Eleição muda correlação de forças nos estados e deve influenciar disputas em 2022
Os resultados das eleições municipais neste domingo (29) consolidaram mudanças na correlação de forças políticas nos estados com impactos nas disputas para os governos estaduais em 2022.
O crescimento dos partidos nos estados, tanto em número de prefeituras quanto em número de eleitores governados nos municípios, dará impulso a líderes políticos que saíram vitoriosos nas urnas.
Este será o caso, por exemplo, do DEM na Bahia e no Rio de Janeiro, do PSD no Paraná e em Minas Gerais, do PP no Piauí e em Alagoas, do PDT no Maranhão e do PSDB no Rio Grande do Norte.
O PSDB de João Doria confirmou sua força no estado de São Paulo ao eleger prefeitos de 172 cidades paulistas, número levemente acima das 164 conquistadas há quatro anos. A conta inclui a capital paulista, onde Bruno Covas foi reeleito e derrotou Guilherme Boulos (PSOL).
Ao mesmo tempo em que se manteve firme em São Paulo, os tucanos minguaram em estados como Goiás, Paraná, Mato Grosso e Pará, deixando de figurar entre forças políticas relevantes nestes estados.
Por outro lado, o partido cresceu no Rio Grande do Norte, saindo de 10 para 31 prefeitos, incluindo a capital. O desempenho fortalece a pretensão do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, de enfrentar a governadora Fátima Bezerra (PT) daqui a dois anos.
O DEM avançou no Rio de Janeiro e na Bahia e será a sigla que mais pessoas governará nos municípios desses estados.
No Rio, o partido governará cerca de 8 milhões de pessoas após sair de 2 para 10 prefeituras, incluindo a capital com o prefeito eleito Eduardo Paes.
Na Bahia, o DEM governará 4,5 milhões de pessoas em 37 prefeituras: levou 9 das 30 maiores cidades do estado. O resultado deve esquentar a disputa pelo governo baiano, que deve opor Jaques Wagner (PT) e ACM Neto (DEM) em 2022.
Principal adversário no estado, o PT ganhou 34 prefeituras na Bahia, mas sofreu reveses no segundo turno ao perder em Feira de Santana e Vitória da Conquista. Governará 750 mil baianos nos municípios.
Colocando na balança o número de eleitores, os partidos da base do governador Rui Costa governarão nos municípios 6,7 milhões de pessoas. A oposição, por sua vez, governará 7,1 milhões. Outros 775 mil estarão em cidades governadas por PL e PDT, partidos que são base tanto de Rui Costa quanto de ACM Neto.
Na correlação de forças, PSD e PP tornaram-se ainda mais importantes nas composições para a disputa do governo baiano. Liderado pelo senador Otto Alencar, o PSD terá 106 prefeitos, enquanto o PP terá 91.
O DEM também avançou em Minas Gerais: terá 84 prefeituras —mesmo número do PSDB— e será o segundo partido em número de eleitores governados. Ficará atrás apenas do PSD, que se consolidou como uma das principais forças políticas de Minas e governará 4,5 milhões de mineiros em 78 cidades.
Os resultados colocam dois nomes no tabuleiro da sucessão do governador Romeu Zema (Novo), que deve disputar a reeleição: o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), e o senador Rodrigo Pacheco (DEM).
Minas Gerais também será a principal base eleitoral do PT em número de eleitores governados nos municípios –1,8 milhão ao todo. O partido caiu de 52 para 28 prefeituras, mas comandará Contagem e Juiz de Fora, terceira e quarta maiores cidades do estado.
Além de Minas, o PT terá a maior parte de seus prefeitos na Bahia, Piauí e Rio Grande do Sul. Nestes três estados, contudo, a maioria dos petistas eleitos governará cidades de pequeno ou médio porte.
No campo da centro-esquerda, o PSB perdeu força em Pernambuco. Apesar de ter mantido o Recife com a eleição de João Campos, caiu de 67 para 53 prefeituras no estado.
Ainda assim, o partido terá Pernambuco como seu principal centro gravitacional. De cada três brasileiros governados por um prefeito do PSB, um estará em cidades pernambucanas.
