Se dividir, Bolsonaro leva - Vera Magalhães, O Estado de S.Paulo
Se o jogo da disputa pelas presidências da Câmara e Senado continuar a ser jogado de maneira desarticulada, e na base do cada um por si entre os partidos ditos opositores ao bolsonarismo, Jair Bolsonaro tem boas chances de emplacar aliados seus nas duas Casas do Congresso e com eles tocar seus dois últimos anos de mandato. E, bem no fundo, pode ser justamente isso que muitos dos atores do momento político querem. Vamos analisar um pouco a forma como cada um deles age.
Comecemos por Davi Alcolumbre. O presidente do Senado risca os dias na folhinha em pânico desde que o Supremo Tribunal Federal acabou com sua tentativa de dar um chega pra lá na Constituição e disputar novo mandato. Morto de medo de voltar ao baixo clero, tenta uma costura dissociada do correligionário Rodrigo Maia para eleger alguém sob sua influência para sua cadeira.
Para isso, vale até uma aliança com o presidente. Mais ainda se no pacote vier, quem sabe, um ministério para evitar que ele desça de volta à planície sem escala.
Se Alcolumbre fosse fechado com o DEM, seu partido, e se estivesse disposto a ajudar numa articulação para colocar alguém de fato independente em seu lugar, o jogo teria de ser casado com a Câmara, de forma a que o MDB fizesse o candidato lá, e o DEM ou algum partido sob a influência de Alcolumbre, o postulante à presidência do Senado.
E teria de ser uma “chapa” com o discurso da independência, para atrair ou pelo menos tentar arrancar um compromisso público de todos os partidos que entendem que dar o comando do Congresso a Bolsonaro agora significa autorizar que ele “passe a boiada” com sua pauta retrógrada em campos vitais da vida brasileira e tenha uma vantagem imensurável para fechar uma aliança e se posicionar para 2022.
Além disso, é ilusório achar que Arthur Lira (PP-AL), o candidato do bolsonarismo na Câmara, tenha qualquer compromisso com a responsabilidade fiscal. Só o pacote de promessas que ele fez para se eleger no périplo que vem cumprindo por lideranças partidárias já é suficiente para estourar o Orçamento e arrombar o teto de gastos. Se somar as emendas que o próprio Bolsonaro vem autorizando que sejam negociadas, a conta dobra.
Isso num ano em que a pandemia ainda está longe de acabar, como de novo de forma irresponsável mentiu o presidente, e está mais próximo o número de Paulo Guedes de voltarmos ao sinistro patamar de mais de mil mortes diárias por covid-19.
Já escrevi que não é o STF que deve ser responsabilizado pela vantagem com que Bolsonaro conta hoje, mas os próprios Maia e Alcolumbre, que se deixaram empanturrar pela fome de poder e agora correm o risco de ficar de mãos abanando, por não terem organizado a sucessão a tempo, quando ainda detinham o poder da caneta e uma coalizão forte em torno de ambos.
É por isso que cabe aos dois, e ao partido do qual fazem parte, bem como ao autoproclamado centro democrático e à esquerda que se diz antibolsonarista se unirem para evitar um desastre político com risco de se alastrar para a saúde, os costumes, o meio ambiente, a segurança pública, a educação e todas as outras áreas em que o toque de Midas reverso de Bolsonaro, que transforma tudo em morte e devastação, puder tocar.
Que o PT negocie com Lira em troca da revisão da Lei da Ficha Limpa e de outros marcos civilizatórios que são conquistas da sociedade brasileira diz muito sobre o estágio de putrefação avançada do partido, do qual ele teima em não sair.
Na ausência de democratas de verdade, cabe ao capitão autoritário, que antes se recusava a fazer política, ditar as regras e distribuir as cartas. O que mostra que quem foi derrotado em 2018 não aprendeu nada, nem diante dos descalabros de 2020.
