Viagra reduz em 39% o risco de morte por doença cardiovascular, mostra novo estudo com 70 mil homens
Por O GLOBO — São Paulo
O Viagra, medicamento comumente usado para disfunção erétil, tem um benefício adicional: reduzir o risco de doenças cardíacas em até 39% em homens. A conclusão é de um novo estudo feito por pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. Os homens que tomam o remédio também parecem menos propensos a sofrer morte prematura por qualquer causa.
O estudo, publicado recentemente na revista científica Journal of Sexual Medicine, analisou dados de mais de 70.000 homens diagnosticados, com em média 52 anos, com disfunção erétil, entre 2006 e 2020. Por meio de registros médicos, os pesquisadores determinaram quem havia tomado remédios para disfunção erétil - e quaisquer problemas cardíacos subsequentes que possam ter sofrido durante o período de acompanhamento. Entre os participantes, 23.816 usavam os remédios para ajudar na cama, enquanto outros 48.682 não.
Os resultados mostraram que aqueles que usaram esses medicamentos eram menos propensos a sofrer problemas cardíacos. Eles tinham um risco 17% menor de insuficiência cardíaca, quando o coração não bombeia tão bem quanto deveria; 15% menos probabilidade de necessitar de um procedimento de revascularização coronária, usado para limpar bloqueios nas artérias do coração; diminuição de 22% na probabilidade de desenvolver angina instável, quando a placa na artéria coronária nega oxigênio e sangue ao coração.
Cada uma dessas condições pode ser fatal se não for tratada e aumentar significativamente a probabilidade de uma pessoa sofrer um ataque cardíaco. No geral, as mortes por problemas cardíacos nesses homens caíram quase 40%. Além disso, os homens que usaram medicamentos para disfunção erétil também viveram mais em média, com o risco de morte prematura caindo em um quarto durante o período do estudo.
Embora os pesquisadores não tenham investigado por que os medicamentos estavam ligados a uma melhor saúde do coração, eles acreditam que a droga aumenta o fluxo sanguíneo nas artérias do coração e melhora o fluxo de oxigênio por todo o corpo. Não é a toa que pesquisas anteriores vincularam o uso do Viagra a uma diminuição do risco de Alzheimer, que pode ser causado pela falta de fluxo sanguíneo para o cérebro.
A medicação funciona relaxando os músculos do pênis, o que permite um maior fluxo de sangue no local. O Viagra, e outras medicações para disfunção erétil, também dilui o sangue, facilitando o fluxo no corpo.
Esse processo reduz a pressão sanguínea como um todo, o que ajuda o sangue a fluir melhor por todo o corpo e diminui o risco de coagulação e outros bloqueios que causam problemas cardíacos graves. Também há melhora do fluxo na artéria braquial, um importante vaso sanguíneo que fornece sangue para a parte superior do braço, cotovelo e mão.
Embora os resultados deste estudo sejam promissores, não é recomendado tomar esses medicamentos para a prevenção de qualquer uma das condições acima, exceto para o tratamento de disfunção erétil, sob recomendação médica.
PF cumpre mandados contra esquema de corrupção na contratação de médicos em Redenção, interior do CE
Dando continuidade à investigação que apura a contratação fraudulenta de médicos e enfermeiros no município de Redenção, no interior do Ceará, a Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta sexta-feira (20), a operação policial Dor Fantasma 2.
Estão sendo cumpridos três mandados de busca e apreensão expedidos pela 32ª Vara da Justiça Federal, em Fortaleza e no Eusébio, na Região Metropolitana. O objetivo é apreender documentos e mídias para esclarecer elementos já levantados na primeira fase da operação, deflagrada em 14 de outubro de 2022.
Além disso, a ofensiva quer individualizar a atuação dos suspeitos nos crimes investigados e descobrir qual o destino dos recursos públicos repassados pela União ao Município, apurando se há desvios e/ou apropriação de recursos públicos federais.
CONTRATO COM DISPENSA DE LICITAÇÃO
As investigações tiveram início em 2020, após indícios de que houve contrato na ordem de R$ 1.550.592 oriundos dos cofres da União com cooperativa aparentemente sem capacidade logística e operacional com dispensa de licitação.
