Psicologia da democracia
18 de junho de 2021 | 03h00
Daniel Kahneman, psicólogo Prêmio Nobel, teoriza que nossas decisões resultam de dois sistemas mentais independentes, em diferentes regiões do cérebro: um rápido, instintivo, emocional e outro lento, lógico, calculista, racional. O sistema lento é deliberativo, objetivo, preciso, mas demorado para decisões urgentes ou de rotina. Estas acionam o sistema rápido, que compara a situação a um catálogo pessoal de experiências e se apressa a propor uma decisão. O sistema rápido atua por analogias, simplificação e generalização, procura saltar logo para conclusões e tende a produzir decisões erradas se empregado em matérias que demandam aprofundamento analítico.
Qual sistema prepondera é função da urgência de cada decisão. Quando errar é menos grave que não decidir rápido, o sistema rápido decide.
Esse método decisório bifurcado, aparentemente confuso, é responsável pelo sucesso do Homo sapiens sobre espécies humanas extintas. Espécie que passasse por longa conjectura antes de reagir cada vez que uma fera atacasse seria/foi logo extinta. Por outro lado, até onde teríamos evoluído sem a capacidade de solução de problemas complexos, que o sistema analítico lento proporciona?
As pessoas têm diferentes tendências à angústia e à ansiedade e, portanto, diferentes percepções de urgência diante de situações objetivamente iguais. Sofrem também diferentes dificuldades para aprofundar-se em reflexões analíticas, conforme seus traumas, preconceitos, paixões, frustrações e recalques, que desencadeiam o ímpeto de decidir sem a devida deliberação racional.
Entre o indivíduo puramente racional, que pouco se apoia na intuição, e o que a quase tudo reage impetuosamente, inúmeras são as possíveis reações a informações e estímulos objetivamente idênticos.
Que isso tem que ver com democracia?
O ser humano vive agrupado por instinto. Como conviver com tantas variações legítimas da realidade?
A humanidade sempre se desentendeu, especialmente em sociedades em que todas as opiniões contam. Por milênios recorremos à guerra para impor nossa forma de pensar. A civilização avançou muito em tempos recentes (a 1.ª Guerra Mundial, há um século, nasceu de uma rixa!). Aprendemos que destruir o outro não faz preponderar nossas ideias, e o custo é alto demais. Aprendemos a argumentar e persuadir, a aceitar que nossa ideia nem sempre prevalece.
Chegamos enfim à democracia moderna como o pior sistema de governo, à exceção de todos os demais, conforme Winston Churchill.
Na democracia prevalece a maioria, mas protege-se a minoria. O poder é limitado e dividido. Eleitos, o Legislativo faz as leis e o Executivo dirige o governo. Cabe ao Judiciário soar o alarme quando, à luz da lei, outro Poder viola seu mandato. A Corte Suprema, guardiã da Constituição, é time formado ao longo do tempo por diversos presidentes da República e Senados, de forma a diluir a influência dos governantes sobre esse terceiro Poder.
A democracia brasileira é jovem. Estamos ainda experimentando a liberdade de opinião dos demais. Estamos aprendendo que, por melhores que nos pareçam nossas ideias e as do governante que elegemos, elas não podem ser impostas unilateralmente, por intimidação. Precisam passar por processo de escrutínio e aprovação que exige capacidade de persuasão.
Toda democracia – não só a nossa – é bagunçada, na medida em que, por definição, muitas vozes dissonantes devem ser ouvidas.
Há garantia de que o líder com as melhores ideias e a maior capacidade de executá-las seja eleito? Não! O ser humano se especializa em suas qualidades. É provável que o candidato mais carismático e persuasivo, portanto, com maior chance de ser eleito, não tenha de fato as melhores ideias nem grande capacidade executiva. A eleição de um candidato que reúna todas essas virtudes é excepcional.
Não devemos desesperar cada vez que um governante toma decisão de que discordamos, ou refutar instituições que sustentam o delicado equilíbrio democrático. Eles ou nós, ou nós e eles podemos estar errados.
Ao aceitar que não pensamos todos igual e que não sou necessariamente quem está sempre certo, abro brecha para aceitação e tolerância da ideia alheia. Percebo que a coexistência de ideias divergentes é essencial à nossa capacidade de vier em grupo, em paz.
