Desempenho ruim alimenta pressão para Biden desistir
EDITORIAL DE O GLOBO
Do início ao fim, o desempenho de Joe Biden no debate com Donald Trump, primeiro do ciclo eleitoral que decidirá quem comandará os Estados Unidos a partir do ano que vem, foi constrangedor. Ao defender o embate contra Trump antes das convenções democrata e republicana que escolherão oficialmente os candidatos, partidários de Biden pretendiam afastar as preocupações com sua idade avançada (81 anos) e as dúvidas sobre sua capacidade cognitiva. O efeito foi o oposto. Na saída do evento em Atlanta, estavam instalados entre os democratas o pânico e a discussão sobre o que fazer para convencer Biden a desistir da candidatura.
Já na primeira pergunta, Biden falou com voz tíbia e rouca. Em seguida, teve um lapso de memória ao discorrer sobre o sistema de saúde. Repetidas vezes, interrompeu frases no meio para seguir outro fluxo de pensamento. Ao comentar a guerra na Ucrânia, confundiu Trump com o russo Vladimir Putin, numa de suas dezenas de frases tortuosas: “Se você der uma olhada no que Trump fez na Ucrânia, ele, esse sujeito disse à Ucrânia, disse a Trump, faça o que quiser, faça o que quiser, e foi exatamente isso que Trump fez. Putin o encorajou, faça o que quiser. E ele entrou”. Ao final de outra resposta obtusa de Biden sobre segurança na fronteira, Trump retrucou: “Realmente não sei o que ele disse no final daquela frase. E acho que ele também não sabe”.
Trump foi condenado em maio por um tribunal em Nova York por fraude contábil ao subornar uma atriz pornô na campanha de 2016. Difícil pensar em assunto mais vantajoso para Biden. Mas, quando ele falou no tema, foi hesitante. O ataque a Trump pela incitação à invasão ao Capitólio também não surtiu o efeito esperado. Biden conseguiu ir mal mesmo nos temas em que tinha vantagem, como aborto. Numa resposta confusa, mencionou imigração e segurança pública, dois pontos fracos de seu governo.
Ao final, estava claro que a estratégia republicana de deixar Biden expor suas próprias fragilidades dera certo. À frente nas pesquisas, Trump também se confundiu e proferiu um sem-número de mentiras e declarações desconexas. Mas, aos 78 anos, continua falando em tom firme, sobressaindo no contraste com a tibieza de Biden.
Biden tem o apoio de 3.894 dos 3.937 delegados da convenção democrata em 19 de agosto. Não há impedimento legal para que o partido escolha outro candidato. Mas, para isso, é preciso primeiro que Biden desista da reeleição, como fez Lyndon Johnson em 1968. Nesse cenário, os democratas teriam uma “convenção aberta”, em que o candidato seria escolhido de forma competitiva pelos delegados. Certamente haveria pressão em favor da vice-presidente Kamala Harris. Outro nome aventado é Gavin Newsom, governador da Califórnia.
Os democratas estão diante de um dilema: insistir na candidatura de um presidente impopular, visto como incapaz, ou convencê-lo a desistir para buscar outro candidato de última hora. A competição para ocupar o lugar de Biden traria à tona as divisões internas, e sair da convenção com o partido unido representaria um desafio. Por enquanto, todos os cenários não passam de especulação. Biden não deu nenhum sinal de que pretenda desistir. Melhor para Trump, que inegavelmente saiu vitorioso do debate. Biden, até o momento, tem sido o pior cabo eleitoral de si mesmo.
Governo teme bolsonarismo energizado com fortalecimento de campanha de Trump após debate
O fortalecimento da candidatura de Donald Trump após o debate presidencial americano, na quinta-feira (27), aumentou a preocupação no Palácio do Planalto com as consequências para o presidente Lula (PT) de uma possível volta do republicano à Casa Branca.
A principal avaliação entre auxiliares do petista é que o eventual retorno de Trump significaria um empoderamento da extrema direita no Brasil e do bolsonarismo, com risco de impacto até mesmo sobre o STF (Supremo Tribunal Federal).
