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Combate ao crime caro e ineficaz

Por Notas & Informações / O ESTADÃO DE SP

 

Duas importantes instituições multilaterais, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgaram recentemente relatórios sobre o impacto econômico do crime nos países latino-americanos. De acordo com a publicação Os custos do crime e da violência: Ampliação e atualização de estimativas para a América Latina e o Caribe, do BID, o custo direto dos delitos respondeu por 3,44% do PIB da região em 2022, ou 12 vezes mais que o orçamento para pesquisa e desenvolvimento. E a região, apesar de concentrar apenas 8% da população mundial, representa um terço dos homicídios cometidos no mundo, segundo o relatório Crime Violento e Insegurança na América Latina e Caribe, do FMI.

 

Ao estimar a fatia do PIB regional relacionada ao crime, o BID considerou fatores como perda de capital humano por homicídios, gastos de empresas com segurança e o gasto público com a prevenção de delitos, entre outros. De um modo geral, os dados são agregados para a região como um todo, mas, nas poucas vezes em que há dados específicos por país, a tragédia brasileira aparece escancarada.

 

Ao lado de Bahamas, Honduras, Jamaica e Trinidad e Tobago, o Brasil figura entre os países com maior custo de capital humano em 2022; as perdas de capital humano por homicídios em nosso país equivaleram a 1% do PIB naquele ano. Não é exatamente surpreendente, já que o Brasil é um dos países com taxas de homicídios entre as mais elevadas do mundo, mortes essas que, na maioria das vezes, acabam sem esclarecimento. Como revelou um levantamento do Instituto Sou da Paz, apenas quatro de cada dez homicídios no País são solucionados, uma taxa de resolução inferior à média mundial.

 

O presidente do BID, Ilan Goldfajn, destacou que o estudo mostra o quanto o crime “limita o crescimento, leva à desigualdade e desvia investimentos públicos e privados” para outras áreas. Se não tivessem de gastar tanto no combate à violência e à criminalidade – o dobro do orçamento com assistência social –, os países da região poderiam investir mais em educação, cada vez mais necessária em uma era de grandes transformações tecnológicas. Mas o pior é que os elevados níveis de violência na região deixam claro que tais investimentos não têm sido bem-sucedidos.

 

Países que convivem com a alta da inflação, com o Brasil, também precisam redobrar os esforços para debelá-la, não apenas porque o avanço dos preços corrói o poder de compra dos cidadãos, mas porque, segundo o FMI, quando a inflação supera os 10% em um ano, há um crescimento de 10% nas taxas de homicídios, em média, no ano seguinte. Eventos macroeconômicos adversos, como recessões, elevam os índices de homicídios em 6%, em média.

 

Todos esses números deveriam guiar a elaboração de políticas públicas efetivas, que passam ainda pela necessidade de cooperação mais estreita entre os governos dos países da região – cooperação esta que já existe entre as organizações criminosas latino-americanas.

Nos últimos anos, esses grupos passaram a racionalizar suas operações, atuando de forma cada vez mais “profissional”. Antes concorrentes, organizações criminosas agora são parceiras. Algumas fornecem as mercadorias, de drogas a minérios e madeira extraídos de forma ilegal da Amazônia, enquanto outras se encarregam da logística, fazendo com que as “encomendas” cheguem aos destinatários na Europa e nos Estados Unidos.

 

Sem cooperação efetiva dos departamentos de segurança dos países da região, troca de informações e reforço da vigilância em áreas fronteiriças, entre outras ações, o crime seguirá prosperando, enquanto os governos patinam e a população perece.

 

No estágio atual, a prevalência do crime na América Latina faz com que habitantes de regiões dominadas pela criminalidade ou mudem-se para áreas mais seguras, mesmo que isso signifique perda de renda, ou tornem-se presas fáceis das organizações criminosas. Em ambos os casos, perde-se capital humano, o que diz muito sobre o ciclo de desenvolvimento incompleto da região.

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