Saneamento urbano é a maior questão ambiental do Brasil, diz Salles
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou hoje (3) que problemas de saneamento em áreas urbanas, como a gestão de resíduos sólidos e o tratamento de esgoto, são a maior questão ambiental do Brasil. O ministro participou nesta manhã de uma live promovida pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sobre os desafios trazidos pelo Marco Legal do Saneamento, aprovado neste ano, para a gestão dos resíduos sólidos.
"A agenda ambiental urbana, saneamento e resíduos, constitui o maior problema ambiental brasileiro pra esses 80% da sociedade, em média no território nacional, que vive nas regiões urbanas mediante uma má gestão tanto do resíduo quanto ausência ou ineficiência dos sistemas de tratamento de esgoto e saneamento", disse o ministro, que considerou a situação urgente e um "vergonhoso atraso".
"Essa é a principal questão ambiental brasileira. As pessoas, principalmente as mais pobres, estão vivendo em regiões nas cidades, mesmo em cidades pequenas, em meio a lixões."
As soluções para esses problemas, na visão do ministro, precisam ser flexíveis para se adequarem às diferenças que se apresentam nas regiões brasileiras, com municípios de diferentes tamanhos populacionais e territoriais.
"Temos que ter, para esses projetos, uma flexibilidade muito grande, quer seja na estruturação jurídica dessa visão de consórcio que é muito boa, mas, em alguns casos, não aplicável. E ter a consciência que em alguns lugares a tecnologia de larga escala é possível, e aí o projeto contempla isso. E, em outros, temos que ter soluções que contemplem essas micro demandas".
Salles explicou que mesmo a formação de consórcios para a licitação dos serviços de saneamento pode não ser viável quando as cidades em questão são distantes ou formadas por pequenas vilas separadas entre si, como no caso de municípios da Amazônia.
"Ali, a solução consorciada é inviável completamente, seja por serem locais muito pequenos ou porque estão muito distantes e sem conexão. Muitos deles só se comunicam por meio dos rios", disse ele, que defendeu que financiamentos com condições privilegiadas para esses casos, por meio dos R$ 570 milhões repassados do Fundo Nacional de Mudanças do Clima (FNMC) ao BNDES.
"Entendo que esse recurso do fundo, transferido por nós ao BNDES, tem que entrar nessas lacunas onde o mercado, por essas razões todas, não terá interesse ou não terá condições de entrar. A gente entra com os recursos no BNDES arrumando essas dificuldades, seja em saneamento e seja em resíduos sólidos".
A live com a participação do ministro contou com comentários do presidente da Associação Brasileira de Empresas Tratamento de Resíduos e Efluentes, Luiz Gonzaga. Ao tratar dos desafios, Gonzaga defendeu a cobrança do serviço de coleta de resíduos, prevista no Marco Legal do Saneamento.
"Não estamos falando de criação de impostos, estamos falando na remuneração de um serviço que é feito, seja pela iniciativa pública ou privada r que precisa ser reembolsado", disse o ministro. Ele adiantou que a associação pretende lançar um guia para ajudar prefeitos na transição para as novas regras previstas pelo marco legal.
Edição: Maria Claudia / AGÊNCIA BRASIL
Guedes diz que PIB mostra economia 'voltando em V'; para governo, auxílio não será mais necessário em 2021
Marcello Corrêa O GLOBO
BRASÍLIA - O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quinta-feira que o crescimento de 7,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre é um sinal de que a atividade econômica está "voltando em V", jargão que significa uma rápida retomada após grave recessão. Para o governo, o resultado mostra que a economia não precisará mais de auxílio em 2021.
A Secretaria de Política Econômica disse em nota que desempenho no terceiro trimestre pavimenta o caminho para que a economia brasileira "continue avançando no primeiro semestre de 2021 sem a necessidade de auxílios governamentais", como o auxílio emergencial.
Apesar do otimismo da equipe econômica, o resultado veio abaixo do esperado pelo mercado e pelo próprio governo, que projetava alta de 8,3%. Segundo Guedes, o número abaixo do previsto ocorreu por causa de revisões em trimestres anteriores.
— A economia voltando em V. Houve revisões em trimestres anteriores, então veio um pouquinho abaixo do esperado. Mas o fato é que a economia está voltando em V, realmente está voltando — disse o ministro a jornalistas, ao chegar ao Ministério da Economia.