Na noite de quinta, Joe Biden e Trump se enfrentaram no primeiro debate das eleições presidenciais dos Estados Unidos, nos estúdios da emissora CNN, em Atlanta.
Em um embate tenso, Trump encurralou Biden de maneira enérgica em temas-chave para o eleitorado americano, como imigração, guerras nas quais os EUA se envolveram nos últimos anos, a gestão da pandemia da Covid-19 e o aborto. O desempenho ruim do democrata aumentou a pressão para que ele desista de concorrer.
Embora destaquem que ainda faltam meses para a eleição e que o próprio Trump tem desafios políticos e até judiciais em sua campanha, membros do governo opinam que Biden demonstrou fragilidade no debate.
O debate aconteceu no mesmo dia em que Lula criticou Trump, lembrou o ataque ao Capitólio e disse que pessoas assim não são boa para a politica. Ele também disse que Biden é a "certeza de que os Estados Unidos vão continuar respeitando a democracia" e que, por isso, torce pelo democrata.
"O Biden é a certeza de que os EUA vão continuar respeitando a democracia. O Trump já deu aquela demonstração quando ele invadiu o Capitólio. Fez lá o que se tentou fazer aqui no Brasil no 8 de janeiro. Como democrata, estou torcendo para que o Biden saia vitorioso. Tenho uma relação sólida com ele e pretendo manter", afirmou Lula, em entrevista à rádio Itatiaia.
Assessores no Palácio do Planalto minimizaram o impacto das declarações de Lula em apoio a Biden. Eles disseram que a fala se justifica pelo caráter de risco à democracia que Trump representa.
Disseram ainda que a relação com os EUA no caso de vitória trumpista não seria mais problemática do que é hoje, independentemente das declarações, por causa da proximidade de Trump com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o bolsonarismo.
Por outro lado, manifestaram preocupação de que o fortalecimento de Trump crie uma nova onda em favor da extrema direita nos EUA e em todo o mundo. No Brasil, significaria combustível novo para o bolsonarismo, movimento que, na visão do Planalto, se enfraqueceu com as investigações sobre o 8 de janeiro de 2023 e a inelegibilidade de Bolsonaro decidida pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Assessores de Lula ouvidos pela Folha traçaram dois cenários para um hipotético relacionamento entre Lula e Trump a partir do ano que vem. No otimista, temas econômicos ganhariam precedência sobre a disputa ideológica e o governo petista conseguiria margem para conduzir a agenda bilateral com pragmatismo.
Mas há razões para uma previsão mais pessimista: os vínculos políticos do trumpismo com Bolsonaro e seus aliados.
Políticos americanos partidários de Trump denunciaram recentemente o que consideram perseguição e censura do STF contra bolsonaristas.
Além disso, o bilionário Elon Musk, apoiador de Trump e dono da rede social X (ex-Twitter), fez ataques nas redes sociais ao ministro do STF Alexandre de Moraes e o acusou de ter atuado para beneficiar Lula.
Esses episódios levaram assessores de Lula a temer que Trump e seus aliados, caso cheguem ao poder, adotem uma postura de hostilizar abertamente o governo brasileiro e o Supremo. Como principal economia do mundo, não faltariam instrumentos para isso.
Segundo um auxiliar de Lula, uma Casa Branca trumpista não seria o único foco de tensão para Lula no continente. Javier Milei, o ultraliberal presidente da Argentina, poderia se sentir mais empoderado para adotar uma estratégia mais ideológica na relação com o Brasil.
As dificuldades de Biden no debate da CNN têm sido exploradas por bolsonaristas nas redes. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente e articulador internacional do bolsonarismo, publicou em rede social vídeo do debate para dizer que Biden travou. Republicou ainda mensagem que ironiza a idade do democrata.
De acordo com pessoas que acompanham o tema no governo brasileiro, no momento é preciso aguardar para entender quais serão os próximos passos dos democratas nos EUA. O governo vai analisar primeiro se Joe Biden permanecerá candidato ou se cederá à pressão para ser substituído por alguém mais jovem.
