Especialistas apontam tratamentos simples que fazem diferença contra a Covid-19
Ana Lucia Azevedo O GLOBO
RIO — As vacinas concentram a atenção mundial, mas, sem tanto alarde, o tratamento da Covid-19 vem avançando de forma radical. Um ano após o início da pandemia, para quem tem acesso a atendimento médico rápido, a chance de sobreviver é grande, asseguram especialistas. À frente dos avanços estão medicamentos baratos, procedimentos terapêuticos simples e, sobretudo, maior conhecimento sobre como tratar os pacientes. des e anticoagulantes, a interpretar exames em busca de marcadores de inflamação. Descobriram também como usar melhor o oxigênio, tão em falta em Manaus, e a ventilar seus pacientes.
Mas o que tem feito enorme diferença no tratamento é o atendimento e o acompanhamento diário pelo médico logo após o surgimento dos sintomas. A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo, colunista do GLOBO, diz que é preciso falar diariamente com o paciente, mesmo aquele com sintomas leves.
—Na Covid-19 a saturação de oxigênio pode despencar e a pessoa não percebe. Às vezes, são sinais sutis, como o esforço da musculatura do pescoço e da face, que o paciente nem nota, mas que dizem ao médico que aquela pessoa está com dificuldades para respirar. Nunca atendemos tanta gente com a mesma doença e sinais tão diferentes, como distúrbios de pele, intestino e articulares. Mas a atenção diária ao paciente salva vidas —afirma Dalcolmo.
A mesma opinião tem um dos primeiros médicos a atender casos de Covid-19 no Brasil, o pneumologista Carlos Alberto de Barros Franco, da Academia Nacional de Medicina. Ele garante que há condições de conduzir a maioria dos casos a um bom desfecho
— A ideia equivocada de que a Covid-19 não tem tratamento é resultado do fato de que o coronavírus pega muita gente e há muitas pessoas com comorbidades sendo infectadas ao mesmo tempo numa população grande num país como o Brasil, sem estrutura adequada — afirma o médico.
Barros Franco diz que a doença segue dividida em três fases (leve, moderada e grave), mas a compreensão e o tratamento delas mudaram. A primeira, na qual ficam 80% dos infectados, é a dos sintomas leves (febre, dor de garganta, tosse, congestão nasal, por exemplo).
Hospitalização
Os especialistas frisam que o doente de Covid-19 não deve ficar em casa, ao contrário do que se imaginava quando havia menos conhecimento. O chefe da UTI do Hospital Copa Star, Fabio Miranda, lembra que antes muitos pacientes já chegavam com a doença avançada, por vezes, irreversível.
—Hoje pedimos para a pessoa infectada medir quatro vezes por dia a saturação de oxigênio com um oxímetro de dedo. Se cair abaixo de 92% é para ir para o hospital. O contato diário com o paciente, mesmo que pelo telefone, faz com que possamos detectar sinais de agravamento e, quase sempre, evitar o pior —frisa Miranda.
Os especialistas alertam com ênfase que não existem tratamentos profiláticos ou preventivos.
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— Seria maravilhoso, mas não existem. Esqueçam cloroquina, hidroxicloroquina, zinco, vitamina D, ivermectina, anitta, nada disso provou funcionar. Mas temos outros recursos e ainda boas perspectivas. O fundamental é que o paciente tenha acompanhamento diário, mesmo que pelo telefone. Isso mudou e fez enorme diferença —salienta Barros Franco.
Se os kits Covid não passam de recurso de médicos que não sabem como tratar pacientes, a ciência mostra que cuidados simples dão bons resultados. Miranda diz que a hidratação na Covid-19 se revelou extremamente importante. Água faz mais pelo paciente do que pílulas porque a Covid-19 desidrata perigosamente, sem que a pessoa perceba.
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Uma esperança nessa fase da doença é o soro hiperimune de cavalos desenvolvido por cientistas com o apoio da Faperj, já pronto para testes em seres humanos. Se usado nos primeiros dias dos sintomas, o soro hiperimune poderia evitar o agravamento, a exemplo do que acontece com os soros contra a raiva, o tétano e as picadas de cobra.