Questionado sobre a recomendação do Fundo Monetário Internacional (FMI) para que as medidas de estímulo adotadas durante a pandemia não sejam retiradas de forma abrupta, Guedes disse que a recomendação está sendo seguida pelo governo.
— O FMI está sugerindo que a retirada dos estímulos seja gradual. É exatamente o que estamos fazendo. Tínhamos um estímulo de R$ 600 por três meses, renovamos, depois reduzimos gradualmente para R$ 300, aí botamos mais quatro meses até o final do ano — acrescentou o ministro.
TSE barra primeiro prefeito sub judice e determina nova eleição em cidade goiana em 2021
Maurício Ferro / O GLOBO
BRASÍLIA — O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começou a analisar nesta quinta-feira candidaturas vitóriosas nas eleições deste ano que estão com algum questionamento na Justiça Eleitoral. Dos quatro casos julgados hoje, os ministros entenderam que somente em Bom Jesus de Goiás (GO) deve ocorrer uma nova eleição.
Levantamento do GLOBO indica que em ao menos 96 municípios brasileiros ainda não está definido quem será o prefeito a partir de 2021. Nesses locais, as candidaturas estão “sub judice”, expressão que indica que determinado processo está em julgamento e aguarda decisão judicial.
No caso do município de Bom Jesus de Goiás, todos os magistrados concordaram pela inelegibilidade do prefeito eleito Adair Henrique da Silva (DEM) por condenação em órgão colegiado. Com isso, outra eleição será realizada.
– Por unanimidade, [o TSE] deu provimento ao 1º recurso para indeferir o pedido de candidatura ao cargo de prefeito e anular as eleições majoritárias do município de Bom Jesus de Goiás, determinando a realização de novas eleições a serem designadas pelo TRE [Tribunal Regional Eleitoral] para o ano de 2021, bem como a convocação do presidente da Câmara Municipal da legislatura a se iniciar para exercer o cargo provisoriamente nos termos do voto do relator – disse o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso.
A acusação do Ministério Público Eleitoral (MPE) argumentava que Adair estava inelegível por causa de uma condenação por improbidade administrativa. O registro de candidatura de Adair já tinha sido negado pelo juiz eleitoral, mas o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) entendeu que o prazo de oito anos de inelegibilidade determinado pela lei já tinha acabado. Assim, o TRE liberou a candidatura.
Foi essa liberação do TRE-GO que estava sendo questionada no TSE. O relator do caso, ministro Edson Fachin, já tinha dado um decisão liminar (ou seja, provisória) que impedia a diplomação de Adair antes que o processo fosse analisado.
A advogada Luciana Lóssio representou o prefeito eleito que teve 50,26% dos votos válidos. Ela falou em “dois marcos temporais” da inelegibilidade. Lóssio disse que o candidato eleito ficou inelegível a partir de uma condenação colegiada em 2009. Portanto, segundo ela, o prazo de suspensão dos direitos políticos (de 8 anos) tinha se esgotado em 2017. Ela também argumentou que, em 2012, Adair tentou concorrer na eleição, mas teve o registro de candidatura negado justamente em função da condenação de 2009.
Outros processos
No caso de Paraíba do Sul (RJ), o TSE definiu – por 5 votos a 2 – que é válida a candidatura da prefeita eleita Dayse Deborah Alexandre Neves, registrada nas urnas como Dayse Onofre (PL-RJ).
O relator do processo, ministro Fachin, votou pela inelegibilidade de Dayse. Argumentou que ela já havia sido condenada, em 2016, por doação acima do limite legal. A lei permite doar até 10% dos rendimentos brutos auferidos pelo doador no ano anterior ao pleito.
– A ilegalidade surge a partir do primeiro centavo superado – afirmou Fachin ao proferir seu voto.
Em seguida, o ministro Alexandre de Moraes inaugurou a divergência do relator “à luz dos critérios da razoabilidade”, por causa do valor doado. Considerou que a doação superior ao limite não afetou a legitimidade do pleito. Outros quatro ministros seguiram o voto de divergência.
Já o ministro Barroso declarou que seu voto era “curioso”, pois concordava com a necessidade de trazer o caso à “razoabilidade”. No entanto, concordava também com a conclusão de Fachin pela inelegibilidade pelo “conjunto da obra da pessoa envolvida”. Assim, ficou em 5 a 2 a votação.
