São Paulo só tem uma escola no top 10 do Enem de 2019
27 de junho de 2020 | 05h00
O Estado de São Paulo só teve uma das dez escolas com melhor desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2019, desconsiderando a nota da redação. Os microdados da prova foram divulgados na sexta, 26, pelo Ministério da Educação (MEC) e tabulados pela startup Evolucional. Entre as maiores notas, todas são de instituições particulares e estão concentradas no Ceará e em Minas. Há ainda uma do Piauí.
No ranking que considera a redação há três escolas de São Paulo (confira sua escola neste link). O levantamento analisa apenas os dados dos alunos que cursaram o 3.º ano do ensino médio em 2019 e não tiraram nota zero em nenhuma prova objetiva do Enem.
Depois, a média das escolas foi consolidada considerando as instituições de ensino que tiveram pelo menos 10 alunos participantes. Alunos de educação especial e de Educação de Jovens e Adultos (EJA) foram considerados.
Segundo o diretor de inovação Pedagógica da Evolucional, Vinícius Freaza, são os mesmos critérios utilizados pelo Inep até 2016 – ano em que a instituição parou de elaborar esses levantamentos para evitar “rótulos”. Pelo quarto ano consecutivo, a escola Farias Brito, em Fortaleza (CE), está na liderança, isso considerando os dois cenários: com e sem a nota da redação. Se considerada apenas a nota das provas objetivas, a escola teve uma média de 716,37 pontos. Já se a nota da redação for acrescida à conta, a média é de 760,18 pontos. Em nota publicada no site oficial, a escola comemorou com uma piada. “É tetra.”
Freaza explicou que as posições das mais bem colocadas podem variar conforme os anos, mas elas geralmente dividem os lugares entre si. Para ele, as escolas que conseguem o melhor desempenho são as que incorporaram a “cultura de dados” à sua gestão pedagógica. “Isso significa fazer várias avaliações durante o ano não somente para julgar os alunos, mas para construir o planejamento de estudos e revisão de conteúdos.” Os microdados do Inep permitem uma análise profunda da prova.
Há, no entanto, educadores que consideram que muitas escolas passam a focar seu ensino apenas no desempenho dos estudantes no Enem, o que pode ser prejudicial para a formação geral do aluno. O ranking do exame se tornou nos últimos anos uma das principais maneiras de colégios se divulgarem e atrair alunos. Só na décima primeira posição está um colégio federal de Viçosa, de Minas. Já a primeira escola estadual aparece no ranking somente na 82.ª posição. Trata-se de um colégio em Ijuí, no Rio Grande do Sul.
São Paulo
Em São Paulo, o Colégio Objetivo Integrado – criado pelo Objetivo com seus melhores alunos – ficou em primeiro lugar. “É motivo de muita alegria esse primeiro lugar na cidade e no Estado, o terceiro lugar nacional é ótimo resultado. Parabenizamos nossos alunos, que são muito dedicados”, disse a diretora do colégio, Maria Luiza Guimarães.
A média do Objetivo Integrado foi de 708.8 pontos, se considerada apenas a prova objetiva. Mas, se a redação for levada em consideração, a média fica em 740,77 pontos. A prova objetiva e a redação são avaliadas com critérios diferentes. A nota das questões alternativas envolve TRI, sigla para Teoria de Resposta ao Item. Por meio dela, as notas são dadas a partir de uma padrão de respostas do candidato para perguntas consideradas fáceis, médias e difíceis. Já a redação considera uma grade com cinco competências específicas. / COLABOROU GILBERTO AMENDOLA
Pressão do STF sobre Centrão surte efeito e eleição deve ser adiada
Está próximo o consenso da Câmara em torno do adiamento das eleições municipais por causa da pandemia. Os últimos focos de resistência à PEC aprovada no Senado, que agora precisa ser referendada pelos deputados federais, estavam no PL, de Valdemar Costa Neto, e em partidos nanicos, como o PTC. Mas a pressão interna e externa, principalmente do STF, enquadrou a turma do Centrão. A expectativa dos líderes é de bater logo o martelo nas datas (primeiro turno em 15 novembro próximo e o segundo no dia 29 do mesmo mês).