Entre as drogas à vista estão a colchicina, um anti-inflamatório usado contra a gota. Foi testada com sucesso no Canadá para modular a resposta imunológica e impedir a chamada tempestade de citocinas, a super inflamação generalizada que leva ao agravamento da Covid-19. Ela deveria ser dada logo após o surgimento dos sintomas, mas seu uso ainda está em investigação.
Na mesma linha estão os anticorpos monoclonais, como o coquetel americano Regeneron, que o ex-presidente americano Donald Trump tomou. Esses anticorpos, específicos para o coronavírus, porém, têm contra eles a possível resistência de mutações do Sars-CoV-2 e o alto custo.
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Continua, no entanto, a não haver droga para a fase grave. O antiviral Remdesivir, aprovado nos EUA, se mostrou uma decepção. Não teve impacto importante e é muito caro, pontua Barros Franco.
Nos laboratórios, cientistas buscam um antiviral específico contra o Sars-CoV-2, que ainda não existe. Mas a chance de cura nunca foi tão grande com o bom uso de velhas drogas, como os corticoides e anticoagulantes. Os especialistas destacam, porém, que mesmo essas não podem ser usadas sem critério, pois o segredo do êxito está na dosagem e na administração no período correto. Se mal empregadas, são desastrosas.
Casos inexplicáveis
A Covid-19, frisam os especialistas, permanece sendo uma doença difícil, que provoca casos inexplicáveis. Esta semana Barros Franco atendeu um homem de 42 anos, praticante de atividade física e sem qualquer comorbidade que, no entanto, teve 100% do pulmão afetado e sofreu graves sequelas. Ninguém sabe o motivo.
— O Ministério da Saúde ter um kit Covid é uma imbecilidade. Mas não foi isso que causou o caos que vimos em Manaus nem os astronômicos números de mortos no país. A questão é a dificuldade e a desigualdade de acesso à saúde. O Brasil já tinha uma catástrofe instalada na saúde agravada pela pandemia e a contaminação política. O resultado é o que vemos — diz Barros Franco.
Quatro perigos do tratamento equivocado
Distribuídos por alguns médicos e pelo Ministério da Saúde, cloroquina, hidroxicloroquina, vermífugos, zinco, vitamina D e azitromicina são questão resolvida pela ciência: comprovadamente não têm eficácia contra Covid-19. Veja seus riscos:
- Adia cuidado devido: Os pacientes, crédulos, os tomam em vez de tomar os cuidados devidos e acabam agravando seu quadro, destaca o pneumologista Carlos Alberto Barros Franco.
- Mascaram sintomas: A pneumologista Margareth Dalcolmo adverte: essas drogas podem mascarar os sintomas da Covid-19.
- ‘Quinas’ atacam coração: Além de não funcionarem, a cloroquina e a hidroxicloroquina também podem provocar danos ao coração — um alvo do coronavírus.
- Aumento da resistência microbiana: A azitromicina é considerada um bom antibiótico. O problema é que a Covid-9 é causada por um vírus. Ou seja, ela não funciona contra ele. A pá de cal foi dada esta semana por um estudo britânico integrante da plataforma internacional Recovery (do inglês, Avaliação Randomizada das Terapias da Covid-19).
Governo deixou de cobrar R$ 242,6 bilhões em dívidas tributárias na pandemia
Como parte do pacote anticrise implementado em 2020, o governo deixou de cobrar R$ 242,6 bilhões em débitos tributários inscritos na dívida ativa da União. O objetivo foi dar fôlego a empresas e pessoas impactadas pela pandemia do novo coronavírus.
Assim como em outras medidas emergenciais, o Ministério da Economia não deu continuidade a essas suspensões em 2021 e iniciou a retomada das cobranças.
No entanto, com setores ainda impactados pela crise sanitária e a retomada de parte das políticas restritivas em capitais, empresários cobram a reedição das medidas.
Documento produzido pala PGFN (Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional) analisou os valores que deixaram de ser cobrados entre março e setembro do ano passado, por tipo de mecanismo.
“A gente suspendeu protestos, ajuizamentos de execução fiscal, encaminhamentos para órgãos de restrição a crédito. […] O rito normal de cobrança foi afetado”, disse o procurador-geral-adjunto de Gestão da Dívida Ativa da União, Cristiano Neuenschwander.