Esta concentração é ainda maior no caso do PDT: dos 10,7 milhões de brasileiros que serão governados por prefeitos do partido a partir de 2021, 4,5 milhões estarão no Ceará.
O PDT elegeu José Sarto em Fortaleza e passará de 49 para 67 municípios do Ceará. No campo da oposição, houve uma mudança na correlação de forças com a ascensão do PSD, legenda ligada ao ex-vice-governador Domingos Filho.
O partido tomou o lugar do MDB de Eunício Oliveira como principal força da oposição aos irmãos Cid e Ciro Gomes no Ceará.
Líderes de partidos do centrão mostraram força no Nordeste. No Piauí, o PP saltou de 40 para 81 prefeituras, fortalecendo o senador Ciro Nogueira.
O avanço acontece depois de ele ter rompido com o governador Wellington Dias (PT), pavimentando sua pretensão de disputar o governo do estado daqui a dois anos.
Movimento semelhante aconteceu em Alagoas, onde o PP do deputado federal Arthur Lira saiu de 11 para 28 prefeituras. Apesar do crescimento robusto, o partido ainda está atrás do MDB do governador Renan Filho, que vai governar 37 municípios alagoanos a partir do ano que vem.
Já a vitória de João Henrique Caldas (PSB), o JHC, em Maceió fortalece outro nome no tabuleiro: o senador Rodrigo Cunha (PSDB), que foi um dos principais fiadores da candidatura do nome do PSB.
O tucano, por outro lado, tem contra si o desempenho de seu próprio partido na eleição deste ano: o PSDB tinha 18 prefeituras em Alagoas e terá apenas duas a partir de 2021.
No Maranhão, o PC do B de Flávio Dino perdeu espaço e caiu de 45 para 22 prefeitos. O campeão em prefeituras no estado será o PDT do senador Weverton Rocha, que se articula para ser candidato ao governo do estado na sucessão de Dino.
O PDT, inclusive, apoiou no segundo turno em São Luís a candidatura de Eduardo Braide (Podemos), que acabou saindo vitorioso das urnas. O movimento implodiu a base aliada de Dino, que apoiou Duarte Júnior (Republicanos).
Apesar de ter perdido na capital, o Republicanos do vice-governador Carlos Brandão saiu mais forte das eleições maranhenses, assim como o PL do deputado federal Josimar de Maranhãozinho.
Em estados como Paraná, Goiás, Tocantins e Paraíba, os novos governadores eleitos em 2018 funcionaram como uma espécie de imã para os candidatos a prefeito em cidades do interior.
O resultado veio nas urnas. No Paraná, o PSD do governador Ratinho Júnior cresceu de 28 prefeitos eleitos em 2016 para 128 neste ano e governará uma em cada três cidades do estado. O crescimento se deu principalmente em cima do PSDB, que submergiu no Paraná.
Outras legendas como Podemos e PSL também cresceram no Paraná. O PSL saiu de 4 para 24 prefeituras, tendo ali seu melhor desempenho dentre todos os estados brasileiros.
Movimento semelhante aconteceu na Paraíba, onde o governador João Azevêdo trocou o PSB pelo Cidadania após romper com seu padrinho político, o ex-governador Ricardo Coutinho.
O partido era nanico do estado e não havia conquistado nenhuma prefeitura na Paraíba em 2016. A partir do próximo ano, sob liderança do governador, terá 40 prefeitos no estado.
O PSB de Ricardo Coutinho, por outro lado, viveu um movimento contrário: elegeu 56 prefeitos há quatro anos e terá apenas 5 a partir de 2021. Já o PV não elegeu nenhum prefeito no estado, o que dificultará as pretensões de Luciano Cartaxo, prefeito de João Pessoa, em disputar o governo.
Republicanos cresce e ganha espaço entre os partidos da direita II
Felipe Frazão, O Estado de S.Paulo
O sucesso eleitoral do Republicanos tem método. Há anos, a direção nacional orienta-se por pesquisas do Instituto Informa. Elas ajudam a traçar as estratégias eleitorais. O partido testa nomes e escolhe candidatos mais competitivos em cada Estado, que são privilegiados com recursos. Oferece a eles os melhores números de urna, aqueles mais fáceis de memorizar. Muitos deles são pastores, nomes já consolidados na política regional e estrelas de TV. Em 2020, foi a vez de apostar em delegados.
