Moro: é preciso evitar exageros contra quem não cumprir isolamento
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disse hoje (13) que é preciso tomar cuidado com exageros cometidos por autoridades para punir as pessoas que descumprirem medidas de isolamento social para combater o novo coronavírus (covid-19). Segundo Moro, a prisão deve ser usada somente em último caso.
Durante entrevista ao portal jurídico Jota e transmitida ao vivo, Moro disse que as autoridades sanitárias e policiais devem optar pelo diálogo e orientar as pessoas a cumprirem as medidas.
“As pessoas têm que seguir as orientações que forem necessárias para debelar essa pandemia e nós temos que tomar cuidado com exageros, com atos que possam representar alguma espécie de abuso”, disse.
Moro também afirmou que o ministério não usa mecanismos de geolocalização para monitorar pessoas que foram colocadas em isolamento por apresentarem sintomas da doença. O monitoramento de celulares é utilizado por alguns estados para verificar se a população está cumprido as medidas de isolamento social.
“É algo que nós temos que nos preocupar e evitar que o combate à epidemia possa gerar abalos em outras áreas com consequências imprevisíveis, mas isso [monitoramento] não tem sido feito pelo governo federal”, garantiu.
No mês passado, os ministérios da Saúde e da Justiça publicaram uma portaria disciplinando providências compulsórias e a responsabilização das pessoas que não cumprirem essas medidas determinadas pelo Poder Público para prevenir e conter o avanço do covid-19. ISTOÉ
Militares começam a rever posição sobre permanência de Mandetta
BRASÍLIA - Antes defensores da permanência de Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde em prol da estabilidade no governo, ministros da ala militar do Palácio do Planalto começam a rever seus posicionamentos. Interlocutores do presidente Jair Bolsonaro interpretaram como uma provocação a entrevista exclusiva de Mandetta ao Fantástico, da Rede Globo, em que diz que o governo precisa ter um discurso unificado no combate ao novo coronavírus.
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Na avaliação de parte da ala militar do Planalto, Mandetta agiu com “covardia” e “molecagem” ao criticar publicamente o presidente. Esse grupo considerou a entrevista como uma tentativa de “forçar a sua demissão”, já que Mandetta tem repetido que não vai pedir demissão, porque “médico não abandona paciente”. No Fantástico, Mandetta fez questão de criticar pessoas que estejam afrouxando as regras de isolamento e mencionou pessoas que frequentam “padarias”. Na última semana, o presidente circulou por Brasília, entrando em farmácia, padarias e cumprimentou apoiadores nas ruas.
- Quando você vê as pessoas entrando em padaria, entrando em supermercado, fazendo filas uma atrás da outra, encostadas, grudadas, pessoas fazendo piquenique em parque, isso é claramente uma coisa equivocada _ afirmou o ministro da Saúde na entrevista.
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Outro fator de incômodo de aliados do presidente com a entrevista foi ela ter acontecido na presença do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), dentro do Palácio das Esmeraldas. Antigo aliado, Caiado rompeu com Bolsonaro há duas semanas após o presidente pedir o fim do isolamento em um pronunciamento. Assessores de Bolsonaro veem influência de Caiado nas declarações de Mandetta.
No sábado, Mandetta voou no mesmo helicóptero de Bolsonaro para Águas Lindas de Goiás, onde visitaram as obras do primeiro hospital de campanha construído pelo governo federal. Lá, Mandetta se incomodou com o presidente, por andar pelas ruas provocando aglomerações. Na volta, o ministro decidiu seguir para Goiânia com Caiado. Mandetta passou o final de semana com o aliado do DEM.
Para militares é inaceitável qualquer atitude de insubordinação e de desobediência hierárquica. O governo já fez recomendações para que coletivas do ministro da Saúde ocorram dentro do Palácio do Planalto, sob o comando do ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto. Porém, para o grupo militar do Planalto, Mandetta mais uma vez se “veste de arrogância" e "enfrenta o presidente”.
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Principal conselheiro de Bolsonaro, o ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) avaliou a necessidade de sentir o clima na manhã desta segunda-feira antes de qualquer definição sobre a permanência de Mandetta, afirmam seus aliados. Segundo interlocutores, Heleno ponderou que apesar das provocações sobre a “visita a padaria” e o “discurso unificado”, Mandetta repetiu as mesmas recomendações que já vinha fazendo para que a população fique em casa em isolamento.