*EDITORA DO BR POLÍTICO E APRESENTADORA DO PROGRAMA RODA VIVA, DA TV CULTURA
Estado do crime - O Estado de S.Paulo
O fenômeno da máfia pode ser sintetizado em uma fórmula: “a polícia dos criminosos”. Transitando na interface entre sociedades desservidas pelo Estado e organizações criminosas, as máfias vendem proteção às primeiras e arbitragem às segundas. Nessa posição privilegiada, os mafiosos expandem seu poder cooptando negócios legítimos para encobertar atividades criminosas e lavar seu dinheiro, ao mesmo tempo que se valem do mercado negro para comercializar serviços às populações marginalizadas. O fenômeno das milícias tem todas essas características com uma agravante: não são apenas a “polícia dos criminosos”, mas os “criminosos da polícia”.
Um levantamento da Universidade Federal Fluminense e da Universidade de São Paulo sobre o território da cidade do Rio de Janeiro estima que 55,7% dele é controlado pelas milícias; 15,4%, pelo narcotráfico; e 25,2% estão sob disputa. Ou seja, apenas 1,9% não estaria sob o jugo do crime.
Há mais de um ano a Rede Fluminense de Pesquisas sobre Violência, Segurança Pública e Direitos Humanos tem promovido debates com pesquisadores, policiais, promotores, jornalistas, ativistas e especialistas em dados sobre o controle territorial de grupos armados. Os resultados apresentados em uma nota técnica mostram que a dinâmica da milícia e do tráfico é um fenômeno em acelerada mutação.
As milícias podem ser definidas originariamente como “antagonistas do tráfico”. Mas, uma vez consolidado o mercado de “proteção”, elas se expandem rapidamente em dois sentidos: a diversificação das atividades econômicas e a infiltração em instâncias regulatórias. Com o tempo, estabelece-se a mais perversa das simbioses: por um lado os milicianos passam a cobiçar os negócios do narcotráfico e, por outro, os traficantes assimilam as estratégias das milícias.
“Há registro de atuação das milícias em serviços de transporte coletivo, gás, eletricidade, internet, agiotagem, cestas básicas, grilagem, loteamento de terrenos, construção e revenda irregular de habitação, assassinatos contratados, tráfico de drogas e armas, contrabando e roubo de cargas, receptação de mercadorias e revenda de produtos de diversos tipos e proveniências”, aponta a nota.
Além disso, “o vínculo original das milícias com elites política e econômica locais se desdobra rápida e perigosamente em um outro tipo de conexão, dessa feita com instâncias do Estado”. Na polícia, “há cada vez mais indícios de indicações para cargos de comando, nomeação para chefia de batalhões, definição de focos prioritários de operações policiais e desenhos abrangentes de abordagem”.
Além das forças policiais, as milícias estão se infiltrando nos Poderes Executivos e nas Casas Legislativas. Segundo a Polícia Federal, há riscos para o processo eleitoral em pelo menos 18 Estados, em especial aqueles com altos índices de violência, serviços públicos precários e corrupção policial. No Rio de Janeiro, milicianos são recorrentemente condecorados pelo poder público e guardam relações estreitas com autoridades. Como se sabe, há indícios nesse sentido em relação ao próprio presidente da República e seus familiares.
Assim, em contraste com o crime organizado tradicional, as milícias transitam com muito mais liberdade entre a legalidade e a ilegalidade – entre o submundo, a sociedade civil e o poder público –, diversificando e expandindo seus negócios com muito mais rapidez.
A venalidade das milícias ultrapassou a dimensão da segurança pública e ameaça perverter o tecido civil e o próprio Estado. A rapidez e a diversidade características da sua expansão exigem uma resposta igualmente rápida e diversificada. Além de uma atualização da legislação, é preciso extrapolar os meios convencionais de combate ao crime e investir em grupos especializados, novas táticas de inteligência e pesquisas. O “Estado paralelo” já é uma realidade em vastas porções do Rio de Janeiro e cada vez mais no Brasil. Sem uma repressão ampla, coordenada e implacável, há o risco de uma nova fase: a subversão do Estado de Direito em “Estado do Crime”.
