Após casos da variante do coronavírus, governador do Pará decreta lockdown
Helder Barbalho, governador do Pará, decretou neste sábado, 30, lockdown na região do Estado onde foram detectados dois casos da nova variante do coronavírus. Essa cepa que circula no Amazonas foi encontrada em duas pessoas do município de Santarém.
Ele explicou que tal atitude se deve à preocupação de que o sistema de saúde pública local entre em colapso. "Severas preocupações na capacidade do nosso sistema de atender a todos. Necessário para salvar vidas e evitar proliferação do vírus", justifica o governador.
Na sexta-feira, 29, foram descobertos dois casos da nova cepa da Covid-19 no Estado, em confirmação feita pelo Instituto Evandro Chagas. A variante que circula no Amazonas foi identificada em um homem de 58 anos e uma mulher de 26 anos, ambos de Santarém.
O avanço desta nova cepa é apontado por muitos especialistas como uma das razões para a explosão de casos e o consequente colapso no sistema de saúde no Amazonas.
Segundo estudos feitos por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e Fiocruz Amazonas, a cepa teria surgido em Manaus em dezembro e vem se disseminando com rapidez. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a variante encontrada no Brasil já está em oito países. DIARIONORDESTE
Justiça do Rio proíbe óticas de fazer exames e receitas de óculos e lentes
Apenas médicos podem promover exames oftalmológicos e emitir receitas de óculos e lentes de contato. Com esse entendimento, a 2ª Vara Cível de Campos dos Goytacazes concedeu, na última segunda-feira (25/1), tutela de urgência para proibir duas óticas da cidade de exercer as atividades de atendimento, exame e quaisquer prescrições de receitas.
O juiz Rodrigo Moreira Alves afirmou que os documentos apresentados pelo Ministério Público contêm "indícios claros" de exercício ilegal da medicina por optometristas. Isso por meio da realização de exames oftalmológicos e emissão de receitas com prescrição de lentes, atos exclusivos de profissional graduado em medicina, com o devido registro no conselho regional.
Para o julgador, a atividade das ótimas pode causar risco à saúde da população, já que não se pode precisar "quais grupos de pessoas serão atendidas e em qual nível se pode atrapalhar o diagnóstico das demais doenças oftalmológicas".
O juiz também proibiu as óticas de promover qualquer oferta, publicidade, promoção, ou, ainda, atendimento de clientes que resultem em consultas e exames feitos por optometristas. Alves fixou multa de R$ 3 mil para cada ato que desrespeitar a decisão.
Clique aqui para ler a decisão
Processo 0001526-23.2021.8.19.0014
Sérgio Rodas é correspondente da revista Consultor Jurídico no Rio de Janeiro.
Revista Consultor Jurídico, 29 de janeiro de 2021, 21h54
Bolsonaro vincula recriar pastas à vitória de aliados
Às vésperas da disputa que vai escolher os novos presidentes da Câmara e do Senado, o presidente Jair Bolsonaro condicionou a recriação de ministérios a votos em candidatos apoiados pelo governo. Em cerimônia realizada no Palácio do Planalto nesta sexta-feira, 29, Bolsonaro admitiu que poderá recriar os ministérios do Esporte, da Cultura e da Pesca, após a eleição que vai renovar a cúpula do Congresso, na próxima segunda-feira.
As três pastas foram extintas pelo presidente e viraram secretarias. Nesse terceiro ano de mandato, Bolsonaro pretende fazer uma reforma na equipe, mas, tendo o Centrão como aliado, negocia apoio aos seus candidatos – Arthur Lira (Progressistas-AL) para a presidência da Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para o comando do Senado -, em troca de um atrativo pacote de ofertas.
O Estadão revelou nesta quinta-feira, 27, que o governo liberou R$ 3 bilhões em recursos “extras”, do Ministério do Desenvolvimento Regional, para 250 deputados e 35 senadores destinarem a obras em seus redutos. A iniciativa seguiu o roteiro da disputa: dos contemplados, grande parte declarou apoio aos candidatos do governo no Congresso. Além disso, parlamentares que têm indicação dos partidos para votar em adversários do Planalto, como Baleia Rossi (MDB-SP), estão sendo atraídos com verbas e cargos.
