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SOMENTA A LEI - FOLHA DE SÃO PAULO

Augusto Aras, quem diria, acertou uma. Notabilizado por se submeter antes ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) do que a sua missão constitucional, o procurador-geral da República reagiu de forma correta aos ataques de 8 de janeiro à democracia brasileira.

Nas denúncias já apresentadas pela Procuradoria ao Supremo Tribunal Federal, estão arrolados os crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano e deterioração do patrimônio público tombado.

Não há, como se vê, terrorismo nessa lista, assinada por Carlos Frederico Santos, subprocurador-geral encarregado por Aras de coordenar o grupo responsável pelas apurações dos atos antidemocráticos.

Alguém poderia imaginar que o terrorismo só ficou de fora por interessar a Bolsonaro ver o mínimo rigor aplicado a seus apoiadores. Seria uma leitura apressada. A verdade é que a legislação brasileira define as condutas típicas do crime de terrorismo e estabelece algumas condições necessárias para que ele esteja caracterizado.

Uma dessas condições é que os suspeitos tenham "a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública".

A outra é que o ato criminoso se baseie em "razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião". E, para que não fiquem dúvidas quanto ao que não está dito, o texto exclui expressamente motivações políticas.

Se é possível associar a primeira dessas condições aos vândalos celerados que dilapidaram os prédios dos três Poderes, o mesmo não se dá em relação à segunda. Afinal, onde estava a xenofobia? Ou a discriminação? Ou o preconceito?

Embora a definição jurídica não seja a única possível, e apesar de normas internacionais contemplarem uma gama maior de condutas e motivações, não convém, sobretudo no contexto conturbado que o país atravessa, ir além do que dispõe a legislação.

Foi o que fizeram, lamentavelmente, os presidentes dos Poderes quando divulgaram no dia 9, nota conjunta classificando os atos como terroristas. Foi também o que fez, de modo ainda mais lamentável, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, ao afastar Ibaneis Rocha (MDB) do cargo de governador do Distrito Federal.

É inegável que se vivenciaram momentos de intolerância política e desgaste institucional. Superá-los exigirá que as autoridades saibam investigar, processar e punir os responsáveis pela intentona extremista. Retaliações além da lei tendem a fortalecer a radicalização.

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META NECESSÁRIA

O ESTADÃO DE SP

 

O ministro da Educação, Camilo Santana, disse ao Estadão que tem como meta a universalização do ensino em tempo integral nas escolas públicas do País. Eis um passo mais do que necessário para melhorar a qualidade da educação brasileira e elevar os níveis de aprendizagem. O ensino integral, como se sabe, é regra em países desenvolvidos. Enquanto isso, no Brasil, a maioria dos alunos ainda cumpre jornada de cerca de quatro horas − um atraso que prejudica o País em muitas dimensões, seja pelos alunos que pouco aprendem e se desinteressam da escola, seja pelos pais que não têm onde deixar os filhos para trabalhar.

 

Por maior que seja o investimento para dotar o País de escolas de ensino integral, algo é certo: sairá mais caro não fazê-lo. Tudo passa pela definição de prioridades, e a universalização do ensino integral está alinhada a um objetivo estratégico e inadiável: criar condições para um verdadeiro salto de qualidade na educação do País.

 

Este jornal defende que se priorize a educação básica. Já passou da hora de assegurar o que prevê o artigo 205 da Constituição, quando diz que a educação visa “ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Eis o que se espera da formação escolar − um direito historicamente subtraído de crianças e adolescentes de Norte a Sul do País, ano após ano, governo após governo.

 

Mudar tal realidade, por óbvio, não será tarefa simples. A oferta de ensino integral requer a superação de muitos desafios, a começar pela necessidade de mais recursos. Para que os alunos permaneçam mais horas na escola, é preciso aumentar o número de professores, além de garantir que cada unidade tenha o seu próprio espaço físico. Atualmente, com a jornada reduzida, um mesmo prédio pode abrigar turmas diferentes a cada turno.