O alto custo da desconfiança - O Estado de S.Paulo
Nenhum Estado supera suas crises mais profundas sem que haja confiança dos cidadãos tanto no governo como na estrutura burocrática. A crença no serviço público é essencial para que a sociedade respeite as determinações das autoridades em situações críticas como a pandemia de covid-19.
Foi o que se viu recentemente em países como Nova Zelândia, Coreia do Sul, Alemanha e Taiwan, lembrados pela historiadora norte-americana Anne Applebaum, em entrevista ao Estado, como exemplos de nações com alto grau de “fé na burocracia pública, nos serviços e nos servidores públicos” e que, não por coincidência, foram bem-sucedidas no controle da doença.
Os contraexemplos são óbvios: Brasil e Estados Unidos estão entre os países com mais mortes pelo coronavírus justamente porque, entre outras razões, suas autoridades, em diversos níveis do serviço público, não inspiram confiança na sociedade.
No Brasil, não se trata apenas da confusão criada pelo negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, que desde o início faz pouco da doença, desrespeita as orientações sanitárias universalmente aceitas como as mais eficientes no combate ao coronavírus e desestimula a vacinação – embora só isso já seja suficiente para minar todos os esforços para convencer a população a aceitar as limitações da vida cotidiana sob uma pandemia.
Trata-se da sensação mais ou menos generalizada de que o serviço público, no caso do combate à pandemia, está dominado por interesses políticos – sejam os do presidente Bolsonaro, sejam os de seus desafetos, como o governador de São Paulo, João Doria.
Assim, por exemplo, se a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) demorar-se um pouco mais na análise da vacina contra a covid-19 apresentada pelo governo paulista, atrasando sua liberação e prejudicando o calendário de imunização anunciado com estardalhaço pelo governador Doria, não serão poucos a ver nisso um estratagema político do presidente Bolsonaro. Neste caso, pouco importam as razões científicas que a Anvisa possa ter, pois o ambiente já está contaminado de desconfiança a respeito da independência da agência.
Do mesmo modo, não se pode condenar quem interprete o anúncio do calendário de vacinação em São Paulo, feito sem que todos os testes necessários para averiguar sua eficiência tenham sido completados, como um gambito do governador Doria para prejudicar o presidente Bolsonaro – incapaz de apresentar um plano de imunização decente. Aqui também pouco importa se o anúncio de Doria está respaldado por pareceres técnicos e científicos, como é provável que esteja, porque sempre haverá quem desconfie que o serviço público envolvido no plano de imunização pode ter se dobrado aos imperativos políticos do governador.
Numa atmosfera impregnada de suspeitas como essas, o trabalho de mobilização da sociedade na direção do bem comum, difícil por definição, fica praticamente impossível. Não se consegue obter consenso nem mesmo em relação ao que seria, de fato, o bem comum. É algo que transcende a natural divergência política numa democracia.
O serviço público não pode ser confundido com o grupo político que ascendeu ao poder. Como seu próprio nome sugere, deve funcionar de maneira exemplar e, sobretudo, impessoal, seja qual for o governo de turno. Não pode sinalizar inclinações a esta ou àquela agenda partidária, tampouco servir de instrumento de manobras para prejudicar inimigos do governante.
Infelizmente, são muito comuns as tentativas de aparelhamento do serviço público por partidos e políticos, o que colabora decisivamente para manchar sua reputação, muito mais do que sua ineficiência – de resto causada por essa sua relação promíscua com o poder.
Não à toa, portanto, o serviço público no Brasil é objeto de forte desconfiança do público a quem deveria servir. Isso pode ser injusto com milhares de servidores que procuram fazer o melhor que podem, em condições muitas vezes bastante precárias, mas o fato é que essa percepção negativa colabora para deslegitimar as orientações emanadas do Estado aos olhos dos cidadãos – e o preço a pagar por isso é uma soma de desorganização, depauperação e mortes.
