Pesquisa Ibope em Fortaleza: Sarto, 29%; Capitão Wagner, 27%, Luizianne, 24%
Pesquisa Ibope divulgada pela TV Verdes Mares nesta terça-feira (3) aponta os seguintes percentuais de intenção de voto para a Prefeitura de Fortaleza nas Eleições 2020:
- Sarto (PDT): 29%
- Capitão Wagner (Pros): 27%
- Luizianne Lins (PT): 24%
- Heitor Férrer (SD): 4%
- Célio Studart (PV): 2%
- Renato Roseno (Psol): 2%
- Heitor Freire (PSL): 2%
- Anízio Melo (PC do B): 0%
- Samuel Braga (Patriota): 0%
- José Loureto (PCO): 0%
- Paula Colares (UP): 0%
- Nenhum/branco/nulo: 6%
- Não sabe/Não respondeu: 3%
Evolução
Em relação ao levantamento anterior do Ibope, de 14 de outubro:
- Sarto (PDT) foi de 16% para 29%
- Capitão Wagner (Pros) foi de 28% para 27%
- Luizianne Lins (PT) foi de 23% para 24%
- Heitor Férrer (SD) foi de 6% para 4%
- Célio Studart (PV) foi de 4% para 2%
- Renato Roseno (Psol) foi de 3% para 2%
- Heitor Freire (PSL) foi de 1% para 2%
- Anízio Melo (PC do B) se manteve com 0%
- Samuel Braga (Patriota) se manteve com 0%
- José Loureto não foi citado na primeira pesquisa e passou a ter 0%
- Paula Colares não foi citada na primeira pesquisa e passou a ter 0%
- Branco/nulo: foi de 12% para 6%
- Não sabe/Não respondeu: foi de 7% para 3%
Rejeição
A pesquisa também perguntou em quem os eleitores não votariam de jeito nenhum. Os percentuais foram os seguintes:
- Luizianne Lins: 38%
- Capitão Wagner: 36%
- Heitor Férrer: 15%
- Sarto: 15%
- Renato Roseno: 12%
- Samuel Braga: 11%
- Anízio Melo: 10%
- Célio Studart: 10%
- José Loureto: 9%
- Paula Colares: 9%
- Heitor Freire: 9%
- Poderia votar em todos: 1%
- Não sabem ou preferem não opinar: 7%
Os entrevistados podiam apontar mais de uma resposta, por isso a soma dos fatores apontados é de mais de 100%.
A pesquisa foi encomendada pela TV Verdes Mares.
Simulações de segundo turno
O Ibope também questionou, caso haja segundo turno, em quem os entrevistados votariam:
- Sarto 46% X 36% Capitão Wagner (branco/nulo: 12%; não sabe: 6%)
- Sarto 46% X 33% Luizianne Lins (branco/nulo: 14%; não sabe: 7%)
- Capitão Wagner 41% X 41% Luizianne Lins (branco/nulo: 12%; não sabe: 2%)
Sobre a pesquisa
- Margem de erro: 3 pontos percentuais para mais ou para menos
- Quem foi ouvido: 805 eleitores da cidade de Fortaleza
- Quando a pesquisa foi feita: 1º a 3 de novembro
- Número de identificação na Justiça Eleitoral: CE-08692/2020
- O nível de confiança utilizado é de 95%. Isso quer dizer que há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral, considerando a margem de erro.
Lula grava vídeo para candidato adversário do PT em João Pessoa
Natalia Portinari /O GLOBO
BRASÍLIA — Em meio a uma disputa entre o PT Nacional e o diretório municipal do partido em João Pessoa (PB), o ex-presidente Lula gravou um vídeo em apoio ao candidato a prefeito e ex-governador Ricardo Coutinho (PSB). Ele é concorrente direto de Anísio Maia, postulante do PT no município. A informação foi antecipada pelo colunista do GLOBO Lauro Jardim.
O partido briga na Justiça para invalidar a candidatura de Anísio Maia, escolhido pelo PT municipal para disputar a Prefeitura. A direção nacional apoia Ricardo Coutinho. Por enquanto, porém, a Justiça eleitoral determinou que Maia siga como candidato e excluiu o PT da chapa de Coutinho.
No último sábado, o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) determinou que uma propaganda com o vídeo do ex-presidente fosse retirada do ar. A justificativa é que Lula, considerado um "apoiador", ocupava mais de 25% do tempo do programa, infringindo a lei eleitoral. Coutinho está liberado para usar o vídeo em um intervalo menor de tempo, porém.
