Número de nanicos na disputa presidencial cairá à metade após a Copa
RIO - O cenário político incerto, as ambições pessoais e a estratégia dos partidos ainda alimentam o quadro fragmentado da disputa presidencial, que deve persistir até o começo de julho. Até lá, dirigentes partidários e concorrentes que se anunciam pré-candidatos a presidente não veem motivos para abrir mão da possibilidade de concorrer. Quando passar a Copa do Mundo, porém, ao menos seis dos atuais 13 pré-candidatos com no máximo 1% das intenções de voto nas pesquisas farão os primeiros movimentos de desistência.
Devem sair da disputa, nas próximas semanas, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), o empresário Flávio Rocha (PRB), o economista Paulo Rabello de Castro (PSC) e o ex-ministro Aldo Rebelo (SD). Outros virtuais candidatos, como Valéria Monteiro e o cirurgião plástico Dr. Rey, já estão fora da disputa, seja por decisão pessoal ou do partido.
Como as convenções partidárias neste ano só começam a partir de 20 de julho, os partidos dos quatro últimos vão manter as pré-candidaturas mesmo que eles não melhorem seu desempenho nas pesquisas. As legendas do centrão (PP, PRB, DEM, PSC, Solidariedade e PR) adotaram essa estratégia e querem caminhar juntos para uma decisão que só deve ser conhecida depois de 10 de julho, segundo o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força, um dos porta-vozes do grupo.
— Agora em junho, todos ainda vão tentar se viabilizar. Não tem por que o Aldo retirar a pré-candidatura nesse momento, com todo muito confuso. Ele está viajando o país todo. Vai continuar assim neste mês — disse Paulinho.
A estratégia do centrão, porém, tem limitações. Manter a coesão até julho é uma delas. PP e PR, que não anunciaram pré-candidatos à Presidência, são alvo de investidas de presidenciáveis como Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL). Os três estão mais bem colocados nas pesquisas e tentam formar alianças. Se essas legendas se aliarem a essas candidaturas antes de julho, a coesão sofre abalos e aí o ritmo das desistências deve aumentar.
No DEM, já há um consenso para retirar a pré-candidatura do presidente da Câmara, mas esse anúncio só será feito quando o partido fechar apoio a outra legenda. Hoje, o partido está dividido entre apoiar Alckmin ou Ciro, desde que ele concorde em conduzir sua postura mais para o centro.
— Queremos ganhar um pouco mais de tempo. No caso do Alckmin, não tem nem clima para a gente anunciar apoio agora, com a campanha dele cheia de problemas — disse uma liderança do DEM.
MEIRELLES TENTA CONVENCER MDB
Flávio Rocha e Paulo Rabello de Castro também dependem das negociações das suas legendas nas próximas semanas para ver até quando se mantêm na disputa, mas publicamente os dirigentes dizem que os dois vão até o final. O presidente do PRB, Marcos Pereira, espera que Rocha cresça nas pesquisas e atraia outros partidos de centro. Já o presidente do PSC, Pastor Everaldo, diz que uma aliança só ocorrerá com Rabello de Castro na cabeça de chapa.
Outras pré-candidaturas que também dependem do cenário político e das estratégias partidárias para se confirmarem são as de Manuela D’Ávila (PCdoB), Guilherme Afif Domingos (PSD) e Henrique Meirelles (MDB).
A situação do emedebista só deve ser definida no final de julho, às vésperas da data limite para as convenções. Se ele não for aprovado pela legenda, o MDB pensará num plano B. A avaliação de integrantes da pré-candidatura e no Palácio do Planalto é de que ele vem ganhando apoios nos diretórios estaduais do MDB, mas ainda há muita resistência interna pelo fato de Meirelles ser praticamente um desconhecido no país.
— Vamos dar um tempo para o Meirelles sentir a rua e o partido. Se até julho ele não decolar, aí a gente começa a se mexer — afirmou uma pessoa próxima ao presidente Michel Temer.
Afif, que já disputou a Presidência em 1989, quando o quadro era tão fragmentado quanto o de hoje, acredita que essa disputa será parecida. Ele deixou o comando do Sebrae na última semana e tentará convencer o PSD de que é melhor ter uma candidatura própria, o que vai contra o plano inicial do presidente da sigla, o ministro Gilberto Kassab, que trabalha para uma aliança com o PSDB.
— (Minha candidatura) é uma boa saída para o Kassab descalçar a bota do caminho errado — disse Afif.
No caso de Manuela, embora ela tenha dito, na semana passada, que sua pré-candidatura não seria um empecilho para a união da esquerda, a tendência é que ela permaneça na disputa, segundo integrantes do PCdoB. Isso porque o PT não está disposto a abrir para aliados a chapa ainda encabeçada pelo ex-presidente Lula. O PSOL também descarta abrir mão da pré-candidatura de Guilherme Boulos. O empresário João Amoêdo também não desistirá até outubro, porque é a primeira eleição presidencial do Partido Novo.
Entre as pré-candidaturas mais personalistas, a postura também é de resistência. O senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL) vai concorrer e diz querer “completar aquilo que não me foi dado o direito de fazer”. José Maria Eymael (PSDC) diz que concorrerá porque a democracia cristã lhe deu essa missão. E o deputado cabo Daciolo (Patriota-RJ) deve concorrer porque o partido quer lançar alguém à Presidência. Já Levy Fidelix (PRTB), que já concorreu diversas vezes, pode desistir em favor de Bolsonaro.