Consórcios de Saúde enfrentam incertezas e trocas de comando
Territórios administrativos almejados por lideranças locais, os consórcios de saúde enfrentam turbulências há mais de um ano, com denúncias de irregularidades, disputas políticas e insatisfação dos gestores. O Governo do Ceará tem planos para reformular as entidades e amenizar os interesses políticos nas gestões.
Contudo, em um ano no qual a gerência da saúde ganhou novos contornos, o processo seletivo para cargos executivos, até então comissionados, está parado há 10 meses e mais da metade dos consórcios terá seus líderes (prefeitos) deixando os cargos no próximo dia 31 de janeiro.
Criado há mais de dez anos com o objetivo de fortalecer a descentralização da saúde e promover a interiorização dos serviços, os consórcios sempre deram aos prefeitos à frente dos equipamentos poder político, financeiro e gerência regional, um ambiente que acabou se tornando reduto de políticos. Quem comanda alguma das 21 áreas também pode escolher a gestão de policlínicas e Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs).
“Quando foram criados, a ideia era que juntassem gestores e construíssem algo coletivo. A figura do presidente sempre esteve ligada a um papel de liderança local, de organização e gestão para a região”, explica Bruno Eloy, especialista em regulação de saúde.
Eleições
Com a liderança dos consórcios exercida por prefeitos, 12 grupos de municípios terão seu líder deixando o cargo no fim deste ano, já que tais políticos não foram reeleitos – ou encerraram dois mandatos consecutivos em 2020. De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), nesses casos, a administração não fica desassistida. O cargo de liderança é repassado ao vice-presidente até que uma nova eleição entre os consorciados seja convocada – a previsão é para o início do ano, mas depende de cada consórcio. A escolha ocorre em assembleia realizada entre prefeitos e representantes do Estado.
Arnon Bezerra (PTB), por exemplo, é prefeito de Juazeiro do Norte e presidente regional do consórcio que inclui o município. Ele foi derrotado nas urnas por Glêdson Bezerra (Podemos).
“Agora, os novos prefeitos eleitos que vão decidir quem irá liderar”, afirma o atual presidente.
O cenário de mudanças no próximo ano deve reacender os debates sobre o formato de gestão desses consórcios, a transparência e o nível de influência dos presidentes.
Turbulência
Em 2019, o conflito envolvendo os gestores teve um ápice quando a disputa chegou à Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), com denúncias de irregularidades levadas por deputados. A situação despertou o alerta no Tribunal de Contas do Estado (TCE), que identificou valores vultosos em verbas públicas encaminhados às organizações, sem prestações de contas claras.
Para se ter uma ideia da movimentação financeira dos equipamentos geridos pelos consórcios, o custeio de uma policlínica é, em média, de R$ 629,1 mil, com contrapartida mínima do Estado de 40%. Já os CEOs custam, em média, R$ 227 mil, com financiamento semelhante do Estado, além de verba federal.
A ofensiva dos fiscais resultou em um relatório publicado no segundo semestre pelo TCE, apontando irregularidades no consórcio de Camocim, o único inspecionado dos 21 em atividade no Estado. O plano inicial era que todos fossem avaliados. “As fiscalizações in loco estavam programadas para o primeiro semestre. Devido à pandemia, as auditorias precisaram ser adiadas para 2021”, diz o TCE.
Entre os problemas identificados, estavam dispensa de licitações, falta de transparência e superfaturamento. Na lista de recomendações, os conselheiros do Tribunal incluíram a realização de concursos e seleções públicas para gerência das entidades.