No caso da cidade de Itatiaia, também no Rio de Janeiro, o relator Mauro Campbell votou por negar o pedido de registro de candidatura do prefeito eleito Dudu (PSC) e determinar a realização de novas eleições. Porém, o ministro Tarcisio Vieira pediu vista e prometeu retornar com o processo na próxima quinta-feira. Portanto, o caso ficou suspenso.
No quarto e último processo analisado pelo TSE hoje, a Corte validou a candidatura da prefeita eleita na cidade de Olho D’água Grande, em Alagoas, Maria Suzanice Higino Bahé (PP). O ministro Sérgio Banhos foi o relator e negou negou recurso do candidato derrotado José Adelson de Souza (PTB) e de seu partido, o PTB.
Após danos irreversíveis ao Xingu, Belo Monte terá que liberar mais água
03 de dezembro de 2020 | 05h00
Atualizado 03 de dezembro de 2020 | 09h07
BRASÍLIA - Depois de mudar o curso das águas do Rio Xingu para privilegiar a geração de energia, a Hidrelétrica de Belo Monte, em operação no Pará, será obrigada a liberar um volume maior da água que hoje retém em seu reservatório. A medida pretende atenuar as condições drásticas de vida que passaram a ser a rotina de um trecho de 130 quilômetros de extensão do rio, conhecido como a Volta Grande do Xingu.
As novas regras de vazão de água serão impostas pelo Ibama, responsável pelo licenciamento ambiental de Belo Monte, que é a maior hidrelétrica nacional. O Estadão apurou que a diretoria do Ibama já decidiu sobre a necessidade de revisar as regras que deverão ser acatadas pela Norte Energia, concessionária que opera Belo Monte.
Em novembro de 2015, a Norte Energia fechou a barragem principal da usina, desviando uma média de até 80% da água para um canal artificial de mais de 20 quilômetros, onde foram instaladas as grandes turbinas da hidrelétrica. Com esse desvio, um trajeto de 130 km, que há milhares de anos convivia com um regime natural de seca e cheia, passou a ser submetido a um regime reduzido e constante de água, o que tem acabado com dezenas de espécies de peixes, tartarugas e frutos, além de comprometer a subsistência de milhares de famílias espalhadas em 25 vilas do trajeto do rio, entre indígenas e não indígenas.
O controle sobre a quantidade de água que passa ou não pela barragem é feito pela Norte Energia, por meio de “hidrograma de consenso” que prevê os volumes que devem ser liberados. Ocorre que esse documento técnico foi elaborado pela própria empresa, quando do seu licenciamento, em 2009. À época, relatórios do Ibama já chamavam a atenção para o fato de que os volumes previstos no hidrograma trariam riscos à região. Esses pareceres, porém, foram ignorados e o empreendimento recebeu autorização para ser construído.
Testes
Hoje, dez anos após a licença que autoriza as obras de Belo Monte, a situação se confirma. A Norte Energia alega que o trecho ainda passa por uma fase de “testes” e que isso deve ser analisado pelo prazo de seis anos, como previsto no edital da usina. O mesmo edital prevê, porém, que o Ibama pode alterar as regras de vazão do rio, conforme identifique situações que julgue necessárias.
Uma nota informativa do Ibama de 5 de outubro, a qual a reportagem teve acesso, menciona a conclusão de especialistas sobre o assunto, para afirmar que “a sobrevivência e a manutenção de todo o ecossistema da Volta Grande e dos modos de vida de comunidades não podem ser objeto de testes quando são contundentes e claras as evidências e indicativos de impactos graves e irreversíveis que já ocorrem e estão em curso”.
O pulso da inundação natural do Rio Xingu garantia a passagem de 20 mil a 25 mil metros cúbicos de água por segundo nos meses de cheia, de dezembro a junho. Com a construção da usina, a empresa adotou duas regras: libera 4 mil m³ por segundo em um ano e 8 mil m³ no ano seguinte. Esse regime artificial, porém, acabou por comprometer completamente a vida no trecho bloqueado do rio.
Impraticável
Ao analisar os resultados, a equipe técnica do Ibama concluiu que o cenário com 4 mil m³/s “é impraticável”. Sobre o cenário com 8 mil m³, declarou que os dados “são insuficientes para garantir que não haverá piora drástica nas condições ambientais e de modo de vida na Volta Grande do Xingu”.
