Solução para os Correios é privatizar enquanto é tempo
Por Editorial / O GLOBO
Uma das primeiras medidas de Luiz Inácio Lula da Silva ao voltar ao Planalto foi retirar os Correios da lista de privatizações. A justificativa alegada foi a opção pelo saneamento da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), de modo que pudesse ser mantida como empresa pública para cumprir sua “função social”. Diante da previsível resistência corporativa numa estatal com 85 mil funcionários, profundamente deficitária, cujos cargos são loteados politicamente, nada foi feito. A atividade postal básica — entrega diária de correspondência em todo o território nacional — não é cumprida sequer em bairros de elite do Rio.
Estima-se que neste ano a ECT terá de receber R$ 2 bilhões do Tesouro para fechar as contas. Para o ano que vem, a previsão são mais R$ 5 bilhões. Enquanto tramita mais uma rodada de mudança na cúpula da estatal, o Ministério da Fazenda se preocupa com o risco de ela se tornar “dependente do Tesouro”. Isso forçaria o governo a incluir no Orçamento da União todos os R$ 20 bilhões de custo anual, aumentando as dificuldades para cumprir metas fiscais. Para piorar o quadro, os resultados parciais de 2025 são desanimadores. No primeiro semestre, em comparação com o período no ano passado, o prejuízo mais que triplicou, de R$ 1,35 bilhão para R$ 4,37 bilhões. As perspectivas não são nada otimistas.
Com o advento da internet, uma fonte importante de receitas da ECT foi substituída por e-mails. Ao mesmo tempo, sites de comércio eletrônico e aplicativos deram origem a um mercado pujante de entrega de encomendas — em que, para competir, é preciso agilidade e atualização constante, qualidades em falta nos Correios. Em dez anos, de acordo com a Bloomberg, a participação da ECT no mercado de encomendas passou de 85% para 45%. Não há previsão de a queda estancar. Projeções mostram que as compras on-line não param de crescer, mas a estatal não demonstra fôlego para competir com startups de entrega que se multiplicam. Há intensa competição pelos contratos com varejistas e marketplaces. Nas duas pontas do comércio eletrônico, há vendedores e clientes exigentes quanto à rapidez na remessa e no recebimento da compra. Nessa corrida, a ECT tem sido derrotada.
A melhor maneira de preservar a entrega de correspondência em todo o território nacional — única “função social” razoável para justificar a existência da ECT — continua a ser a privatização. Está à disposição do Planalto a modelagem sólida que o BNDES fez para isso no governo passado. O estudo constatou que a ECT não tem como investir os R$ 2 bilhões anuais necessários para atender uma população cada vez mais ávida pelo comércio eletrônico. A proposta, acertadamente, separa o serviço postal de caráter social e universal — que precisa ser mantido — da entrega de encomendas, atividade em que devem vigorar as leis de mercado, na busca incessante por eficiência e investimentos em logística.
O erro do governo, ao recuar na privatização da ECT, obriga a mantê-la conectada ao Tesouro, consumindo recursos que poderiam ter outro destino, seja em investimentos sociais, seja no abatimento da dívida pública. A melhor alternativa é privatizá-la nos termos sugeridos pela modelagem do BNDES. Por enquanto, ainda deve haver interessados em comprar a estatal. Com a explosão dos prejuízos e o decorrente sucateamento, em breve poderá não haver mais.