Gigantes de tec criam suas próprias regras, mas pedem regulação para IA
A expansão da IA (inteligência artificial) provoca um movimento pouco comum entre empresas como Amazon, Facebook, Google, IBM e Microsoft: pedidos por regulação, acompanhados pela divulgação de regras próprias para o uso da tecnologia.
Com empresas de tecnologia sob os holofotes após múltiplos escândalos envolvendo privacidade, conquistar a confiança do público para a IA aparece como um motivador para tentar compartilhar a responsabilidade de regular a área.
"Se as pessoas não confiarem na IA, então corremos riscos tremendos de todos os benefícios que ela pode trazer serem prejudicados", diz Michael Philips, que chefia o desenvolvimento de políticas para essa tecnologia na Microsoft.
Para o italiano Luciano Floridi, professor de filosofia e ética da informação na Universidade de Oxford, o interesse das gigantes de tecnologia por regulação no setor pode ser motivado pelo desejo de se ter clareza sobre o que é certo e errado. A presença de regras comuns, avalia, é o que permite a competição.
Reportagem publicada em janeiro no jornal "Wall Street Journal" compara a movimentação à de outras indústrias no passado, particularmente seguros e petróleo. Ao ver que a regulação é inevitável, as empresas apoiam a criação de regras publicamente enquanto atuam nos bastidores para influenciar como elas são feitas.
No discurso, embora as abordagens e regras das gigantes tecnológicas variem um pouco, o que elas têm em comum é pregar uma IA justa e transparente.
"Nós tomamos muitas decisões e não devemos tomar tantas decisões sozinhos sem a presença do debate público", avalia Norberto Andrade, líder global para políticas de ética digital e em IA no Facebook. "As questões éticas não têm que ser respondidas apenas pelas empresas. Precisamos chegar a um consenso como sociedade."
Swami Sivasubramanian, vice-presidente de IA da AWS (empresa de computação em nuvem da Amazon) faz coro a Andrade. "É muito fácil dizer "tal pessoa não deveria poder usar essa tecnologia". Mas, se está de acordo com as leis do país em que ela vive, não cabe a nós dizer o que devem ou não fazer", diz.
Jeff Dean, diretor de IA do Google, diz achar razoável que países adotem regras diferentes entre si. "Já estamos vendo isso acontecer."
Colaborou Bruno Fávero
Superinteligência artificial pode levar ao fim da humanidade? Entenda riscos
Ao pensar numa eventual ascensão das máquinas, uma imagem que vem à cabeça é a de um bando de robôs humanoides destruindo as pessoas. E aí é "hasta la vista, baby".
Contudo, o fim da humanidade motivado por uma expansão das capacidades de IA (inteligência artificial) não deve ser bem assim.
Pesquisadores do Instituto do Futuro da Humanidade, ligado à Universidade de Oxford, mapeiam os chamados riscos existenciais. A lista de potenciais causadores do apocalipse, além da IA, inclui desastres naturais, nanotecnologia e biotecnologia.
Segundo Nick Bostrom, professor de Oxford e diretor-fundador do instituto, parte do risco gerado pela inteligência artificial vem de sua utilização no desenvolvimento de outras coisas potencialmente danosas.
"Da mesma forma como muitas outras tecnologias poderosas são usadas de formas prejudiciais, a IA poderia também se tornar uma ferramenta para guerra e opressão", diz Bostrom. Uma das preocupações é o uso da tecnologia para a construção de armamentos.
Os pesquisadores Stephen Cave e Kanta Dihal, da Universidade de Cambridge, rastreiam a história das armas autônomas. O estudo considera até uma obra de ficção escrita na Grécia Antiga. No texto "Argonautica", datado do século 3 a.C., um gigante feito de bronze funcionava sozinho para defender a Europa de invasores.
"Recentemente, há esforços grandes para transformar esses mitos em realidade, com financiamento militar para projetos de inteligência artificial", escrevem Cave e Dihal no artigo "Hopes and fears for intelligent machines in fiction and reality" ("Esperanças e medos para máquinas inteligentes na ficção e na realidade").
