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Controle de gastos é essencial para conter alta de juros

Por Editorial / O GLOBO

 

Os sinais de força da economia, o aquecimento do mercado de trabalho e o crescimento das projeções de inflação justificam a decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), de aumentar a taxa básica de juros, a Selic, para 11,25%. Na reunião anterior, em setembro, a taxa subiu um quarto de ponto percentual. Ao acelerar o ritmo para meio ponto, o Copom mostra estar pronto para seguir aumentando a Selic até controlar a alta de preços. O cenário internacional, que sempre exige atenção, ficou mais desafiador com a eleição de Donald Trump. Diante da dinâmica inflacionária e do quadro externo, os rumos da política fiscal farão enorme diferença. A magnitude do aperto monetário será maior ou menor, a depender da seriedade do governo no programa de controle de despesas esperado com ansiedade pelo mercado.

 

Por decisão do Conselho Monetário Nacional, a meta de inflação perseguida pelo Copom é 3%, com intervalo de tolerância até 4,5%. Do início de outubro para cá, as previsões para 2024, 2025 e 2026 subiram. A projeção atual para este ano está em 4,59%, para o próximo em 4,03% e para o seguinte em 3,61%. A inflação acumulada em 12 meses, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou outubro em 4,47%, segundo a prévia do IBGE. Em nota, os próprios integrantes do Copom reconheceram que suas previsões se deterioraram. Por isso era hora de ação, algo que a maioria dos analistas já esperava.

 

Na nota divulgada pelo Copom, não há nenhuma orientação sobre altas futuras. Foi um sinal de cautela para evitar volatilidade no mercado. Num ambiente cheio de incertezas, o Copom dá a entender que adotará as decisões necessárias para manter a inflação dentro da meta, mas acompanhará o desenrolar dos fatos. Uma das dúvidas está na implantação das promessas de campanha de Trump. Ele pretende elevar tarifas de importação, medida com potencial de pressionar a inflação americana para cima e exigir juros mais altos por lá. Por mudar o fluxo de capitais, a política monetária da maior economia do mundo repercute em todo o planeta. Outra fonte de preocupação é o câmbio, com os efeitos inflacionários de uma possível valorização do dólar.

 

Outra dúvida diz respeito ao equilíbrio fiscal. Como em reuniões anteriores, o Copom reafirmou nesta semana que uma política fiscal “crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida” terá impacto positivo na política monetária. A “apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal” contribuem para a “ancoragem das expectativas de inflação”, diz a nota. Ao gastar mais que arrecada, o governo injeta dinheiro na economia, pressiona para cima a demanda por produtos e serviços e alimenta a alta de preços. Uma política fiscal responsável daria mais eficácia às medidas do Copom, tornando desnecessários aumentos maiores de juros. De quebra, diminuiria a percepção de risco associada ao crescimento da dívida pública. Ainda é incerto o grau de comprometimento do governo Lula com o equilíbrio das contas públicas. Mais uma razão para acelerar o programa de controle de gastos.

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