 

Nesse sentido, a entrevista do ministro Camilo Santana ao Estadão aponta na direção certa. Corretamente, ele enfatizou a necessidade de planejamento das ações, sinalizando a intenção de avançar por etapas. A ampliação do ensino integral, desse modo, poderia começar pelo ensino médio e avançar para os anos finais do ensino fundamental (6.º ao 9.º ano), antes de chegar aos anos iniciais (1.º ao 5.º ano).

 

Outro ponto importante destacado pelo ministro diz respeito à colaboração entre os três níveis de governo: as redes estaduais e municipais concentram oito em cada dez matrículas de ensino fundamental e médio no País. Logo, qualquer proposta de incentivo ao ensino em tempo integral por parte do Ministério da Educação (MEC), por melhor que seja, dependerá do engajamento dos governos estaduais e das prefeituras. Quanto a isso, não se espera outra atitude de prefeitos e governadores.

 

O Brasil só tem a ganhar ao investir na oferta de ensino em tempo integral. Em Pernambuco, o programa estadual resultou até na diminuição das taxas de homicídio de jovens. No Ceará, Estado que virou referência nacional em educação − e onde Camilo Santana foi governador −, o ensino integral faz parte das estratégias de melhoria do ensino. Chegou a hora de fazer o mesmo no País inteiro.

É PRECISO CUIDADO COM A INFLAÇÃO

O ESTADÃO DE SP

 

A desorganização das cadeias produtivas após a pandemia de covid-19, a guerra na Ucrânia e as demandas por novas tecnologias rumo à transição energética inauguraram uma discussão sobre o nível de inflação aceitável nas economias avançadas. No Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, Christian Ulbrich, CEO do grupo imobiliário global JLL, expressou o entendimento de uma parte de executivos das maiores empresas do mundo a respeito do impacto desses fatores no regime inflacionário. Essas mudanças, para os executivos, teriam um caráter estrutural e elevariam a inflação nas economias mais avançadas dos atuais 2% para 5%.

 

Ao qualificar esse cenário como “novo normal”, o Financial Times alertou que as impressões do executivo deveriam ser ouvidas com atenção pelos investidores, mesmo porque ele não é o único a pensar dessa forma. Em um artigo publicado pelo jornal recentemente, Olivier Blanchard, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), defendeu a revisão da meta de inflação dos países ricos para 3%. Só o tempo dirá se essas mudanças na dinâmica inflacionária são temporárias ou permanentes, mas esse debate já gera consequências no mundo todo, inclusive no Brasil, onde o processo inflacionário tem suas particularidades.

 

Pelo segundo ano consecutivo, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, teve de enviar uma carta ao governo para justificar o descumprimento da meta de inflação. Em 2021, a meta era de 3,75%, e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou o ano em 10,06%. Em 2022, o alvo era de 3,5%, e o índice fechou em 5,75%. A despeito dos esforços do BC, tudo indica que não será possível atingir o centro da meta deste ano, de 3,25%, tanto que a autarquia diz trabalhar com um horizonte de seis trimestres à frente.

 

Nesse contexto, o presidente Lula da Silva aproveitou para deixar claro seu incômodo com a autonomia do Banco Central (BC). Se suas críticas não trazem novidades, elas destacam uma teimosa convicção, compartilhada pela maioria do PT, de que uma inflação mais alta é capaz de impulsionar o crescimento econômico – diferentemente da maioria dos economistas ortodoxos, para quem o controle da inflação é premissa para um crescimento econômico sustentável. A experiência brasileira, de forma geral, e o governo Dilma Rousseff, em particular, mostram quem tem razão.

 

O Conselho Monetário Nacional (CMN), colegiado formado pelos ministros da Fazenda e Planejamento e pelo presidente do Banco Central, já definiu a meta de inflação para 2024 e 2025 em 3%. O novo governo, no entanto, pode mudar esses objetivos.

