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Brasil superou a pior previsão para a Covid

Em 28 de março, quando o Brasil registrava menos de 4 mil infectados e 114 mortos pelo novo coronavírus, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, levou ao presidente Jair Bolsonaro e a seus ministros três cenários para a pandemia. No melhor, o vírus mataria 30 mil brasileiros. No intermediário, de 60 a 80 mil. No pior, caso não fossem tomadas medidas de combate à doença, o número de vítimas chegaria a 180 mil.

Oito meses e meio depois, constata-se que o Brasil de Bolsonaro vai além do pior. Faltando menos de 20 dias para terminar o fatídico 2020, o país ultrapassou ontem a marca de 180 mil mortos e 6,8 milhões de infectados, deixando para trás o cenário mais catastrófico traçado pelos técnicos do Ministério da Saúde no início da pandemia.

Não se sabe qual será o limite para a hecatombe. Depois de alternar períodos de estabilidade e queda, o número de casos e mortes voltou a explodir no país a partir de novembro, levando as redes pública e privada à iminência de um colapso. O vírus avança nas capitais e no interior. Ontem, 20 das 27 unidades da Federação registravam alta na média de mortes, e apenas três apresentavam queda. O número de óbitos já voltou ao patamar de 700 por dia, um a cada dois minutos.

No Rio, a situação é calamitosa. Cerca de 500 pessoas estão na fila à espera de um leito nos hospitais da rede pública, quase metade delas necessitando de tratamento intensivo. Apesar disso, têm sido tímidas e contraditórias as medidas tomadas pelo governador Cláudio Castro e pelo prefeito Marcelo Crivella. Escolas foram fechadas, mas shoppings estão autorizados a funcionar 24 horas. As áreas de lazer na orla da Zona Sul serão interditadas, mas as praias continuam liberadas, contrariando a recomendação de cientistas.

À medida que os cenários são refeitos para além do pior, a vacina, que poderia deter a escalada, ainda é cercada de dúvidas. O governo age no improviso e não consegue nem esboçar um plano nacional de vacinação consistente. Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro, em seu mundo paralelo, tem a desfaçatez de dar risada e de dizer que o Brasil vive “o finalzinho da pandemia”. Completamente alheio à realidade da doença e ao sofrimento que ela impõe a milhares de famílias, Bolsonaro é o principal responsável pela dimensão que a tragédia adquiriu no Brasil.

As aglomerações das festas de fim de ano tendem a agravar a situação. Basta ver o que ocorre nos EUA, onde morreram 3 mil pessoas no mesmo dia em que a primeira vacina passava pelo comitê de especialistas da agência reguladora de medicamentos (FDA).

A perspectiva de vacina não pode servir de pretexto para nenhum relaxamento nas medidas de contenção. Mesmo quando estiver disponível (na melhor das hipóteses, no início do ano que vem), será apenas para os grupos de risco. Levará por volta de um ano até haver uma parcela de imunes suficiente para deter o contágio. Independentemente do que diga Bolsonaro, estamos longe, muito longe do tão aguardado final. O GLOBO

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