Bancada na Câmara
O crescimento contínuo verificado nas eleições municipais também se repete na Câmara. Hoje, o partido tem a sétima maior bancada, com 32 integrantes. A maioria se diz independente, alguns são notórios bolsonaristas, mas nas contas finais o partido vota 90% a favor das pautas do Planalto. Desde a primeira eleição geral em 2006, o Republicanos passou de um eleito apenas para oito em 2010, 21 em 2014 e 30 em 2018. Essas duas eleições, a de prefeitos e deputados federais, têm uma correlação direta, segundo estudiosos do sistema político brasileiro.
O cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getúlio Vargas, considera que o Republicanos está “bem encaminhado” para crescer novamente em 2022 com base nos resultados obtidos neste ano. “Eles foram muito bem, visto que está provado cientificamente que quanto mais vereadores e prefeitos melhor é sua eleição para a Câmara dos Deputados dois anos depois. Os prefeitos recebem emendas dos deputados, e em troca fazem campanhas para eles”, diz Praça. “Se prestarmos atenção demais no desempenho deles em São Paulo e no Rio perdemos tendências mais profundas desta eleição. Os Republicanos têm dois filhos do presidente filiados e o apoio de campanha da Universal, isso dá uma força que nenhum outro partido possui. Eles são identificados com a agenda legislativa moral do bolsonarismo.”
Por outro lado, o Republicanos esforça-se para se desvencilhar de reveses na sua maior vitrine até agora, a prefeitura do Rio de Janeiro, administrada pelo prefeito Marcelo Crivella, bispo da Universal e sobrinho de Edir Macedo, o fundador da igreja. Na contramão das expectativas, o prefeito não conseguiu ajudar nem eleger o próprio filho, Marcelo Crivella Filho, deputado federal em 2018, ressente-se um dirigente do Republicanos, para quem a gestão no Rio “só trouxe desgaste”.
As pesquisas internas que o partido encomendava já mostravam dificuldades no Rio e em São Paulo, o que faria a direção nacional resistir às candidaturas do prefeito do Rio Marcelo Crivella e do apresentador e deputado Celso Russomanno. As duas derrotas são atribuídas mais à má gestão de Crivella e erros de estratégia e comunicação de Russomanno, além de um desgaste de seu nome, que não conseguem nem avançar ao segundo turno na capital paulista há três campanhas seguidas.
“As duas derrotas não são do partido. Elas mostraram que o eleitor não queria Celso como prefeito, e que o carioca reprovou o Crivella. As pessoas não rejeitaram o partido, mas sim os candidatos. Tanto que elegemos sete vereadores no Rio e quatro em São Paulo”, afirma Pereira.
Logo depois do primeiro turno, a aposta dele, para balancear a provável perda da segunda maior cidade do País, com 4,8 milhões de eleitores, eram as disputas no último domingo em Vitória, São Luís, Campinas e Sorocaba. Destas, o partido só perdeu na capital maranhense. “A continuidade do sucesso depende desses gestores”, prevê.
Republicanos cresce e ganha espaço entre os partidos da direita
Felipe Frazão, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O xadrez partidário nacional tem uma nova força na direita. Com 211 prefeitos eleitos nestas eleições, o Republicanos entrou na lista dos dez maiores do País, sendo o mais conservador deles. Das grandes cidades, o partido vai governar Vitória, Campinas e Sorocaba, conquistadas nesse domingo, 29, no segundo turno, mas já havia expandido sua atuação como força eleitoral com vitórias no primeiro turno em pequenos e médios municípios, formando um exército ainda com 2.572 vereadores que podem facilitar seu plano de fundo: ampliar a bancada federal no Congresso.
Já no primeiro mandato como deputado, o presidente do partido, Marcos Pereira (SP), chegou ao cargo de vice-presidente da Câmara e agora almeja suceder ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A eleição interna do Congresso é o próximo tabuleiro da política.