Seleção pública
Paralelamente, em agosto do ano passado, o Governo do Ceará agiu para tentar minimizar as influências políticas na gestão da saúde, definindo mudanças na estrutura organizacional, na avaliação de desempenho e na nomeação de dirigentes. As mudanças criaram insatisfações entre os prefeitos, principalmente no que dizia respeito à seleção pública para cargos executivos.
Ainda assim, o Estado publicou, em janeiro deste ano, edital para a disputa pública dos cargos de secretário executivo e diretores de CEOs e Policlínicas. A seleção chegou a ser questionada pelo TCE, mas a Sesa manteve o processo até abril. Segundo a Pasta, a seleção está “temporariamente suspensa por conta da pandemia, mas encontra-se em fase de finalização”. A data de reabertura não foi informada.
“Essas mudanças anunciadas estão totalmente paradas. E como vai haver mudança nas gestões municipais, a previsão (para tratar o assunto) é só para o ano que vem”, afirma Nilson Diniz, presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece). “Vamos precisar sentar juntos novamente, conversar e resolver”, ressalta.
Mesmo com processo seletivo vigente, Arnon Bezerra é um dos que defendem revisão da proposta. “O presidente é que tem de decidir, porque ele quem vai responder posteriormente pelas escolhas da equipe. O Estado tem que dar apenas o suporte, como vem fazendo”, afirma.
Governo do Estado
A Sesa defende a continuidade das mudanças promovidas até agora. “É de fundamental importância, nesse novo desenho regional, para sustentabilidade do sistema e maior eficiência, que ele seja norteado por cooperação solidária entre os entes”, aponta.
Segundo a Pasta, é mais “oneroso” o trabalho de forma isolada. “A reformulação de gestão contempla incluir a gestão consorcial no modelo regional, onde as unidades consorciadas deverão estar em consonância com os objetivos e necessidades da região de saúde e portanto pactuados no processo de Planejamento de Saúde Regional”, conclui em nota.
A prefeita de Granja, Amanda Aldigueri (PDT), presidente do consórcio de Camocim, foi procurada para comentar sobre as situações apontadas no relatório do TCE, mas não foi localizada. DIARIONORDESTE
Partidos cobram 'dízimo' de filiados com cargos políticos
12 de dezembro de 2020 | 14h01
Ao menos dez partidos políticos brasileiros cobram porcentagem do salário dos seus filiados que ocupam cargos comissionados na administração pública. Previsto no estatuto de PT, MDB, PSOL, Republicanos, PDT, Patriota, Pros, PRTB, PV e PCB, o “dízimo partidário” chega até a 15% do rendimento mensal de servidores de livre nomeação e exoneração, em geral destinados a posições de direção, chefia ou assessoria.
As siglas defendem a prática, alegando que é uma forma de promover a participação dos filiados no financiamento dos partidos. Os repasses são legais e passam por órgãos de controle. Por outro lado, a doação compulsória é criticada por incentivar o aparelhamento da máquina pública, promovendo a entrada em todas as esferas de governo de filiados que nem sempre estão capacitados para as funções públicas.
Em 2008, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chegou a proibir funcionário comissionado a doar para partido. Em seu voto, o ministro Arnaldo Versiani argumentou que os filiados se sentiriam coagidos a contribuir com partidos, pois, como estão em cargos comissionados, podem ser demitos a qualquer momento. Uma alteração feita pelo Congresso na Lei dos Partidos Políticos em 2017, porém, passou a permitir explicitamente que as legendas recebam dinheiro de pessoas que ocupam cargos comissionados, desde que pertençam à sigla.
No PDT, a taxa varia entre 10% a 15%. Filiados ao PT e ao Republicanos que ocupam cargos comissionados devem passar 5% do salário às siglas. No MDB, é cobrado 3% dos salários. No PSOL, a taxa é de até 2%. O Patriota estabelece em estatuto a contribuição de porcentagem dos nomeados, mas não chega a citar um porcentual. Nos demais partidos, a taxa varia de 5% a 10%.
