou a principal preocupação dos dois principais candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro no início da campanha: Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos).
Martha foi escolhida candidata na esteira da tentativa de Ciro Gomes (PDT) se aproximar do setor de segurança pública com vistas às eleições presidenciais de 2022, em que deve enfrentar o presidente Jair Bolsonaro, associado à pauta.
Ela aparece empatada com Crivella, com 13% das intenções de voto, segundo pesquisa do Datafolha divulgada nesta quinta-feira (22). Também está em empate técnico com a deputada Benedita da Silva (PT), com 10%. Todos atrás de Paes, com 28%.
A ex-delegada, porém, foi a única candidata a subir para além da margem de erro na pesquisa espontânea —quatro pontos percentuais— em comparação ao levantamento do dia 8.
É também quem ameaça, no cenário atual, uma vitória no segundo turno contra Paes. Os dois estão em empate técnico, com a pedetista registrando 45% contra 41% do ex-prefeito.
Equipes das campanhas do ex e atual prefeito avaliam que as intenções de voto em Martha estão infladas com a associação de seu nome de urna à polícia, aderindo um eleitorado que não seria vinculado à esquerda.
“Essa pessoa que falou isso perdeu uma boa oportunidade de ficar calada. Será que a indicação do título por si só é suficiente para alguém escolher [um candidato]?”, afirmou ela.
O Datafolha mostra um nível de conhecimento baixo do eleitorado sobre a deputada estadual em segundo mandato. Cerca de um quarto (26%) declara a conhecer bem. A maioria (59%) a conhece apenas “um pouco” ou “de ouvir falar”, e 16% dizem não conhecê-la, aponta o levantamento.
Nas redes sociais, perfis vinculados ao bolsonarismo, que apoiam Crivella, já começaram a classificar a pedetista de “delegada socialista”. Ela não rejeita o rótulo de esquerda.
“Quem acompanhou minha trajetória na polícia sabe que sempre fortaleci o respeito aos direitos humanos. Incluímos o nome social [de travestis em registros de ocorrência], a motivação de homofobia [em crimes violentos], o que me deu o título de musa LGBT. Na minha gestão, criamos protocolos para atuação nos casos de auto de resistência [pessoas mortas pela polícia]. Se as pessoas querem um rótulo, sou uma delegada de esquerda”, afirmou.
* Pesquisa Datafolha presencial com 900 eleitores com 16 anos ou mais nos dias 5 e 6 de outubro e registrada no TRE-RJ com o número RJ-09140/2020. A margem de erro máxima é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Fonte: Pesquisa Datafolha presencial com 1.008 eleitores com 16 anos ou mais nos dias 20 e 21 de outubro e registrada no TRE-RJ com o número RJ-08627/2020. A margem de erro máxima é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Contratantes: Folha de S.Paulo/Tv Globo
O discurso da pedetista é recheado de referências a marcas de Leonel Brizola, como os CIEPs. O programa de governo passa longe das propostas associadas à direita no plano municipal, como internação compulsória de dependentes de drogas ou defesa do uso de arma de fogo pela Guarda Municipal.
O candidato a vice-prefeito é Anderson Quack (PSB), fundador da Cufa (Central Única das Favelas), produtor cultural e autor de um documentário crítico às remoções em favelas.
As bandeiras da candidatura não evitam, contudo, críticas feitas pela esquerda a Martha. As principais se referem a ações da Polícia Civil no período em que a comandou (2011-2014), como a prisão do morador de rua Rafael Braga durante as manifestações iniciadas em junho de 2013.
Ela afirma que não teve atuação direta no caso e que não poderia interferir no trabalho de um delegado por chefiar a corporação.
A candidatura de Martha também foi apontada como uma das responsáveis pela pulverização de postulantes de esquerda. O PDT resistiu a aderir à pré-candidatura de Marcelo Freixo (PSOL), que condicionava entrar na disputa a uma aliança entre os partidos do campo progressista.
A sigla também não conseguiu firmar a aliança com a Rede, ensaiada pouco antes da campanha, que acabou lançando Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo.
“Não foi possível fazer uma frente. Vamos fazer uma campanha com seis mulheres. É um traço a ser destacado. No segundo turno a gente senta e conversa. Benedita e Renata são duas representações políticas importantes. Tenho apreço e respeito por elas”, afirmou ela.
Paes, por sua vez, tem buscado questionar os resultados da delegada no período em que chefiou a Polícia Civil. Aponta a alta nos registros de roubo de carro e estupros. O objetivo é questionar a capacidade de gestão da pedetista.
Católica, solteira e sem filhos, Martha foi a primeira mulher a assumir a chefia da Polícia Civil.