“Se tiver o clima no Parlamento, (porque) ao que tudo indica as duas pessoas que nós temos simpatia devem se eleger (Lira e Pacheco), não vamos ter mais uma pauta travada”, disse o presidente na solenidade em que recebeu os novos atletas embaixadores dos Jogos Escolares Brasileiros, na qual poucos usavam máscara de proteção. “A gente pode levar muita coisa avante e quem sabe até (fazer) ressurgir ministérios.”
A redução de ministérios era uma agenda de campanha do próprio Bolsonaro, em 2018. Por meio de medida provisória, ele diminuiu o número de pastas de 29 para 22. “Alguns podem falar ‘Ah, quer recriar ministério?’. O tamanho do Brasil, pessoal, só a Amazônia é maior que toda a Europa ocidental todinha”, justificou.
No início do governo, Bolsonaro também dizia que não lotearia o governo e que governaria com frentes parlamentares. Nada disso ocorreu. No ano passado, o presidente se aliou ao Centrão, bloco que reúne aproximadamente 200 dos 513 deputados na Câmara. Lira é o principal líder desse grupo.
Ao discursar no Planalto, Bolsonaro deu sinais de que se arrependeu da decisão de não criar mais ministérios e disse que, se formasse sua equipe hoje, teria dado status de ministro aos secretários especiais Mario Frias, de Cultura, Jorge Seif, da Pesca, e Marcelo Magalhães, do Esporte.
Xadrez
O resultado da eleição no Congresso, porém, é que vai definir a extensão da reforma ministerial. O Progressistas, partido de Lira, quer o Ministério da Saúde, hoje comandado pelo general Eduardo Pazuello – desgastado por erros cometidos na condução da pandemia de covid-19 -, e o Republicanos, ligado à Igreja Universal, está de olho em Cidadania, hoje nas mãos de Onyx Lorenzoni.
Cidadania é a pasta que cuida do Bolsa Família, programa que Bolsonaro quer turbinar para servir de vitrine para sua candidatura à reeleição, em 2022. “Pouca gente resiste ou resistiu dois meses de ataques como nós temos resistido há dois anos. E isso eu tenho um sentimento, só um, que é entregar o Brasil em 2023 ou 2027, não sei, melhor do que eu recebi”, disse o presidente.
Na configuração desenhada por Bolsonaro para o pós-eleição, a ideia é que Onyx seja transferido para a Secretaria-Geral da Presidência, atualmente com um interino. Com isso seria aberta uma vaga para o Centrão na pasta da Cidadania, que tanto pode ir para o Republicanos como para outro partido do grupo. O Ministério de Indústria e Comércio também poderá ser recriado. Articulador político do Planalto com o Congresso, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, permanecerá no cargo.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), discutiu com Ramos por telefone, recentemente, pedindo explicações do governo sobre a interferência na disputa do Legislativo. Maia apoia Baleia Rossi. “Eu repudio essas afirmações. A Secretaria de Governo não está fazendo nada disso”, disse Ramos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. ISTOÉ
Em Wuhan, o morto emblemático da covid-19 continua desconhecido
A imagem se tornou o símbolo do caos que reinava em Wuhan no início da pandemia de coronavírus: o corpo de um homem deitado por várias horas em uma calçada antes de ser carregado por equipes de resgate nervosas e sobrecarregadas.
A cena, capturada há exatamente um ano pela AFP, ocorreu perto de um hospital da metrópole chinesa, epicentro da pandemia.
E se a causa da morte nunca foi estabelecida, este estranho deitado de costas tornou-se no exterior o símbolo de uma cidade submersa por um misterioso vírus assassino. ISTOÉ
O bom presidente - José Manuel Diogo
Um país se mede pela vontade de seus homens e mulheres, pela capacidade coletiva em superar os momentos adversos e pela qualidade dos seus líderes. A identidade de uma nação se calcula multiplicando as semelhanças que unem pelas diferenças que não separam. E essa é uma conta cada vez mais rara de fechar nos nossos tempos. Hoje os políticos se acham com facilidade gritando no WhatsApp, mas fica difícil achar algum pensando no seu povo.