Um assessor do Lula citou um tuíte desta sexta-feira (28) do ex-presidente Barack Obama, no qual ele afirmou que "noites ruins de debate acontecem" e defendeu Joe Biden na disputa contra Trump. "Essa eleição é ainda uma escolha entre alguém que lutou por pessoas comuns a sua vida inteira e alguém que se importa apenas consigo mesmo", escreveu.
O atual presidente americano, de 81 anos, chegou ao debate tendo sua capacidade de governar questionada por causa da sua idade avançada. Na avaliação de analistas, e de conselheiros de Lula que seguiram o debate, ele piorou essa percepção. Trump tem 78 anos.
Uso de inteligência artificial cresce em campanhas pelo mundo e acende sinal de alerta no TSE para eleições municipais
Por Daniel Gullino, Sarah Teófilo e Eduardo Gonçalves— Brasília / O GLOBO
Em um ano marcado por eleições que mobilizam grandes contingentes de eleitores, em países como Índia, México e Brasil, o uso de inteligência artificial (IA) na política tem se alastrado pelo mundo. Da criação de candidatos fictícios a falsas declarações de apoio, o uso da tecnologia coleciona exemplos de tentativas de manipular a opinião do eleitor, em amostras do tipo de ação com que os brasileiros que vão às urnas em outubro poderão se deparar. Profissionais que atuam em campanhas e dirigentes partidários, por outro lado, afirmam ser possível fazer bom uso das ferramentas nas disputas municipais.
Resolução aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em fevereiro define regras para a utilização da IA nas campanhas eleitorais, como identificar o uso da tecnologia em materiais de divulgação e a proibição dos chamados “deepfakes” — técnica que permite trocar o rosto de pessoas em vídeos, por exemplo.
Deepfake foi a tecnologia utilizada na África do Sul em vídeos que indicavam um falso apoio do ex-presidente norte-americano Donald Trump a candidatos no país. A imagem de Trump, ele próprio candidato nos Estados Unidos, também foi manipulada no Paquistão para dizer que ele tiraria da prisão o ex-primeiro-ministro Imran Khan.
O risco dessas manipulações aumenta à medida que se aproxima a eleição — e diminui, portanto, o tempo para desmentir o conteúdo. Em Bangladesh, um vídeo criado com a técnica de deepfake foi usado para simular que dois candidatos haviam desistido na disputa no dia de os eleitores irem às urnas. Situação semelhante ocorreu em Taiwan, mas para falsificar o apoio de um empresário.
Na Índia, candidatos usaram vozes e imagens de pessoas mortas, incluindo uma cantora popular. O mesmo ocorreu na Indonésia, com vídeos do ex-presidente Suharto, morto em 2008.
Todos esses episódios poderiam ser enquadrados nas regras do TSE, com a possibilidade de cassação da candidatura ou até do mandato dos responsáveis pela divulgação.
Prioridade do TSE
O tribunal afirma que servidores do órgão acompanham a utilização da tecnologia ao redor do mundo, com participação em eventos e workshops internacionais. Em nota, o TSE informou ainda que este monitoramento é uma prioridade da Corte.
“O uso da inteligência artificial no processo eleitoral está entre as prioridades do TSE, que acompanha sim o tema e o modo como essa tecnologia é empregada ao redor do mundo”, diz a nota.
Mas nem sempre a IA é usada para enganar o eleitor. Na Bielorrúsia, um candidato foi criado a partir do ChatGPT, ferramenta criada pela empresa OpenIA, em uma forma da oposição de denunciar o que foi considerada uma eleição fraudulenta. “Ele é mais real do que qualquer candidato que o regime tem para oferecer. E a melhor parte? Ele não pode ser preso”, ironizou a líder opositora Sviatlana Tsikhanouskaya.
No México, a candidata Xóchitl Gálvez relatou ter utilizado uma ferramenta de IA para treinar para um debate. Os dados sobre o uso da IA em eleições estão sendo reunidos em um projeto do site Rest of World.