 

A inflação brasileira sofre os efeitos do câmbio, das cotações das commodities, dos preços dos alimentos e dos preços administrados, mas há ao menos dois aspectos que influenciam seu comportamento de forma muito particular e que, por essa razão, não podem ser desprezados: as fragilidades fiscais e o mercado de trabalho. Aliados, seus efeitos podem ser trágicos. Deveria servir de alerta ao governo, portanto, o fato de que o País acaba de aprovar um aumento de gastos que elevou o déficit primário a mais de R$ 200 bilhões e registrou um índice de desemprego de 8,1% no trimestre encerrado em novembro, o menor patamar desde abril de 2015.

 

Quando a inflação volta a ser um problema para economias no mundo todo, o Brasil pode e deve debater seus limites, mas dentro de uma perspectiva muito mais cautelosa e vigilante. A história prova que o controle da inflação não foi um trabalho fácil. Em um contexto de maior tolerância com a inflação, não se pode perder de vista que os picos registrados nos Estados Unidos no início da década de 1980 foram rapidamente debelados, enquanto no Brasil a batalha somente foi vencida mais de dez anos depois, com o Plano Real.

 

Antes de liderar esse debate, o governo precisa compreender que ter uma meta de inflação realista é muito diferente de não ter meta alguma, e que o controle da inflação não é um capricho, mas uma conquista civilizatória, da qual o País não pode abrir mão.

Milhares protestam em Madri contra governo de esquerda do presidente Pedro Sánchez

Milhares de pessoas protestaram neste sábado,21, em Madri, capital da Espanha, contra o governo de esquerda do primeiro-ministro Pedro Sánchez, em uma manifestação apoiada pelo partido de extrema direita Vox.

 

Entre bandeiras vermelhas e brancas, os manifestantes pediram a renúncia de Sánchez. Alguns deles seguravam cartazes com a foto do chefe do governo e a frase “traidor”.

 

Segundo dados da delegação do governo, mais de 30 mil pessoas foram à Praça de Cibeles, no centro da cidade, para participar do protesto. Os organizadores afirmam que foram mais de 700 mil.

 

A manifestação foi convocada por uma dezena de grupos e organizações de direita e tem o apoio do conservador Partido Popular (PP), principal sigla da oposição, e da formação de extrema-direita Vox.

 

Ela ocorreu depois que o governo revogou o crime de sedição, a principal acusação pela qual a Justiça espanhola condenou nove líderes separatistas catalães por seu papel na tentativa fracassada de independência da região em 2017.

 

O crime foi substituído por outro, com pena de prisão menor. A oposição de direita quer reverter a medida quando voltar ao poder. Os conservadores também se opõem a uma lei histórica contra a violência sexual que endurece as penas para estupro, mas suaviza as penas para outros crimes sexuais.

Protestos organizado por movimentos de direita contra o governo de esquerda de Pedro Sánchez reuniu 30 mil pessoas no centro de Madrid, segundo a polícia; organizadores falam em 700 mil
Protestos organizado por movimentos de direita contra o governo de esquerda de Pedro Sánchez reuniu 30 mil pessoas no centro de Madrid, segundo a polícia; organizadores falam em 700 mil Foto: Susana Vera/REUTERS

Santiago Abascal, líder do Vox, garantiu ter ido com “milhares de espanhóis” a uma manifestação contra “o pior governo da história” de Espanha, que “atropelou a Constituição ao prender os espanhóis”, aludindo ao confinamento devido à pandemia, enquanto deixa livres estupradores, terroristas e golpistas”. E pediu uma “mobilização permanente e massiva até a expulsão do poder do autocrata Pedro Sánchez”.

O líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, não participou da manifestação, mas incentivou os membros da formação a comparecer. A maioria das pesquisas indica que o PP poderia vencer as eleições gerais marcadas para o final do ano, embora precisasse do apoio do Vox para governar.

A Espanha também realiza eleições municipais em uma dúzia de regiões em maio.

