CPI da Covid: inquérito ou palanque?
Catarina Rochamonte
Doutora em filosofia, autora do livro 'Um olhar liberal conservador sobre os dias atuais' e presidente do Instituto Liberal do Nordeste (ILIN).
O senador Tasso Jereissati afirmou que a CPI da Covid pode ser "a mais importante da história recente". Pode ser também a mais desastrosa, caso seja usada para fins político-eleitoreiros, transformada em palco de vaidades e interesses escusos.
Já houve CPIs exitosas, mas também houve as que se prestaram ao lamentável papel da chantagem e da politicagem e não deram em nada. Conduzida com responsabilidade, essa CPI cumprirá papel importantíssimo, pois é urgente —e já atrasado— investigar e responsabilizar as autoridades do governo central --e seus conexos nos estados e municípios-- que, por ação ou omissão, concorreram --ou ainda concorrem-- para o alastramento de uma pandemia que já ceifou cerca de 400 mil vidas.
As ações ou inações funestas no âmbito do Ministério da Saúde e os crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente da República não podem ficar impunes, nem impune deve ficar o desvio de verbas destinadas ao combate da Covid em alguns estados e municípios.
Não tem como não chamar à responsabilidade quem está à frente de uma nação que falhou terrivelmente no combate à pandemia; por outro lado, resta patente que alguns governadores e prefeitos tomaram medidas erráticas, enquanto outros estão se aproveitando da desgraça coletiva para fazer palanque eleitoral.
A CPI precisa ganhar legitimidade perante a sociedade; tarefa difícil se realmente conceder sua relatoria ao senador Renan Calheiros --que já esteve envolvido em vários escândalos e foi réu por corrupção-- e sua presidência ao senador Omar Aziz --que já foi alvo de operação da Polícia Federal por desvio de dinheiro da área da saúde quando era governador do Amazonas.
Mas a composição da CPI não é de todo ruim. Se há governistas que, como o escudeiro Ciro Nogueira, tentarão blindar o presidente Bolsonaro, também há os senadores independentes que não estão comprometidos nem com o governo nem com uma linha de oposição irresponsável. FOLHA DE SP
A hora do jornalismo propositivo
19 de abril de 2021 | 03h00
A sociedade está cansada do clima de militância que tomou conta da agenda pública. Sobra opinião e falta informação. Os leitores estão perdidos num cipoal de afirmações categóricas e pouco fundamentadas, declarações de “especialistas” e uma overdose de colunismo. Um denominador comum marca o achismo que invadiu o espaço outrora destinado à informação qualificada: radicalização e politização.
O jornalismo reclama alguns valores essenciais: amor pela verdade, paixão pela liberdade e uma imensa capacidade de sonhar e de inovar. Eles resumem boa parte da nossa missão e do fascínio do nosso ofício. Hoje, mais que nunca, numa sociedade polarizada e intolerante, precisam ser resgatados e promovidos.
A democracia reclama um jornalismo vigoroso e independente. Comprometido com a verdade possível. O jornalismo de qualidade exige cobrir os fatos. Não as nossas percepções subjetivas. Analisar e explicar a realidade. Não as nossas preferências, as simpatias que absolvem ou as antipatias que condenam. Isso faz toda a diferença e é serviço à sociedade.
As redes sociais e o jornalismo cidadão têm contribuído de forma singular para o processo comunicativo e propiciado novas formas de participação, de construção da esfera pública, de mobilização da sociedade. Suscitam debates, geram polêmicas (algumas com forte radicalização) e exercem pressão. Mas as notícias que realmente importam, isto é, as que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não de boatos ou meias-verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, mas resultam de um trabalho investigativo feito dentro de padrões de qualidade, algo que deve estar na essência dos bons jornais.
Sem jornais a democracia não funciona. O jornalismo não é antinada. Mas também não é neutro. É um espaço de contraponto. Seu compromisso não está vinculado aos ventos passageiros da política e dos partidarismos. Sua agenda é, ou deveria ser, determinada por valores perenes: liberdade, dignidade humana, respeito às minorias, promoção da livre-iniciativa, abertura ao contraditório. O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima. A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia.