Os prefeitos eleitos pelo partido superam, por exemplo, os 183 vitoriosos do PT. Foi um ganho de mais de cem prefeituras. Em 2016, haviam sido 106 eleitos, então pelo PRB, nome antigo da legenda. Nas duas primeiras eleições municipais, o Republicanos elegeu 54 prefeitos em 2008 e 80 em 2012.
Sem amarras ideológicas e com apetite por espaços no governo, o Republicanos apoiou os últimos três presidentes da República: Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer - controlou as pastas da Pesca, do Esporte e da Indústria nos dois governos mais recentes. Atualmente abriga, ainda que “de passagem”, dois dos filhos parlamentares de Jair Bolsonaro: o vereador no Rio Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro (RJ).
Na bolsa de apostas, é um dos partidos aos quais o presidente pode escolher se filiar para a reeleição em 2022. Diferentemente do fracassado plano de criar o Aliança pelo Brasil, no Republicanos o clã Bolsonaro não teria o controle de verbas, nem poder de vetos, avisou a cúpula da legenda, vacinada pelas brigas que o presidente e seus filhos causaram no PSL. O partido não tem, no momento, plano de disputar o Palácio do Planalto com candidato próprio daqui a dois anos.
Origem
O Republicanos foi criado há 15 anos com incentivo de líderes evangélicos. O partido surgiu em 2003, tendo como maior nome o ex-vice-presidente José Alencar. À época, o nome era Partido Municipalista Renovador, abandonado em 2005, ano em que a Justiça Eleitoral concedeu o registro definitivo. O PRB, Partido Republicano Brasileiro, durou até 2019, quando ganhou uma nova roupagem, numa tentativa de deixar para trás a imagem de um partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus e que apoiou governos indiscriminadamente em troca de cargos.
Desde 2011, a legenda é dirigida por Pereira, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e ex-diretor da Record TV. Desde então, ele profissionalizou a estrutura, ergueu uma sede em Brasília e lançou uma faculdade própria voltada à formação política. Dedicou-se por anos apenas ao comando da sigla. Procurou moderação e montou uma estrutura própria de comunicação. Abriu cada vez mais espaço a políticos de fora da Universal, alguns progressistas e não necessariamente evangélicos, superando uma atuação meramente religiosa.
Na bancada, há nomes como Luizão Goulart (PR), ex-prefeito de Pinhais com 30 anos de PT, e Silvio Costa Filho (PE), cujo pai, o ex-deputado Silvio Costa, era um dos mais aguerridos defensores de Dilma Rousseff contra o impeachment no plenário da Câmara. Apesar disso, o segmento cristão segue como uma das forças da legenda, como celeiro de candidatos, dirigentes, militantes, doadores individuais a campanhas, seja em dinheiro ou panfleteiros.
“Um partido que deseja ser grande não pode ser sectário, de um segmento, precisa ser mais amplo. É partido político. A igreja tem um limite, tem um tamanho na sociedade, não posso ficar restrito. Não é uma barreira por preconceito ou por ser conservador, mas sim uma barreira aritmética”, diz Pereira. “Não somos mais uma força evangélica, somos uma força híbrida.”
A intenção do deputado, que promoveu uma reforma no programa e no estatuto do partido, é posicionar a legenda na centro-direita, e dar enfoque a propostas liberalizantes na economia, embora ele admita que a pauta moral é cara à bancada da legenda. O presidente da Frente Parlamentar Evangélica é o deputado do Republicanos Silas Câmara (AM), cuja família dirige a Assembleia de Deus em Belém, a mais forte na região Norte. Outro recém-filiado é o pastor Marco Feliciano (SP), da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento.
A direção do Republicanos, aliás, não acreditava na vitória de Bolsonaro. E continua a rechaçar “extremismos”. Em 2018, o partido era um dos cinco expoentes do Centrão cortejados por candidatos à direita e à esquerda, mas que terminaria aliado ao ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. O empresário Flávio Rocha, das lojas Riachuelo, chegou a ser pré-candidato pela sigla, mas a candidatura foi abordada por não deslanchar em pesquisas de intenção de voto, um sinal do pragmatismo eleitoral corrente na legenda.