O governo de Sánchez, que carece de maioria parlamentar, foi forçado a negociar com separatistas bascos e catalães a aprovação de projetos de lei, irritando a direita.

Os conservadores o acusam de ter eliminado o crime de sedição para garantir o apoio do partido independentista catalão ERC. O governo, por outro lado, defende que a sedição é um crime ultrapassado que deveria ser substituído por outro mais de acordo com os padrões europeus.

Entenda o motivo dos protestos em Madrid

Em nome da reconciliação, o governo da Espanha concedeu indulto, em junho, aos nove líderes separatistas catalães presos pela tentativa de secessão de 2017, anunciou o primeiro-ministro, , nesta segunda-feira, 21, em Barcelona.

“A razão fundamental dos indultos é sua utilidade para a convivência”, argumentou Pedro Sánchez. Ele explicou que mesmo compreendendo os motivos da rejeição à medida por parte do separatismo mais radical e da oposição de direita, seu governo optou por abrir caminho para a reconciliação e o reencontro.

“Com este ato, retiramos materialmente nove pessoas da prisão, mas somamos simbolicamente milhões e milhões de pessoas à convivência”, insistiu.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, anuncia a concessão de indulto aos separatistas catalães, em junho de 2022
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, anuncia a concessão de indulto aos separatistas catalães, em junho de 2022 Foto: Javier Barbancho/ AFP

O presidente regional catalão, o separatista moderado Pere Aragonès, afirmou que com essa decisão, o governo espanhol corrige uma sentença do Tribunal Supremo que foi injusta, porque organizar um referendo não pode ser crime.

 

Campanha intensa

Apesar da proibição por lei, o governo regional, então presidido pelo independentista Carles Puigdemont, organizou um referendo sobre autodeterminação em 1º de outubro de 2017, marcado por cenas de violência policial que percorreram o mundo.

No dia 27 do mesmo mês, o Parlamento catalão declarou unilateralmente a independência, à qual o governo espanhol, então presidido pelo conservador Mariano Rajoy, respondeu destituindo o executivo catalão e colocando a comunidade autônoma sob tutela.

Perseguidos pela justiça, os líderes separatistas fugiram da Espanha, como Puigdemont, ou foram presos, como o então vice-presidente catalão e líder da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Oriol Junqueras.

Em outubro de 2019, o Tribunal Supremo condenou nove líderes separatistas a penas de entre 9 e 13 anos de prisão, uma sentença que desencadeou manifestações em massa na Catalunha, algumas delas violentas.

Rejeitado pelo Tribunal Supremo, o indulto também não possui um apoio majoritário: segundo uma pesquisa Ipsos, 53% dos cidadãos espanhóis são contra, embora 68% dos catalães aprovem a medida.

A direita acusa Sánchez de tomar essa medida motivado unicamente pelo seu desejo de se manter no poder, já que seu governo minoritário precisa do apoio de parte dos independentistas no Congresso.

No entanto, a esforçada campanha do governo deu frutos, e na última semana recebeu o apoio aos indultos da patronal, tradicionalmente contra o separatismo, assim como dos bispos catalães./AFP / o estadão

Real termina a semana com pior resultado entre as moedas emergentes

Por Alvaro Gribel / COLUNA DE MIRIAM LEITÃO / O GLOBO

 

As falas do presidente Lula sobre uma eventual mudança nas metas de inflação e na autonomia do Banco Central se refletiram no mercado de câmbio. O real terminou a semana com o pior resultado entre as principais moedas de países emergentes.

 

Enquanto a moeda brasileira caiu 2,13%, o peso colombiano se valorizou 2,25%. O peso chileno também ganhou 0,59%, mesma valorização da coroa tcheca. Por outro lado, caíram na semana o rand sul-afriano, 1,67%, o sol peruano, com 1,17% e o peso mexicano, 0,62%. Mas em menor intensidade na comparação com o real.