Jornalismo independente reclama liberdade. Não temos dono. Nosso compromisso é com a verdade e com o leitor. Mas a reinvenção do jornalismo passa por uma imensa capacidade de sonhar. É preciso vencer comportamentos burocráticos, reconhecer a nossa crise e tratar de virar o jogo. O fenômeno da desintermediação dos meios tradicionais, por exemplo, teve precedentes que poderiam ter sido evitados, não fosse o distanciamento da imprensa dos seus leitores, sua dificuldade de entender o alcance das novas formas de consumo digital da informação e, em alguns casos, sua falta de isenção informativa e certa dose de intolerância.
Os leitores, com razão, manifestam cansaço com o tom sombrio das nossas coberturas. É possível denunciar mazelas com um olhar propositivo. Pensemos, por exemplo, na ignominiosa situação do saneamento básico. É preciso reverter um quadro que agride a dignidade humana, envergonha o Brasil e torna inviável o futuro de gerações. Não seria uma bela bandeira, uma excelente causa a ser abraçada pela imprensa? Em vez de ficarmos reféns do diz que diz, do blá-blá-blá inconsistente do teatro político, das intrigas e da espuma que brota nos corredores de Brasília, que não são rigorosamente notícia, mergulhemos de cabeça em pautas que, de fato, ajudem a construir um País que não pode continuar olhando pelo retrovisor.
Não podemos viver de costas para a sociedade real. Isso não significa ficar refém do pensamento da maioria. Mas o jornalismo, observador atento do cotidiano, não pode desconhecer e, mais que isso, confrontar permanentemente o sentir das suas audiências. A verdade, limpa e pura, é que frequentemente a população tem valores diferentes dos nossos.
A internet, o Facebook, o Twitter e todas as ferramentas que as tecnologias digitais despejam a cada momento sobre o universo das comunicações transformaram a política e mudaram o jornalismo. Queiramos ou não. Precisamos fazer a autocrítica sobre o nosso modo de operar. Não bastam medidas paliativas. É hora de dinamitar antigos processos e modelos mentais. A crise é grave. Mas a oportunidade pode ser imensa.
A violência, a corrupção, a incompetência e a mentira estão aí. E devem ser denunciadas. Não se trata, por óbvio, de esconder a realidade. Mas também é preciso dar o outro lado, o lado do bem. Não devemos ocultar as trevas. Mas temos o dever de mostrar as luzes que brilham no fim do túnel. A boa notícia também é informação. A análise objetiva e profunda, sem viés ideológico, é uma demanda dos leitores. E, além disso, é uma resposta ética e editorial aos que pretendem tornar o jornalismo refém da fácil cultura do negativismo.
Chegou a hora do jornalismo propositivo. Aquele que não se limita a mostrar os problemas, mas vai além: aponta alternativas e soluções.
JORNALISTA. E-MAIL: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
CNJ quer saber por que homem ficou quase 16 anos preso sem processo criminal
O Conselho Nacional de Justiça encaminhou pedido de informações ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJ-CE) para que se pronuncie sobre o caso do jardineiro Cícero José de Melo, que passou quase 16 anos em uma unidade prisional do estado apesar de não responder a nenhum processo criminal.
O Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (DMF/CNJ) encaminhou ofício ao supervisor do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do Ceará, desembargador Henrique Jorge Holanda Silveira, para que preste esclarecimentos sobre o caso. A justiça cearense tem 72 horas para responder ao Conselho.
Entre os pedidos feitos pelo CNJ está a lista completa com nome, data da prisão e motivo do encarceramento de todos os presos daquele estado, onde já foram encontradas — em avaliações anteriores — situações de violência institucional.