A expectativa é que Bolsonaro e seus ministros conversem na manhã desta segunda-feira sobre os rumos do Ministério da Saúde. Ao deixar o Palácio da Alvorada, nesta manhã, Bolsonaro já deu sinais que vai esperar para ouvir seus conselheiros antes de qualquer decisão. Questionado sobre a entrevista do ministro, Bolsonaro limitou-se a dizer que não “assistiu”. O GLOBO
Bolsonaro foi pego de surpresa por entrevista de Mandetta ao ‘Fantástico’
Jair Bolsonaro foi surpreendido pela entrevista concedida pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na noite de domingo (12) para o programa “Fantástico”.
Segundo assessores do presidente, ele e integrantes do núcleo duro do Palácio do Planalto não foram avisados por Mandetta sobre a entrevista e souberam que ela seria exibida pouco antes de ir para o ar.
Pessoas próximas ao presidente relataram que, ainda na noite de ontem, Bolsonaro mostrou que não gostou da iniciativa de Mandetta, mas evitou fazer comentários.
Ao Fantástico, Mandetta destacou a importância do governo ter uma “fala unificada” e disse que a pessoa não sabe “se escuta o ministro ou se escuta o presidente”.
Essa não foi a primeira vez que o ministro dá uma entrevista sem o conhecimento do Planalto. Na semana passada, após reunião com Bolsonaro e ministros em que ficou decidido que ele permaneceria no governo, Mandetta deu uma coletiva no Ministério da Saúde que pegou de surpresa o presidente. FOLHA DE SP
O Compartilhar escritório exige novos hábitos e flexibilidade
O mercado de coworking cresceu 114% em 2017 e 52% em 2016, sempre na comparação com os anos anteriores, de acordo com o Censo Coworking Brasil.
Atualmente, no país, são 810 espaços —217 apenas na cidade de São Paulo, também segundo o levantamento.
Boa opção para autônomos e pequenas e médias empresas, o escritório compartilhado atraiu a atenção do paulistano Keiji Sakai, 51, quando ainda era diretor de tecnologia da B3 (antiga BMFBovespa) e procurava um lugar onde pudesse empreender.
Sakai achou um escritório "convencional" de nove metros quadrados em um prédio perto do metrô Chácara Klabin (zona sul da capital).
Reforma, instalação e decoração do imóvel custariam R$ 75 mil, além do aluguel, de R$ 1.800. Os valores altos levaram Sakai a pesquisar opções de coworking.
Ele escolheu um escritório fechado de nove metros quadrados na Regus, empresa internacional presente em 120 países. Sakai paga R$ 3.150 pelo pacote que inclui a sala e mais serviços coletivos.
PACOTES
A Folha passou três dias em três escritórios compartilhados para entender a experiência de Sakai. Há desde espaços com salas amplas sem divisões até opções de escritórios fechados.
Os coworkings contam também com cafés, refeitórios, espaços de descompressão (geralmente em terraços), salas de reunião e auditórios.
Apesar de oferecerem o mesmo produto, os espaços têm diferentes pacotes de serviços e de ambiente.
Os executivos, em geral, preferem os de estilo mais clássico, com decoração sóbria, que se parecem com centros empresariais, como os oferecidos por Regus, Vip Office e Global Hub.
"São ambientes mais formais", diz Adriana Souza, 51, sócia da agência de marketing Benjamin Comunicação.
A empresária teve uma experiência de seis meses em um coworking desse tipo. Na época, Souza contratou um pacote de serviços que incluía um escritório fechado para nove pessoas.
"Como trabalhei a vida toda em uma empresa familiar, onde todo o mundo se conhecia, o início foi um choque", diz. "Nos corredores, todo dia circulava uma cara nova. Isso me incomodava."
Ao longo do semestre, a empresa cresceu, e Souza teve de pedir à gestora do coworking para dobrar o tamanho das instalações de um dia para o outro.
"A flexibilidade de ter o espaço na medida do que você precisa, maior ou menor, é o ponto alto", afirma. Ao longo do tempo, porém, a conta ficou alta, e a empresa arrumou uma sede própria.
