INSS vai atender na agência quem não consegue usar 135 e aplicativo
O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) iniciará na próxima quinta-feira (15) o agendamento para o atendimento nas agências da Previdência de segurados que precisam de serviços que não podem ser realizados a distância, pelo telefone 135 ou pelo aplicativo Meu INSS.
O serviço, chamado atendimento especializado, é voltado para o público que não estava conseguindo atendimento presencial devido à pandemia de Covid-19, que levou o órgão a restringir o acesso aos postos para a execução de tarefas específicas, como o cumprimento de exigência (entrega de documentos) e perícias médicas.
Um dos serviços listados como disponíveis nas agências é, justamente, a “impossibilidade de informação ou de conclusão da solicitação pelos canais remotos”.
Para agendar o serviço, o cidadão deve ligar para o telefone 135. O atendente analisará a solicitação do usuário e, se a situação se enquadrar nos casos listados na Portaria 908, publicada nesta segunda-feira (12) no Diário Oficial da União, o agendamento será realizado.
Esse agendamento também poderá ser feito diretamente nas agências, para uma data próxima, nos casos em que o cidadão não tenha condições de fazer o pedido pelo telefone 135.
Segundo portaria da diretoria de benefícios do órgão, o atendimento especializado estará disponível para os seguintes serviços:
- Impossibilidade de informação ou de conclusão da solicitação pelos canais remotos
- Apresentar contestação de NTEP (nexo técnico epidemiológico)
- Atendimento solicitado por portadores de necessidades especiais: maiores de 80 anos de idade, deficiência auditiva ou visual
- Órgão mantenedor inválido impossibilitando a solicitação de serviços
- Requerimento concluído sem atendimento ao solicitado, relacionado a falha operacional não vinculada à análise do direito
- Consulta à consignação administrativa
- Ciência do cidadão referente à necessidade de inscrição no CadÚnico
- Solicitar Retificação de CAT
- Parcelamento ou impugnação à cobrança administrativa / MOB PRESENCIAL
- Pensão Especial Vitalícia da pessoa portadora da Síndrome da Talidomida
- Pensão Mensal Vitalícia do Seringueiro e seus Dependentes;
- Pensão Especial das Vítimas de Hemodiálise de Caruaru
Nova onda de ataques atinge ao menos nove ônibus na cidade de SP
Uma nova onda de ataques atingiu, na manhã desta segunda-feira (12), ônibus do sistema de transporte coletivo da cidade de São Paulo.
De acordo com a SPTrans (companhia que administra o sistema de ônibus), os atos de vandalismo foram registrados entre as 5h15 e 8h20 e afetaram diretamente nove veículos.
A depredação prejudicou a operação de 62 linhas do sistema distribuídas pelas regiões sul e leste da cidade. A motivação dos ataques ainda é desconhecida, e os casos serão investigados pela Polícia Civil.
Segundo a SPTrans, o primeiro ataque ocorreu contra um ônibus de prefixo 73.880, da linha 675k-10, na Ponte do Socorro, por volta das 5h15. Um grupo abordou o veículo, exigiu a saída dos passageiros e cortou a correia do motor deixando o coletivo atravessado na pista.
Uma pessoa que desceu do veículo acabou sendo atropelada por um segundo ônibus na via, no sentido centro, de acordo com a SPTrans. A vítima, cujo nome e idade não foram divulgados, foi encaminhada pelo Corpo de Bombeiros ao Pronto-Socorro de Campo Limpo (zona sul). Não foi possível saber o estado de saúde da pessoa atropelada.
Ainda no local, os vândalos tentaram atear fogo no coletivo. “Entretanto, os operadores debelaram as chamas com os extintores de incêndio dos veículos”, informou a SPTrans.
Por volta das 5h40, outro coletivo de prefixo 52.129, que opera na linha 5142/10, foi depredado na avenida Sapopemba. O veículo teve a sua correia de motor cortada e os pneus rasgados também por um grupo de vândalos sendo deixado “estacionado de forma atravessada obstruindo o viário no sentido centro”.