A IA pode ser usada para automatizar a detecção de alvos de drones, por exemplo. Mas até que ponto um robô pode decidir, sozinho, que é a hora de puxar um gatilho? Cada país pode ter uma opinião diferente.
Brad Smith, presidente da Microsoft, escreve em seu livro "Tools and Weapons" ("Armas e Ferramentas") que líderes militares de todo o mundo concordam em uma coisa, pelo menos: "Ninguém quer acordar numa manhã e descobrir que máquinas começaram uma guerra enquanto eles dormiam."
Já a inteligência artificial que causa medo em filmes como "O Exterminador do Futuro", "Matrix" e "Eu, Robô" existe apenas na ficção. É a chamada IA geral, capaz de avaliar uma ampla série de tópicos.
Alguns especialistas dizem que nunca vai existir, outros que aparecerá nas próximas décadas. No mínimo, é algo que está longe de emergir.
"Quando se pensa em IA, as pessoas têm muitas esperanças, medos, expectativas, que não refletem o atual estado da tecnologia", afirma a pesquisadora holandesa Kanta Dihal, da Universidade de Cambridge.
A tecnologia que existe hoje é a IA estreita, capaz de operações altamente específicas. Um exemplo prático é o mecanismo capaz de detectar imagens de gatos.
A partir de bases de dados com várias fotos e desenhos, é possível fazer o sistema assimilar padrões e, com isso, avaliar se outras imagens são ou não de bichanos. Esse mesmo robô não seria capaz de identificar cães ou de jogar xadrez –precisaria ser preparado especificamente para isso.
A parte central da teoria de Bostrom para o fim da humanidade por meio de inteligência artificial gira em torno do que ele chama de superinteligência. Seria, teoricamente, a última tecnologia que a humanidade precisaria criar.
"Ela faria as atividades de invenção de forma muito mais eficiente do que humanos", diz o professor.
O mecanismo seria capaz de criar outras máquinas ou sistemas, e isso inclui fazer melhorias em si próprio. A partir de um momento, com a escalada na capacidade, a inteligência dessa máquina seria tão grande que um ser humano não conseguiria entender. Se isso saísse do controle...
O pensamento de Bostrom é criticado por alguns colegas, que dizem que esse tipo de discussão tira o foco de problemas mais palpáveis. O próprio filósofo reconhece que é difícil estabelecer um intervalo de tempo para que a tecnologia chegue a um nível tão elevado.
"Algumas pessoas estão convencidas de que a superinteligência aparecerá em 10 a 15 anos, outros estão igualmente convictos em dizer que nunca acontecerá ou que demorará centenas de anos", afirma Bostrom, que argumenta ser importante estar preparado para isso.
A PARÁBOLA DOS HUMANOS QUE VIRAM CLIPES DE PAPEL
Para ilustrar o fenômeno sobre o qual a superinteligência deveria causar preocupação, Bostrom criou a parábola do maximizador de clipes de papel.
Na história, a humanidade criou um sistema de IA cujo objetivo é produzir tantos clipes quanto conseguir. Ele precisa de mais e mais água e metal para manter a fabricação, e então ele pode entender que as pessoas são feitas de átomos -que poderiam ser usados para fazer clipes.
Até chegar um ponto em que tudo, Terra e pessoas, virem clipes de papel (feitos da forma mais eficiente possível).
Para Bostrom, a questão é que o sistema não foi concebido para fazer mal ao ser humano. "Você não precisa programar o instinto de sobrevivência ou o desejo por poder e riqueza para que a IA procure por essas coisas, pois elas já seriam meios para o objetivo final de obter mais clipes de papel", explica.
Para a catástrofe acontecer, seria necessário uma inteligência artificial muito poderosa e orientada a um objetivo específico. Por isso, argumenta Bostrom, ao se programar um sistema com esse potencial seria importante colocá-lo para fazer algo que realmente importa aos humanos, de forma mais ampla.
Arrecadação federal sobe 4,69% e tem melhor janeiro da série histórica
A arrecadação do governo federal teve crescimento real de 4,69% em janeiro, a R$ 174,991 bilhões, no melhor dado para o mês da série histórica da Receita Federal, divulgou o órgão nesta quinta-feira (20).