— Eu conheço o Ricardo Coutinho há muito tempo. Eu já tive divergência com Ricardo Coutinho. (...) Foi prefeito duas vezes, foi governador duas vezes (...) Mas uma coisa eu posso dizer para vocês. O Ricardo Coutinho é uma das figuras mais extraordinárias e mais sérias que eu já conheci — diz Lula no vídeo.
Até 2009, era proibido usar na propaganda eleitoral declarações de pessoas filiadas a partidos políticos concorrentes ou pertencentes a coligações opostas na eleição. Hoje, só há vedação desse tipo no segundo turno.
O advogado eleitoral Marcellus Ferreira Pinto afirma que Lula pode ter violado o estatuto do PT ao gravar propaganda para um concorrente, já que o partido considera como violação ética e disciplinar "a propaganda de candidato ou candidata a cargo eletivo de outro Partido ou de coligação não aprovada pelo PT" — e formalmente, após decisão da Justiça, o candidato do partido é Anísio Maia.
Ricardo Coutinho, que deixou o cargo de governador em 2018, acumula denúncias e investigações por corrupção e lavagem de dinheiro. Acusado pelo Ministério Público de chefiar uma organização criminosa, chegou a ser preso pela Operação Calvário.
Procurado, o PT e a candidatura de Anísio Maia não se pronunciaram até o momento.
Belo Monte diz que enfrenta limitação para transmitir energia e cobra prejuízo de R$ 1,85 bilhão
03 de novembro de 2020 | 10h00
BRASÍLIA - A usina de Belo Monte, maior hidrelétrica brasileira, apresentou uma fatura em aberto de R$ 1,85 bilhão que diz não ter como receber, por causa de limitações que a usina enfrenta para entregar sua energia. A principal alegação da concessionária Norte Energia, dona da hidrelétrica, é de que as linhas de transmissão que deveriam se conectar às suas turbinas para levar energia aos Estados da Região Nordeste, malhas que pertencem a outra empresa, não ficaram prontas até hoje. O atraso limitou a geração que a hidrelétrica poderia entregar, efetivamente, como previsto em seu contrato, gerando o rombo no faturamento.
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O Estadão teve acesso a um ofício encaminhado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), no qual a Norte Energia reclama da venda frustrada de energia, alega que não tem culpa pelo atraso das linhas de transmissão e pede que os valores não faturados sejam convertidos em “alívio de exposição financeira” da usina, um mecanismo do setor elétrico em que todos os agentes devem efetuar pagamentos, quando necessário, para manter o equilíbrio das empresas geradoras de energia.
No documento, o presidente da Norte Energia, Paulo Roberto Ribeiro Pinto, afirma que as linhas de transmissão tinham previsão de serem concluídas em 2017, antes de Belo Monte operar a plena carga. A falência da empresa espanhola Abengoa, no entanto, companhia que era dona das linhas, paralisou completamente as obras. As redes de transmissão já foram relicitadas e hoje pertencem à empresa Engie, mas só serão entregues, segundo o prazo atual, em 2023. A concessionária afirma ainda que foi prejudicada por determinações de entrega de energia feitas pelo Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS), o que teria afetado a oferta de geração da usina.
“É possível estimar, utilizando o conceito do tratamento da exposição financeira, o valor não realizado dessa comercialização, que atingiria a ordem de R$ 850 milhões entre os anos de 2018, 2019 e 2020”, afirma o executivo, no documento. Ribeiro Pinto faz ainda projeções dos prejuízos que a companhia terá nos próximos dois anos, por causa dos problemas com a transmissão. “Sob a mesma ótica, as projeções a partir do ano de 2021 até o final do ano de 2022, (...) este montante chegaria à casa de R$ 1 bilhão.”
No documento, a empresa afirma que, no “plano de negócios que fundamentou a proposta” de criação da usina, “foi considerado que não haveria hipótese de restringir o escoamento da energia da usina”.
Procurada pela reportagem, a Norte Energia declarou que documento "se refere a assuntos tratados na rotina de suas comunicações com o órgão regulador de energia elétrica, no âmbito de sua concessão de geração de energia hidráulica".
As empresas espanholas Abengoa e Isolux venceram uma série de projetos de transmissão no País, com preços agressivos dados em leilões desses empreendimentos. Logo depois, passaram a atrasar as obras, até que entraram em uma espiral de dívidas dentro e fora do Brasil, comprometendo diretamente a entrada em operação de dezenas de usinas erguidas no País.