Em sua nota técnica, que foi referendada pelo presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, o órgão afirma que, “desde o início dos estudos, não havia certeza de qual seria a vazão suficiente para prevenir ou mitigar os impactos” e que a Norte Energia propôs seu “hidrograma de consenso” como medida de mitigação.
Neste segundo semestre, o Ibama apresentou um “hidrograma provisório” para a operação de Belo Monte. A Norte Energia, porém, entrou com ação contra essa decisão, sob alegação de que o órgão mudava as regras do licenciamento no meio do processo e que agia assim por “pressão” do Ministério Público Federal. O caso foi parar no Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF1).
Na semana passada, a Justiça Federal negou o pedido da concessionária contra o Ibama. “Foi devidamente justificada a alteração do referido hidrograma, diante de fatos e dados, bem como da incidência dos princípios da precaução e da prevenção”, afirmou o TFR1. “A conclusão que se chega é que o órgão ambiental não ultrapassou quaisquer dos seus limites administrativos no tocante à sua competência para realizar, justificadamente, alterações.”
Estiagem
Por meio de nota, a Norte Energia culpou a estiagem pela situação. “A vazão natural do Rio Xingu que chega ao reservatório da UHE (usina hidrelétrica) Belo Monte está abaixo dos padrões já observados em outros períodos de estiagem, sendo uma das cinco menores vazões já registradas desde 1968, quando foram iniciados os acompanhamentos de vazões”, declarou.
Sobre a decisão do TRF1, declarou que o assunto “está em análise”. A respeito da decisão do Ibama de determinar um novo regime de vazão para o Rio Xingu, declarou apenas que não foi comunicada.
Pressão
No ano passado, após uma vistoria local realizada por diversos órgãos públicos e especialistas, foi novamente comprovado que “não está demonstrada a garantia da reprodução da vida, com riscos aos ecossistemas e à sobrevivência das populações residentes”, por causa da pouca água no trecho. “A pressão política para que fosse emitida a licença no menor prazo possível foi um dos motivos para que se exonerasse do cargo a então ministra do Meio Ambiente Marina Silva, ainda em 2008”, afirma o Ministério Público Federal.
Órgãos falavam em ‘tragédia ambiental'
Há mais de dez anos, Ibama, Fundação Nacional do Índio (Funai), universidades públicas e o Ministério Público Federal alertam para a situação de tragédia ambiental que poderia ser imposta aos 130 quilômetros de corredeiras, cachoeiras, ilhas, canais, pedrais e florestas aluviais que formam a Volta Grande do Xingu. Hoje, o MPF chama a atenção para “evidências científicas de que um 'ecocídio' fulminará um dos ecossistemas da Amazônia de maior biodiversidade”.
A decisão do Ibama de impor um novo regime de partilha das águas vai ao encontro do que propõe o MPF, apesar de ainda não haver detalhamento técnico sobre como essa operação se daria na prática, pois a usina opera a plena carga desde novembro de 2019.
A expectativa é de que, no lugar do “hidrograma de consenso” da concessionária, entre em operação um “hidrograma ecológico”, que não apenas priorize a geração de energia, mas passe a garantir as condições naturais e de adaptação para a Volta Grande do Xingu. Em esclarecimentos que o Ibama deu ao MPF, foi revelado que o “hidrograma de consenso” da empresa chegou a ser aprovado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em 2009, mas isso ocorreu antes da emissão dos pareceres técnicos que rejeitavam a proposta.
A pesquisa fraudulenta pró-Manuela em POA: A imoralidade consentida pelo TSE
As únicas coisas que funcionam bem no serviço público brasileiro, para as quais jamais faltaram todas as “verbas” compatíveis, são as eleições organizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral, por um lado, e a máquina de arrecadação tributária, por outro, em que a soma dos diversos tributos cobrados do povo, na prática de um verdadeiro “terrorismo tributário”, fazem do Brasil o campeão do mundo em cobrança tributária.
As eleições e os tributos brasileiros têm organizações “superiores” às de “1º Mundo”, gastando trilhões de reais extorquidos do povo. Por isso os brasileiros vivem numa realidade de verdadeiro “terrorismo tributário”, e na ilusão de viverem num país justo e livre.
Mas enquanto o “endeusamento” eleitoral e tributário acontece, pouca importância e verbas são destinadas aos valores essenciais da sociedade, como saúde, educação, e segurança pública, dentre outros bens e serviços públicos que deveriam merecer prioridade.
A pergunta que todos deveriam fazer a si mesmos é a quem beneficia, prioritariamente, os gastos públicos quase ilimitados com a sustentação das “máquinas” tributárias e eleitorais?
Porventura não estaria havendo absoluta “coincidência” entre os destinatários dessas gigantescas verbas públicas, e os detentores do “direito” de fazer e aplicar as leis, ou seja, os políticos com mandatos eletivos? Isso não seria “legislar” em causa própria? Não estariam se confundindo nas mesmas organizações os autores e os beneficiários dessa malsinada política?
O Brasil tem a máquina pública, inclusive a eleitoral, mais cara do mundo, caminhando ao lado de um dos povos mais pobres...
Mas enquanto a legislação aplicada sobre o povo brasileiro é bastante “dura”, o mesmo não acontece em tudo que se relaciona aos grandes interesses dos poderosos do “establishment”, do “mecanismo”, que têm plena liberdade de agir contra a moral pública com plena cobertura das leis... que eles mesmo escrevem!!!
Não é preciso ir muito longe para provar essa denúncia. A eleição municipal de 2º Turno para prefeito de Porto Alegre, realizada em 29 de novembro de 2020, pode servir de amostragem desse tipo de absurda irregularidade.
Enquanto a legislação eleitoral brasileira é das mais duras do mundo contra o “comum-dos-mortais”, mandando prender quem ousar fazer qualquer “boca de urna” nas eleições, as “grandes infrações” eleitorais, do ponto de vista “moral”, “coincidentemente”, ficam “fora” da legislação, sendo absolutamente toleradas.
Talvez a principal imoralidade consentida na legislação eleitoral, certamente por ser do interesse do “establishment”, trata-se das “pesquisas”, mesmo com a condição “esfarrapada” de registro na Justiça Eleitoral, numa espécie de “faz-de-conta” eleitoral.
Entre o 1º e o 2º turnos da eleição municipal para prefeito de Porto Alegre, onde concorriam os candidatos Sebastião Melo, pelo MDB, e a comunista Manuela D’Ávila, do PCdoB, onde Melo começou bem na frente, gradativamente essa diferença foi diminuindo. No último momento permissivo de pesquisas, 2 dias antes da eleição, quando não haveria mais condições nem tempo de rebatê-la com novas pesquisas, SURPREENDENTEMENTE aparece uma do IBOPE, encomendada e paga pelo Grupo RBS, "capacho” das Organizações GLOBO, onde Manuela “milagrosamente” ultrapassa Melo, com 51% contra 49%. E não é preciso lembrar que o “capacho” gaúcho da Globo, como a “matriz”, também gostaria de favorecer a candidata da esquerda, Manuela.
Finalizada a apuração no TSE, acabou “dando” Sebastião Melo, com uma diferença de quase 10% sobre Manuela D’Ávila, o qual acabou sendo eleito prefeito de Porto Alegre, ”desmoralizando” a pesquisa-conluio entre o IBOPE e a RBS. Mas essa “barbaridade” não é irregular na legislação eleitoral, e tudo acabará “por isso mesmo”!!!
Tudo leva a crer, portanto,a essa altura dos acontecimentos - porque foi a RBS que encomendou e patrocinou a pesquisa de “última hora” do IBOPE - é que a primeira “forneceu” o resultado que queria pró-Manuela, e o segundo só “assinou” e divulgou. E esse não foi um caso isolado no Brasil inteiro.
E essa “tchurma” parece que já está “afiando-os-dentes”, com olhares na eleição presidencial de 2022. EDITORIAL DO JORNAL CIDADE ONLINE
O futuro do Brasil - Fabio Giambiagi, O Estado de S.Paulo
No Brasil, já se disse que o futuro era o elemento unificador do país: no passado, podíamos estar mal, mas a ideia de que haveria um futuro desenvolvimento à nossa espera, como uma espécie de destino manifesto do País, dava-nos certo conforto para enfrentar as mazelas do dia a dia. E cá estou eu de novo falando do que nos aguarda. Ou, como diria o Caetano, “ou não”...
Revisitando os livros que organizei, sozinho ou com algum colega, eu já tinha produzido até agora nove coletâneas só de “agendas para o País”, desde o meu primeiro livro com esse perfil, que organizei em 2003 com A. Urani e José G. Reis. Como nos embates ideológicos alguma dose de veneno é inevitável, já fui objeto da crítica de que “Giambiagi produz sempre o mesmo livro”. Na vida temos de aprender a ter humor e devo reconhecer que a frase, embora ferina, tem um quê de verdade. Não me considero, porém, “culpado” por isso, pelo simples fato de que a realidade se repete!
Basta reler os títulos de alguns dos capítulos do meu livro de 2003 (há quase 20 anos!): Por que o Brasil cresce pouco?, Abertura e crescimento: passado e futuro, As razões do ajuste fiscal, Mercosul: após a ‘paciência estratégica’, o quê?, Reforma tributária: sonhos e frustrações, O setor elétrico: a reforma inacabada, A abertura do setor de petróleo e gás: retrospectiva e desafios futuros, etc. Os títulos não parecem de um livro de 2020?
Se volto aos mesmos temas de sempre, como se vivêssemos num eterno Dia da Marmota, em que os acontecimentos se repetem regularmente, é porque no País não apenas a economia demora a “engatar uma segunda” há tempo, como estamos discutindo algumas reformas há mais de 20 anos e os problemas se repetem, num script exasperante. O Brasil cansa.
Naquele mesmo livro de 2003, Reformas no Brasil: Balanço e Agenda – onde a epígrafe era “O Brasil não tem problemas, mas apenas soluções adiadas”, frase genial de Câmara Cascudo –, tive o privilégio de, entre os diversos autores, contar com capítulos de um amigo que depois viria a se tornar ministro da Fazenda; de outro que seria diretor do Banco Central; de um terceiro, economista-chefe de um dos grandes bancos nacionais; e, finalmente, de nada menos que outros seis que posteriormente se tornaram excelentes funcionários de organizações multilaterais.
Os problemas se repetem, mas com o tempo não dá para abusar dos amigos. Assim, depois de ter perturbado vários deles, entendi que era um bom momento para tratar dos velhos problemas, porém com nomes novos, e propus à editora organizar um livro com o denominador comum de serem todos autores jovens, num elenco em que o único “coroa” seria o organizador.
O livro – que chegará às livrarias no próximo dia 10 – tem como título O Brasil do Futuro (Editora GEN), envolvendo um jogo de palavras, por tratar do amanhã, mas também por conter capítulos de autores que já começam a frequentar o debate, juntamente com outros ainda mais jovens, que têm as credenciais para vir a fazê-lo com assiduidade nas próximas décadas. Para mais de um capítulo liguei para amigos ocupando altos cargos e perguntei: “Que nome você me sugere que pode estar sentado no seu lugar daqui a 10 ou 15 anos?”. Foi uma satisfação reunir esses autores e trabalhar com eles.
Aos temas que são os “mesmos suspeitos de sempre” (a capacidade de crescimento da economia, o ajuste fiscal, o conflito federativo, o grau de abertura da economia, a agenda da infraestrutura, etc.) adicionei nesta oportunidade, seguindo a sábia sugestão de um velho amigo, um bloco de capítulos sobre os chamados “novos desafios”, associados ao mundo em mutação no qual vivemos. Essa parte do livro inclui um capítulo sobre o futuro dos meios de pagamento, um segundo sobre como o fenômeno do Big Data está penetrando em todas as áreas da produção, uma reflexão sobre como a inteligência de dados pode ser utilizada para a redefinição das políticas públicas e uma análise sobre o futuro do trabalho num mundo “uberizado”.
Vivemos num país complexo, onde as transformações são complicadas. Por outro lado, em que pese a perpetuação de alguns eternos desafios, outros foram sendo vencidos. Hoje temos juros baixos e uma inflação parecida com a do chamado Primeiro Mundo, a miséria é inferior à de 30 anos atrás, conseguimos aprovar uma reforma previdenciária digna desse nome, etc. Esses foram temas de capítulos que foram “sumindo” das minhas coletâneas, felizmente.
Uma das coisas que me fazem conservar a chama do otimismo em relação ao Brasil é que neste país temos vários elementos positivos. Um deles é o fato de termos um contingente de pessoas extremamente qualificadas para ocupar a função pública. Foi assim no passado com funcionários de primeiro, segundo e terceiro escalões que desempenharam com brilho suas funções – alguns dos quais tive a honra de contar entre os autores de livros meus.
Tenho a certeza de que vários desses jovens autores de agora escreverão páginas boas de nossa História nos próximos 30 anos.
ECONOMISTA