A PF identificou que a empresa investigada recebeu dos cofres públicos R$ 58 milhões, grande parte de origem federal, por meio de contratos firmados com diversas prefeituras do Ceará.
Se comprovado os crimes, os investigados responderão por corrupção ativa e passiva, com penas de até 36 anos de prisão. As investigações continuam com análise do material apreendido.
Ainda na primeira fase da ofensiva, a prefeitura de Redenção se pronunciou, afirmando colaborar com a operação. A gestão justifica que "o contrato investigado junto a Cooperativa foi feito durante o auge da pandemia da Covid-19, em 2020, onde se dispensava licitação devido à gravidade do momento".
O Diário do Nordeste tenta novo contato com a prefeitura de Redenção, nesta sexta-feira (20).
Desastroso apagão do governo
Rogério Furquim Werneck / O GLOBO
Não faltará quem alegue, como Billy Wilder, que “visão retrospectiva é sempre perfeita” (Hindsight is always twenty/twenty). Mas a verdade é que só não viu quem não quis. Já no final do ano passado, saltava aos olhos o alto risco de uma baderna como a que redundou em invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro, em Brasília. É espantoso que o novo governo não tenha se preparado para impedir que um distúrbio dessa gravidade acabasse ocorrendo.
Já em 12 de dezembro, data da diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral, ficara claro que o desempenho das forças de segurança responsáveis pela manutenção da ordem na capital federal se mostrara completamente inadequado, para lidar com a arruaça que então se viu.
A bazófia de Lula - edioriais@grupofolha.com
Não satisfeito com os discursos anteriores à posse que fizeram disparar os juros de mercado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua a desafiar o bom senso em temas econômicos com autoconfiança inaudita em seu terceiro mandato.
Na quarta-feira (18), loquaz durante uma entrevista, criticou a autonomia formal do Banco Central, a seu ver uma bobagem, e defendeu uma meta de inflação mais alta —pois, afinal, o Brasil precisa crescer. "Onde estão a inflação e os juros?", indagou o mandatário.
Também atribuiu uma suposta incompatibilidade entre responsabilidade fiscal e social à "ganância das pessoas mais ricas". Nesta quinta (19), arengou contra "essa gente do mercado", que para ele só aprova gastos com juros da dívida. "A gente podia não ter nem juro", asseverou o petista.
A esta altura, é preferível acreditar que se trata de demagogia oportunista —pior será se Lula de fato acreditar em tais disparates e não estiver disposto a ouvir técnicos e estudiosos da matéria. Ou se ignorar que juros e inflação estão altos, em quase todo o mundo, porque ainda há um legado de desequilíbrios da pandemia de Covid-19.
No caso brasileiro, o fenômeno é agravado pela imprudência na gestão do Orçamento, impulsionada pela farra eleitoreira de Jair Bolsonaro (PL) e aprofundada pelo atual governo com a PEC da Gastança.
O presidente, aliás, gaba-se de trabalhar por mais desequilíbrio das contas do Tesouro Nacional, com a promessa de livrar do Imposto de Renda ganhos até R$ 5.000 mensais. Tal propositura, além de ruinosa para a arrecadação, seria péssima política pública, por subsidiar estratos com rendimentos muito acima da média nacional.
Não deixa de guardar coerência, infelizmente, com a velha e falsa tese de que a tolerância com a inflação favorece o crescimento sustentável —que Lula repete como se desconhecesse os funestos experimentos de Dilma Rousseff (PT).
Quanto aos famigerados juros da dívida, o falatório omite que o meio mais eficaz de não depender de credores é não precisar de ainda mais dinheiro emprestado.
É notável que, em contraste com a bazófia de Lula, ministros da área econômica venham dando sinais de sensatez. Fernando Haddad, da Fazenda, e Simone Tebet, do Planejamento, mostram preocupação com o ajuste fiscal. O vice Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) descartou retrocessos nas reformas previdenciária e trabalhista.
Talvez o mandatário queira principalmente manter sua base mais ideológica mobilizada, mesmo que sob o risco de sabotar a retomada do emprego e a melhora da renda. Fato é que, além da retórica, as medidas concretas tomadas até aqui não inspiram otimismo.