A usina de Belo Monte, erguida em Vitória do Xingu, no Pará, ao custo de R$ 40 bilhões, pode até reclamar de dívidas causadas por atrasos de terceiros, mas a própria Norte Energia também descumpriu seu cronograma. A conclusão da usina ocorreu um ano atrás, em novembro de 2019, quando seu cronograma original, que a empresa agora faz relembrar, previa sua entrega em fevereiro do ano passado. O projeto teve, portanto, nove meses de atraso.
Apesar de sua potência de mais de 11.233 MW, a geração média da usina, na realidade, é de 4.571 MW, por causa da oscilação profunda do nível de água da Rio Xingu durante o ano. Essa variação, inclusive, faz com que, por vários meses do ano, a casa de força principal da hidrelétrica, que concentra 11 mil MW, fique totalmente desligada, porque há pouca água para passar por suas turbinas. Não por acaso, a viabilidade da usina foi questionada não apenas por ambientalistas, mas por muitos engenheiros credenciados na construção de barragens.
Comício informal de Boulos gera aglomeração no Largo da Batata
Alessandra Monnerat, O Estado de S.Paulo
Um evento do candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, gerou aglomeração no Largo da Batata neste domingo, 1. Fotos publicadas pela campanha nas redes sociais mostram centenas de pessoas reunidas para ouvir discursos de parlamentares do partido, artistas da periferia, líderes de movimentos sociais e do próprio Boulos, feitos de um palco improvisado. Uma parte significativa usava máscaras, mas não houve distanciamento social.
De acordo com a coordenação da campanha, a ideia inicial era distribuir materiais como adesivos e panfletos para apoiadores na reta final, mas a reunião teve público maior que o previsto — atraído, talvez, pela estrutura montada e avisos de que parlamentares participariam. Nos comentários das postagens, alguns apoiadores reclamaram da falta de cumprimento de medidas de distanciamento social para evitar contaminação pelo novo coronavírus.
“Foi orientado o distanciamento e tinha apoiadores distribuindo álcool gel”, afirma o coordenador da campanha de Boulos, Josué Rocha. “O evento acabou tendo um público maior que o previsto. A previsão era focar na distribuição de material de campanha”.
O evento foi anunciado nas redes de Boulos como o “Mutirão da Virada”. A campanha não chamou a reunião de comício, mas o candidato a prefeito, os deputados federais Sâmia Bomfim e Glauber Braga e o deputado estadual Carlos Giannazi — todos do PSOL — estiveram presentes. A Justiça Eleitoral não veta a realização de comícios ou de reuniões partidárias, mas orienta o cumprimento de medidas sanitárias e deixa claro que atos do tipo não são atualmente recomendados.
02 de novembro de 2020 | 14h19
Um evento do candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, gerou aglomeração no Largo da Batata neste domingo, 1. Fotos publicadas pela campanha nas redes sociais mostram centenas de pessoas reunidas para ouvir discursos de parlamentares do partido, artistas da periferia, líderes de movimentos sociais e do próprio Boulos, feitos de um palco improvisado. Uma parte significativa usava máscaras, mas não houve distanciamento social.
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De acordo com a coordenação da campanha, a ideia inicial era distribuir materiais como adesivos e panfletos para apoiadores na reta final, mas a reunião teve público maior que o previsto — atraído, talvez, pela estrutura montada e avisos de que parlamentares participariam. Nos comentários das postagens, alguns apoiadores reclamaram da falta de cumprimento de medidas de distanciamento social para evitar contaminação pelo novo coronavírus.
“Foi orientado o distanciamento e tinha apoiadores distribuindo álcool gel”, afirma o coordenador da campanha de Boulos, Josué Rocha. “O evento acabou tendo um público maior que o previsto. A previsão era focar na distribuição de material de campanha”.
O evento foi anunciado nas redes de Boulos como o “Mutirão da Virada”. A campanha não chamou a reunião de comício, mas o candidato a prefeito, os deputados federais Sâmia Bomfim e Glauber Braga e o deputado estadual Carlos Giannazi — todos do PSOL — estiveram presentes. A Justiça Eleitoral não veta a realização de comícios ou de reuniões partidárias, mas orienta o cumprimento de medidas sanitárias e deixa claro que atos do tipo não são atualmente recomendados.
Caravanas. Nas caravanas previstas para ocorrer esta semana, a coordenação da campanha disse querer evitar uma aglomeração como a deste domingo. “Esperamos um público bem menor, porque são vários eventos ao longo do dia, em diferentes bairros, de forma descentralizada”, afirma Rocha.