No caso do PDT, do Republicanos e do Patriota – que fizeram atualizações recentes em seus estatutos –, o TSE barrou ou pediu adequação dos trechos sobre as doações. Além de versar sobre a contribuição obrigatória de filiados que ocupam cargos comissionados, esses pontos também tratam da doação obrigatória de políticos eleitos, prática que não consta em lei. Toda atualização do estatuto de um partido precisa ser avalizada pelo tribunal.
Além dos dez partidos que cobram o “dízimo partidário” dos seus filiados, outros oito – PTB, DEM, PCdoB, PSB, DC e PSL, Cidadania e UP – não chegam a atrelar uma porcentagem a cargos comissionados em seus estatutos, mas abrem margem para que isso seja abordado em outros regulamentos internos.
PMN, PSC, PP, PCO, PL, PSD e Solidariedade se limitam a falar que é dever dos filiados contribuir financeiramente com o partido, mas sem avisar que outras regras internas vão definir como isso acontecerá. O presidente do PP, senador Ciro Nogueira, revogou, em 2018, artigos que falavam sobre contribuições específicas. Versões anteriores chegaram a citar 3% dos salários dos filiados.
O Novo prevê doação de R$ 28,23 por mês para cada integrante. Os estatutos do PSDB, do Avante, da Rede Sustentabilidade e do PMB só preveem doações de quem foi eleito. Já os estatutos do Podemos, do PTC e do PSTU não deixam claro se as contribuições são obrigatórias e se valem para todos os comissionados.
Legislação. A questão das doações obrigatórias de funcionários que podem ser contratados e demitidos do poder público livremente chegou a ser judicializada outras vezes nas últimas duas décadas. Em março de 2017, o plenário do TSE barrou uma regra do PMN que previa doação obrigatória de filiados com cargos públicos. Em setembro daquele ano, a comissão da Câmara dos Deputados responsável por formular proposições relacionadas à reforma política sugeriu um projeto que autoriza explicitamente a prática. O projeto foi aprovado por Câmara e Senado e sancionado pelo então presidente Michel Temer (MDB) no mês seguinte.
“Essa cobrança é um hábito que está introjetado na cultura organizacional dos partidos e que a reforma política legalizou de vez. Na prática, se abocanha mais uma parcela de recursos públicos”, disse o cientista político Vitor Marchetti, professor da Universidade Federal do ABC.
O que dizem os partidos que cobram 'dízimo'
Em nota, o PT afirmou que a cobrança é um “procedimento democrático, totalmente legal e transparente de financiamento partidário". O presidente do PDT, Carlos Lupi, disse que o estatuto do partido tem a cláusula desde 1980, quando não existia fundo partidário. O Pros afirmou ser uma forma de pagar dívidas vedadas de serem quitadas com recursos do Fundo Partidário. Levy Fidelix, presidente do PRTB, afirmou que “são contribuições legais para a manutenção do partido”.
José Luiz Penna, presidente do PV, disse que essa forma de arrecadação é de quando não havia financiamento público e que pretende revê-la. O MDB afirmou que apenas congressistas fazem contribuição “de forma voluntária". Adilson Barroso, presidente do Patriota, disse que pediu a exclusão dos artigos que tratam de doações.
FDA autoriza uso emergencial de vacina da Pfizer contra covid-19 nos EUA
A Food and Drug Administration (FDA), espécie de Anvisa americana, autorizou na noite desta sexta-feira (11) o uso emergencial da primeira vacina contra o coronavírus dos Estados Unidos, produzida pela Pfizer em parceria com a BioNTech. A autorização, considerada histórica, acontece 336 dias após os primeiros rumores sobre as infecções por coronavírus terem sido compartilhados online por cientistas chineses
A aprovação aconteceu após o chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, ter afirmado nesta sexta-feira ao comissário da FDA, Stephen Hahn, que apresentasse sua renúncia se a agência não aprovasse a primeira vacina contra o coronavírus do país, da Pfizer, até o final desta sexta-feira.
