Turbinado por Bolsonaro, PL desbanca o Republicanos com o maior número de vereadores em capitais; MDB lidera no país
Por Bernardo Melloe Bernardo Yoneshigue/— Rio de Janeiro / O GLOBO
Além de mostrar força nas eleições para as prefeituras dos maiores colégios eleitorais do país, o PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, é a sigla que mais elegeu vereadores nas capitais em 2024. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o partido elegeu 96 representantes nos Legislativos desse grupo de 26 cidades. Há quatro anos, esse posto ficou com o Republicanos, que elegeu 53 vereadores na última eleição.
O PL também teve os vereadores mais votados em capitais como o Rio, com Carlos Bolsonaro; Goiânia, com Major Vitor Hugo; e Cuiabá, com Samantha Iris, mulher do candidato a prefeito Abilio Brunini (PL).
Em Belo Horizonte, o ex-assessor do deputado federal Nikolas Ferreira, Pablo Almeida se tornou o vereador mais votado da história da capital mineira. Ele somou 39.960 votos. O recorde anterior tinha sido da hoje deputada federal Duda Salabert (PDT), que obteve 37.613 em 2020.
‘Sentimento antissistema’
No quadro geral de municípios, a sigla de Bolsonaro cresceu 43,3% em relação ao pleito anterior, quando ainda não tinha o ex-presidente entre seus filiados, e elegeu 4.961 vereadores, subindo de sexto para o quinto partido com mais parlamentares. Em números absolutos, o PL foi o segundo que mais ampliou o número, com 1.500 nomes a mais.
— Isso acontece principalmente pelo sentimento antissistema, que é representado pelas candidaturas do PL, pelas pautas conservadoras e pela sigla escolher bem os nomes que são os puxadores de votos, como influenciadores, os filhos de Bolsonaro. Isso é mais importante nas capitais, porque nas outras cidades a dinâmica muda muito, tem uma dimensão local que ganha mais peso — avalia o coordenador do Observatório Político e Eleitoral da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o cientista político Josué Medeiros.
Professor de Ciência Política no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/Uerj), Bruno Schaefer destaca que a sigla teve uma votação bem distribuída por todas as regiões do país: — Uma das métricas que usamos, além de prefeituras e vereadores eleitos, é a população governada. E nesse quesito, como tem muitos vereadores em capitais, o PL foi muito bem. Isso indica uma consolidação e tendência de fortalecimento para 2026.
Segundo partido com mais vereadores eleitos em capitais, o PSD emplacou as maiores bancadas nas Câmaras do Rio e de Curitiba. Em São Paulo, apesar de o PL ter emplacado o vereador mais votado, Lucas Pavanato (mais detalhes abaixo), quem elegeu a maior bancada foi a federação PT-PCdoB-PV, com nove vereadores.
O MDB, do atual prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes, fez sete vereadores. O PSOL, do adversário de Nunes no segundo turno, Guilherme Boulos, terá uma bancada com seis representantes. No quadro geral, MDB manteve a liderança como o partido com o maior número de vereadores eleitos do Brasil. A legenda teve um desempenho 10,4% superior em relação ao pleito de 2020.
Na outra ponta do ranking nacional, o PSOL foi o que elegeu o menor número de vereadores em 2024. Com uma queda de 13% em relação a 2020, a sigla saiu de 92 para 80 parlamentares e substituiu o Novo na última posição. Na esquerda, o PT aumentou o número de vagas nas Câmaras, mas só 17,3%, chegando a 3.130 parlamentares e subindo de nona para a oitava legenda com mais vereadores. Entre as capitais, emplacou apenas 61 nomes, atrás de PL, PSD, PP, MDB, União Brasil e Republicanos.
— O PT e o PSB tiveram um crescimento tímido no número de vereadores, enquanto o PDT, PCdoB e o PSOL diminuíram. No geral a esquerda ficou um pouco semelhante a 2020. É um cenário complicado porque você tem a Presidência da República, então era esperado um crescimento mais significativo. Isso me parece uma tendência desde 2016 nas eleições locais que é um predomínio da direita — avalia Schaefer
O Novo teve o crescimento mais expressivo, com um salto de 806,9% no número de cadeiras, embora tenha permanecido entre as dez siglas com pior desempenho, elegendo apenas 263 nomes. Já a queda mais acentuada foi o Cidadania, que saiu de 1.584 parlamentares para 437, uma diminuição de 72,4%.