Empresas nunca ganharam tanto, diz Lula
Presidente pede ousadia no comércio exterior e critica "trambique" de companhias com derivativos
MARCELO NINIO / FOLHA DE SP
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL
Uma provocação e uma crítica. Assim o presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu os disparos que fez ontem contra o empresariado brasileiro, em visita a Istambul (Turquia). Ele criticou aqueles que aplicaram em derivativos, que chamou de "trambique", e provocou os que não têm ousadia para buscar novos mercados no exterior.
Ao falar sobre as origens da crise financeira mundial a um grupo de empresários turcos e brasileiros, o presidente atacou a ganância de empresas brasileiras, que decidiram especular em vez de lucrarem apenas com a produção.
"Se tem uma coisa que nenhum empresário brasileiro pode se queixar nos meus seis anos de mandato é que nunca se ganhou tanto dinheiro como no meu governo", disse Lula.
O presidente repetiu as críticas que costuma fazer à falta de regulação no mercado financeiro, que permitiu a bancos dos países desenvolvidos alavancar seus investimentos de forma especulativa e descontrolada. Para ele, o lado bom da crise é que, com ela, "a máscara caiu", revelando a necessidade de maior intervenção estatal.
Em seguida, disparou contra as empresas que aplicaram em derivativos (operações financeiras para assumir, limitar ou transferir riscos) e apostaram no câmbio. Na plateia, havia representantes de pelo menos duas companhias que fizeram esse tipo de operação, Sadia e Embraer. Ambos preferiram não reagir aos ataques.
Lula morde isca de Bolsonaro e Guedes ao atacar economia
Em São Bernardo do Campo no sábado (9), o ex-presidente Lula evocou a “destruição” das estatais e dos empregos da população mais jovem, além da recém aprovada reforma da Previdência, como bases do “projeto econômico que vai empobrecer ainda mais a sociedade brasileira”.
Citando nominalmente grandes empresas e bancos, Lula sugeriu a existência de um conluio entre as classes dominantes e o governo de Jair Bolsonaro (PSL) contra o povo mais humilde.
Disse ainda que a queda dos juros não chegou ao bolso dos trabalhadores e que o atual governo está tirando dinheiro da área social —numa referência ao teto de gastos.
Eles contra eles - FOLHA DE SP
Há muito mais dúvidas do que certezas a respeito do futuro político e jurídico do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva —agora livre, mas ainda inelegível, alvo de processos e sujeito a novas jurisprudências.
Fato é que o cacique petista se mostra disposto a empregar sua versão mais messiânica no esforço de despertar uma oposição de esquerda carente de ideias e lideranças. Seus primeiros movimentos fora da cela o confirmam.
No imediato reencontro com palanques e microfones, Lula atacou os inimigos imagináveis: o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro Sergio Moro, claro, mas também milicianos, a reforma da Previdência, Donald Trump e, como seu antípoda, a imprensa.
Os desafios da Previdência - O ESTADO DE SP
11 de novembro de 2019 | 03h00
A reforma da Previdência deve ser celebrada como uma demonstração de maturidade institucional do País. Feitas as contas, porém, fica claro que, mais do que o fim de uma jornada, ela é só o primeiro passo no longo caminho que levará ao equilíbrio das contas públicas. Não se trata apenas de complementá-la com as reformas administrativa e tributária, mas de prosseguir até o fim o saneamento do sistema de aposentadorias e pensões. Em auditoria recente, o Tribunal de Contas da União (TCU) apontou que a reforma cobrirá menos de 20% do rombo nos regimes previdenciários. Entre os próximos passos, o mais importante é a reformulação do sistema de Estados e municípios, objeto de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) – a PEC paralela já aprovada em primeiro turno no Senado. Apesar disso, metade dos Estados, como mostrou matéria do Estado, está se antecipando e prepara suas próprias reformas.
Segundo o TCU, são necessários ao menos R$ 5,1 trilhões para tapar o rombo da Previdência entre 2020 e 2029. Para esse período, a economia conquistada com a reforma recém-aprovada é calculada em cerca de R$ 800 bilhões. Mesmo que a reforma de Estados e municípios seja integralmente aprovada, gerará uma economia adicional de R$ 442 bilhões.
Lula e Bolsonaro - Denis Lerrer Rosenfield*, O Estado de S.Paulo
O Supremo Tribunal, em mais uma decisão contraditória com outra decisão anterior sua relativa à prisão em segunda instância, termina por criar uma insegurança jurídica que contribui para piorar a sua imagem perante a sociedade. A libertação de Lula da Silva, assim como a de outros criminosos, aparece como uma amostra de que a impunidade segue valendo para os ricos, para os que têm condições de pagar recursos inesgotáveis em cada uma das quatro instâncias do Judiciário. Infelizmente, conforme a tradição penal brasileira, os pobres serão os mais prejudicados, por não terem recursos para pagar advogados caros que atuam por anos, se não décadas, para os seus clientes. Os “garantistas” conseguiram fornecer, assim, uma grande garantia: o crime compensa para os poderosos!
Do ponto de vista político, algumas considerações se impõem imediatamente. A primeira é que os grandes ganhadores da decisão do STF são Lula e o presidente Jair Bolsonaro, ou seja, o petismo e o bolsonarismo. Como ambos agem segundo a concepção do político baseada na distinção entre “amigo e inimigo”, o “nós contra eles”, numa luta que adquire contornos existenciais, como se a eliminação do outro devesse ser a regra, eles vão surgir como os principais protagonistas das eleições de 2022. Entrarão na arena um de olho no outro, como se nenhuma outra alternativa fosse possível. Pode-se, nesse sentido, esperar um acirramento dessa disputa nas redes sociais.
Supremo penalista - o estado de sp
11 de novembro de 2019 | 03h00
A maioria das decisões colegiadas do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2017 (56,5%) foi tomada em processos criminais. O dado foi apurado pelo Supremo em Números, grupo de pesquisa vinculado à Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio). É a primeira vez na série histórica do Supremo em Números, idealizado em 2010, que mais da metade das decisões colegiadas do STF tratou de questões de natureza penal.
É um sinal dos tempos, corolário de profundas mudanças por que passam não apenas a Corte – internamente e aos olhos dos cidadãos –, mas também o País. Se há alguns poucos anos era inimaginável que autoridades dos primeiros escalões da República, altas lideranças partidárias e empresários graduados pudessem ser tocados pelo Direito Penal, hoje causa rebuliço quando seus processos repousam em paz nos escaninhos da Justiça.