A campanha planeja atividades de caminhada e panfletagem. Os bairros pelos quais Boulos vai passar foram decididos por votação online. Nesta terça-feira, 3, o candidato visitará bairros da região central, como Brás, Santa Cecília e Bela Vista. “Uma das nossas necessidades desde o início da campanha é aumentar a taxa de conhecimento do Boulos. Essas ações são importantes para conseguir dialogar com a população”, diz o coordenador da campanha.
A candidata a vice, Luiza Erundina, participará de atividades de quinta-feira, 5, em Sapopemba e São Miguel Paulista, ambos na zona leste. Com 85 anos de idade, a ex-prefeita usará uma espécie de “papamóvel”, um veículo adaptado com placas de acrílico, para comparecer aos eventos sem correr o risco de contrair covid-19.
Toffoli ataca Lava Jato e insinua que Moro faz pose de herói pelo Planalto... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2020/11/01/toffoli-ataca-lava-jato-e-insinua-que-moro-faz-pose-de-heroi-pelo-planalto
O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, fez críticas ácidas à Operação Lava Jato em videoconferência organizada pela Universidade de Coimbra, de Portugal. Atribuiu propósitos políticos à força-tarefa de Curitiba: "Destroem a política para depois dizer que eles são os puros." Insinuou que Sergio Moro utilizou a função de juiz como trampolim: "Essas pessoas posam como heróis e depois são mordidas pelo que no Brasil nós chamamos de mosca azul, para serem candidatas, alguns até à Presidência da República."
Toffoli não citou o nome de Moro. Coube ao mediador mencionar o ex-juiz e ex-ministro da Justiça como exemplo "mais visível" de migração da magistratura para a política. Toffoli silenciou, como que concordando com a observação. A videoconferência ocorreu na última sexta-feira (30). O título era "Supremo Tribunal Federal e o Judiciário no Brasil durante a pandemia de Covid-19." Mas o ponto alto foi o trecho em que o orador discorreu sobre a maior operação anticorrupção já realizada desde a chegada das caravelas.
A certa altura, Toffoli enalteceu o trabalho do procurador-geral da República Augusto Aras, defensor da tese segundo a qual é preciso corrigir os rumos do "lavatismo". Segundo Toffoli, Aras "fez acordos de colaboração premiada que já recuperaram mais valores para o Estado brasileiro do que todas as operações ocorridas no passado, incluindo a Lava Jato, só que ele não faz pirotecnia, não faz propaganda disso." O ministro não especificou os acordos nem citou os valores.
"Por que um promotor, um delegado, um juiz tem que fazer propaganda?", indagou Toffoli. "Atua nos autos, condena. Não precisa fazer pirotecnia e estardalhaço. Não está na lei penal a humilhação e a execração como pena." Toffoli citou sua própria atuação como protótipo da correção. "Nos casos em que atuo, determino que todos os agentes da Polícia Federal e até procuradores da República assinem um termo de confidencialidade e que não deem entrevista."
Na sequência, tratou as entrevistas à imprensa promovidas pela Lava Jato após a deflagração de cada fase da operação como tortura ao investigado, não como meio de manter a sociedade informada sobre as investigações. "Uma coisa é você apurar, investigar e condenar. Eu já condenei muita gente no Supremo Tribunal Federal, já fui relator de várias condenações. [...] Sem humilhação, sem execração. Os exageros e os abusos ocorridos eram exatamente esses. Você faz um início de investigação e depois dá uma entrevista coletiva para execrar."
A Lava Jato, como se sabe, cometeu inúmeros erros. Sergio Moro tisnou a imagem da força-tarefa ao trocar a 13ª Vara de Curitiba por uma cadeira de ministro na Esplanada escalada por Bolsonaro. Mas quem vê Toffoli endossando os ataques do petismo à operação que julgou e encarcerou a fina flor das oligarquias políticas e empresariais, fica tentado a se perguntar: Quem destruiu a política foram os investigadores ou os políticos criminosos? Se a Lava Jato se resume a uma trama política, como classificar as provas, as confissões, o dinheiro repatriado de contas na Suíça?
Anatomia do amoralismo brasileiro - Bolívar Lamounier, O Estado de S.Paulo
Temos mil discordâncias, mas num ponto somos quase unânimes: somos um povo moralmente escorregadio. A maioria está convencida de que somos um povo sem caráter. A esperança de nos tornarmos mais civilizados, que em certos momentos chegamos a nutrir, parece ter-se esvaído de vez.