O dado veio acima da expectativa de R$ 167,1 bilhões, segundo pesquisa da Reuters com analistas.
O secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, já havia dito que a arrecadação de janeiro havia sido "espetacular", mas que o time econômico não identificara fatores óbvios para explicar o impulso nas receitas no mês.
Olhando apenas para as receitas administradas pela Receita, que abarcam o recolhimento de impostos, o crescimento em janeiro também foi de 4,69% sobre igual mês do ano passado, a R$ 163,948 bilhões.
Já as receitas administradas por outros órgãos, sobretudo com a arrecadação de royalties de petróleo, avançaram 4,65% na mesma base de comparação, a R$ 11,043 bilhões.
Em apresentação, a Receita informou ter havido arrecadação atípica de R$ 2,8 bilhões em janeiro com Imposto de Renda Pessoa Jurídica/Contribuição Social Sobre Lucro Líquido.
Sem esse fator, a alta nas receitas administradas pela Receita seria de 2,91%.
Na comparação com janeiro de 2019, a elevação na arrecadação total com IRPJ/CSLL foi de 16,45%, já descontada a inflação. Em valores, o acréscimo foi de R$ 7,357 bilhões, no principal fator a guiar do resultado do mês.
Também houve forte expansão na arrecadação com Imposto de Renda Pessoa Física (aumento de 27,14%, ou R$ 436 milhões), e com Imposto de Importação/IPI-Vinculado (alta de 6,46%, equivalente a R$ 354 milhões).
Segundo a Receita, o IR das pessoas físicas cresceu em especial "nas rubricas de ganho de capital e ganhos líquidos de operações em Bolsa".
Já a alta observada na arrecadação do Imposto de Importação ocorreu num mês de forte alta do dólar frente ao real. A moeda americana valorizou 6,80%, afetada pelos temores econômicos com a disseminação do coronavírus e pela queda da taxa de juros no Brasil.
A Receita pontuou que, na comparação com janeiro de 2019, o valor em dólar das importações subiu 5,02%.
'É normal Congresso querer entrar no Orçamento, mas não precisa pisar no nosso pé', diz Guedes
O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta quinta-feira (20) que é normal o Congresso querer controlar mais o Orçamento, mas que não é preciso “pisar no pé do governo”.
“É normal que o Congresso queira entrar no Orçamento, mas peraí. Não precisa pisar no nosso pé. Tem um Orçamento de R$ 1,5 trilhão, por que vamos brigar por conta de R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões, R$ 20 bilhões?”, disse.
A declaração de Guedes foi feita em resposta a uma crise deflagrada entre o Congresso e o Executivo pelo controle do Orçamento impositivo.
Um acordo estava em curso para manutenção de vetos presidenciais à Lei Orçamentária aprovada no Legislativo, mas ficou ameaçado após declarações do ministro Augusto Heleno, chefe do GSI, um dos principais conselheiros de Bolsonaro. "Não podemos aceitar esses caras chantageando a gente. Foda-se", disse Heleno em conversa captada por microfones na terça-feira (18).
Em cerimônia no Planalto sobre crédito imobiliário, Guedes apoiou Heleno em um trecho de seu discurso. “Fica uma briga. Se o orçamento impositivo for grande demais, fica parecendo um parlamentarismo branco. Avançaram sobre os poucos recursos que o Executivo federal tem capacidade de exercer”, afirmou o titular da Economia.
Chantagem armada - FOLHA DE SP
Há mais que uma sequência de atos tresloucados em torno do chocante episódio em que o senador Cid Gomes foi baleado ao investir, a bordo de uma retroescavadeira, contra policiais militares amotinados em um quartel de Sobral (CE).
A escalada de intimidações por parte da PM cearense, em movimento por vantagens salariais que mal disfarça seus métodos ilegais, já conta mais de dois meses —e não é fenômeno isolado no país.
Em seu artigo 142, a Constituição veda expressamente greves de militares, norma que o Supremo Tribunal Federal estendeu a todas as forças públicas de segurança. Os motivos escancaram-se a cada iniciativa paredista de profissionais armados, a contar com a tibieza, quando não o beneplácito, dos governantes.