O maior impacto vem da suspensão dos chamados procedimentos de responsabilização de terceiros —quando alguém passa a ser cobrado por dívidas de uma empresa que foi dissolvida de forma irregular. Nesse caso, débitos de R$ 159,9 bilhões deixaram de ser atribuídos.
No período, também não foram feitos 781 mil protestos de dívidas em cartório. Essa conta somou R$ 45,5 bilhões.
O governo ainda suspendeu a regra que determinava a rescisão de acordos de parcelamentos tributários em casos de atraso no pagamento. Foram poupados 271 mil devedores, com débito total de R$ 20,5 bilhões.
Por fim, a PGFN deixou de pedir na Justiça a execução fiscal de 2.745 dívidas, que totalizam R$ 16,8 bilhões.
Com as medidas, o governo abriu mão de parte da arrecadação que poderia conseguir com a recuperação de débitos da dívida ativa.
Porém, isso não significa que todos esses valores retornariam aos cofres públicos se a cobrança fosse feita normalmente. Muitos dos débitos cobrados pelo governo acabam não sendo pagos, engordando a dívida ativa da União.
O presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Paulo Solmucci, afirma que o setor vive agora o momento mais delicado desde o início da pandemia. Segundo ele, os empresários ainda enfrentam dificuldades e tiveram que voltar a pagar os tributos ordinários e aqueles que haviam sido suspensos.
“Veio uma segunda onda de restrições nas cidades, as contas agora estão dobradas, o aluguel voltou a ser o que era, com reajustes pelo IGP-M. A sobrevivência está mais ameaçada agora do que já esteve antes”, disse.
Solmucci vem negociando pessoalmente com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e a equipe econômica a retomada de medidas emergenciais. Segundo ele, as suspensões de cobrança foram essenciais para a manutenção das atividades em 2020 e deveriam ser reeditadas.
“Um número enorme de empresas não está conseguindo pagar essa folha salarial de janeiro. A retomada de medidas como essas, além de aumentar a carência para pagar impostos, vai ser fundamental para manter a solvência do setor”, disse.
Em relação ao retorno dos procedimentos de cobrança, a PGFN informou que vem adotando uma abordagem gradativa, priorizando casos com constatada capacidade de pagamento do devedor ou prática de fraudes.
O órgão afirma ainda que está atento ao cenário e adotará medidas sempre que necessário, com o objetivo de assegurar receitas públicas e dar assistência a contribuintes em situação de crise econômica.
No caso da indústria, o gerente de política econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Mário Sérgio Carraro Telles, afirma que o setor vem em trajetória de recuperação expressiva depois de queda acentuada no primeiro semestre de 2020. Segundo ele, as medidas do governo deram fôlego às empresas no ano passado.
“Essas ações da PGFN e da Receita Federal foram no sentido de deixar o máximo possível de recursos nas empresas, dar a maior liquidez possível”, disse.
Telles afirma que a indústria conseguiu voltar à atividade e que grande parte das empresas já não precisa mais das medidas emergenciais, e sim de reformas estruturantes. Para ele, a retomada dessas ações pontuais pode ser mais necessária para o setor de serviços, que ainda sofre para se recuperar.
Por conta da adoção das medidas emergenciais no ano passado, a PGFN espera que um volume relevante de tributos não pagos durante a pandemia ainda sejam incorporados à dívida ativa. Como a Receita também suspendeu prazos de cobranças, os trâmites internos se alongaram.
Dos impostos adiados por alguns meses em 2020, quase R$ 21 bilhões encerraram o ano sem pagamento. Parte desse montante ainda deve chegar à dívida ativa.
“Foi um ano muito difícil, é natural que a inadimplência aumente, aumentou para todo mundo. O reflexo seria a dívida ativa também ter um aumento substancial, mas para a dívida chegar aqui na PGFN, ela passa ainda por uma cobrança na Receita que leva até 120 dias. Existe um passivo que vai chegar, principalmente esse formado na pandemia”, disse o procurador.
Entre 2019 e 2020, o montante da dívida ativa foi de R$ 2,44 trilhões para R$ 2,57 trilhões, um crescimento de R$ 130 bilhões. Ainda assim, Neuenschwander afirma que houve uma melhora de perfil, com crescimento dos débitos em situação regular porque 268 mil dívidas foram renegociadas pelos devedores e inseridas no programa de parcelamento.