Hoje os políticos preferem a confusão do ruído à beleza da calma. A facilidade do ódio à complexidade do amor, o ferro da força ao cristal do equilibro; preferem a vaidade de um momento à modéstia de toda a história.
A eleição para presidente da República de Portugal foi um hino à liberdade
Poderíamos dizer que nunca como hoje os políticos faram tão parecidos com as pessoas da rua, que nunca estiveram tão longe de ser estadistas; mas nessa ilusão de proximidade digital, nunca estiveram tão longe de ser úteis ao povo. Nunca falo aqui desse país longínquo e pequeno de onde eu venho. Mas esta semana foi bom ser português. E o mais estranho é que foi por causa de um político.
Portugal vive hoje o período mais terrível da pandemia, são os dias mais difíceis que o povo luso enfrentou em todo o século XXI, mas esta semana mesmo, algo de maravilhoso aconteceu. Mesmo quando, em média, morrem mais de 200 pessoas por dia, os (apenas) 10 milhões de portugueses que hoje vivem em Portugal deram uma lição de civilização ao mundo.
Mesmo quando o panorama é aterrador — e os hospitais já perderam a capacidade de responder à demanda, e as ambulâncias se amontoam na entrada da urgência, e os cuidados intensivos se esgotaram e pessoas morrem sem cuidados — a democracia se mostrou saudável. Mesmo estando às escolas vazias, o comércio, os bancos, transportes e serviços públicos totalmente encerrados ou cumprindo serviços mínimos, a eleição para presidente da República de Portugal foi um hino à liberdade. No meio do horror, os portugas se agilizaram para ir votar e escolher o seu presidente.
Em muitos casos a abstenção chegou mesmo a diminuir. Marcelo Rebelo de Sousa, o (de novo) presidente português, conseguiu, no meio do medo e do temor, mobilizar seu povo a votar, impedindo os radicais de avançaram mais. O presidente dos portugueses mostrou a todos durante uma campanha eleitoral — onde andou sempre sozinho, dirigindo seu próprio carro — que os afetos são sempre mais poderosos que o ódio e que a partilha tem muito mais força que o egoísmo.
Seu recato contido é um sinal grave e sereno que todos une no combate a este inimigo comum. Este inimigo invisível que não vive em nossas diferenças, mas se alimenta delas. Mais importante ainda, o bom presidente consegue fazer o seu povo acreditar nisso.
Em 'Pachinko', Min Jin Lee trata de migração forçada, xenofobia e questiona o nacionalismo senil
Lançado em 2017, nos EUA, “Pachinko” tornou-se rapidamente um sucesso de crítica e de público. Recomendado por personalidades midiáticas como Barack Obama e Oprah Winfrey, o romance da americana de origem sul-coreana Min Jin Lee foi editado em 30 países, recebeu prêmios e, em breve, será adaptado para a Apple TV. Tamanho alvoroço é pertinente. Seguindo a linha de tantos escritores empenhados em retratar suas origens, Min Jin Lee mostrou que tem muito a contribuir com esse filão ao questionar se o antigo conceito de pátria-mãe ainda é válido.
É uma ideia curiosa. Nascida na Coreia do Sul, em 1968, Min Jin Lee e sua família foram morar nos EUA em 1976 — conhecendo a fundo a experiência de abrir mão da própria terra para criar raízes em terras estrangeiras. Assim, ao acompanhar quatro gerações de uma família de coreanos vivendo no Japão durante boa parte do século XX, “Pachinko” toca, com propriedade, em temas como migração forçada, xenofobia, paixões e outras desventuras.
Eis aí um prato cheio de conflitos, material altamente inflamável e lacrimejante. Mas o bacana é que a autora não “enfeita o sofrimento” (apud Julio Barroso), escapando da lamentação mimizenta que tem sido cometida à exaustão na literatura.
