Num país agitado, candidatos viáveis são poucos e rodados
Pouco antes da fase decisiva da campanha, não poderia haver teste de estresse mais desafiador para o desempenho dos presidenciáveis do que a comoção nacional provocada por caminhoneiros.
Pelo tipo da revolta —pequenos proprietários sem organização vertical a exigir ordem no país e proteção para sua renda— e pelo vasto apoio da população indisposta com o status quo, o quadro favorecia plataformas de direita e antiestablishment.
Pela primeira vez neste ciclo democrático, um candidato competitivo, Jair Bolsonaro, está sintonizado com esses sentimentos e disposto a defender aspectos da ditadura militar. O eleitor, no entanto, não se deixou abalar pela mudança do clima.
Descarregou a ira no presidente, mostrou o Datafolha, mas reservou-se o direito de pensar melhor, e no devido tempo, o quadro sucessório.
Michel Temer afinal encontrou o seu papel na eleição. Será o bode expiatório dos pecados da República, figura sacrificial que ajuda a manter alguma esperança de renovação no ritual cívico de outubro.
Curiosamente, como o desempenho de Bolsonaro no segundo turno está severamente limitado, os candidatos a renovador hoje mais prováveis são apenas três, todos com alta quilometragem na política brasileira.
Marina Silva, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin são veteranos de disputas presidenciais e conhecedores do Congresso. Já receberam e exerceram mandatos populares e lidaram com a máquina administrativa.
Talvez surja do PT a quarta chapa viável, desde que Lula da cadeia logre transferir votos ao candidato abençoado, uma hipótese que ainda está para ser comprovada.
Enquanto o petismo viaja no culto lulocêntrico, o eleitor aos poucos se esquece do ex-presidente na pesquisa espontânea e Ciro faz política de verdade na centro-esquerda e acena para siglas de centro-direita.
Em suma, a despeito da agitação na sociedade, a lista de opções viáveis ao Planalto é restrita e hostil a outsiders, vingadores e aventureiros.