Menos ruim que viver em conflito é viver sob comando de líderes escolhidos democraticamente que, apesar de pouco qualificados, estão sujeitos aos freios e contrapesos que protegem de abusos também as minorias.
Essenciais são a transparência das ações do governo, a ampla liberdade de imprensa para desafiar suas decisões, o império da lei acima de tudo, a prerrogativa de discutir abertamente e a cada quatro anos reformular a composição do governo pelo voto livre. Essa conscientização nos afastará do radicalismo que se apossou dos espíritos e nos levará a rejeitar a demagogia que nos usa como massa de manobra no embate de interesses que não nos pertencem. E dará espaço para a democracia amadurecer no Brasil.
SÓCIO DE LEVY & SALOMÃO ADVOGADOS
O bicho-papão do comunismo
19 de junho de 2021 | 03h00
Trinta anos atrás, em agosto de 1991, o comunismo recebeu seu atestado de óbito, com a dissolução da União Soviética. Morreu de morte morrida, provocada pela esclerose múltipla de um sistema político e econômico dirigido por uma burocracia hipertrofiada a serviço de si mesma.
Quando a Cortina de Ferro começou a se entreabrir, o bloco soviético não resistiu à comparação com o nível de bem-estar alcançado pelos países da Europa Ocidental, onde havia mais liberdade e melhores condições materiais de vida. Gorbachev bem que tentou reformar o sistema para evitar a dissolução da União Soviética, mas já era tarde demais. Ela ruiu, assim como havia ruído o Muro de Berlim dois anos antes, marcando o fim do domínio soviético sobre o Leste Europeu.
Mesmo antes de morrer, o comunismo já não representava ameaça ao Ocidente. Com a ascensão de Gorbachev à Secretaria-Geral do Partido Comunista da União Soviética, em 1985, as relações entre a pátria do socialismo e as potências capitalistas mudou definitivamente de natureza. “I like Mr. Gorbachev. We can do business together” (eu gosto do sr. Gorbachev. Nós podemos trabalhar juntos), disse ninguém menos que a conservadora primeira-ministra do Reino Unido Margareth Thatcher, depois de se encontrar em Londres com uma delegação de representantes soviéticos chefiada por Gorbachev, então estrela ascendente no Politburo. Era dezembro de 1984. Bom lembrar que a outra pátria do comunismo, a China, já havia normalizado desde a década anterior as suas relações com os Estados Unidos.
Para quem conhece a História é espantoso que o comunismo tenha sido ressuscitado como arma política 30 anos após a sua morte. Como disse o velho Marx, em adendo a Hegel, a História acontece duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa. A ameaça comunista hoje só existe no discurso farsesco de uma extrema direita que faz da fabricação do pânico um componente central da sua estratégia política. No passado, a ideia da ameaça comunista era plausível, embora inflada para justificar golpes de Estado e regimes autoritários, em especial na América Latina. Salvo no Chile, os partidos comunistas nunca alcançaram grande expressão político-eleitoral. Pequenos grupos mais radicais, que optaram pela via armada para combater ditaduras, foram logo massacrados. Cuba foi um caso singular.
Quem representaria hoje o bicho-papão do comunismo? Faz quase 50 anos, a China deixou de exportar revolução para exportar produtos manufaturados, cada vez com maior conteúdo tecnológico. Mais confiante que nunca na sua capacidade de superar os Estados Unidos como potência econômica, busca também expandir seu poder e influência a outras partes do mundo. Sua estratégia, porém, não passa por mudar regimes políticos, muito menos por criar uma alternativa ao capitalismo, no qual aprendeu a nadar de braçada, com estilo próprio. Ela representa um desafio às democracias liberais, não uma ameaça ao capitalismo, como no passado representou a União Soviética.
Teria a Rússia assumido esse papel? Nada disso. Ex-agente da KGB, Putin é hoje um autocrata que apela à tradição cultural e religiosa da Rússia czarista e empresta apoio à ultradireita nacionalista europeia. Venezuela, um Estado falido, Cuba, que mal se aguenta nas próprias pernas? Ora, tenhamos senso do ridículo.