Vamos, pois, a “Pachinko”. Estamos em 1910, ano em que o Japão anexou a Coreia, após um processo histórico longo. Só que Min Jin Lee não se aprofunda em questões políticas ao pé da letra. Seu foco está nos merdunchos, como dizia João Antônio a respeito das figuras invisíveis que vivem nas sombras, e isso fica claro já na frase de abertura: “A história falhou conosco, mas não importa”. Bem sacado. Aqueles à margem da história costumam render personagens fortes, como vemos nas obras de Ana Paula Maia, Toni Morrison, James Baldwin e muitos outros.
Joan Didion:A observação da vida americana entre sonho e realidade
O fio condutor da saga chama-se Sunja. Vamos conhecê-la ainda adolescente, filha única de pais humildes de uma região costeira da Coreia. Bastante cortejada pelos hóspedes da pensão que mantém com sua mãe, sempre escapa das investidas... até que sucumbe à lábia de Hansu, um sujeito rico, bem casado e cheio de filhos. O problema é que, quando Sunja descobre essas inconveniências, é um pouco tarde demais. Ela já está grávida dele, e ele, claro, some no mundo. Clichê, decerto, mas a vida tem muitos clichês do tipo.
Máquina de triturar
Para salvar o bom nome da família e o seu próprio, Sunja aceita se casar com um pastor cristão, um bom samaritano que releva o fato de criar um filho que não é seu. É assim que a família vai viver no Japão, onde coreanos, à época, eram explorados em trabalhos humilhantes e negócios criminosos, na versão nipônica da máquina de triturar imigrantes.
Depois de um breve salto no tempo, vemos Sunja e família bem remediadas. Volta à cena, então, Hansu, aquele pilantra que a deixara grávida. Pilantra profissional, diga-se, posto que se mostra como um mafioso graúdo, herdeiro do chefe do submundo — controlando inclusive salões de pachinko, casas de jogos bastante populares no Japão.
Tudo bem que o reencontro do ex-casal de ocasião é mais um clichezinho, mas ele ocorre justamente para dar um novo rumo aos personagens. Estamos agora nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, todos sabem que o Japão será virado do avesso, e Hansu usa sua influência para garantir fuga e segurança à família de Sunja. Que, a esta altura, está viúva.
A derrota na guerra determina o fim do domínio japonês sobre a Coreia — além da divisão deste país em duas metades politicamente antagônicas. É nesse ponto que surgem novos questionamentos para Sunja e seus pares. Que destino terão os coreanos que vivem no Japão? Devem permanecer em meio aos escombros ou voltar à velha terra miserenta?
Conflitos assim vão surgindo à medida que os mais jovens ganham espaço na narrativa. É o caso de Noa, filho de Sunja e Hansu. O garoto cresce e faz fortuna sentindo-se um japonês legítimo, escondendo sua raiz coreana até mesmo da própria mulher. Essa rejeição será sua desgraça.
Com essas e outras manhas, “Pachinko” pode ser um bom contraponto a obras e discursos que cultivam um nacionalismo senil ou um patriotismo homicida. Min Jin Lee sugere que não é de hoje que o conceito de pátria-mãe está em baixa — e nada indica que ele voltará a ser respeitado. Como percebe qualquer torcedor da seleção brasileira ao ver a falta de apreço de jogadores pela camisa canarinho, a pátria-mãe que interessa agora é aquela que rende trabalho e, se possível, fortunas insanas. Parece um exemplo ao acaso, mas ilustra um comportamento que se repete em todo o planeta. As saudades da terra que tem palmeiras onde canta o sabiá estão mortas há tempos — e quem as matou não tem qualquer drama de consciência.
Nelson Vasconcelos é jornalista
Serviço
“Pachinko”
Autora: Min Jin Lee. Editora: Intrínseca. Tradução: Marina Vargas. Páginas: 528. Preço: R$ 69,90 Cotação: Bom / o globo