Fábrica brasileira de ivermectina defende droga contra Covid após posicionamento da criadora do remédio
A Merck (MSD no Brasil), farmacêutica que desenvolveu a ivermectina, veio a público afirmar que não há dados que sustentem o uso da droga contra a Covid-19 e se mostrar preocupada com a falta de informações de segurança nos estudos sobre ela. Agora, uma empresa brasileira que fabrica o medicamento disse que há "companhas contra" o remédio geradas por interesse econômico de empresas.
"O crescimento do mercado da ivermectina, um produto de baixo custo e terapeuticamente de baixo risco, naturalmente, incomoda e pode ser o motivador de campanhas contra na mídia, especialmente provocadas por empresas que têm interesse em lançar produtos patenteados de alto custo para a mesma doença", diz, sem citar o nome Merck, a nota no site da Vitamedic Indústria Farmacêutica. O texto é assinado por Jailton Batista, diretor-superintendente da empresa.
A fábrica brasileira diz ainda que a droga, desde o início da pandemia, foi "uma das alternativas para tratamento precoce da doença" e que, por ter "baixo impacto em termos de efeitos colaterais, grande parte da comunidade médica aderiu aos protocolos de tratamento baseados em ivermectina, azitromicina, além de complexos vitamínicos, corticoides etc".
O texto afirma que estudos pelo mundo deram "mais segurança e argumentos à comunidade médica, instituições de saúde pública e privada para incluir a ivermectina nos protocolos de combate à doença".
Para citar alguns exemplos, no Brasil, a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) e a AMB (Associação Médica Brasileira) são claras ao afirmar que não existe tratamento precoce, segundo as melhores evidências científicas disponíveis.
O próprio ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, recuou no assunto recentemente e passou a afirmar que o seu ministério não indicou medicamentos para tratamento precoce —afirmação que é falsa—, mas somente a procura precoce por auxílio médico.
Também recentemente, o Ministério da Saúde apagou de seu site um texto em que afirmava que a eficácia do tratamento precoce estava confirmada.
Somente os corticoides citados conseguem ter impacto clínico positivo na doença, mas apenas deve ser usados em casos graves, com indicação médica.
Além disso, o fato de uma droga ser conhecida para tratamento de outras doenças não a isenta de riscos, ainda mais em caso de usos off label (ou seja, para os quais ela não é indicada, como é a situação da Covid).
Reportagem da Folha recente mostrou que há inúmeros relatos de efeitos adversos ligados à drogas sem eficácia comprovada contra a Covid que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o Ministério da Saúde vêm indicando.
Nesta semana, a Merck publicou um comunicado em que afirma que os cientistas da farmacêutica examinam os dados de todas as pesquisas disponíveis sobre a ivermectina contra o coronavírus, mas que as análises apontam que os estudos pré-clínicos não mostram "base científica para potencial efeito terapêutico contra a Covid-19" e não há "evidência significativa de eficácia clínica em pacientes com Covid-19".
A desenvolvedora da droga conclui que os dados disponíveis não dão suporte para segurança e eficácia da ivermectina além da dose e populações indicadas. O medicamento é indicado para uso contra parasitas.
A Merck também é conhecida por um amplo programa de doação de ivermectina para o combate a uma doença conhecida como cegueira do rio (ou oncocercose), comum em áreas tropicais e em algumas regiões na África. A doença é causada pelo nematoide Onchocerca volvulus.
Novo decreto do Estado suspende atividades de parques aquáticos em Fortaleza e Aquiraz
Em novo decreto publicado neste sábado (6), o governador Camilo Santana determinou a suspensão das atividades, até depois do carnaval, de parques aquáticos nos municípios de Fortaleza e Aquiraz. A medida foi em complemento a outras já adotadas que restringem o funcionamento de estabelecimentos não essenciais no horário noturno.
Com os casos de contaminação pela Covid-19 crescendo, o governo do Estado tem adotado medidas e, por isso, vem sofrendo pressões de setores afetados como o de bares e restaurantes por conta das limitações impostas para tentar conter o avanço dos casos.