No Ceará se viram, nos últimos dias, ataques a batalhões e roubos de viaturas por pessoas encapuzadas, presumivelmente policiais, esposas e parentes. A corporação já arrancou do governador Camilo Santana (PT) reajuste salarial generoso para tempos de penúria; o pretexto para a truculência é tão somente apressar a benesse.
A chantagem armada se repete em outros estados, ainda que sem a mesma violência explícita. Em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) mandou às favas as juras de austeridade orçamentária ao propor espantosos 41,7% de alta dos vencimentos para o setor de segurança.
Abertos os cofres pelo governador, a Assembleia mineira não se vexou em multiplicar o mimo em prol do restante do funcionalismo. Tamanha taxa de sucesso tende a encorajar demandas e métodos semelhantes Brasil afora.
Motins policiais, alguns com consequências trágicas para a população, não são novidade no panorama brasileiro —e tal baderna é estimulada por leis estaduais e federais que anistiam posteriormente os infratores uniformizados.
O momento atual, porém, inspira preocupações maiores. A onda conservadora das eleições gerais de 2018 espalhou sargentos, majores e coronéis nos Legislativos e Executivos do país, além de alçar um capitão reformado do Exército ao posto máximo da República.
É notória a afinidade corporativista entre o presidente Jair Bolsonaro e as forças de defesa e segurança —refletida, por exemplo, em tratamento privilegiado na reforma da Previdência Social. O encorajamento do Planalto, aliás, não se limita a pleitos trabalhistas.
O abuso e a intimidação violenta devem ser contidos antes de ultrapassarem as divisas cearenses. Para tanto, o repúdio vigoroso da sociedade precisa despertar coragem e responsabilidade entre governantes e legisladores. Que negociem com altivez, zelem pelo Orçamento e punam os infratores.
Ministros do Supremo consideram ilegal paralisação de PMs no Ceará
Rafael Moraes Moura/BRASÍLIA/ O ESTADO DE SP
20 de fevereiro de 2020 | 15h31
Um dia depois de o senador licenciado Cid Gomes (PDT–CE) ser atingido por tiros de pistola durante protesto, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) criticaram nesta quinta, 20, a paralisação de policiais militares em Sobral (CE), sob a alegação de que o movimento é “ilegal”. A Constituição Federal proíbe a sindicalização e a greve de militares.
Para o ministro Ricardo Lewandowski, a situação no Ceará é “preocupante”. “É um perigo para as instituições. Não pode nenhuma corporação armada fazer greve”, disse Lewandowski. “Como ministro do Supremo Tribunal Federal, acho que é extremamente preocupante uma greve de policiais militares ou qualquer corporação armada. É constitucionalmente vedado que corporações armadas façam greve.”
Cid Gomes foi atingido por dois tiros de pistola na última quarta-feira, ao tentar romper um bloqueio de policiais grevistas da PM do Ceará com uma retroescavadeira em Sobral, no interior do Estado. O comando da PM do Ceará está tratando o caso como tentativa de homicídio.
Os disparos atingiram a região do tórax, segundo o Hospital do Coração de Sobral, onde Cid foi operado. Em boletim divulgado por volta das 20h de quarta-feira, o hospital disse que o senador respira sem ajuda de aparelhos.
Ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança pública do Estado de São Paulo, o ministro Alexandre de Moraes endossou as críticas. “O que vem acontecendo no Ceará é inadmissível. Crime de dano ao patrimônio público, destruindo viaturas, tiros”, afirmou Moraes.
“Eu não entro no mérito dos fatos porque não estava lá. Mas onde já se viu policial que se queira policial – e eu tenho certeza que no STF não tem ninguém que tem mais admiração pela polícia do que eu – mas como se pode disparar tiros a esmo, podia ter sido um morticínio (massacre) gigantesco. É ilegal e tem que ter consequências tanto na Justiça comum quanto na criminal”, completou Moraes.
Em abril de 2017, o STF decidiu que os policiais civis de todo o País não têm direito à greve. Os ministros também firmaram na época o entendimento de que o exercício do direito de greve é vedado a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública.