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Lula convoca reunião e fará freio de arrumação após divergências públicas entre ministros

Por Paula Ferreira e Sérgio Roxo / O GLOBO

 

O governo petista não completou sequer uma semana, mas nomes importantes da nova administração já protagonizaram divergências públicas. Em reunião ministerial convocada para esta sexta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá fazer um freio de arrumação e pedir para que seus auxiliares só falem em nome do Executivo quando autorizados para tal, para evitar fissuras.

 

O ruído mais recente se deu entre os titulares da Casa Civil, Rui Costa (PT), e da Previdência, Carlos Lupi (PDT). Logo após tomar posse, o pedetista defendeu uma revisão da reforma da previdência feita durante o governo do ex-presidente Michel Temer, em 2019. Nesta quarta-feira, Costa o desautorizou. Negou que haja um estudo nesse sentido e afirmou que qualquer iniciativa a respeito será submetida ao ministério que ele comanda.

 

— Não tem nenhuma reforma da Previdência sendo desenhada. O presidente vai fazer uma reunião ministerial na sexta e ressaltar essas questões. Os ministros podem ter opiniões pessoais sobre vários temas. Mas uma opinião, um projeto, uma medida só passa a ser do governo quando legitimada pelo presidente da República — acrescentou Costa.

 

O ministro da Casa Civil, contudo, buscou minimizar as divergências entre integrantes do primeiro escalão e as ao justificar que estão todos "cheios de amor" para dar no início da gestão:

 

— (Não há) Crise nenhuma. É um momento normal. Ministros tomando posse, todo mundo cheio de energia, cheio de amor para dar, o entusiasmo toma conta.

 

Episódios de descompasso extrapolaram os limites da Esplanada dos Ministérios. Um deles envolveu dois homens de confiança de Lula no Legislativo. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), mandou um recado ao líder do Planalto no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que cobrou fidelidade ao União Brasil, responsável pela indicação de três ministros do atual governo. Randolfe afirmou que, com tamanho espaço na máquina federal, o partido precisa garantir pelo menos 60% de adesão de sua bancada nas votações do Congresso. Guimarães não gostou.

 

— Precisamos articular muito e falar menos para buscar construir a nova governabilidade congressual, que é a minha missão. O tempo vai definir as coisas. E nem é meu papel dar carão em ninguém — afirmou o deputado, sem citar o colega nominalmente.

 

Estilo Lula

Autoridades que já trabalharam com Lula relatam que ele costuma estimular a competição interna entre membros de suas equipes e, quando necessário, arbitrar eventuais eventuais conflitos. Neste governo, diferenças na atuação dos ministros deram origem a discursos conflitantes sobre um tema sensível, os acampamentos de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Flávio Dino (Justiça) e Múcio (Defesa) emitiram sinais opostos a respeito do tema.

Antes mesmo do o novo governo tomar posse, Flávio Dino já adotava um tom duro ao revelar que pretendia investigar atos antidemocráticos ocorridos em frente a quarteis do Exército, onde os bolsonaristas estão reunidos. Responsável pela pasta que trata de temas relacionados não apenas à Justiça, mas também à segurança pública, Dino tentava transmitir a imagem de que não toleraria investidas criminosas, sobretudo para questionar a legitimidade da vitória eleitoral de Lula.

O novo ministro da Defesa, José Múcio, ao tomar posse, classificou os acampamentos como "manifestação democrática" e disse que tem parentes entre os acampados em Pernambuco, seu estado. Ele foi escolhido ministro da Defesa com a missão de aliviar tensões e construir uma relação harmônica do governo com os militares. Seu discurso serviu como um aceno aos integrantes da caserna, que vem sendo criticados por não se posicionarem contrariamente aos atos organizados nas portas de endereços do Exército.

Em mais um caso de dessintonia, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se manifestou publicamente contra a prorrogação da isenção de impostos dos combustíveis. Dias depois, o próprio presidente da República decidiu conceder mais 60 dias de isenção para a gasolina e o etanol e mais um ano para o diesel e o GLP.

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