O Estado, inclusive, prepara para o início da próxima semana, um pacote de ajuda aos setores mais afetados pela crise, que inclui também a área de eventos.
Um dos questionamentos que surgiram na última semana foi em relação ao funcionamento de parques aquáticos, em detrimento de outros setores. Com a nova regra, ficam suspensas as atividades de atrações como o Beach Park até o período pós-carnaval.
Em contrapartida, após ponderações do setor, o novo regulamento das atividades por conta da pandemia do coronavírus flexibilizou o horário dos restaurantes de hotéis e pousadas no Estado, que poderão estender um pouco o funcionamento: de segunda a sexta de 20h até 22h e nos fins de semana de 15h às 22h, desde que apenas para os hóspedes. De acordo com o decreto, os próprios estabelecimentos precisam fazer o controle de acesso ao local.
Medidas
Na segunda-feira (8), o governador Camilo Santana deve anunciar um pacote de ajuda para os setores mais afetados pela crise. Após diálogos ocorridos na última semana, é possível que uma linha de crédito seja disponibilizada além de outras medidas que estão sendo estudadas por uma equipe multidisciplinar comandada pela Casa Civil e a Secretaria de Planejamento do Estado.
Na última terça-feira (2), um decreto especial foi publicado pelo Governo do Estado estabelecendo que locais que ofereçam atividades econômicas não essenciais em Fortaleza só podem funcionar até 20h, até o dia 17 de fevereiro. A reabertura é permitida às 6h do dia seguinte.
Nos fins de semana, o setor de alimentação fora do lar - que inclui restaurantes e barracas de praia - só podem funcionar com atendimento presencial até as 15h. Após esse horário, pode operar com serviço de delivery. com inácio Aguiar do DN
Sem home office, periferia se expõe mais ao coronavírus no transporte público
06 de fevereiro de 2021 | 22h30
Antes também não era fácil. Chegava-se no trabalho cansado do trajeto longo e apertado durante uma, duas, até três horas. A pandemia trouxe o temor do contágio a esse cenário já exaustivo, em que a ventilação é insuficiente, o tempo de exposição alto e o distanciamento social impossível de praticar. O paulistano que mora na periferia pouco teve a possibilidade de aderir ao “fique em casa” e, majoritariamente dependente do transporte coletivo, enfrenta dificuldades para escapar da transmissão do coronavírus.
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Embora o isolamento social tenha reduzido em toda a São Paulo nos últimos meses, a distribuição é desigual. No caso de usuários de ônibus, por exemplo, um levantamento do laboratório de visualização urbana MedidaSP, com dados de todo 2020, mostra que linhas das zonas leste e sul estão com um número de passageiros próximo ao pré-pandemia, diferentemente da zona oeste.
Em uma linha que vai do distrito da Pedreira até a Estação Jurubatuba, da CPTM, na zona sul, a quantidade de passageiros até superou a do período anterior à pandemia. Por outro lado, um coletivo que sai da Aclimação, no centro, até Perdizes, zona oeste, está atendendo 30,6% da demanda usual.
O urbanista Bernardo Loureiro, criador do MedidaSP, lembra que o isolamento de passageiros de ônibus chegou a quase 70% no início da quarentena, mas ficou em 26% em dezembro, puxada para baixo especialmente pela periferia. Isso se torna um fator de maior destaque porque o transporte coletivo segue com redução de veículos em circulação (cerca de 88% do total em dia útil). “Se está mais ou menos a mesma quantidade de pessoas do que era antes da pandemia e a frota está menor, então vai estar mais lotado.”
É o que relata o assistente financeiro Igor Esteves de Jesus, de 28 anos, que pega ônibus, trem e metrô para ir de São Miguel Paulista, na zona leste, até o trabalho, na Avenida Faria Lima, zona oeste. “Parece que o coronavírus só não existe para quem está de home office ou tem muito dinheiro.”
Para ele, a situação é revoltante, tanto que postou imagens nas redes sociais de um vagão de trem em que os passageiros ficavam comprimidos. “O espaço em que caberia uma pessoa vai cinco. Em Itaquera, tem de entrar empurrando, não tem como se mover. Eu me sinto bem impotente, não acho justo. Não tive covid por sorte.”