A ameaça ocorre após meses de esforços de cientistas da FDA para tentar barrar a intromissão do presidente americano Donald Trump sobre a vacina e manter o processo de revisão “apolítico” e transparente na esperança de aumentar a confiança do público.
Os EUA registraram nesta quarta-feira (9) o recorde de mortes diárias desde o início da pandemia: 3.011. Na semana passada, o país já havia chegado a 2.885 mortes em um único dia, a maior quantidade desde 15 de abril, quando foram registradas 2.752 mortes. Com isso, a covid-19 já tirou a vida de mais de 288 mil americanos e contaminou outros 15,3 milhões. A vacina já foi aprovada por outros quatro países: Bahrein, Canadá, México e Reino Unido.
Na semana passada, oReino Unido, país mais afetado pela doença na Europa, já havia aprovado o uso emergencial da vacina da Pfizer. No total, o Reino Unido pediu cerca de 40 milhões de doses do imunizante de duas doses. A vacina já é aplicada na população britânica desde a última terça-feira.
A aprovação pelo Reino Unido fez com que o governo brasileiro decidisse começar a negociar com a farmacêutica para adiquirir doses da vacina. No entanto, a demora em buscar a parceria deve fazer com que o país fique no “final da fila”. Desde o início da pandemia, o Governo Federal tem apostado na vacina desenvolvilda pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório Astrazeneca.
Independentemente das intenções do Governo Federal, o estado de São Paulo já começou a produzir no Instituto Butantan a vacina Coronavac, do laboratório chinês Sinovac. O governador do estado, João Doria, prometeu que o início da vacinação deve acontecer em 25 de janeiro. No entanto, a Fase 3 de testes da vacina ainda não terminou e a aprovação da Anvisa é necessária.
A vacina da Pfizer, com base no RNA mensageiro, é administrada em duas doses para chegar a uma eficácia maior — e as doses precisam ser administradas com uma distância de 21 dias entre elas.
A companhia também afirma que a vacina é capaz de produzir mais anticorpos neutralizantes da covid-19 uma semana após a segunda dose ser administrada.
A imunização pode ter até 1,3 bilhão de doses globais produzidas no ano que vem — e 100 milhões até o final deste ano.
A eficácia da vacina da Pfizer com a BioNTech na prevenção da covid-19 é de 95%, segundo resultados de testes da fase 3 na revista científica New England Journal of Medicine, uma das mais respeitadas na comunidade científica global. De acordo com uma pesquisa publicada no jornal científico American Journal of Preventive Medicine, vacinas precisam ter 80% de eficácia para que seja possível acabar com a pandemia do novo coronavírus. Para evitar que outras pandemias semelhantes aconteçam, a prevenção precisa ser 70% eficaz. Ou seja, a vacina hoje aprovada em cinco países tem potencial para por um fim à pandemia, assim como a vacina de Oxford com a AstraZeneca, a russa Sputnik-V e a vacina da Sinovac.
Apesar da aprovação da vacina nos EUA, o centro de controle e prevenção de doenças infecciosas do país ainda deve dar seu aval para que a vacinação da população comece.
Vale notar que a vacina tem desafios logísticos: ela precisa ser mantida a -70 graus durante o transporte para que não perca sua eficácia.
Técnica inovadora
A vacina da Pfizer com a BioNTech utiliza uma tecnologia chamada RNA mensageiro. A tecnologia tem como objetivo viabilizar a produção das proteínas necessárias para que o corpo humano seja capaz de lutar contra a infecção do novo coronavírus. As células injetadas produzem as proteínas necessárias, de acordo com as instruções genéticas contidas em seu núcleo. A técnica permite o desenvolvimento de imunizantes mais rapidamente, uma vez que não há necessidade de cultivar um patógeno em laboratório, como acontece, por exemplo, com a vacina da gripe comum.