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Fado tropical

O Brasil é especialista em se dedicar às pautas erradas. Qual o nosso mais relevante problema a ser resolvido? A pobreza que marginaliza milhões, juntamente com suas causas. Essa provavelmente seria a resposta de dez entre dez economistas, da direita, passando pelo centro e indo até a esquerda.

Mas esse debate está longe de ser o central, mesmo que o atual comando do Governo Federal venha, a seu modo, insistindo na pauta econômica e nas reformas que, pela visão da equipe econômica, são partes dos meios para se chegar ao desejado e inclusivo crescimento econômico.

Li na versão brasileira do espanhol El País entrevista com o economista Gustavo Franco. “Não deveríamos estar perdendo tanto tempo com os debates de esquerda e direita no plano da economia. Eles existem nos planos dos costumes, da política identitária. Na economia não, as coisas estão mais assentadas no consenso internacional. Não há muito o que inventar e, quando inventa, dá errado”.

Precisamente, é esse o ponto. Há uma linha a se seguir na economia, que deveria ser a pauta central. As outras, no plano dos costumes, que geram conflitos até entre amigos, fez parte do que os norte-americanos resumem em um termo: direitos civis. Quanto a isso, não há e jamais haverá consensos.

Dois relatórios do Banco Mundial tiveram o Brasil como tema. O primeiro foi em novembro. Encomendado ainda por Dilma Rousseff, o trabalho intitulado “Um ajuste justo” já causou muita polêmica com o seu principal achado: Alguns programas governamentais beneficiam os ricos mais do que os pobres, além de não atingir de forma eficaz seus objetivos”.

Em resumo, o documento apontava o que já se sabia: o Brasil gasta muito em programas sociais, mas gasta muito mal. Investe-se em políticas públicas que primam pela ineficiência, incluindo na educação e saúde. Ou seja, não atingem seus objetivos primordiais. Outro ponto: do jeito que está, a conta da Previdência Social é impagável.

O Banco Mundial divulgado nessa semana outro documento. Foi manchete em vários jornais. Com uma ou outra variação, praticamente todas disseram algo nessa linha: “Abertura comercial tiraria 6 milhões de brasileiros da pobreza, diz Banco Mundial”. O tema ficou um ou dois dias nas manchetes. Gerou alguns artigos e ficou restrito a plateias mais técnicas.

Em resumo, o relatório disse o seguinte: em torno de seis milhões de brasileiros sairiam da linha da pobreza se o País abrisse a sua economia e, na sequência, disparasse um processo de ganho de produtividade nas empresas e nos trabalhadores. O PIB poderia ter um incremento de 1% e seriam abertas aproximadamente 400.000 novas vagas de trabalho.

Ainda do meio da semana, um artigo do Financial Times, com o sugestivo título “A economia brasileira: de zumbi para walking dead”, levantou a discussão que tem forte relação com os dois relatórios do Banco Mundial, com o texto do FT e ainda com um documento da OCDE acerca do potencial de nossa economia.

O artigo do FT discorre acerca das pestes nacionais já bem conhecidas: “O altíssimo custo de se produzir no País, o patético isolamento comercial, os descalabros das contas públicas, as horas e horas perdidas na preparação de declarações de imposto renda” (numa tradução da economista Mônica de Bolle).

“Produtividade” é o termo que permeia o relatório do Banco Mundial. Há lá algo assustador: “Se a produtividade evoluísse agora no mesmo ritmo visto nos anos 1960 e 1970, o Brasil poderia crescer 4,5% ao ano”. Percebem? Somos menos produtivos que há 40 anos. É a mais absoluta contramão do que ocorreu na economia mundial.

Todos os textos, análises e relatórios desaguam no mesmo mar: perdemos muito tempo com o que não é fundamental e deixamos de resolver as questões que realmente são capazes de tirar o País do atoleiro de uma forma mais definitiva e incluindo milhões na civilidade do capitalismo. Sim, este mesmo capitalismo que todos adoramos visitar em nossas viagens. Não é mesmo?

Pois é. Estamos assim. Uma vez ouvi de um empresário português a seguinte sentença: “Vocês do Brasil é que são felizes! ”. Surpreso, não entendi bem a questão e perguntei o motivo. Resposta: “Ora, nós já fizemos tudo aqui. Vocês ainda têm tudo a fazer por lá”.

Bom, não deixa de ser estimulante, mas eu preferia que já fôssemos um grande Portugal.

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