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Turismo na Esplanada

União Brasil tem origem em uma série de reciclagens de partidos. Nasceu de uma fusão entre o DEM e o PSL; o primeiro era uma versão rebatizada do outrora poderoso PFL, uma dissidência do PDS, sigla que apoiava a ditadura militar; o segundo era um nanico que passou por um breve período de agigantamento ao abrigar Jair Bolsonaro, hoje no PL.

Com tal DNA, a legenda costuma ser classificada como de centro-direita ou direita, mas seria mais preciso apontar que sua plataforma é associar-se a governos em busca de cargos e verbas, aproveitar-se dos fundos públicos que financiam atividades partidárias e valer-se de emendas parlamentares ao Orçamento para favorecer seus redutos eleitorais.

Assim se entende a relutância com que o União leva adiante o propósito de romper a relação de conveniência e infidelidade que mantém com o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Foi preciso um ultimato do partido para que o ministro do Turismo, Celso Sabino, deputado licenciado pelo Pará, entregasse seu pedido de demissão na sexta-feira (26).

Ainda assim, Sabino declarou que tentará negociar a permanência no cargo com seus correligionários, cujo intento é se reposicionar na oposição a partir de uma federação com o PP —outra sigla que passou por diversas mutações desde o ancestral PDS.

Também a pasta do Turismo resulta de reciclagens políticas pouco ortodoxas. Seu formato atual remonta a 2003, na primeira administração petista, concebido com o objetivo de atrair interessados em verbas para obras e eventos paroquiais que remotamente possam ser considerados como fomento ao turismo.

Do orçamento de pouco menos de R$ 3 bilhões do ministério neste ano, mais da metade, ou R$ 1,6 bilhão, vem de emendas parlamentares individuais e coletivas.

O arranjo canhestro exemplifica a precariedade da coalizão formada por Lula. Os aliados ao centro e à direita recebem postos periféricos na Esplanada brasiliense, embora por vezes bem remunerados, e não são convidados ao centro das decisões de governo —e tampouco mostram grande alinhamento ao Executivo nas votações do Congresso Nacional.

Outros nomes podem deixar o primeiro escalão federal nos próximos dias, mas é improvável que a essência dessa configuração se altere a um ano das eleições gerais. Nem a administração petista mostra a disposição de contemplar uma agenda programática mais ampla, nem os partidos fisiológicos pretendem fazer mais do que turismo em ministérios e estatais.

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