 

No curto prazo, essa desvalorização vai pressionar também os preços dos combustíveis. Segundo dados da Abicom, a associação dos importadores, a gasolina está 11% mais barata internamente e o diesel, 5%. Isso porque o petróleo do tipo brent saltou de US$ 77 para US$ 87 nas últimas semanas.

 

Esse efeito das falas de Lula sobre o dólar irá provocar justamente o que o presidente não quer: aumento da inflação, piora das expectativas e juros mais altos.

Lula dá protagonismo ao Nordeste e muda correlação de forças no governo

João Pedro Pitombo / FOLHA DE SP
 
SALVADOR

O terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente iniciou com nova correlação de forças dentro do governo e do PT, com maior protagonismo de políticos de estados do Nordeste.

O novo cenário representa o coroamento de uma geração de governadores eleita em 2014, reeleita em 2018 e que em 2022 ajudou a dar a Lula uma frente de 12,5 milhões de votos no Nordeste, sendo determinante para sua vitória sobre Jair Bolsonaro (PL).

O presidente reconheceu a força eleitoral dos ex-governadores e levou cinco deles para a Esplanada dos Ministérios: Rui Costa (PT), da Bahia, Camilo Santana (PT), do Ceará, Flávio Dino (PSB), do Maranhão, Wellington Dias (PT), do Piauí, e Renan Filho (MDB), de Alagoas.

Ao menos dois deles ganharam protagonismo nos primeiros dias de governo, sobretudo após os ataques de extremistas que resultaram na invasão e depredação das sedes do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal.

Ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino assumiu o cargo com missões espinhosas e se tornou a principal face pública do enfrentamento aos bolsonaristas que participaram dos ataques de 8 de janeiro.

Por outro lado, também se tornou vidraça de opositores, que enxergam inação da pasta frente aos protestos que antecederam a invasão aos prédios da praça dos Três Poderes.

Ao longo do governo, Dino tratará de outros temas sensíveis como a relação com o Judiciário e o regramento para acesso a armas por civis.

Outro nome que despontou na linha de frente nos primeiros dias é Rui Costa, ministro da Casa Civil e responsável pela gestão de projetos prioritários do governo. Ele tem participado do enfrentamento aos atos golpistas e buscou interlocução com militares, área sensível ao novo governo.

Outros três ex-governadores de estados do Nordeste tomaram posse em pastas estratégicas e de orçamento robusto. Camilo Santana, que vai gerir um orçamento de R$ 147 bilhões na Educação, tem conduzido agendas positivas que incluem o reajuste do piso salarial de professores e a promessa de um novo pacto pela alfabetização.

Wellington Dias, que governou o Piauí por quatro mandatos e é um dos interlocutores mais próximos de Lula, está no comando do Desenvolvimento Social, pasta responsável pelo Bolsa Família, programa que é uma das marcas das gestões do PT e que será relançado. Já o alagoano Renan Filho comanda a pasta dos Transportes com a chancela do MDB.

As cinco indicações fortaleceram o grupo de ex-governadores, que têm boa interlocução entre si e atuaram juntos no Consórcio Nordeste, servindo como contraponto a Bolsonaro.

Nesta sexta-feira (20), nove governadores do Nordeste se reuniram em João Pessoa e discutiram as prioridades de cada estado e da região. Uma carta será elaborada até a próxima quinta (26) para ser encaminhada a Lula com demandas.

Antes mesmo da eleição, Lula já dava indícios de que valorizaria esta nova geração de aliados. Em junho do ano passado, afirmou que "a melhor safra de bons governadores do país aconteceu no Nordeste". Também se solidarizou com eleitores da região alvo de ataques de apoiadores de Bolsonaro.

O movimento de Lula foi na direção contrária ao de seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010, quando nomes de São Paulo, ligados ao núcleo duro do partido, assumiram os postos-chave.

Também é um contraponto a Bolsonaro. O ex-presidente iniciou seu governo em 2019 sem nenhum ministro nordestino, mas abriu espaço ao longo da gestão, contemplando nomes da região como Gilson Machado, Fábio Faria, Rogério Marinho, João Roma e Marcelo Queiroga.