O terceiro ataque registrado nesta manhã aconteceu na avenida Mateo Bei. No local, três coletivos foram depredados por indivíduos não identificados e foram recolhidos e levados à garagem.
Por volta das 6h20, outro ônibus teve o vidro traseiro quebrado na rua Geraldo Vieira de Castro, em Itaquera, e também foi recolhido à garagem.
No quinto ataque, registrado na avenida São Miguel, na altura do número 9.600, por volta das 7h15, um grupo de vândalos abordou o operador do veículo, esvaziou dois pneus do coletivo e também estacionou o coletivo de forma atravessada para obstruir o tráfego de veículos pelo local.
A chave do ônibus também foi suprimida, e as linhas de ônibus que circulam pela região foram desviadas até por volta das 9h05, quando o veículo foi removido e deixou de atrapalhar o tráfego.
O sexto ataque ocorreu na rua Doutor Luiz Ayres, nas proximidades do acesso à avenida Águia de Haia, em ambos os sentidos, por volta das 8h20. O ônibus atacado teve os pneus furados, a correia partida, a chave retirada e foi deixado atravessado na via pelos vândalos.
Também no mesmo local, outro ônibus teve os pneus furados, a chave retirada e foi deixado atravessado na via para atrapalhar o trânsito. Os dois veículos foram removidos, e o tráfego foi normalizado por volta das 9h40.
A SPTrans disse, por nota, que repudia qualquer ato de vandalismo e que acionou a Polícia Militar e a sua equipe de fiscalização para os locais onde as depredações ocorreram.
Os prejuízos aos veículos depredados estão sendo contabilizados pelas empresas, que também vão registrar boletins de ocorrência nas delegacias que atuam nas regiões onde os ataques aconteceram.
INVESTIGAÇÕES SOBRE OS ATAQUES
O Sindimotoristas (entidade que representa os motoristas e trabalhadores do transporte rodoviário e urbano de São Paulo) disse, por meio de sua assessoria de imprensa, desconhecer a autoria das depredações. "O que sabemos, até o presente momento, é que a polícia está investigando tais ações, inclusive, já intimou algumas pessoas baseadas em imagens que foram disponibilizadas".
Nailton Francisco de Souza, diretor do Sindimotoristas, também diz que fake news na internet vem atribuindo à entidade o comando dos ataques. “Não temos qualquer ligação com atos de vandalismo. As nossas manifestações são sempre feitas de forma ordeira e civilizada”, afirma.
O Sindimotoristas representa cerca de 30 mil trabalhadores, entre motoristas, cobradores e os profissionais responsáveis pela manutenção dos veículos.
Souza atribui o suposto elo do sindicato aos ataques como uma forma de minar a campanha salarial da categoria, que está em estado de greve desde o último dia 6 deste mês. “Nós já registramos um boletim de ocorrência contra essa mentira imputada ao sindicato e aguardamos o resultado das investigações”.
O diretor diz acreditar que os suspeitos envolvidos nas depredações aos veículos possam ser ex-trabalhadores do setor, “mas isso só a polícia poderá dizer”.
Souza afirmou ainda que imagens dos terminais de ônibus e dos veículos atacados estão sob posse da Polícia Civil, que abriu um inquérito para investigar quem tem encabeçado os atos de vandalismo na cidade.
“Temos a informação de que 26 pessoas foram identificadas e estão sendo procuradas pela polícia para prestarem depoimentos”, afirma Souza.
A Folha aguarda uma manifestação da Secretaria de Segurança Pública da gestão Doria (PSDB) sobre as investigações relacionadas aos ataques contra os coletivos da capital.
ATAQUES CONTRA COLETIVOS
A onda de ataques contra ônibus do sistema de transporte coletivo está na mira da Polícia Civil desde junho, quando uma série de depredações passaram a ser registradas.