Se liga. O STF e Rodrigo Maia apertaram o Centrão sob argumento de que eles iriam instalar o caos eleitoral num país colapsado.
Sem riscos. Defensores no Congresso do adiamento das eleições municipais acreditam que, se o Centrão não se contentar com a compensação a ser recebida (recursos para prefeitos), o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, deve tomar medida para garantir a realização do pleito em novembro ou dezembro.
Sem fronteiras. O Direitos Já prepara novo ato virtual em defesa da democracia e do meio ambiente no dia 15 de setembro. A meta é internacionalizar o movimento, com a participação de “estrelas” estrangeiras.
Pedágio. O ato suprapartidário de sexta-feira (26/6) foi considerado “sucesso”. Porém, causou mal-estar (entre democratas que respeitam decisões da Justiça) a fala de Fernando Haddad defendendo Lula. Todos entenderam como um agrado desnecessário do ex-prefeito ao chefe.
CLICK. A primeira dedicatória do recém-lançado livro de Tabata Amaral (SP) sobre sua trajetória da periferia à Câmara foi para a mãe, Maria: “Fonte de inspiração”.
Na veia. A bancada do PSB na Câmara apresentou requerimentos de informação sobre a “fuga” de Abraham Weintraub. Quer saber se ele foi em missão oficial, qual passaporte usou para sair do País, se foi em avião da FAB e se solicitou ao Planalto autorização para a viagem aos Estados Unidos.
Futuro. Para quem ainda não entendeu as recentes pesquisas: o caso Queiroz é antigo e só deverá abalar a popularidade de Bolsonaro se surgirem as delações.
Xi. O bolão de apostas no Congresso: até quando Jair Bolsonaro sustentará o personagem do “santinho”?
SINAIS PARTICULARES.
Jair Bolsonaro, presidente da República
Filme… Não está nada fácil a vida do segmento cultural no Brasil da pandemia, alvo constante do bolsonarismo: 42% dos que de alguma forma tiram seu sustento do setor tiveram receita afetada na totalidade. Desses, 57% são organizações e 35%, pessoas físicas.
…de terror. Dentre os que viram sua renda despencar durante a crise, os que trabalham com música foram os mais afetados (24%), seguido do pessoal de teatro (9%), da dança (4%) e dos realizadores de feiras e festivais (3%).
Quem… Os números estão na pesquisa “Percepção dos Impactos da Covid-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil”, parceria entre Unesco, FFLCH-USP e secretarias e fundações de 11 Estados do País.
… faz. A pesquisa foi lançada online no dia 10 e os números, apesar de impactantes, ainda são preliminares: vai até 16 de julho.
PRONTO, FALEI!
Fernando Guimarães, sociólogo e coordenador do Direitos Já: “A construção de uma frente ampla pela democracia não é uma tarefa dos partidos políticos para a sociedade, é dos partidos com a sociedade.”
COM REPORTAGEM DE ALBERTO BOMBIG E MARIANNA HOLANDA
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Ato virtual contra Bolsonaro reúne Huck, FHC e ex-presidenciáveis
26 de junho de 2020 | 22h44
Adversários políticos históricos e personalidades que atuam em campos opostos no espectro político se reuniram na noite desta sexta-feira, 26, em um ato virtual que colocou pela primeira vez no mesmo "palanque' os ex-presidenciáveis Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede), Guilherme Boulos (Psol), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o apresentador Luciano Huck, além de governadores e ex-governadores do PT, PSDB e presidentes de 16 partidos.
O formato do ato, que contou com mais de 100 participantes e foi organizado pelo sociólogo Fernando Guimarães, restringiu em no máximo 2 minutos a fala de cada participante e foi marcado por falhas técnicas. Embora o grupo Direitos Já não tenha posição oficial sobre o pedido de impeachment de Bolsonaro, os oradores adotaram tons diferentes. Enquanto isso os correligionários travaram uma disputa paralela na caixa de comentários.