ADAPTAÇÃO
"Antes de existirem os coworkings, eu já trabalhava remotamente", conta Adalberto Araújo, 62, sócio da consultoria de TI Six Partners.
"Como executivo de multinacional, eu viajava muito e sempre trabalhei em business center de hotéis", diz.
Hoje, Araújo tem uma mesa fixa no coworking LinkU2, na avenida Paulista (região central de São Paulo).
Ele adora o ambiente descontraído do espaço, conferido principalmente pelos jovens trajando tênis e camiseta da empresa de bitcoin que fica a poucos metros da mesa dele. "Gosto do networking que o espaço possibilita."
Araújo carrega apenas o computador e um kit de adaptadores de tomada, diferentemente de sua colega de mesa, Sandra Alves, 44, da Conexão Travel, que ainda não se desapegou dos pertences do antigo escritório.
Ela carrega até um porta-lápis. "Só falta trazer um porta-retratos da família", brinca Araújo. Alves concorda que ainda não largou hábitos do passado. "Mas estou indo bem", afirma.
BAIXO CUSTO
Empreendedores e profissionais mais jovens costumam preferir espaços gratuitos para trabalhar. E não precisa nem ser um coworking formal.
Muitas vezes, basta um espaço com mesas, cadeiras e uma rede de wi-fi. Cafés e centros culturais se encaixam nesse perfil.
"Eu trabalho em casa, mas gosto de alternar o local de trabalho", afirma Felipe Moslavacz, 24, proprietário da Agência Motor, de marketing digital.
"Muitas vezes vou para um café da rede Starbucks, que é prático e tem até ar-condicionado."
Moslavacz não é o único. As unidades da rede ficavam tão cheias de clientes mergulhados em seus computadores que a empresa passou a restringir o número de horas de uso da internet às comandas de consumo.
Um dos espaços mais disputados pelo público em São Paulo é o Campus do Google, inaugurado há pouco mais de um ano, no bairro do Paraíso, na zona sul de São Paulo.
Trata-se do primeiro espaço da empresa na América Latina destinado a abrigar empreendedores e profissionais liberais interessados em ampliar a rede de contatos. Os dois últimos andares do prédio ficam abertos ao público.
O campus tem mesa de sinuca, pufes e bebedouros. O uso do espaço é gratuito, paga-se apenas o que for consumido no café do local. Mas o lugar tem o mesmo "problema" da rede Starbucks.
"Eu deixei de frequentar o Google porque ficou muito lotado", diz Moslavacz.
Hoje, quem chega depois das 11 horas da manhã dificilmente encontra um lugar para se instalar. E, quando acha, nem sempre é confortável.
Outro problema é ter de carregar o computador sempre que surge a necessidade de sair do lugar, seja para comer ou esticar as pernas.
Coreia do Norte não tem casos de coronavírus e intriga o mundo
Redação, O Estado de S.Paulo
PYONGYANG - O regime da Coreia do Norte voltou a afirmar no domingo, 12, que não há nenhum caso confirmado da covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, no país.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou que não havia casos confirmados do novo coronavírus na Coreia do Norte.
Segundo a OMS, centenas de pessoas testaram positivo para o novo coronavírus. Porém, já não há mais vestígios da covid-19 no país comandado por Kim Jong-un.
A pandemia já atingiu 180 países. O mundo tem mais de 1,8 milhão de casos confirmados e 113 mil mortes, segundo dados Universidade Johns Hopkins.
Em janeiro, logo após o vírus ser detectado, o país se isolou ainda mais do mundo ao anunciar que estava fechando as fronteiras com a China e adotando medidas rígidas de confinamentos aos seus cidadãos.
“Adotamos medidas preventivas e científicas como inspeções e quarentenas para todas as pessoas que chegavam ao país, desinfetamos os produtos, fechamos as fronteiras e bloqueamos todas as rotas marítimas e aéreas”, afirmou Pak Myong-su, diretor do Departamento de Epidemias da Coreia do Norte.
Por ser um regime autoritário sem a garantia da liberdade de expressão e de imprensa, é difícil saber o que ocorre dentro do país.
O comandante militar americano na Coreia do Sul, general Robert Abrams, declarou no mês passado que tinha “praticamente certeza” de que a Coreia do Norte registrava casos do vírus, apesar das negativas de Pyongyang. Especialistas também questionam as informações divulgadas pelo regime.