Enquanto isso, no Brasil, marqueteiros envolvidos em campanhas admitem utilizar a tecnologia, mas predominantemente em funções nos bastidores das campanhas. O estrategista Felipe Soutello, especialista em marketing político e responsável por diversas campanhas, ressalta que as ferramentas de IA vão auxiliar no trabalho do dia a dia, agilizando alguns processos.
— A base de uma campanha é a estruturação do discurso dos candidatos. Então, se você armazena o conjunto das falas e discursos e estrutura isso dentro de uma pasta de IA, ela vai te ajudar a ter coerência, pegar as recorrências, refinar e deixar esse discurso mais palatável para diferentes públicos. Essas ferramentas são colaboradores que somam na mesa de trabalho — afirmou Soutello, que atuou na campanha vitoriosa de Bruno Covas à Prefeitura de São Paulo, em 2020, e na da atual ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), à Presidência da República, em 2022.
O marqueteiro Paulo Vasconcellos, que assumiu a campanha do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), e atua na pré-candidatura do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) à Prefeitura do Rio, também é a favor da utilização da tecnologia, mas “com parcimônia”.
— O eleitor busca verdade no candidato. Se o eleitor perceber que há falsidade em uma conversa, a candidatura perde energia — avalia.
O marqueteiro Renato Pereira, que deve atuar em campanhas de algumas capitais, ressalta que o uso “do bem” das ferramentas de inteligência artificial é efetivo, auxiliando no processamento de informações. Ele avalia que em algumas áreas não há vantegens, como na criação. No caso de elaborar um slogan, os resultados são ruins.
— A IA interpreta pesquisas, elabora cenários políticos para o candidato.
Uso nocivo
No início do mês, a ministra Cármen Lúcia assumiu a presidência do TSE com um discurso contra “algoritmo do ódio”. Um dos principais desafios será o de lidar com a popularização da IA.
Reservadamente, estrategistas apontam a possibilidade de diretórios de grandes partidos utilizarem a tecnologia com o objetivo de abranger cada vez mais a segmentação. Ou seja, a tecnologia deve orientar a produção de propagandas que visem atingir eleitores que moram em um bairro determinado, ganham um certo salário, seguem certa religião.
O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), diz que a IA é uma “realidade irreversível”, mas que a regulamentação é importante. Ele defende mudanças na legislação para reforçar a vedação aos deepfakes. Já o chefe do PL, Valdemar Costa Neto, afirma que as peças de comunicação serão de responsabilidade dos diretórios municipais, sem centralização.
À frente do PSDB, Marconi Perillo afirmou que o partido promoveu um seminário com pré-candidatos para evitar a desinformação. O dirigente confirma que a sigla irá usar ferramentas com IA, principalmente na análise de dados para auxiliar candidatos.
Lula diz que bolsonarismo tem quatro candidatos para 2026 e cita governadores como possíveis adversários
Por Karolini Bandeira e Bernardo Lima— Brasília / O GLOBO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta quarta-feira, que enxerga quatro governadores como possíveis candidatos à Presidência em 2026 alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro: Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais), Ronaldo Caiado (Goiás) e Ratinho Júnior (Paraná).
— O bolsonarismo tem a possibilidade de ter quatro candidatos: tem o Tarcísio, governador do estado mais importante; tem o Zema, governador do segundo estado mais importante; tem o Caiado, que está se oferecendo todos os dias para ser candidato; e tem o Ratinho, no Paraná. Mas, sinceramente, não sei se serão candidatos — disse Lula em entrevista ao UOL.
Com Jair Bolsonaro (PL) inelegível até 2030, Tarcísio (Republicanos) emerge como um dos potenciais herdeiros do espólio do ex-presidente. Em maio, a primeira pesquisa Genial/Quaest sobre a próxima eleição presidencial, revelou vantagem de Lula sobre o governador de São Paulo em 2026. Perguntados sobre uma disputa direta na qual Tarcísio seria escolhido como o candidato de Jair Bolsonaro (PL), 46% votariam no petista e 40% optariam pelo ex-ministro da Infraestrutura.
