Lula e Bolsonaro aumentam ataques em programa na TV a duas semanas da eleição
Por Rafael Galdo / O GLOBO
Sob cenário inalterado das pesquisas e a apenas duas semanas das eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) vêm intensificando a agressividade dos ataques em seus programas de rádio e TV para tentar alcançar seus objetivos de 2 de outubro. O petista tenta assim resolver a disputa já no primeiro turno, enquanto a meta do titular do Palácio do Planalto é ao menos reduzir a vantagem do rival.
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Nas propagandas, os dois trocam acusações de corrupção. Lula ainda recorre a um tom emotivo para tachar o atual presidente de “desumano na pandemia” e “desastre na economia”. Já o candidato à reeleição tem centrado fogo nas denúncias que levaram o ex-presidente à prisão, em 2018. Sua propaganda diz que o petista mente sobre sua inocência e resgata imagens antigas de Geraldo Alckmin (PSB) atribuindo a “roubalheira” no país a Lula, que hoje encabeça sua chapa ao Palácio do Planalto.
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A ofensiva de ambos mira votos ainda não cristalizados da chamada terceira via, que não decolou nas pesquisas. Segundo o levantamento mais recente do Datafolha, divulgado anteontem, 86% dos eleitores de Lula e 83% dos de Bolsonaro estão decididos em quem apoiar nas urnas. Porém, mais da metade (54%) dos que pretendem optar por Ciro Gomes (PDT) ou por Simone Tebet (MDB) reconhecem que a escolha não está totalmente fechada.
Tema de 2018
Nesse panorama, a guerra de narrativas sobre a corrupção traz o tema, tão caro ao pleito de 2018, de volta ao olho do furacão. Em um de seus programas desta semana, a campanha de Lula questiona a frequente defesa de Bolsonaro de que seu governo é ilibado. “Como ele explica decretar sigilo de cem anos em diversos escândalos do seu governo? Como ele explica o caso das rachadinhas? E como ele explica que sua família comprou 51 imóveis pagando em dinheiro vivo?”, pergunta a narração.
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Em outra inserção, afirma-se que há quatro anos a atual gestão não aumenta os recursos para a merenda. “Já para o orçamento secreto, Bolsonaro liberou mais de R$ 5 bilhões”, conclui o narrador. Nas duas propagandas, porém, não é Lula quem aparece proferindo as agressões, cabendo a ele momentos em que o foco é a esperança para o futuro.
O programa bolsonarista mais recente, por sua vez, é dedicado integralmente à desconstrução da imagem do petista. Abre com a apresentadora pedindo licença para “dizer a verdade”. Após uma sequência de trechos de telejornais noticiando a condenação e a prisão de Lula e de delações como a do ex-ministro Antonio Palocci, surge o petista no debate presidencial do fim de agosto: com imagens postas em preto e branco, o candidato afirma que foi “julgado” e “considerado inocente”. Em seguida, aparecem cenas do ex-presidente a caminho da cadeia, e o narrador afirma que “a pior e maior mentira dessa eleição é dizer que Lula foi inocentado”.
Com partes de entrevistas e uma animação, o programa lembra que o petista teve condenações anuladas, mas que não houve uma “absolvição” (julgamento do mérito). A apresentadora volta à tela para dizer que “Lula está mentindo”. São dois minutos e 42 segundos de vídeo, sem que o presidente Bolsonaro apareça uma única vez.
Com as hostilidades turbinadas, os dois lados também incluem os parentes dos candidatos no ringue. Ao citar as denúncias de que os Bolsonaro teriam pagado imóveis com R$ 26 milhões em dinheiro vivo, a campanha de Lula diz na TV que é “escândalo tamanho família”. Uma inserção desta semana de Bolsonaro responde anunciando “a família de espertalhões e seus comparsas”, com a reprodução de um diagrama que mostraria o suposto envolvimento de familiares do ex-presidente na ocultação de patrimônio e dinheiro ilegal.
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Alckmin é um terceiro elemento no meio desse tiroteio. Num spot, a propaganda bolsonarista usa peças gravadas em 2018 pelo agora vice de Lula. Na época, ele concorria à presidência pelo PSDB e, em vídeo, associava o petista à “corrupção e roubalheira”. Alckmin respondeu em uma nova inserção de rádio e TV. Diz que as falas antigas são usadas “para confundir o povo”, e que na época foi “iludido” pelos julgamentos da Lava-Jato. Depois, revida: “agora é a família Bolsonaro que precisa explicar ao povo a compra de 51 imóveis com dinheiro vivo”.
As investidas de Lula contra o adversário, porém, não são monotemáticas, e trazem mais assuntos que podem mover os eleitores indecisos. Economia é tratada como um calcanhar de aquiles do governo, que a propaganda culpa pela volta da fome e da inflação. Um dos spots chama Bolsonaro de “ruim de serviço”. E emenda que ele foi um presidente “desumano na pandemia”. A condução da crise sanitária da Covid-19, aliás, é a aposta de um programa da semana passada. São reproduzidos áudios do presidente ao longo da emergência, com frases como “eu não sou coveiro”, e “uma gripezinha ou um resfriadinho” ressoando uma atrás da outra. Lula aparece dizendo que “o atual presidente debochou da Covid, fez pouco caso dos mortos”.
Ecos do datafolha
Em meio à contenda mais ríspida dos últimos dias, o resultado do último Datafolha também pode contribuir para nortear estas duas últimas semanas antes do primeiro turno. A melhora do desempenho de Lula entre evangélicos animou a campanha petista, e estrategistas apostam que o crescimento entre esses eleitores na reta final da campanha não poderá ser estancada, a menos que haja uma bala de prata da campanha adversária.
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— É importante manter atividades massivas de rua para conquista política e discussão de valores com esse público — afirma o pastor Luiz Sabanay, à frente do comitê nacional evangélico do PT.
Enquanto isso, do lado governista, integrantes da campanha de Bolsonaro mais uma vez a minimizaram os dados do Datafolha. Aliados afirmam que as pesquisas internas da campanha mostram um desempenho melhor do presidente no Sudeste. A ordem é reforçar o foco nessa região.
Diferentes estilos para desconstruir o rival
‘React’ do povo
Bolsonaro utiliza reações da população em relação a Lula. Em inserção sobre medo da violência, um vídeo do petista criticando abusos da polícia contra adolescentes que cometem assaltos é mostrado a eleitores. É semelhante a um react de redes sociais como o YouTube, em que as pessoas expressam sua opinião após assistir às imagens.
Carga emotiva
As propagandas de Lula recorrem à emoção. Num spot contrário à política armamentista, um pai que teve o filho baleado diz que “quem é ser humano sente” a mesma dor que ele. Um programa que focou na pandemia tem depoimento de uma mulher que viu amigos morrerem de Covid. E a inserção que chama o presidente de “desumano na pandemia” tem imagens das covas coletivas abertas em Manaus em 2020.
Reproduções da grande mídia
Embora parte dos bolsonaristas sejam críticos da mídia tradicional, a campanha do presidente da República lança mão de imagens de telejornais, capas de revistas e manchetes de jornais para construir narrativa de ataque a Lula. Uma das propagandas diz: “Esses fatos foram narrados pela imprensa, sem nenhum tipo de manipulação”.
Blocos distintos
As propagandas petistas que miram em Bolsonaro são divididas em espécies de blocos. São contrapostos momentos de ataque e outros que se sublinham esperança ou feitos do passado.