Em 14 de junho, ônibus que circulavam na região central da capital tiveram os pneus furados por um grupo ainda não identificado. Naquela ocasião, o ataque afetou ao menos 30 linhas que acessam o Terminal Parque Dom Pedro II.
Em 28 de junho, outros ataques bloquearam a circulação dos coletivos nos terminais de Pinheiros, na zona oeste, e em São Mateus, na zona leste, afetando ao menos 47 linhas.
Os motoristas afetados fizeram um ato e cobraram das autoridades uma investigação ampla para identificar e punir os responsáveis pelo vandalismo.
Datafolha: Reprovação aos ministros do STF volta a subir e atinge 33%
A reprovação à atuação do ministros do Supremo Tribunal Federal voltou a crescer, de acordo com a mais recente pesquisa do Datafolha.
Segundo levantamento do instituto, consideram o desempenho dos ministros do tribunal ruim ou péssimo 33% dos entrevistados, ante 24% que avaliam a atuação deles como boa ou ótima. Para 36%, a avaliação é regular, e outros 7% não souberam responder.
Na pesquisa anterior em que esse tema foi abordado, em agosto de 2020, a reprovação era de 29%, ante 27% que consideravam o trabalho dos magistrados ótimo ou bom.
A diferença de quatro pontos percentuais na reprovação entre as duas pesquisas é o limite máximo da margem de erro, portanto uma situação improvável de estabilidade na prática.
Na quarta (7) e quinta-feira (8) da semana passada, o Datafolha ouviu presencialmente 2.074 pessoas em 146 municípios de todo o país. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
Alguns fatores podem ter pesado nas taxas atuais de avaliação. Em março, o Supremo decidiu rever processos envolvendo o mais importante réu da Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tinha condenação por corrupção confirmada em três graus do Judiciário.
O ministro Edson Fachin anulou as sentenças contra Lula nos casos do tríplex e do sítio de Atibaia, ao argumentar que a Vara Federal de Curitiba não tinha a devida atribuição sobre esses processos.
Na sequência, o ex-juiz Sergio Moro foi considerado, pela Segunda Turma da corte, suspeito em sua atuação relacionada ao ex-presidente.
Essas duas medidas foram posteriormente ratificadas pelo plenário do tribunal. Com isso, Lula recuperou seus direitos políticos e poderá disputar a eleição presidencial do próximo ano.
Além dos questionamentos sobre suas decisões, o Supremo se mantém sob críticas constantes de aliados do presidente Jair Bolsonaro, que veem a corte como obstáculo para o governo.
Bolsonaro inclusive chegou a participar de atos, em 2020, nos quais seus apoiadores pediam o fechamento do tribunal e do Congresso.
Nas últimas semanas, o presidente xingou em discursos o ministro Luís Roberto Barroso, que também é presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O presidente do STF, Luiz Fux, divulgou nota na quarta-feira afirmando que a liberdade de expressão "deve conviver com o respeito às instituições e à honra de seus integrantes, como decorrência imediata da harmonia e da independência entre os Poderes".
Outro magistrado frequentemente alvo de bolsonaristas é Alexandre de Moraes, que expediu decisões que miravam pessoas próximas do presidente, como no chamado inquérito dos atos antidemocráticos.
Esta não foi a pior avaliação dos ministros aferida em pesquisas do instituto, porém. Em dezembro de 2019, a taxa de ruim/péssimo era ainda superior, com 39%.
Naquela época, havia recém acontecido um dos principais julgamentos da corte na década, no qual foi barrada a possibilidade de prisão de réus condenados em segunda instância que ainda têm recursos pendentes nos tribunais superiores.
Posteriormente, em maio de 2020, o Datafolha apontou uma melhora significativa na avaliação da população sobre o trabalho dos ministros do STF.
As taxas de bom/ótimo superaram na ocasião as de ruim/péssimo —30% a 26%.