BAZÓFIA: VAIDADE EXARCEBADA E INFUNDADA, VANGLÓRIA / PRESUNÇÃO / FANFARICE
TRATANDO A DOENÇA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Por Francisco Balestrin / MÉDICO, É PRESIDENTE DO SINDHOSP O ESTADÃO
Os brasileiros saíram de um processo eleitoral vazio, com agressões mútuas, valorização de ideologias e quase nenhum debate sobre propostas que efetivamente possam melhorar a vida das pessoas e colocar o País nos trilhos do desenvolvimento socioeconômico e cultural. A saúde foi apontada em 2022, por alguns institutos de pesquisa, como uma das principais preocupações dos eleitores, fato que se arrasta pelo menos desde as eleições de 2014. Apesar disso, dos problemas que enfrentamos com a pandemia e de termos registrado um dos maiores índices de mortalidade por covid-19 em todo o mundo, com quase 700 mil óbitos, praticamente nada foi proposto no último pleito para melhorar a saúde dos cidadãos.
Em 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) completa 35 anos. Trata-se de uma conquista inquestionável para a sociedade o Artigo 196 da Constituição: “A saúde é direito de todos e dever do Estado”. O momento de comemoração e expectativa pela chegada da nova gestão federal exige uma avaliação profunda sobre o que efetivamente está e o que não está funcionando no nosso sistema de saúde. O SUS, como assistimos nos últimos dois anos, foi o pilar da cidadania em nosso país em uma das maiores crises sanitárias da História. É, portanto, um verdadeiro patrimônio civilizatório e motivo de orgulho para todos os brasileiros. Lamentavelmente, como não temos conseguido encontrar meios para fazer escolhas racionais em questões de saúde, usando critérios de efetividade e racionalidade, elas ocorrem aleatoriamente, através de pressões políticas, lobbies ou decisões jurídicas individuais. Claro que, assim, os resultados não podem ser bons.
As insistentes filas para atendimento nos hospitais – que são peças fundamentais para o sistema – são retrato de um modelo assistencial retalhado. Cabe à atenção primária, através dos agentes comunitários de saúde, Programa Estratégia Saúde da Família, médicos e equipe multiprofissional orientar os cidadãos em suas jornadas de saúde para que elas sejam efetivas e eficazes. Mas esse “caminho” precisa estar traçado.
Publicações técnicas apontam que 85% das questões de saúde podem ser resolvidas na atenção primária, portanto, é aqui que se produzem os melhores resultados para a saúde da população. Além de porta de entrada do sistema, uma atenção primária organizada e bem-feita desafoga os serviços de urgência e emergência e encaminha as pessoas para serviços de maior complexidade, quando necessário, diminuindo as filas nos hospitais e os custos assistenciais para os cofres públicos. Infelizmente, nosso modelo ainda não foi capaz de se organizar de forma adequada para proporcionar uma integração assistencial efetiva entre os serviços de diferentes complexidades.
No setor de saúde suplementar também verificamos uma fragilidade organizacional de modelo. Mesmo com mais recursos, encontramos filas nos prontos-socorros e o crescente número de consultas, exames e procedimentos não têm, necessariamente, garantido saúde melhor para os usuários desse sistema.
O financiamento é outro problema que precisa ser enfrentado. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a saúde movimenta por ano 9,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Tomando como base o PIB nacional de 2021, de R$ 8,7 trilhões, chegamos a um montante de R$ 835,2 bilhões, incluindo investimentos públicos das três esferas de governo (União, Estados e municípios) e do setor privado (compreendido pela saúde suplementar e investimentos diretos feitos pelas famílias).
Quando analisadas as despesas dos setores público e privado isoladamente, o público fica com a menor fatia de investimento: 4,2% do PIB (R$ 365,5 bilhões), contra 5,4% do setor privado (R$ 469,7 bilhões). Na comparação com países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), observa-se que as despesas brasileiras como proporção do PIB são semelhantes, mas a participação dos gastos públicos é menor do que a média desses países. É inadmissível que em um sistema como o SUS, que está fundamentado nos pilares da universalidade, equidade e integralidade, os investimentos públicos sejam menores que os investimentos privados.
Essas distorções têm origem, principalmente, em uma visão desestruturada do sistema de saúde, de autoridades públicas e privadas, que privilegiam, muitas vezes, ações mais imediatistas, e não conseguem planejar e implantar políticas estruturantes capazes de gerar resultados em médio ou longo prazo. Por isso, nossos esforços, demandas e anseios são concentrados na doença, e não na saúde. Já passou da hora de inverter o foco.
