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Atrito histórico - ISTOÉ

Em mais uma demonstração do desgaste irrecuperável de suas relações políticas, a presidente Dilma Rousseff promoveu na terça-feira 12 o mais duro ataque público feito até hoje a seu vice-presidente, Michel Temer. Em discurso no Palácio do Planalto, Dilma chamou Temer de “golpista”, de “chefe conspirador” e de traidor. Foi a resposta dela ao vazamento, no dia anterior, de uma gravação feita pelo vice-presidente falando como se o processo de impeachment já tivesse sido aprovado. Governistas alegam que o áudio foi divulgado intencionalmente.

O conflito entre Dilma e Temer é o pior já visto entre um presidente e seu vice na história brasileira. No cargo há seis anos e líder do que era até pouco tempo atrás o maior partido da base aliada da presidente, o vice-presidente queixa-se de ter sido tratado com desprezo, que se sentia mera peça de decoração e que não privava da confiança de Dilma. Hoje é acusado de tramar sua queda.

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OPOSIÇÃO 
Acima, Dilma e Temer; abaixo o vice Aureliano Chaves e o presidente
João Figueiredo (de óculos): rompimento ao longo do mandato

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Disputas entre presidentes e vices ocorrem desde a instalação da República. As chapas em geral são formadas mais por conveniência política do que por convergência de ideias programáticas. O nome de Café Filho como vice, por exemplo, foi imposto a Getúlio Vargas, em 1950, como pagamento pelo apoio do partido do primeiro à candidatura do ex-presidente. De posições distintas, a convivência foi difícil e culminou com o rompimento dos dois. Após o suicídio do ex-presidente, em 1954, o vice assumiu. João Goulart pouco disfarçava a conturbada relação com Jânio Quadros nos sete meses em que durou o mandato do ex-presidente, em 1961, quando ocupou a vice-presidência. Em uma carta, Jango reclamou ter sido investigado pelo governo. Com a renúncia de Jânio, ele virou presidente, posto que ocupou até ser retirado no golpe de 1964. No último governo da ditadura militar, Aureliano Chaves era vice de João Figueiredo. De olho na indicação de seu partido como candidato à presidência na eleição – indireta – que se avizinhava, trocou de lado e passou a criticar o general. Não foi indicado.

Outra relação conturbada foi a de Itamar Franco e Fernando Collor de Mello. Os dois compuseram a chapa vitoriosa das primeiras eleições presidenciais diretas pós-ditadura, em 1989. Os estranhamentos, porém, eram corriqueiros. Itamar tinha temperamento forte –era mercurial, segundo pessoas próximas –, e Collor também. As divergências atingiram a temperatura máxima pouco antes do impeachment de Collor. Além de ter divulgado que teria informações que comprometiam o ex-presidente, Itamar anunciou seu plano de governo antes de Collor deixar a presidência.

Fotos: Roberto stuckert Filho; Luis Antonio/Agência O Globo 

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