Ao longo de seu mandato, o ex-presidente teve relação tensa com os governadores do Nordeste, aos quais criticou pela adoção de medidas de contenção da pandemia da Covid-19 e sobre quem fez declarações em tom preconceituoso.

Os ex-governadores têm em comum o fato deserem pragmáticos e terem uma visão política mais ao centro, em contraste com o perfil mais à esquerda da bancada do PT no Congresso.

Dino e Camilo, por exemplo, chegaram a ter partidos como PSDB e DEM como aliados nos estados. Rui Costa se destacou por firmar parcerias público-privadas e por conduzir uma reforma da Previdência em âmbito estadual que gerou críticas dos servidores.

Os ex-governadores também são criticados pela atuação na área ambiental. Conforme apontado pela Folha, Rui Costa, Flávio Dino e Wellington Dias deixaram as gestões de seus estados com um passivo de recordes de desmatamento do cerrado em um período de oito a dez anos.

Na avaliação do cientista político Cláudio André de Souza, professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, a estratégia de Lula em convocar ex-governadores reflete a busca por lideranças políticas efetivas, que tenham trânsito no Congresso.

A escolha serve como um aceno a uma ala do PT que se mostrou vitoriosa: "É uma região que decidiu as eleições. Por isso, há uma expectativa de que o Nordeste comece a ter maior peso na definição das táticas eleitorais do partido", afirma.

Ele ainda destaca que, com 19 ministros, a região Sudeste ainda tem um peso relevante, refletindo a necessidade de o PT disputar politicamente uma região que concentra 40% do eleitorado e onde perdeu espaço nas últimas eleições.

Além dos ex-governadores, outros sete nomes do Nordeste foram alçados a ministérios: José Múcio (Defesa), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), Margareth Menezes (Cultura), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), André de Paula (Pesca), Juscelino Filho (Comunicações) e Jorge Messias (AGU).

Nascido no Rio de Janeiro, mas com carreira política no Rio Grande do Norte, o senador petista Jean Paul Prates foi indicado para assumir a presidência da Petrobras. Dos nove estados do Nordeste, a Paraíba é o único sem nomes contemplados com cargos-chave do novo governo.

O núcleo de São Paulo do PT segue prestigiado com quatro ministros: Fernando Haddad (Fazenda), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Luiz Marinho (Trabalho), além de Aloizio Mercadante no comando do estratégico BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

O espaço ocupado, contudo, representa um revés comparado ao primeiro governo Lula iniciado em 2002, quando nomes como Antônio Palocci, José Dirceu e Luiz Gushiken, todos de São Paulo, formaram o núcleo duro do governo.

A força do diretório paulista nas decisões do partido historicamente causa discórdia entre petistas. A despeito de ser o berço político de Lula, o PT paulista nunca venceu uma eleição para o governo do estado, mesmo tendo concorrido em todas desde 1982.

Nas últimas eleições, o estado também viu os candidatos do PT sofrerem derrotas nas eleições presidenciais. Em 2022, Bolsonaro teve 55,2% dos votos de São Paulo contra 44,8% de Lula.

Hoje, com um cenário de poder dividido entre os grupos de São Paulo e de estados do Nordeste, as insatisfações ganharam corpo em outros diretórios, sobretudo nas regiões Norte, Sul e em Minas Gerais.

Rio Grande do Sul, onde o PT já elegeu dois governadores e ainda mantém uma relativa capilaridade, indicou o deputado federal Paulo Pimenta para a Secretaria de Comunicação Social.

No caso de estados como Minas Gerais e Pará, os petistas viram aliados locais de outros partidos serem prestigiados com ministérios, mas ficaram sem espaço no primeiro escalão do governo.

Presidente do PT no Pará, o senador eleito Beto Faro diz que não há insatisfação: "Não tem essa crise, o governo tem que ser amplo. O que queremos são políticas públicas para a nossa região".

Colaborou Deyse Ponciano, de João Pessoa

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