Mudar ou não mudar
*Fernando Gabeira, O Estado de S.Paulo
06 Outubro 2017 | 03h05
Parei algumas vezes esta semana para pensar 2018. Compreendo o pessimismo em que estamos envolvidos no momento. Mas, olhando para trás, as eleições de 2018 podem se livrar de alguns sérios problemas deste período democrático.
Temer veta ‘censura’ e beneficia cúpula partidária
Thiago Faria, Isadora Peron, Carla Araújo e Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo
06 Outubro 2017 | 21h33
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer sancionou nesta sexta-feira, 6, a reforma política aprovada pelo Congresso e, ao vetar dois pontos da legislação, beneficiou as cúpulas dos partidos e os candidatos que possuem mais recursos financeiros. Após a repercussão negativa, ele também retirou da versão final um dispositivo que poderia levar à censura na internet.
Nanicos com o pé na estrada
Antes tarde do que nunca. Desde os anos 90, fala-se sobre a necessidade de dificultar a proliferação artificial de partidos políticos. Hoje, existem no País 35 partidos registrados no TSE, mas no máximo dez deles têm vida política efetiva. O resto é legenda de fachada. Mas esse quadro finalmente vai mudar. Na quarta-feira 4, foi homologada no Congresso a exigência da chamada cláusula de barreira para a criação de partidos políticos. Até agora, bastava criar uma sigla para ter acesso ao fundo partidário, em valor que variava de R$ 1,054 milhão a R$ 98 milhões. A partir da eleição do ano que vem, para se beneficiar de dinheiro público e de tempo gratuito na TV, os partidos precisarão atingir votação mínima de 1,5% em pelo menos nove estados, percentual que subirá gradativamente até 3% em 2030. Portanto, a farra está com os dias contados.
Aberto o balcão
O retrato mais bem acabado do fisiologismo político foi escancarado nas movimentações da última semana, quando uma romaria de parlamentares – mais de 40 num único dia – participou de convescotes com o presidente Michel Temer e, de pires na mão, lançou-se à barganha, esporte predileto praticado em Brasília nos tempos recentes. Ou seja, exercitaram o toma lá, dá cá velho de guerra, marca patenteada da política brasileira.
O País da impunidade
A Operação Lava Jato é um ponto fora da curva. Pela primeira vez na história do País, autoridades e empresários poderosos foram parar atrás das grades por crimes de corrupção ativa e passiva. Empreiteiros, políticos, diretores da Petrobras não conseguiram fugir da caneta pesada do juiz Sergio Moro. Mas, a bem da verdade, nem mesmo a Lava Jato conseguiu acabar de vez com uma marca registrada do País: a impunidade. Com quatro instâncias de julgamento, pletora de recursos, lentidão do Judiciário, tudo colabora para que se escape das penas da lei. Não faltam exemplos de gente condenada, mas que está livre, leve e solta.
A rota da propina de Lobão
Alvo de inquéritos na Lava Jato, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) se notabilizou em Brasília por ser um profundo conhecedor dos atalhos do poder – e, principalmente, das benesses que a intimidade com o poder proporciona. Natural, portanto, – embora obviamente condenável -, que Lobão se servisse de tão estratégico, por assim dizer, “notório saber” em benefício pessoal. O que não é natural é o desassombro com que ele e sua turma participaram de uma trama para desviar recursos da Petrobras.