Logo no início da carreira de delegada, em 1993, assumiu a DGPE (Departamento Geral de Polícia Especializada). No cargo, viu seu chefe de gabinete e então namorado ser preso sob acusação de intermediar pagamento de propina de bicheiros na polícia.
“Quem testemunhou na acusação foi Martha Rocha. Essa pessoa foi condenada graças ao depoimento de Martha Rocha. Foi demitida da Polícia Civil graças ao depoimento de Martha Rocha. Não é possível que, diante desses fatos, algo de 1993 continue sendo perguntado”, disse ela.
O vínculo com a gestão Cabral, também compartilhado pela maioria dos adversários, também não a preocupa. Ela afirma que foi escolhida pelo ex-secretário José Mariano Beltrame sem interferência do governador condenado a mais de 300 anos de prisão.
Como delegada, atuou no caso do ônibus 174, em 2000, no qual indiciou o então comandante do Bope (Batalhão de Operações Especiais), José Penteado, por homicídio culposo pela morte da refém Geísa Gonçalves. Ele foi inocentado depois.
Ao longo de seus 28 anos como delegada, Martha Rocha teve tentativas eleitorais frustradas. Tentou ser deputada estadual em 2002 e 2006 pelo PSB.
Também foi candidata a vice-prefeita em 2004 na chapa encabeçada por Jorge Bittar (PT). Foi eleita pela primeira vez após deixar a chefia de Polícia Civil em 2014, pelo PSD, com 52,7 mil votos, e reeleita pelo PDT com 48,9 mil.
Ela afirma não ver na candidatura de policiais uma possível politização das forças de segurança --seu sucessor no cargo, Fernando Veloso (PSD), é candidato a vice na chapa de Luiz Lima (PSL).
“O direito de participação nas eleições é legítimo a todas as classes. Faz parte da democracia”, disse ela.
Pouso histórico - Brian Alan - ISTOÉ
Movida por dúvidas, a ciência ainda não conseguiu confirmar a origem da vida na Terra. Embora existam inúmeras especulações sobre a formação do universo, como a explosão do Big Bang, o tema é repleto de incertezas. Este foi um dos motivos pelos quais a Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA), levou mais de 12 anos para projetar e lançar uma sonda capaz de realizar uma arriscada missão: coletar amostras da superfície de um asteroide.
Lançada em 2016, a Osiris-Rex pousou e armazenou material do asteroide Bennu na última terça-feira, 20, localizado a mais de 320 milhões de quilômetros da Terra. A existência do corpo celeste com mais de 500 metros de comprimento foi confirmada em 1999.
Segundo especialistas, a rocha nasceu praticamente junto com o Sistema Solar, 4,5 bilhões de anos atrás, no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Sendo assim, é tida como uma rica fonte de material orgânico, pois se mantém em seu estado natural com moléculas de carbono e água em sua estrutura, fator que auxiliaria nas investigações acerca da origem da vida em nosso planeta.
Avanço nas pesquisas
Com equipamentos de última geração, a sonda usou uma manobra apelidada de TAG, sigla para “Touch-and-Go” (Toca e Sai). Segundo a NASA, a ação durou apenas 16 segundos. No caso, a sonda utilizou seu braço robótico para desbravar a cratera Nightingale (rouxinol), com 8 metros de diâmetro, localizada no polo norte do Bennu e, na sequência, utilizou um disparo de nitrogênio pressurizado para levantar o material da superfície e coletar cerca de 60 gramas de amostras. Por fim, ativou os propulsores para se afastar do corpo celeste em segurança.
Agora, resta aguardar 10 dias até que a Osiris enviei uma mensagem dando um parecer da missão. Se tudo ocorrer como o esperado, essa será a maior coleta de material extraterrestre desde as missões da Apollo à Lua, entre 1960 e 1970.
Embora a façanha americana seja notável, não é a pioneira. As sondas japonesas Hayabusa (2003) e Hayabusa2 (2014) exploraram os asteroides Itokawa e Ryugu alguns anos atrás, inclusive especialistas afirmam que a Hayabusa2 irá concluir sua missão em dezembro deste ano, quando retorna à Terra com o material espacial. “Essas missões nos permitem fazer coisas impressionantes no espaço”, ressalta Daniela Lazzaro, Astrofísica do Observatório Nacional. “Há uma crença de que alguns fragmentos de asteroides podem ter trazido componentes minerais para a Terra quando caíram aqui há milhões de anos. Algo anterior aos dinossauros”, afirma.
Para se ter ideia, o custo estimado da Osiris ultrapassa US$ 1 bilhão e é só um dos exemplos de como a corrida espacial está em alta. A NASA prepara missões tripuladas para os próximos anos, algo visto com bons olhos por autoridades cientificas. “Com o material do asteroide, podemos avançar nos estudos sobre a origem da vida. Isso é importante”, afirma Daniela Lazzaro. A sonda só deve chegar à Terra em setembro de 2023.