Apesar de não contar com a chancela oficial do PT, o ex-prefeito petista Fernando Haddad fez discurso contundente contra o presidente da República. O ex-prefeito disse que Bolsonaro está "acuado", que o presidente comete crimes de responsabilidade "semanalmente" e defendeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deveria, segundo ele, ter seus direitos políticos de volta.
Lula, a presidente do PT, deputada federal Gleisi Hofmann, e a ex-presidente Dilma Rousseff foram convidados para o ato, mas optaram por não ir. Boulos, por sua vez, defendeu o Fora Bolsonaro, enquanto o FHC defendeu que o momento é de "união pela democracia e à Constituição. Já o governador Paulo Câmara (PSB-PE), afirmou que o Governo Federal "não tem apreço" pelos princípios democráticos. "O governo federal se exime de seu papel. Retrocesso civilizatório sem precedentes", afirmou.
Já Ciro Gomes (PDT) falou em "sentimento de reconciliação" e que disse que é hora de debater "um novo desenho" de projeto e celebrar um "imenso consenso". ""Haverá resistência".
Um dos primeiros oradores, o apresentador Luciano Huck falou em "novos atores e novas vozes" no debate e disse que se sente "parte" da mudança de paradigma no Brasil. "Chega de iluminar o que nos separa", disse o apresentador.
Na caixa de comentários, partidários de Ciro Gomes, Geraldo Alckmin (que fez uma fala), Haddad travaram um duelo de hashtags e palavras de ordens. O ato chegou a ter 4.000 participantes no Facebook
Em meio à suspeita de fraude na merenda, pais de alunos da rede estadual recebem comida estragada
RIO - A suspeita de superfaturamento na compra de merenda para escolas da rede estadual de ensino e de cestas básicas para socorrer famílias de alunos durante a pandemia do coronavírus não garantiu a entrega dos alimentos, nem a qualidade dos produtos. Algumas famílias de estudantes não receberam o auxílio prometido; outras ganharam, dentro da cesta básica, produtos estragados.
Nesta sexta-feira, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio do do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), deflagraram a Operação Prandium contra a fraude na compra de merenda e outros materiais para as escolas da rede estadual. Ao todo, 64 mandados de busca e apreensão contra empresários e diretores de escolas foram expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada da Comarca da Capital.
No início desta semana, pais de alunos de escolas estaduais reclamaram das cestas básicas recebidas após mais de três meses de quarentena — período sem aulas e, consequentemente, sem merenda nas unidades. O kit veio com 1kg de fubá, 1kg de arroz, 500g de macarrão, um milho, uma lata de sardinha, um sachê de massa de tomate e 1kg de feijão. O problema se estendeu até mesmo às escolas que não tiveram integrantes da diretoria citados na Operação Prandium. Este foi o caso do Colégio estadual Vila Bela, no bairro Banco de Areia, em Mesquita, em que os alunos tiveram direito aos alimentos distribuídos.
Nas cidades onde auxílio emergencial tem mais impacto, presidente teve menos votos em 2018
Pedro Capetti, Bernardo Mello e Alexandro Mota* O GLOBO
RIO E SALVADOR — O auxílio emergencial de R$ 600 pago pelo governo federal para mitigar os efeitos da pandemia do novo coronavírus atingiu o coração do principal bastião petista desde 2002 — o interior das regiões Norte e Nordeste do país. Um cruzamento feito pelo GLOBO a partir das bases de dados do Ministério da Cidadania, que executa o benefício, e do Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público (Cepesp/FGV), que organiza e disponibiliza dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aponta que as cidades onde o presidente Jair Bolsonaro registrou suas menores votações no segundo turno contra Fernando Haddad (PT), em 2018, são aquelas onde o benefício atinge a maior parcela da população.