O tribunal terá de informar quando foram realizadas as últimas inspeções nas unidades prisionais. O coordenador do DMF/CNJ, juiz Luis Geraldo Lanfredi, explicou que o pedido de informações do CNJ vem para esclarecer quais as circunstâncias em que essa situação ocorreu e porque perdurou por tanto tempo.
"Desde 2019, o Sistema Eletrônico de Execução Unificado está funcionando no Ceará e sua finalidade é exatamente evitar esse tipo de descalabro", disse. A Lei de Execução Penal estabelece que juízes de varas de execução penal realizem visitas mensais às unidades prisionais dos estados. O Ministério Público e a Defensoria Pública também são órgãos responsáveis por inspeções em presídios.
O coordenador do DMF afirmou que a situação gravíssima pode desencadear responsabilizações. "É o que o CNJ busca delinear para que se possa configurar 'quem e por que' é responsável por essa omissão flagrante e descumprimento de regras de respeito e dignidade às pessoas que se encontram sob proteção do Estado."
Para o magistrado, o episódio revela a necessidade de constante vigilância para que os direitos das pessoas sob custódia do Estado sejam cumpridos. "Buscamos aperfeiçoar as políticas para que situações como essa não aconteçam. O Brasil é tributário de uma série de compromissos por força da ratificação de tratados internacionais de direitos humanos e, se for comprovada, essa é uma falha gravíssima que pode inclusive acarretar a censura externa do país", completou Lanfredi.
Preso por suspeita de tentativa de homicídio, o jardineiro Cícero de Melo ficou quase 16 anos preso na Penitenciária Industrial Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte, interior do Ceará, sem que nenhum processo tenha sido aberto contra ele. Este mês, um advogado resolveu buscar informações sobre o caso e, no dia seguinte, Cícero foi colocado em liberdade. O jardineiro é pai de cinco filhos. Com informações da assessoria do CNJ.
Revista Consultor Jurídico, 17 de abril de 2021, 18h38
‘Eu viajaria a Paris no 2º turno com mais convicção. PT nunca mais’, diz Ciro Gomes
Paulo Cappelli / O GLOBO
BRASÍLIA — O ex-ministro Ciro Gomes afirmou em entrevista ao GLOBO não ser provável uma aliança entre os demais pré-candidatos à Presidência que, junto dele, subscreveram um manifesto pela democracia no mês passado — os outros signatários eram João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Eduardo Leite (PSDB), João Amoêdo (Novo) e o apresentador Luciano Huck (sem partido). Ciro afirma que nunca mais fará aliança com o PT, define o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como “tomado por ódio” e diz ter “convicção” de ter tomado a decisão certa ao ter deixado o país em 2018 durante o segundo turno da eleição entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad.
CPI da Pandemia: Primeiro foco será compra de vacinas e cloroquina
Como o senhor se define hoje? Um político de esquerda, centro-esquerda, centro...
A minha vida inteira busquei posicionamento de centro-esquerda. E agora achei a minha casa, porque no PSDB tentei isso, mas a inflexão de Fernando Henrique me fez sair; no PSB busquei isso, e a inflexão do Eduardo Campos me fez sair. Já no PDT, que tem a educação como preocupação central, estou encontrando muito conforto.
Qual a principal diferença entre a dinâmica da eleição de 2018 e a que ocorrerá em 2022?
A de 2022 será mais reflexiva do que passional. O predominante em 2018 foi o antipetismo irracional. Quem interpretou de forma mais tosca conseguiu se eleger. Agora, não. O predominante vai ser a busca por soluções práticas e concretas. Antes, era a política contra a não política. Agora, a experiência terá mais relevância. Antes havia moralismo, por conta do escândalo moral do PT; agora é mais a questão econômica, emprego.
A volta de Lula ao cenário eleitoral e a provável polarização dele com Bolsonaro prejudicam as suas pretensões à Presidência?