Questionado sobre o governador de São Paulo, o petista afirmou que os dois mantêm pouca relação e que "não irá julgá-lo". Disse, ainda, que espera que Tarcísio "não tenha preocupações" durante suas visitas a São Paulo.
Lula declarou, ainda, que deverá entrar em campo nas eleições municipais para emplacar aliados em cidades estratégicas, mas que não vai “participar da campanha como um todo” para "não atrapalhar a governança nacional”.
— Um partido é como time de futebol, tem época que você está na qualidade de um Real Madrid, tem época que você está na qualidade do Corinthians. Então, a depender do momento, você lança mais candidato ou menos candidato. Eu acho que a gente vai ter candidato nas cidades em que a gente tem perspectiva de disputar. algumas, com aliados importantes.
Legislação sobre pesquisa eleitoral é um equívoco
O Projeto de Lei do novo Código Eleitoral que tramita no Senado prevê a divulgação de pesquisas de intenção de voto acompanhadas de um insólito “indicador de confiabilidade”, elaborado pela Justiça Eleitoral. Trata-se da mais nova versão da “taxa de acerto” sugerida por parlamentares às vésperas da última eleição, em 2022. Como naquela época, a proposta atual também é descabida.
Pesquisas eleitorais não são prognósticos. São retratos de um momento e devem ser analisadas levando em conta as leis estatísticas que regem levantamentos por amostragem. Dentro de condições ideais de coleta da amostra, elas garantem que o resultado reflete a realidade de certa população com determinada probabilidade, dentro de uma margem de erro. Por definição, não têm como “acertar” ou “errar” o que acontecerá no dia da eleição. Intenção de voto é uma coisa. Outra, bem diferente, é o comportamento na urna.
Num mundo de informação veloz e abundante, a decisão do eleitor tem sido volátil no planeta inteiro. Muitos mudam de ideia a caminho do local de votação. Contingente nada desprezível desiste de votar, e estimar a abstenção é um desafio para os institutos. A divergência com o resultado na urna não significa que as pesquisas estejam “erradas”. Nem que não tenham o papel relevante de informar o eleitorado sobre o quadro eleitoral daquele momento. Por vezes, é o resultado de uma pesquisa que estimula o eleitor para que vote e tente reverter a situação.
A iniciativa no Congresso reflete apenas o oportunismo de políticos que se julgam prejudicados por elas. Na versão original aprovada na Câmara, o projeto previa a divulgação de uma “taxa de acerto” das pesquisas nos cinco pleitos anteriores. No Senado, o relator Marcelo Castro (MDB-PI) trocou a expressão por “indicador de confiabilidade”. Ele defende que os institutos também informem os resultados das últimas três pesquisas estimuladas do candidato eleito no pleito anterior. É uma exigência sem lastro no conhecimento científico. Desconhece-se país que imponha requisito semelhante, diz Natallia Lima, consultora da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep). Isso tem razão de ser. Além de inócua, a regra confundiria o eleitor com informações inúteis, nomes que nada têm a ver com a eleição.
Nada disso significa que pesquisas eleitorais sejam imunes a problemas. Mas o Legislativo pouco tem a contribuir para aperfeiçoá-las. O esforço deve ser resultado de estudos sérios que detectem suas deficiências diante da realidade, não de noções sem lastro na ciência. A maioria dos institutos admite que precisa estimar melhor a abstenção, calibrar as amostras para que sejam mais fidedignas (sem superestimar o voto em segmentos de preferências definidas) e filtrar o “voto envergonhado” de quem resiste a responder.
Os próprios institutos têm se encarregado de promover mudanças para dar conta dessas limitações. Quanto melhor for o levantamento, mais relevante será. A situação, porém, está longe de preocupante. Apesar da gritaria no Congresso, todos os candidatos a cargo majoritário no Brasil costumam contratar pesquisas para definir estratégias de campanha. Não poderia haver sinal mais eloquente de que, no fundo, acreditam nessa ferramenta imprescindível para medir os humores do eleitorado.