Naquela época, o Supremo teve papel importante na crise do coronavírus ao decidir pela autonomia de estados e municípios para ordenar medidas de restrição à circulação da população e ao funcionamento do comércio. Bolsonaristas reclamam até hoje desse julgamento.
Na pesquisa deste mês, os piores índices de avaliação do Supremo estão entre apoiadores do presidente Bolsonaro.
A avaliação negativa dos ministros do STF sobe para 49% quando considerados apenas entrevistados que pretendem votar em Bolsonaro no pleito de 2022.
A rejeição à atuação dos ministros do Supremo também é alta entre homens (37%), entrevistados com escolaridade de nível superior (41%) e aqueles que não pretendem se vacinar contra a Covid (46%).
No recorte regional, há mais reprovação à corte no Sul —região conhecida por ser mais simpática ao bolsonarismo— do que no Nordeste: 37% a 30%.
Já a avaliação positiva do Supremo vai a 27% quando considerados apenas entrevistados com escolaridade de nível fundamental e a 28% entre assalariados sem registro.
Quando considerados somente entrevistados que dizem ter o PT como partido de preferência, a taxa de ótimo/bom dos ministros vai a 31%.
FOLHA DE SP
O Arrendamento de terras acompanha tendência e vê alta de valores
11 de julho de 2021 | 05h00
Acompanhando o mercado de compra e venda, o valor do arrendamento de terras para agricultura e pecuária registrou forte valorização nos últimos meses por conta da alta das cotações do produtos em reais e também do aumento do número de sacas de soja cobrada por hectare, que é a referência do aluguel.
Pesquisa da consultoria IHS Markit mostra que em 12 meses até dezembro de 2020, o último dado disponível, o aluguel da terra para produção de grãos nas principais regiões produtoras do País aumentou, em média, 72%. Para as áreas de algodão, a alta foi de 91% no mesmo período, seguida pela cana (15%) e pastagens (12%).
“Diferente do mercado de compra e venda, o de arrendamento é mais volátil, muitos contratos são indexados a produtos e a dinâmica é mais forte”, afirma Leydiane Brito, analista da consultoria e responsável pela pesquisa.
Luciano Borges, sócio da Borges Imóveis Rurais, diz que o valor do arrendamento mais que dobrou em reais nos últimos meses. “Quem estava pagando 8 sacas de soja por hectare, na renovação anual do contrato passou a pagar 10 ou até 12; quem pagava 15 sacas, foi para 18 ou 20.” Ele também observa que muitos estão interessados em comprar terras só para arrendar.
André Pessoa, sócio da consultoria Agroconsult, observa que, com o juros ainda em níveis baixos, houve uma realocação de portfólio de investimentos. Quem tinha uma aplicação em renda fixa, por exemplo, transferiu os recursos para compra de terra, que se valoriza 3% ao ano e ainda pode render um aluguel. O interesse pelo arrendamento apareceu também, segundo ele, entre profissionais liberais que não estão ligados diretamente ao agronegócio e fundos de investimento interessados nesses rendimentos.
Mas há também companhias do agronegócio que optaram pelo caminho do arrendamento para crescer por outras razões. Esse é o caso da SLC Agrícola, gigante da produção de grãos e fibras, com capital aberto na Bolsa. Neste ano, a empresa comprou duas concorrentes, mas as terras agrícolas não entraram na transação.
Com a Agrícola Xingu, a companhia fechou um contrato de arrendamento das terras por 15 anos e com a Terra Santa por 20 anos. “Em ambos os casos não compramos terras porque temos a estratégia de crescimento sem adquirir o ativo terra”, afirma o CEO da companhia, Aurélio Pivato.
Ele destaca que a decisão não está relacionada com o momento atual de alta de preços e foi tomada anteriormente. “Encerramos o ciclo de aquisição de áreas em 2015.” O executivo explica que crescer comprando terras exige muito mais capital em relação ao arrendamento. “A nossa estratégia é crescer com o menor investimento.”