Diante do evidente despautério, o bolsonarismo se apropriou da ideia de que o comunismo teria reencarnado sob novas vestes: o marxismo cultural. Essa categoria está para a compreensão do mundo como a hidroxicloroquina está para a cura da covid. Serve como droga política para arregimentar fanáticos e disseminar teorias conspiratórias. Faz crer que existe uma ideologia que articula e impulsiona toda e qualquer manifestação cultural e política de questionamento a visões ultraconservadoras sobre a religião, a pátria, o Estado e a família. Junta no mesmo saco de inimigos a combater o liberal que defende a liberdade de expressão e a laicidade do Estado, as feministas que lutam pelos direitos das mulheres, o ativista do movimento LGBT, o dirigente da ONG ambiental, o intelectual “progressista”, o artista “devasso”, o libertário “maconheiro”, o jornalista da “mídia lixo” e até mesmo militares ditos “bundas-moles”.
O velho anticomunismo tinha um pé na realidade. É fato que o Komintern (a 3.ª Internacional) existiu de 1919 a 1945 e que o movimento comunista internacional continuou a ter vida nas décadas posteriores, com centro União Soviética e partidos comunistas em diversos países. É fato que Cuba treinou guerrilheiros e financiou a luta armada. Já o bicho-papão do marxismo cultural é pura fabricação mental. O que existe é uma extrema direita paranoica e obscurantista. Os sinais dela estão por toda parte: na negação da ciência, no uso da religião para fins políticos, na indiferença à morte, no desrespeito à liberdade de expressão do pensamento, do afeto e da sexualidade, no estímulo ao ódio, na linguagem chula. Ela representa o perigo real. O comunismo é um inimigo imaginário, a seu serviço.
DIRETOR-GERAL DA FUNDAÇÃO FHC, É MEMBRO DO GACINT-USP
Romeu Aldigueri comemora avanço da vacinação contra a Covid-19 no Ceará
Dep. Romeu Aldigueri ( PDT )Foto: Junior Pio
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Sérgio Aguiar informa cronograma de votação do projeto da LDO
Dep. Sérgio Aguiar ( PDT )Foto: Junior Pio
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Covid-19: casos sobem para 17,7 milhões e mortes, para 496 mil
A quantidade de pessoas infectadas pelo novo coronavírus desde o primeiro caso, em fevereiro de 2020, subiu para 17.702.630. Nas últimas 24 horas, foram registrados pelas autoridades de saúde 74.042 novos diagnósticos positivos da covid-19. O país tem ainda 1.129.143 casos ativos, em acompanhamento.
Já o total de vidas perdidas para a pandemia foi para 496.004. Entre ontem e hoje, secretarias de saúde confirmaram 2.311 novas mortes por covid-19.
Ainda há 3.758 óbitos em investigação. O termo é empregado pelas autoridades de saúde para designar casos em que um paciente morre, mas a causa segue sendo apurada mesmo após a declaração do óbito.
Os dados estão na atualização diária do Ministério da Saúde, divulgada na noite desta quinta-feira (17). O balanço é produzido a partir das informações sobre casos e mortes recolhidas pelas secretarias estaduais de saúde.
O número de pessoas que foram infectadas mas se recuperaram desde o início da pandemia alcançou 16.077.483. Isso corresponde a 90,8% do total dos infectados pelo vírus.
Os números são em geral mais baixos aos domingos e segundas-feiras em razão da menor quantidade de funcionários das equipes de saúde para realizar a alimentação dos dados. Já às terças-feiras os resultados tendem a ser maiores pelo envio dos dados acumulados.
Estados
O ranking de estados com mais mortes pela covid-19 é liderado por São Paulo (120.524). Em seguida vêm Rio de Janeiro (53.750), Minas Gerais (43.814), Rio Grande do Sul (30.163) e Paraná (29.199). Já na parte de baixo da lista, com menos vidas perdidas para a pandemia, estão Roraima (1.692), Acre (1.725), Amapá (1.790), Tocantins (3.061) e Alagoas (5.074).
Vacinação
Até o momento, foram enviadas a estados e municípios 114,2 milhões de doses de vacinas contra a covid-19. Deste total, foram aplicadas 78,2 milhões de doses, sendo 56,1 milhões da 1ª dose e 22,1 milhões da 2ª dose.
Edição: Claudia Felczak / AGÊNCIA BRASIL
Evandro Leitão lamenta mortes por Covid-19 e destaca números da vacinação no Ceará
Presidente Evandro Leitão ( PDT )Foto: Junior Pio