Na vizinha do Sul, o vírus atingiu 9.976 pessoas e matou 169 delas, apesar dos esforços do governo em combater a epidemia e testar em massa a população.
Enquanto a doença ainda se alastrava dentro da China, em fevereiro, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia anunciou que enviou à Coreia do Norte cerca de 1.500 kits de diagnóstico, após um pedido de Pyongyang dado “o risco existente da covid-19”.
Já a OMS pretende destinar US$ 900 mil ao país para ajudar na resposta ao vírus.
Especialistas afirmaram temer que uma epidemia da covid-19 no país possa causar grandes danos à população, que vive em situação de extrema pobreza. O próprio ditador Kim Jong-un advertiu no mês passado para “graves consequências” se o vírus entrasse no país./AFP e REUTERS
Exército põe 25 mil no combate à pandemia, mas não se livra da luta política
13 de abril de 2020 | 10h00
Caro leitor,
Vinte e cinco mil militares do Exército estão engajados no combate à covid-19. Pouco mais de duas semanas depois da montagem dos centros de coordenação operacionais, a Força deslocou seus homens para a desinfecção de locais públicos, o treinamento das defesas civis estaduais e a produção de máscaras e de medicamentos para a proteção de médicos e enfermeiros, além da construção de hospitais de campanha – só na área do Comando Militar do Sudeste (CMSE) serão 20.
“Em que pese toda a discussão política entre governadores, o presidente e os prefeitos, a instituição tem consciência de que antes de tudo esse é um drama humano. Trata-se de uma questão humanitária que atinge o Brasil inteiro”, afirmou um general ao explicar o desdobramento de tropas em todos os comandos de área do Exército para combater a covid-19.“O comando do Exército quer mostrar que faz seu trabalho sem olhar para os conflitos políticos.” Militares afirmam que pedidos de prefeitos e governadores estão sendo atendidos ainda que haja em Brasília quem trate a covid-19 pela alcunha de “gripezinha”.
Os atos e o discursos do Exército querem, pela enésima vez, mostrar à sociedade que a instituição cumpre seu dever, evitando se envolver em disputas políticas. “Mas é claro que há identificação com Bolsonaro. E essa identificação está no anticomunismo, pois sentimos que esses regimes não levaram nem ao desenvolvimento dos países nem à igualdade prometida”, afirmou um general. Além da identificação ideológica, o que determinou o apoio ao candidato foi o discurso antipetista, ainda mais depois dos escândalos de corrupção. “Conheço muito oficial que nunca havia votado nele apesar de Bolsonaro buscar a identificação com a classe militar.”
Ou seja, os generais admitem o apoio e a proximidade de visão com o atual governo, mas dizem que isso não contamina suas decisões nos quartéis, apesar da ida de dois integrantes do Alto Comando para o ministério de Bolsonaro – os generais Walter Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos. O Exército, porém, terá sucesso ao tentar convencer as demais forças políticas e a sociedade em geral ao tentar dissociar sua imagem daquela do capitão Bolsonaro, o homem que passeia em meio ao povo apesar da necessidade de isolamento para deter a propagação do coronavírus?
“O militar que vai para o governo vai por sua conta e risco”, diz o general. Ou seja, quem deve prestar contas disso é quem está no governo. No entendimento do general, o bolsonarismo pode ter invadido grupos de WhatsApp e redes sociais de oficiais – inclusive os da ativa –, mas não existiria liderança militar, além dos generais da ativa, capaz de pôr a tropa em forma. "Comando de tropa só tem quem está na ativa. Santos Cruz não lidera ninguém. Santa Rosa não lidera ninguém. Não botam ninguém em forma. Santos Cruz não põe dez em forma e Santa Rosa não põe cinco", afirmou o general, referindo-se a dois generais que foram demitidos por Bolsonaro e hoje são críticos do governo.
“Quem manda no Exército é o Alto Comando. É quem tem a tropa na mão”, disse. Seria bom que civis e seus colegas – ele adverte –abrissem a obra O Soldado e o Estado, teoria política das relações entre civis e militares, de Samuel Huntington. Há uma geração inteira que abandonou os estudos sobre os militares e a República no País. Preconceito, tabu e desinteresse se somaram para criar mal-entendidos e ilusões entre militares e civis.