As mais recentes pesquisas de avaliação do governo mostra que Bolsonaro tem conservado um apoio de cerca de um terço dos brasileiros: 32% de aprovação segundo o Datafolha divulgado ontem, ante 33% em maio. Embora o número esteja estável, o perfil dos apoiadores do presidente tem mudado. Bolsonaro perdeu popularidade nas classes mais altas nos últimos meses, o que foi compensado por um crescimento entre os que ganham até dois salários mínimos — em seis meses, subiu de 22% para 29% de aprovação nesse segmento, ainda segundo o Datafolha desta sexta-feira.
A hipótese de analistas é que o recebimento do auxílio emergencial explique esse crescimento. O cruzamento entre as cidades onde mais gente recebe o auxílio e onde Bolsonaro teve pior desempenho eleitoral dá a dimensão do potencial de crescimento da popularidade do presidente nesses redutos: nos 25% de municípios com maior abrangência do auxílio, Bolsonaro teve média de 23% dos votos no pleito que o elegeu.
Embora moradores dessas regiões admitam que o auxílio fez balançar a alta fidelidade petista, especialistas lembram que a curta duração do benefício torna incerto o ganho político pelo presidente.
Salto na renda
Em regiões marcadas por grande abrangência do Bolsa Família, a renda dos que já recebiam benefícios do governo teve salto substancial. O pagamento do auxílio foi feito de forma automática para os inscritos no programa e no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). Para os mais de 13 milhões de beneficiários do Bolsa Família em março, a renda familiar em três meses será o equivalente ao recebido em 1 ano e meio, passando de R$ 190 por mês para R$ 1.128 em média — valor superior a um salário mínimo.
Em Guaribas, cidade no interior do Piauí onde Bolsonaro teve apenas 2% dos votos no segundo turno, a menor porcentagem do país, o auxílio mudou a impressão dos moradores sobre a situação política. Reconhecida por ser a cidade pioneira do Bolsa Família e do Fome Zero, o município hoje encontra-se dividido, segundo o comerciante Abdias Neto. Na cidade, 43,3% da população recebe o auxílio emergencial, cujo pagamento médio foi de R$ 674.
— Esse auxílio dividiu (a cidade), mas ainda tem o pessoal que é meio apaixonado pelo PT — disse ele, que afirmou ter votado em Haddad no segundo turno e, hoje, diz não saber em quem votaria.
Neto conta que, durante a eleição, havia o rumor do fim do Bolsa Família, o que gerava preocupação na cidade onde a economia gira em torno de transferência sociais e de agricultura. Em Guaribas, o auxílio aumentou a renda das quase mil famílias integrantes do Bolsa Família, subindo de R$ 281 para R$ 1.121.
Em Valença, no sul da Bahia, a autônoma Josineide Silva, de 39 anos, viu a renda despencar quando ficou impedida de circular para vender cosméticos e laticínios que garantiam o sustento dos três filhos. Aguardando na fila do Bolsa Família, o alívio veio com a confirmação do auxílio. Na cidade, 31,5% da população foi beneficiada com o programa .
Josineide diz não se interessar por política. Questionada sobre como avaliava o governo Bolsonaro antes da pandemia, preferiu dar nota: era 5, agora 7,5 com o auxílio, mas alerta que a avaliação pode cair caso o benefício seja reduzido:
— Não acho justo. Não concordo com a redução. Quem é que gosta de ganhar mil reais e daqui a pouco ganhar só 500? Ninguém, né?
Continuidade do auxílio
Já na pequena Santa Inês (BA), onde Bolsonaro teve apenas 12,7% dos votos no segundo turno em 2018, 42,6% da população recebeu o auxílio emergencial. Uma das beneficiadas é a manicure Eliude Araújo, de 47 anos, que trocaria a ajuda pela volta da “vida normal":
—A carência, principalmente de quem mora em interior pequeno como aqui, não atingiu só quem é fraco, atingiu todo mundo. Mas a gente vai viver de auxílio? Eu não. Foi bom, foi, mas a gente quer é ter saúde. Auxílio não vai resolver o problema. O governo não investiu em saúde — critica
O governo federal anunciou que pagará mais três parcelas do auxílio, nos valores de R$ 500, R$ 400 e R$ 300. Também está em estudo a criação de um programa de renda mínima ( Renda Brasil) para substituir o Bolsa Família após a pandemia.