Morte súbita na juventude - Fernando Lavieri - ISTOÉ
Os corações jovens são mais vulneráveis aos doces encantos do amor — e ao infarto fulminante. A primeira parte dessa frase é pura poesia; a segunda, pura ciência. E é a ciência que investiga, cada vez com maiores recursos tecnológicos, as causas que estão levando de forma crescente pessoas novas à morte súbita (triste e preocupante aumento de 10% ao ano), atingindo até mesmo donos de corpos forjados na saúde do esporte, como foi o caso da ex-ginasta Ana Paula Sheffer — que, lembremos, adorava poesia.
Aos 31 anos e medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, ela foi encontrada morta em sua casa, na cidade paranaense de Toledo. Em média, trezentas e vinte mil pessoas, de todas as faixas etárias, falecem anualmente no Brasil de morte súbita. E há uma questão que a todos se coloca: por que o maquinário do coração novo é mais propício a deixar de bater de uma hora para outra, e, na maioria das vezes, de forma fatal?
A resposta clínica e endógena, quem dá, são os corações envelhecidos e vividos: o sistema cardiovascular, com o correr do tempo, cria ramificações que espalham melhor o fluxo sanguíneo, podendo dessa forma evitar bruscas paradas cardíacas. O sistema circulatório dos corações novos ainda não possuem tais ramificações.
Há também motivos advindos do ambiente social. “Os jovens apresentam muito mais fatores de risco comportamentais”, diz Sérgio Timerman, cardiologista, diretor do Centro de Treinamento do Instituto do Coração e professor da Universidade de São Paulo. Ele explica que pessoas com pouca idade podem ser mais suscetíveis à morte súbita devido aos excessos que são naturais nessa etapa da vida — e há coisas tão perniciosas usadas por alguns indivíduos que, muitas vezes, se traduzem em infarto. É o caso, por exemplo, do consumo de cocaína: estima-se que 30% dos infartos na juventude são provocados pela dependência química dessa substância psicoativa.
Juntemos a isso o hábito da nicotina e de bebidas alcoólicas. “Essa é uma tríade exemplar para a morte súbita”, afirma Timerman. Ao falarmos sobre pessoas acima de 50 anos, a percepção é de que esses riscos diminuem. E um fato é inconteste: cinquentões costumam verificar com mais frequência junto ao médico como anda a saúde do coração.
Médicos na plateia
Há um destino traçado para todos os seres humanos e, dele, jovens e não jovens jamais conseguem fugir: a genética e a hereditariedade. Ou seja: antecedentes familiares funcionam como sinalizadores daquilo que pode ocorrer. Quando parentes próximos sofreram ataque cardíaco antes dos 50 anos, isso é um fator preocupante para os moços.
Sabendo de tal situação, eles vão sempre ao cardiologista? Claro… que não! Some-se agora, aos fatores hereditários, episódios exacerbados de estresse, cada vez mais frequentes entre os jovens devido às altas expectativas que hoje a sociedade e a família neles depositam. O estresse é perigoso caminho que pode desembocar na morte repentina.
O ex-campeão mundial de natação Ricardo Prado, antes de completar 40 anos, teve de se submeter a uma cirurgia cardiovascular de emergência para não morrer: “Perguntei para o médico se era possível esperarmos o período de férias, mas ele me deu uma semana para realizar o procedimento”. Em seu caso, o pai havia tido um infarto logo após completar 60 anos. A imprevisibilidade desse tipo de evento também se verifica na história do atleta amador Carlos Fujii. No ano passado, durante um período de treinos, ele se sentiu mal: “apaguei, parece que me tiraram da tomada”.
A sua fala é ótima e espirituosa, mas vamos ao fenômeno clínico: uma pequena placa de gordura se desprendera na corrente sanguínea e obstruira uma artéria do coração. Seus companheiros de corrida o socorreram. Depois de um mês, estava recuperado.
Deixemos agora os jovens de lado e vamos aos que já atravessaram com saúde grande parte da vida e, repentinamente, são pegos pelo infarto. “Eu morri subitamente e voltei à vida graças ao atendimento médico rápido”, conta Fellippo Danello, 77 anos, cantor italiano radicado no Brasil. No momento em que interpretava a décima música de seu repertório, em um show no clube poliesportivo Paulistano, em São Paulo, Danello passou muito mal.
Apesar disso, a sorte lhe foi madrinha: ele se apresentava para uma plateia de médicos: “Quando abri os olhos vi o rosto da minha cardiologista”. Na semana passada, a American Heart Association divulgou as novas diretrizes de ressuscitação e emergências cardiovasculares, decididas por convenção internacional. Agora são 491 recomendações para tentar salvar vidas, quando elas se tornam ameaçadas pela morte súbita.