Polarização foi maior derrotada nas urnas Depois de várias eleições movidas pelo ódio, o mundo da política — no bom sentido — começa a voltar ao no
O resultado do segundo turno das eleições municipais em 57 cidades, entre elas 18 capitais, reforçou o desenho político de um país situado mais ao centro, de costas para a polarização entre esquerda e direita que marcou várias eleições, em especial a de 2018. A tendência já verificada no primeiro turno foi confirmada nas duas principais cidades do país, São Paulo e Rio, onde o PSDB de Bruno Covas e o DEM de Eduardo Paes derrotaram os apadrinhados de Jair Bolsonaro e os adversários de esquerda.
É certo que os pleitos municipais refletem realidades políticas locais, mas é possível vislumbrar nos resultados desse segundo turno uma tendência de aglutinação de forças que podem, em 2022, estar aliadas para enfrentar o bolsonarismo. Algumas estão mais à direita, outras mais à esquerda. Na média, se desenhou um equilíbrio que deixou em segundo plano o petismo e o bolsonarismo.
A vitória do PSDB em São Paulo e do DEM no Rio faz lembrar a dobradinha que sustentou os oito anos da gestão reformista e de estabilidade democrática de Fernando Henrique no Planalto. Mas será preciso ver se a aliança que se esboça entre o o governador paulista, João Doria, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, terá musculatura para superar o bolsonarismo turbinado pela proximidade com partidos do Centrão, outro vitorioso nas eleições.
Numa visão mais ampla, Bolsonaro saiu derrotado, mas não enfraquecido a ponto de estar fora do jogo em 2022. Ao contrário. Continua com popularidade alta, e a rede de apoio no bloco que o sustenta no Legislativo saiu vitoriosa. Partidos do Centrão comandarão 45% das prefeituras, entre elas o terceiro maior PIB, Belo Horizonte, nas mãos de Alexandre Kalil, do PSD. O PP venceu no Piauí e em Alagoas, redutos importantes para o avanço de Bolsonaro no Nordeste. Mesmo no partido que acumulou mais vitórias, o MDB — que a rigor não faz parte do Centrão —, há simpatias ao bolsonarismo.
Será preciso também saber como será a reorganização de uma esquerda diminuída (teve o pior desempenho desde 1985) e fragmentada. O PT saiu menor, pela primeira vez não fez prefeito em capitais. Ciro Gomes (PDT) saiu revigorado com vitórias em Fortaleza e no Recife. O PSOL cresceu em São Paulo com Guilherme Boulos e conquistou sua primeira capital, Belém. O PCdoB foi ao segundo turno em Porto Alegre com Manuela D’Ávila. A divisão na esquerda favorece os adversários.
Em todos os lados do tabuleiro, será hora do exercício intenso da política, no bom sentido do termo. Para derrotar o bolsonarismo, as forças democráticas terão de construir alianças na defesa de uma agenda que atraia os aliados saídos das urnas congregados em torno do centro. Parece simples, mas haverá dificuldades. É reconfortante, ao menos, perceber que, depois de um período de eleições movidas pelo ódio e pela polarização, o mundo político parece estar voltando ao normal. Não é pouca coisa. O GLOBO
Desde 2012, Brasil elege só uma mulher por eleição para comandar capitais
Matheus Lara, O Estado de S.Paulo
As eleições 2020 marcaram a estagnação do número de mulheres eleitas para comandar prefeituras de capitais no Brasil. Pela terceira eleição municipal seguida, apenas uma mulher ganhou. Neste ano, somente Cinthia Ribeiro (PSDB), de Palmas (TO), foi escolhida entre as capitais. Ela assumiu o cargo em 2018 após a renúncia de Carlos Amastha (PSB) e foi reeleita neste ano.