Tentar, por exemplo, resolver “apenas” a fila nos hospitais é como se, num navio que teve o casco perfurado por um iceberg, colocássemos atenção no tamanho do balde para drenar a água, ou na técnica utilizada pelo marinheiro para retirá-la. O balde pode ser pequeno e o marinheiro despreparado, mas nada disso significa que o problema verdadeiro não seja a enorme abertura no casco. Com a experiência de 35 anos de SUS e um novo governo, a expectativa é de que possamos aprender, prioritariamente, que melhor do que cuidar do cidadão doente é cuidar para que ele não adoeça.
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Hermenêuticas criminosas
Por Lenio Luiz Streck / O GLOBO
Desde 1893, nenhum juiz pode ser acusado de crime de hermenêutica. Foi Rui Barbosa quem lançou a tese ao defender um juiz acusado de distorcer a lei. Porém há uma diferença entre crime de hermenêutica e o uso da hermenêutica para fazer incitamento a cometimento de crime(s). Explico em dois exemplos. O primeiro é o mais notório: a enviesada hermenêutica do Artigo 142 da Constituição. Graças a essa leitura, milhares de radialistas, operadores jurídicos, militares, pessoas comuns e ex-jogadores de bingo passaram a ter a convicção de que a Constituição continha uma espécie de dispositivo autoimplosivo, um reset institucional. Essa ideia lhes foi “vendida”.
Gente do Direito e militares fizeram uma leitura do tipo “todo o poder emana das Forças Armadas”. Tese tão absurda que o Supremo Tribunal Federal a chamou de terraplanismo jurídico (voto do ministro Luís Roberto Barroso).
Ademais, pudesse o Artigo 142 ser lido do modo como queriam os militares e alguns juristas famosos e outros não tanto, nossa Constituição teria sido reescrita, e passaríamos a ler que “todo o poder não emana mais do povo, por meio de seus representantes, e sim das Forças Armadas”, uma vez que essas constituiriam um metapoder de Estado.
Há que ter uma responsabilidade ética na interpretação de textos. Quero dizer que, por vezes, fazer um certo tipo de hermenêutica pode ser um incitamento ao crime. Mesmo que o intérprete não queira. As pessoas (leia-se militares e políticos) podem acreditar que, de fato, as Forças Armadas são o poder moderador.
Por isso juristas deveriam avisar, na bula, que sua interpretação pode causar efeitos colaterais como a invasão dos prédios dos Três Poderes, como ocorreu no dia 8. Não se diga, agora, que quem leu o Artigo 142 tortamente pode tirar o corpo fora.
Há limites na interpretação de qualquer dispositivo. Se uma lei proíbe cães na plataforma, não se pode achar que permite ursos. Ou que o cão-guia do cego esteja proibido.
E vejam o grau de culpa do general Augusto Heleno, que, em agosto de 2021, disse numa rádio e TV que “o Artigo 142 é bem claro, basta ler com imparcialidade. Ele existe no texto constitucional, é sinal de que pode ser usado” [sic]. Incentivou quantos crimes o preclaro general? Onde estava o Ministério Público?
O segundo exemplo de má hermenêutica foi inferir que a nova Lei de Defesa do Estado Democrático (14.197/2021) garantia a livre manifestação golpista, desde que pacífica. Até os comandantes militares entraram nessa patacoada anti-hermenêutica. Leiamos: “Não constitui crime (...) a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais”.
Ora, pedir (incitar) golpe militar (em acampamentos e programas de rádio e TV) tem propósitos sociais?
Uma coisa é certa: sustentar que o Artigo 142 era um dispositivo de reset da democracia e apregoar que era livre expressão pedir intervenção militar são dois exemplos do que uma má hermenêutica pode provocar. Porque muita gente acreditou. Basta ver o que ocorreu no dia 8 de janeiro.
Quem colocou o jabuti no Planalto? Parte da culpa é de uma má hermenêutica. Por dolo ou culpa. A História há de mandar a conta.
*Lenio Luiz Streck, jurista, professor e advogado, é autor de “Hermenêutica jurídica e(m) crise”