A pandemia reduziu a quase nada a dúvida que pudesse existir a esse respeito. De fato, quem observa nosso cotidiano logo percebe que centenas de milhares – a começar pelo presidente da República – não parecem dar a mínima para a saúde alheia. Solapam os esforços dos agentes de saúde que combatem a covid-19 na linha da frente. Fomentam aglomerações e recusam-se a cumprir os cuidados básicos estipulados pelas autoridades.
Frisemos que não se trata de um traço meramente psicológico ou cultural. É algo baseado em comportamentos reais, facilmente perceptíveis. Apresenta-se sob uma infinidade de formas, desde as garrafas de plástico deixadas nas ruas e nos jardins, passa por todo aquele contingente que não carece de auxílio emergencial, mas o pleiteia com o maior descaramento, e culmina em requintadas modalidades de estelionato. Tampouco se trata de classe social. Basta olhar em volta para constatarmos que o amoralismo permeia nossa sociedade de alto a baixo. Manifesta-se tanto entre pobres como entre ricos. Entre analfabetos e entre aqueles que estudaram até cansar.
Como compreender que tenhamos chegado a esse ponto? A interpretação geralmente aceita é a de que se trata do desfecho inevitável da colonização portuguesa. São “grilhões do passado”. Confesso que essa teoria não me agrada, mas não a rejeito in totum. A debilidade de nossa ordem normativa (ou seja, de nosso sistema de valores e normas morais) em parte se deve ao curso de nossa História. Decididamente, nunca tivemos e não temos nenhuma inclinação calvinista. Entre nós, nem o catolicismo, nem as religiões de origem africana, nem a família e muito menos o sistema de ensino facilitaram a formação de padrões morais introspectivos, de caráter individual. Sem esquecer que escravos, seres por definição carentes de interesses e desejos, não tinham de optar entre alternativas, portanto, não tinham que refletir sobre critérios de opção.
De qualquer forma, prefiro partir de premissas atualizadas. Parto da proposição de que nosso país, como qualquer outro, pode ser visualizado como uma justaposição de três grupos distintos: A, B e C.
O grupo A é composto pelos verdadeiros cidadãos. Gente honesta, que respeita os semelhantes, e não se afasta dos padrões morais aceitáveis e corretos em nenhuma circunstância. “No matter what”, como se diz em inglês.
No extremo oposto, o grupo C concentra a gente da pior espécie. Não só ladrões de colarinho branco, mas ladrões de verdade, gente violenta e assassinos que cedo manifestam tal inclinação e assim se comportarão ao longo da vida, em qualquer circunstância. “No matter what”.
O grupo B, presumivelmente o maior, é um emaranhado extremamente complexo. Compõe-se de gente que pode pender para um lado ou para o outro, conforme as circunstâncias. Gente que varia da simples malandragem até tipos mais perigosos, mas sem configurar um padrão previamente determinado. É plausível supor que o grupo B seja proporcionalmente maior em países mais pobres do que em países ricos, ou em momentos de depressão econômica do que em momentos de prosperidade, e em países governados por indivíduos e instituições corroídas pela ilegitimidade – retomo esse ponto adiante. Examinado ao microscópio, o grupo B deixa entrever alguns traços principais. O mais importante é o que Thomas Hobbes (1651) descreveu como a “luta de todos contra todos”. Sim, nesse grupo a luta pela sobrevivência é renhida e constante. Muitos dos que o integram não sabem do que vão viver amanhã, e não dispõem de recursos básicos (como uma boa escolaridade) que os tornem mais competitivos na arena cotidiana. Muitos não têm emprego, ou recaem no desemprego ao primeiro impacto de uma crise. Muitos conseguem trabalho, mas em empregos de má qualidade, mal remunerados, que não propiciam segurança, perspectiva de carreira, continuidade, e muito menos motivação. E não nos esqueçamos de que o Brasil nada possui que se assemelhe a uma classe média consistente, firmemente assentada em pequenos e médios empreendimentos, urbanos ou rurais.
Pois bem, o exemplo, como sabemos, deve vir de cima. Como poderá uma sociedade cujo núcleo coexiste com a amoralidade elevar-se a um nível de civilidade mais alto, se sua cúpula institucional – o Estado e as autoridades que o dirigem – todo dia nos brinda com aberrações jurídicas e acrobacias jurídicas de toda ordem, sem esquecer a corrupção propriamente dita? Se uma multidão de desempregados e subempregados recebe diariamente a informação de que, nos três Poderes, os que mandam metem a mão em cifras astronômicas?
SÓCIO-DIRETOR DA AUGURIUM CONSULTORIA, É MEMBRO DAS ACADEMIAS PAULISTA DE LETRAS E BRASILEIRA DE CIÊNCIAS