Uma pesquisa de setembro da Rede Nossa São Paulo com Ibope Inteligência mostra que a população com mais de 16 anos gasta 1h56 no transporte coletivo. Por outro lado, 35% não estão se deslocando para trabalhar, 52% com rendas de mais de 5 salários mínimos.
No caso da analista contábil Mariza Santos, de 32 anos, são 2h30 do distrito de Parelheiros, no extremo sul, até as imediações do Aeroporto de Congonhas. Como “qualquer horário é horário de pico”, passa álcool em gel o tempo todo. “Chego ao trabalho e já vou lavar as mãos e trocar de máscara.”
Pós-doutoranda em Ciências Atmosféricas na USP, Milena Ponczek defende que os passageiros estejam em assentos intercalados e haja troca de ar. E ressalta: “não importa ter ‘recirculação’ de ar, janela aberta, se estiver superlotado”. Esse cenário propício à transmissão piora com o consumo de bebidas e alimento, conversas e outras ações que criam o espalhamento de aerossóis.
Poder público reconhece risco
Em materiais de conscientização, o poder público reconhece o risco de contágio no transporte coletivo nas condições atuais. No site da Câmara de São Paulo, por exemplo, uma das medidas indicadas é evitar utilizar esse meio de locomoção. Já os protocolos da Prefeitura preveem o estímulo à mobilidade a pé e com bicicleta e indicam, dentre outros pontos: evitar comer e conversar dentro do ônibus, aguardar veículo com menos passageiros e dar preferência para o uso fora dos horários de pico (especialmente idosos).
Procurada pelo Estadão, a Prefeitura disse que, nos ônibus, a oferta está acima da demanda e o ar-condicionado filtra o ar a cada 3 minutos. Ainda citou levantamento municipal de que não haveria relação do uso de transporte e o contágio da covid. Já o governo do Estado disse que o ar é trocado cerca de 22 vezes a cada hora, quando abrem as portas dos trens e dos ônibus intermunicipais da EMTU.
Lira exonera cerca de 500 funcionários comissionados da Câmara
Natália Portinari / o globo
BRASÍLIA - O novo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), assinou um ato neste fim de semana exonerando cerca de 500 funcionários comissionados da Casa. São 27% do total de cargos de natureza especial (CNE), de livre nomeação pelo presidente da Câmara.
Foram assegurados os cargos apenas daqueles nomeados pelos gabinetes das lideranças partidárias, da estrutura das comissões permanentes, das mulheres gestantes e dos funcionários que estão de férias.
De acordo com a assessoria da presidência da Câmara, “os cargos deveriam ter sido exonerados na gestão anterior. Ato regular e administrativo”. A Câmara dos Deputados tem 1.841 cargos de livre nomeação, segundo documento enviado ao GLOBO via Lei de Acesso à Informação (LAI).
No ato de Lira, há uma brecha para que o comissionado volte em até 30 dias sem apresentar nova documentação. Isso foi visto como indicativo de que Lira já antecipa recontratar boa parte dos exonerados e deve receber um “beija-mão” de deputados nos próximos dias.
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Parlamentares foram pegos de surpresa pela medida. Interpretaram as exonerações como uma forma de calibrar o poder do novo presidente. Deputados aliados ou de oposição deverão negociar para manter seus indicados nos postos.
Para Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara, trata-se de uma “questão administrativa”, corriqueira numa mudança de gestão.
— Nós precisamos identificar quem é quem. Aqueles que forem mantidos vão sendo recontratados. Não precisa nem mandar novos documentos. Substituições são naturais quando há uma mudança de gestão — diz Ramos.
As exonerações serão publicadas no Diário Oficial da Câmara dos Deputados de segunda-feira.
Os cargos comissionados foram alvo de polêmicas durante a campanha para a presidência da Câmara em janeiro. Aliados de Lira acusaram o então presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) de exonerar seus aliados.
Lira foi eleito presidente da Câmara na última segunda-feira. Na reunião de líderes, na quinta-feira, ele determinou o retorno das sessões presenciais depois do carnaval. Haverá um sistema “híbrido” para que deputados do grupo de risco não tenham que participar.
Nas próximas semanas, serão definidos os titulares das principais comissões da Câmara. A mais importante é a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), em que a indicada é a deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF). Seu nome enfrenta resistência de líderes.