O outro fator que levou a companhia escolher esse caminho é que a empresa está “comprada” em terras. “Temos 308 mil hectares de terras no portfólio”, diz Pivato. Antes dos dois negócios, a companhia cultivava áreas em 16 fazendas. Com as áreas da Terra Santa e da Agrícola Xingu, acrescentou mais seis fazendas. A fatia de terras próprias que era de 46% caiu para 36% e a de terras arrendadas subiu de 54% para 64%. A SLC cultiva áreas com soja, milho e algodão no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Maranhão, Piauí e Minas Gerais.
Comparação entre países
Apesar da elevação dos preços das terras para compra e arrendamento, as cotações no Brasil ainda são menores comparadas às de outros países em áreas semelhantes. Nas contas de Pivato, dependendo da região, um hectare para o cultivo de grãos varia entre US$ 5 mil e US$ 10 mil aqui. Na Argentina, esse preço gira em torno de US$ 15 mil e nos Estados Unidos, oscila entre US$ 20 mil e US$ 25 mil.
Entre os motivos apontados pelo executivo para que a terra brasileira, mesmo com preços em alta, continue barata em relação a outros países, estão a maior disponibilidade do ativo e as deficiências nas em infraestrutura e logística existentes no interior do País.
Arrendamento de terras acompanha tendência e vê alta de valores
11 de julho de 2021 | 05h00
Acompanhando o mercado de compra e venda, o valor do arrendamento de terras para agricultura e pecuária registrou forte valorização nos últimos meses por conta da alta das cotações do produtos em reais e também do aumento do número de sacas de soja cobrada por hectare, que é a referência do aluguel.
Pesquisa da consultoria IHS Markit mostra que em 12 meses até dezembro de 2020, o último dado disponível, o aluguel da terra para produção de grãos nas principais regiões produtoras do País aumentou, em média, 72%. Para as áreas de algodão, a alta foi de 91% no mesmo período, seguida pela cana (15%) e pastagens (12%).
“Diferente do mercado de compra e venda, o de arrendamento é mais volátil, muitos contratos são indexados a produtos e a dinâmica é mais forte”, afirma Leydiane Brito, analista da consultoria e responsável pela pesquisa.
Luciano Borges, sócio da Borges Imóveis Rurais, diz que o valor do arrendamento mais que dobrou em reais nos últimos meses. “Quem estava pagando 8 sacas de soja por hectare, na renovação anual do contrato passou a pagar 10 ou até 12; quem pagava 15 sacas, foi para 18 ou 20.” Ele também observa que muitos estão interessados em comprar terras só para arrendar.
André Pessoa, sócio da consultoria Agroconsult, observa que, com o juros ainda em níveis baixos, houve uma realocação de portfólio de investimentos. Quem tinha uma aplicação em renda fixa, por exemplo, transferiu os recursos para compra de terra, que se valoriza 3% ao ano e ainda pode render um aluguel. O interesse pelo arrendamento apareceu também, segundo ele, entre profissionais liberais que não estão ligados diretamente ao agronegócio e fundos de investimento interessados nesses rendimentos.
Mas há também companhias do agronegócio que optaram pelo caminho do arrendamento para crescer por outras razões. Esse é o caso da SLC Agrícola, gigante da produção de grãos e fibras, com capital aberto na Bolsa. Neste ano, a empresa comprou duas concorrentes, mas as terras agrícolas não entraram na transação.
Com a Agrícola Xingu, a companhia fechou um contrato de arrendamento das terras por 15 anos e com a Terra Santa por 20 anos. “Em ambos os casos não compramos terras porque temos a estratégia de crescimento sem adquirir o ativo terra”, afirma o CEO da companhia, Aurélio Pivato.
Ele destaca que a decisão não está relacionada com o momento atual de alta de preços e foi tomada anteriormente. “Encerramos o ciclo de aquisição de áreas em 2015.” O executivo explica que crescer comprando terras exige muito mais capital em relação ao arrendamento. “A nossa estratégia é crescer com o menor investimento.”
O outro fator que levou a companhia escolher esse caminho é que a empresa está “comprada” em terras. “Temos 308 mil hectares de terras no portfólio”, diz Pivato. Antes dos dois negócios, a companhia cultivava áreas em 16 fazendas. Com as áreas da Terra Santa e da Agrícola Xingu, acrescentou mais seis fazendas. A fatia de terras próprias que era de 46% caiu para 36% e a de terras arrendadas subiu de 54% para 64%. A SLC cultiva áreas com soja, milho e algodão no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Maranhão, Piauí e Minas Gerais.
Comparação entre países
Apesar da elevação dos preços das terras para compra e arrendamento, as cotações no Brasil ainda são menores comparadas às de outros países em áreas semelhantes. Nas contas de Pivato, dependendo da região, um hectare para o cultivo de grãos varia entre US$ 5 mil e US$ 10 mil aqui. Na Argentina, esse preço gira em torno de US$ 15 mil e nos Estados Unidos, oscila entre US$ 20 mil e US$ 25 mil.
Entre os motivos apontados pelo executivo para que a terra brasileira, mesmo com preços em alta, continue barata em relação a outros países, estão a maior disponibilidade do ativo e as deficiências nas em infraestrutura e logística existentes no interior do País.
Preço de terras dispara no Brasil e atinge o maior valor em 20 anos
Márcia De Chiara, O Estado de S.Paulo
Fazia dez anos que o produtor rural e agrônomo Guilherme Pinezzi Honório, dono da agropecuária Agro Oeste, da região do Vale do Araguaia, no Mato Grosso, não comprava terras. Com 11,3 mil hectares ocupados com soja, milho, gergelim e pastagens, ele decidiu expandir o negócio em março deste ano. Adquiriu duas áreas de pastagens. Uma de 750 hectares e outra de 2,5 mil hectares nos municípios de Serra Dourada (MT) e São Félix do Araguaia (MT).
Honório foi às compras no momento em que as terras agrícolas atingiram a maior cotação média em 20 anos no País. A alta foi de quase 18% nos preços médios em 12 meses até abril, segundo pesquisa da consultoria IHS Markit, que acompanha o mercado de terras para o agronegócio em 133 regiões do Brasil desde 2001. O levantamento se baseia em informações de corretores sobre negócios fechados, dados das secretarias da agricultura, cooperativas e avaliação patrimonial feita por peritos.
“Paguei 25% a mais do que pretendia, mas achei que seria o momento de comprar para não ter de pagar mais caro ainda no futuro”, diz Honório. Ele conta que já tinha planos de expandir a área e que não foi levado pelo “efeito manada” – quando a maior parte do mercado, por impulso, caminha para a mesma direção e inflaciona os preços.
O produtor considera que o momento permitiu a decisão porque os seus produtos – soja, milho e bovinos – estão muito valorizados. Além disso, com o juro básico, a Selic, ainda em nível baixo comparado a anos recentes, ele conseguiu obter crédito rural para custeio tendo uma despesa financeira menor. Com isso, pode usar os recursos próprios para adquirir terras.
Juro baixo, demanda crescente por grãos e carnes que elevaram os preços desses itens no mercado internacional, especialmente com a pandemia, e dólar em alta criaram uma tempestade perfeita para a forte valorização das terras agrícolas.
Leydiane Brito, analista da consultoria IHS Markit e responsável pela pesquisa, observa que o mercado ficou estagnado por um longo período, desde 2014.
Com boom das commodities agropecuárias a partir de 2020 e avanços na infraestrutura, como a pavimentação da BR-163 no Centro-Oeste e projetos ferroviários, como o Ferrogrão, que liga o Mato Grosso ao Pará, os negócios de compra e venda voltaram a acontecer, e o preço da terra subiu.
“Todas as terras aumentaram de preço”, afirma o consultor André Pessoa, sócio da Agroconsult. Mas ele observa que restrições ambientais que dificultam a abertura de novas áreas de mata provocaram uma valorização maior em regiões maduras de produção.
Terras para grãos
Segundo a pesquisa, a maior alta de preço ocorreu nas terras para grãos, as mais caras, que aumentaram quase 30% em 12 meses até abril na média do País. Na sequência, estão as áreas para café e florestas plantadas, cujos preços tiveram elevação de 14% no período, seguidas pelas pastagens (11,5%) e cana de açúcar (10%). Com agronegócio consolidado, o Paraná é o Estado com hectare mais caro para grãos, valendo, em média, quase R$ 50 mil. Em Cascavel (PR), área consolidada e em produção, o valor vai de R$ 80 mil a R$ 100 mil, por exemplo.
Rondonópolis e outras cidades do Mato Grosso, como Tangará da Serra, Sinop lideram o ranking de alta, com avanços na casa de 60% a 70% em 12 meses nas terras para grãos. Mato Grosso também aparece na dianteira nas pastagens, com alta de 81% no valor do hectare em 12 meses. De 30 municípios com maior valorização de terras para grãos e pastagem, o Mato Grosso lidera com mais da metade das cidades.
“O que a gente tem mais observado são produtores investindo em áreas de pastagens degradadas para transformá-las em áreas de lavoura”, afirma Leydiane. Foi o que Honório fez. “Comprei áreas de pecuária com a possibilidade de conversão para lavoura”, diz o produtor, lembrando que desta forma não há desmatamento.
Mauro Melo, sócio da imobiliária Fazendas Mato Grosso, conta que as terras mais procuradas para compra neste momento estão no Mato Grosso, Tocantins, oeste da Bahia e Pará. A razão é que nessas regiões existem áreas de pasto que podem ser transformadas em lavouras por um custo menor, comparado ao da aquisição de uma terra onde já se cultivam grãos.
Quem está à procura de terras neste momento são os grandes grupos agropecuários, diz o corretor. Mas há empresários da indústria e do comércio que estão aplicando as sobras de caixa no agronegócio. “Chegou também dinheiro de fora: os investidores vêm através de empresas com um sócio brasileiro.”
Mercado aquecido
O boom no mercado de compra e venda de terras começou com a pandemia, explica Melo. A imobiliária dele, por exemplo, que normalmente vendia entre 15 e 20 fazendas por ano, chegou a fechar 30 negócios com terras em apenas seis meses. “Até espantei, foi o maior aumento no volume de negócios nos últimos 20 anos,”, afirma. Ele pondera, no entanto, que hoje o mercado continua aquecido, porém em ritmo mais moderado.
Essa também é a avaliação do corretor Luciano Borges, sócio da Borges Imóveis Rurais, com forte atuação no Mato Grosso, Goiás, Pará e Tocantins. “As negociações estavam bem mais quentes e agora deu uma estabilizada.” Com os preços nas alturas, ele diz que nos últimos meses os compradores recuaram no fechamento de negócios, na expectativa de que os preços retrocedam. Mas as cotações continuam firmes.
Além da disparada de preços, houve redução nos prazos de pagamento. Antes do boom de vendas era possível quitar a compra em até seis ou sete anos. “Hoje no máximo são três anos, quando muito em quatro anos”, diz Borges. Com a forte valorização das terras, quem vende sem ter outro negócio de compra engatilhado teme, com o passar do tempo, não conseguir adquirir nem uma área equivalente à que vendeu.
Diante de tantas mudanças num mercado que até pouco tempo atrás se mantinha estagnado, a pergunta que fica é se esse aquecimento continua. Para a analista da consultoria, a perspectiva é que o mercado de terras se sustente nesse ritmo ao menos no curto prazo. “Há muita procura e existem condições para ela continuar: o PIB (Produto Interno Bruto) agropecuário continua crescendo, os projetos logísticos avançam e há perspectivas de maiores aportes por parte de fundos de investimentos também.”