Se uma parte dos civis deve abandonar preconceitos e se interessar pela Defesa Nacional, uma parte dos militares deve deixar o bolsonarismo. Seria bom ouvir os conselhos do coronel Y. Em 1.º de dezembro de 1933, ele escreveu aos colegas, após as manobras das escolas das Armas: “Provavelmente, o chefe do governo provisório, quando procurava divisar nos mattos de Gericinó os executantes, sem poder vislumbrá-los, deve ter se lembrado que os officiaes que transbordam de ‘ideologia’ que se proclamam ‘authenticos’ e que julgam o Exército só comportar os diferentes ‘modelos’ de revolucionários (1922, 1924, 1926, 29130), não podiam achar-se naquelle ambiente profissional. Aonde elles andarão?”
O coronel Y era o futuro marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Castelo não via entre os militares profissionais de então os tenentes interventores sedentos de exercer o poder revolucionário. Hoje, enquanto os bolsonaristas fazem barulho nas redes sociais e alguns pedem até a volta da monarquia, um grupo silencioso e profissional de militares volta a pensar como Castelo Branco. É preciso preservar o profissionalismo e a distância do partidarismo nas Forças Armadas como única forma de escapar à sua débâcle profissional. Há generais cansados de serem usados como contraponto a Bolsonaro. Querem seguir com sua faina nos quartéis. Serão promovidos? É isso que o bolsonarismo espera deles? Qual o futuro do Exército profissional?
Esses militares se queixam do mundo civil e dos que desconhecem seus deveres e valores. Têm razão. Há muita gente que procura neles uma forma de criar oposições inexistentes entre governo e o Exército. Mas eles têm pouco interesse ainda em constatar as contaminações partidárias que se verificam entre seus colegas. E estão quase sempre prontos a repetir a versão de que o governo não lhes pertence, como se a presença maciça de militares na atual administração não fosse problema ou tema de seu interesse. O diabo é que o real, apesar da repulsa humana ao contingente, sempre aparece.
No primeiro capítulo de As Crises da República, Hannah Arendt lembra da aversão da razão à contingência. E cita Hegel: “A contemplação filosófica não tem outro intento que o de eliminar o incidental”. Ela segue afirmando que grande parte da teoria política de então tinha esse desejo por objetivo. “A falha de tal raciocínio começa em querer reduzir as escolhas a dilemas mutuamente exclusivos.” Arendt alerta que a realidade nunca se apresenta como algo tão simples, como premissas para conclusões lógicas. “O tipo de raciocínio que apresenta A e C como indesejáveis e assim se decide por B dificilmente serve a algum outro propósito que não o de desviar o juízo da infinidade de possibilidades reais.”
Arendt faz uma crítica ácida aos burocratas do governo americano de então: “O que os resolvedores de problemas têm a ver com os verdadeiros mentirosos é o desempenho em se livrarem dos fatos. Eles confiam de que isso seja possível. A verdade é que isso nunca pode ser feito, nem pela teoria, nem pela manipulação da opinião. Como se um fato pudesse ser removido do mundo, simplesmente, porque bastante gente acredita na sua não existência”. Arendt se referia às revelações contidas nos Pentagon Papers, e as mentiras contadas pelos governos americanos a respeito da guerra do Vietnã.
No Brasil, nenhum documento institucional sobre a guerra à covid-19 veio à luz. Nem seria preciso. Ao pôr 25 mil homens nas ruas para lutar contra a epidemia no País, o Exército mostra o que pensa sobre a ameaça. Sua mobilização se distancia do oportunismo político de alguns ou do fanatismo bolsonarista, que ontem distribuía nas redes sociais uma imagem de Cristo ao lado do presidente na qual dizia que seu Mito – e não a ciência – ia salvar o País.
Por mais que o desejo de uma parte dos oficiais seja de se distanciar da guerra política, suas ações terão sempre um significado. Ainda mais quando o presidente chama a covid-19 de “gripezinha” e se comporta como se ela de fato fosse isso. É que simplesmente não há como se livrar dos fatos. Ainda que Bolsonaro ou seus opositores não enxerguem quem são ou o que pensam os militares que se exercitam nos campos de treinamento de Gericinó.