Entrevista: Wassef admite que abrigou Queiroz, porque ex-assessor estava jurado de morte
O cientista político Jairo Nicolau, pesquisador da FGV/CPDOC, lembra que o peso orçamentário do programa levanta dúvidas sobre a possibilidade de estendê-lo indefinidamente nos moldes atuais. Em maio, o governo estimou em R$ 151,5 bilhões o valor destinado ao auxílio emergencial em apenas três meses. O orçamento anual do Bolsa Família é de R$ 30 bilhões.
— Se a eleição presidencial fosse agora, aí seria diferente. Mas não vejo ainda como o auxílio atual poderia se estender como política contínua, de forma que mudasse a base eleitoral do Bolsonaro para 2022 — afirma Nicolau.
Para Malco Braga Camargos, cientista político da PUC Minas, o possível efeito do auxílio na popularidade do presidente é momentâneo:
— O auxílio só é remédio quando o problema é grave. Tem o agradecimento quando entra e repulsa quando é retirado.
* Especial para O GLOBO
Eles são 32% - DIZ PESQUISA DATA FOLHA
A nova sondagem do Datafolha sobre a popularidade do presidente Jair Bolsonaro reforça as evidências de que um grupo minoritário, porém muito estável, sustenta a aprovação ao seu governo.
De acordo com o levantamento, 32% dos brasileiros aprovam o desempenho do mandatário, 44% o reprovam e 23% o consideram regular. Os números são semelhantes aos encontrados no fim de maio.
O avanço do coronavírus expôs o despreparo de Bolsonaro e sua equipe para lidar com a calamidade e suas consequências para a saúde pública e a economia, levando a um aumento da taxa de reprovação do governo nos últimos meses.
Mas o Datafolha mostra que o apoio ao presidente se manteve no período, apesar do aumento acelerado do número de mortes, da paralisia da atividade econômica e do acirramento das tensões entre o Executivo e os outros Poderes.
Embora muitos eleitores tenham se afastado de Bolsonaro, frustrados com seu comportamento errático, o instituto informa que novos apoiadores surgiram durante a pandemia —como os beneficiários do auxílio emergencial concedido a trabalhadores de baixa renda.[ x ]
Nem mesmo o impacto da prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz, que assombra Bolsonaro e sua família desde a campanha eleitoral e foi localizado pela polícia na casa de um advogado do presidente, parece ter sido forte o bastante para alterar esse quadro.
Quase dois terços dos entrevistados acreditam que Bolsonaro sempre soube que o amigo estava escondido ali, mas metade duvida que ele esteja envolvido nos desvios que tornaram Queiroz e o filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, alvo de investigações.
Ainda assim, acumulam-se indícios de desgaste da imagem pessoal do mandatário. Segundo o Datafolha, 46% nunca confiam no que ele diz, e a maioria da população o considera pouco inteligente, incompetente e autoritário.
Ao conservar uma base de seguidores equivalente a um terço do eleitorado, Bolsonaro garantiu alguma proteção contra seus adversários. Isso ajuda a entender por que pedidos de impeachment, por exemplo, não vêm prosperando.
Mas o caráter minoritário desse grupo é também um lembrete das barreiras que o presidente encontra sempre que desafia os limites estabelecidos pela Constituição para o exercício do seu poder.
Bolsonaro parece ter se dado conta de como é estreito o espaço em que se movimenta —e, desde a prisão de Queiroz, tem mantido um bem-vindo comedimento em atos e palavras. A permanecer assim, a percepção geral sobre a sua sensatez poderá melhorar.