Dificuldade no interior, desempenho fraco do PSD e crescimento de partidos rivais: os obstáculos a Paes para 2026
Por Bernardo Mello e Caio Sartori— Rio de Janeiro / O GLOBO
Apesar do resultado confortável que o levou a vencer a eleição carioca com 60% dos votos válidos, o prefeito Eduardo Paes precisará enfrentar um território bem menos acessível se decidir construir a candidatura ao governo do estado em 2026. Além de o PSD ter feito apenas outros dois prefeitos nos 92 municípios, os partidos que saíram mais fortes das urnas fluminenses não integravam a aliança de Paes na capital. Os caciques dessas siglas, por outro lado, também têm projetos políticos próprios e até atritos entre si, o que embola o cenário.
Mesmo com quase 40% do eleitorado de todo o estado concentrado na capital, nunca um prefeito do Rio conseguiu usar a cadeira como trampolim para se eleger governador. No domingo, o PSD não elegeu prefeitos na Baixada Fluminense e na Região Metropolitana, que também concentram grandes colégios eleitorais — hoje sob o comando de partidos como PL, PP, União Brasil e MDB. Nenhuma dessas siglas apoiou Paes na campanha deste ano.
O PL de Jair Bolsonaro e do governador Cláudio Castro conquistou 22 cidades e encabeça a lista no estado. Os três que vêm na sequência são justamente o PP (16), o União (12) e o MDB (9).
O PSD de Paes venceu apenas em Porciúncula e Carmo, dois dos menores colégios eleitorais do estado. Dos partidos da coligação de Paes, o Solidariedade, com nove prefeituras, foi o que teve o melhor desempenho, mas também em cidades menores. O PT, além de Maricá, vai comandar Japeri e Paracambi. Outras siglas aliadas de Paes, como Podemos, PRD e Agir, elegeram um prefeito cada.
Comandante do PP, o deputado federal Dr. Luizinho conseguiu, além de aumentar a capilaridade do partido, eleger prefeitos em colégios eleitorais importantes. Nas 11 cidades com mais de 200 mil eleitores, o PP venceu em quatro e tem chances de vitória numa quinta, Petrópolis, que terá segundo turno. Luizinho manteve o PP em seu próprio reduto e quarto maior eleitorado do estado, Nova Iguaçu.
O partido filiou ainda três prefeitos reeleitos, em Magé, Volta Redonda e Campos dos Goytacazes. No município do Norte Fluminense, a recondução de Wladimir Garotinho representou uma derrota do presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Rodrigo Bacellar (União). Comandante do partido no estado, Bacellar aspira à cadeira de governador e tem Campos como reduto.
PP quer conversar
Ex-secretário estadual de Saúde e também cotado como sucessor de Castro, Luizinho se diz aberto a construir um projeto comum com outras forças políticas do estado, incluindo Paes — com quem o governador acumulou atritos no processo eleitoral deste ano. — O PP quer trabalhar para ajudar a construir o futuro do estado com os outros partidos, todo mundo conversando, e isso inclui atores como o Washington (Reis, do MDB), o Altineu (Côrtes, do PL), o governador e o próprio Eduardo (Paes) — aponta.
Fora da lista de Dr. Luizinho, Bacellar teve arestas com outros caciques estaduais neste processo eleitoral, no qual a vitória mais relevante do União Brasil ocorreu em Belford Roxo, com Márcio Canella.
Em Duque de Caxias, o presidente da Alerj lançou Celso do Alba (União), ex-aliado de Washington Reis, que chegou a ser visto como um nome que poderia atrapalhar a candidatura do MDB. Reis, no entanto, conseguiu eleger o sobrinho, Netinho, em primeiro turno. Já na capital, além do desempenho pífio nas urnas, o candidato de Bacellar à prefeitura, Rodrigo Amorim (União), protagonizou na Alerj ataques a aliados de Castro. Amorim participou da campanha como linha auxiliar do bolsonarista Alexandre Ramagem (PL).
Presidente estadual do PL, o deputado Altineu Côrtes avalia que o crescimento da sigla em número de prefeituras foi uma vitória da centro-direita. Apesar de derrotas, candidatos bolsonaristas, como Ramagem e Renato Araújo (PL), em Angra dos Reis, tiveram votações expressivas. Aliados de Altineu, os prefeitos de São Gonçalo, Capitão Nelson, e de Itaboraí, Marcelo Delaroli, foram reeleitos com grandes vantagens, e o PL formou com Saquarema e Tanguá um cinturão de prefeituras isolando o principal reduto petista, Maricá — e disputará o segundo turno em Niterói, contra o PDT. Castro ainda participou de campanhas de prefeitos reeleitos em Cabo Frio, Barra Mansa e Resende, nem todos do PL.
— Junto com nossos aliados, como PP, MDB e até o próprio União, essa base do governador elegeu a grande maioria dos prefeitos. Vamos ter o momento da autocrítica para ver o que é possível melhorar antes de 2026, mas a centro-direita saiu forte — diz Altineu.
No MDB, enquanto Washington Reis se alinhou ao bolsonarismo, o primeiro da fila a tentar a sucessão de Castro é o vice-governador Thiago Pampolha. Rompido com Castro, ele foi cortejado por Paes na campanha, mas a aliança do prefeito com o presidente Lula (PT) dificulta a aproximação eleitoral com o MDB. Reis é o presidente estadual. Interlocutores dizem que, além do MDB, o PP é outra sigla que Paes pode tentar atrair na montagem do secretariado da nova gestão, já de olho em alianças para 2026 — embora ele negue querer disputar o estado.