Cinco candidatas tinham chance de aumentar o número de mulheres à frente de prefeituras de capitais nas disputas de 2º turno deste domingo, mas todas foram derrotadas. As que mais chegaram mais perto foram Cristiane Lopes (PP), derrotada em Porto Velho (RO) com 45,55% dos votos válidos por Hildon Chaves (PSDB), que teve 54,45%; e Manuela D'Ávila (PCdoB), derrotada em Porto Alegre (RS) por Sebastião Melo (MDB) por 54,63% a 45,37%.
Também foram derrotadas neste domingo Marília Arraes (PT) em Recife (PE), Delegada Danielle (Cidadania) em Aracaju (SE) e Socorro Neri (PSB) em Rio Branco (AC). João Campos (PSB), Edvaldo Nogueira (PDT) e Tião Bocalom (PP) foram os vencedores nessas cidades, respectivamente.
Em Macapá, onde a eleição foi postergada para dezembro por causa dos problemas no fornecimento de energia elétrica, Patrícia Ferraz (Podemos) aparece em segundo lugar na pesquisa Ibope divulgada em 11 de novembro, atrás de Josiel (DEM), com 26%, e apenas um ponto porcentual acima de Dr. Furlan (Cidadania).
Em 2012, Teresa Surita (MDB) foi eleita prefeita de Boa Vista (RR), a única mulher escolhida para comandar uma capital no País. Quatro anos depois, repetiu o feito em sua reeleição.
Levantamento da agência de dados Fiquem Sabendo divulgado no mês passado mostrou que apenas sete mulheres foram eleitas prefeitas de capitais brasileiras nos últimos 20 anos. Agora, oito. A presença feminina não passa de 8% no comando de capitais desde 2000, quando cinco mulheres foram eleitas. Em 2004 e em 2008, foram duas.
Eleitor rejeita 2º turno de 2018
30 de novembro de 2020 | 03h00
Dois anos depois, o eleitor do Brasil mostra ter virado a página da polarização que levou ao segundo turno entre Jair Bolsonaro e o PT, em 2018. O mapa que sai das urnas não tem, no comando das capitais, nenhum bolsonarista-raiz e nenhum petista, e isso não é pouca coisa, nem é incidental. Tanto o presidente quanto Lula e o PT acharam que bastava manter o script de dois anos atrás que os resultados se repetiriam. O presidente montou seu circo nas redes sociais, liberou a tropa para plantar fake news, fez pouco caso da necessidade de um partido organizado e escolheu a esmo candidatos para chamar de seus em todo o País, com base quase sempre numa identificação ideológica rasa. Usou e abusou de recursos públicos para bombá-los. Foi fragorosamente derrotado.
Lula e o PT acharam que 2020 seria a forra de 2016 e 2018. Finalmente o eleitorado reconheceria que a Lava Jato foi uma farsa, o impeachment de Dilma Rousseff, um golpe, e a condenação e prisão de Lula uma jogada para dar vitória a Bolsonaro, com a cumplicidade da imprensa. Ficou falando sozinho e foi superado por outras legendas de esquerda, que já saem das urnas avisando: não vai dar para querer cantar de galo hegemônico para 2022. E se esses foram os grandes derrotados, quem vence? Os grandes partidos de centro e centro-direita, aquele mainstream humilhado nas urnas em 2018, curiosamente. DEM, PSDB e PSD tiveram importantes vitórias nas capitais mais relevantes, e o MDB deu uma boa desidratada, mas manteve sua capilaridade nacional e agora vê o Progressistas lhe fazer sombra nas cidades pequenas e médias.
Na direita, a implosão do PSL e o envelhecimento precoce do Novo deram espaço a siglas como o Patriota, que será disputado entre bolsonaristas e MBL. E a esquerda pós-Lula? Viverá discreta corrida entre Ciro Gomes e Guilherme Boulos pelo protagonismo. O primeiro construiu boas alianças com PSB e até o DEM e fincou bandeira no Nordeste. O segundo é a ave mais vistosa da esquerda, case de sucesso em renovação de discurso e identificação com os jovens, tendo mostrado caminho exitoso nas pautas sociais sem precisar passar pano na corrupção petista nem pagar tributo a Lula.
*EDITORA DO BR POLÍTICO E APRESENTADORA DO PROGRAMA RODA VIVA, DA TV CULTURA