Não sei quem será o próximo presidente, mas estou seguro de que não vai ser Bolsonaro. Isso tem importância grande porque descomprime o eleitor. Parte do eleitorado vota no PT porque não quer Bolsonaro, ou no Bolsonaro porque não quer o PT. À medida em que Bolsonaro passe a aparecer como derrotado nas pesquisas, as pessoas vão tentar outra via. Trabalho por um cenário realista no qual Lula e eu estaremos no 2º turno, o que ofereceria ao povo debate de alto nível. E ainda admito a possibilidade de que Bolsonaro sequer esteja na disputa.
Por quê?
A história brasileira não é de normalidade. Do Dutra (ex-presidente Eurico Gaspar Dutra) para cá, só três presidentes eleitos terminaram o mandato. Qual a característica dos três? Governaram o país em expansão econômica e trabalharam até na conta do suborno para destruir o antagonismo. Bolsonaro administra a pior crise econômica, não tem imaginação e, quando não tem inimigo, cuida de criar. A economia está virando vinagre. O dólar desvaloriza no mundo inteiro, mas, no Brasil, aprecia.
No manifesto dos presidenciáveis em defesa da democracia, ficou a impressão de que há chance de uma candidatura única envolvendo o senhor, Doria, Amoêdo, Eduardo Leite, Mandetta e Luciano Huck. Por outro lado, há muitas divergências programáticas entre os seis...
O ideal seria que todo mundo que acha que o lulopetismo e o bolsonarismo não prestam ao país fizesse enorme esforço de unificação para dar ao povo uma via alternativa concreta e produtiva que diminuísse o nível de ódio e paixão. Mas, realisticamente, não é provável. O centro do colapso está na economia, emprego, dívida pública, sistema tributário. E há um conjunto de respostas diferentes nas cabeças das pessoas que você citou. Mas demos um sinal. De que somos capazes de, apesar das diferenças, achar um ponto em comum: a defesa da democracia.
Mas o senhor tem mantido conversas com esses outros presidenciáveis?
Só conversei com o Mandetta, que foi quem costurou o manifesto. Em cima da mesa, havia aquela situação do Bolsonaro, falando com tom autoritário no cercadinho, às vésperas do aniversário do golpe. Então valia a pena dar um sinal de comprometimento com a democracia. O mais realista hoje é imaginar que podemos (os signatários do manifesto) fazer uma campanha de respeito mútuo que construa convergência futura e tentarmos, já agora, algumas plataformas em comum.
Quais plataformas em comum?
Vou propor, assim que houver maturidade... Vou conversar com o PSDB, que hoje tem problema interno que não vou interferir. A esmagadora maioria acha inconveniente a candidatura do Doria. Falo isso porque tenho relação íntima com muitos no PSDB, como o Tasso. Se o Doria insistir, vão lançar prévias com Eduardo Leite. O Eduardo Leite vencendo, o PSDB ficará mais flexível para compor. É remota a possibilidade de eu ter (como aliado) o PSDB, um partido que tem Fernando Henrique, que tem o governador de São Paulo... Conheço meu lugar, mas preciso sinalizar e vou chamar organicamente partidos como o PSDB para conversar.
Com quais partidos já conversou?
Com o DEM há conversa que já deu frutos. Com apoio do PDT, que indicou a vice, o candidato do ACM Neto, presidente do DEM, venceu a eleição no primeiro turno em Salvador. Com o PSD, fomos de apoio ao Kalil em BH e iremos apoiá-lo no ano que vem ao governo de Minas. A nossa tática, do PDT, é agrupar PSB, PV, Rede, como fizemos em muitas cidades em 2020, e expandir aliança para a centro-direita com o DEM e o PSD. Muitas dessas conversas são conduzidas pelo (presidente do PDT) Carlos Lupi, único que fala 100% por mim.
Em 2018, apenas o Avante aderiu à sua coligação. Não teme que Lula concentre o apoio da esquerda e do centro, reduzindo o seu tempo de TV e palanques regionais?
Quando Lula entra na disputa, faz tremer tudo o que está posto. Essa é a característica dele. Tenho afeto por ele, mas não admiração porque ele não tem nenhum tipo de escrúpulo ou limite. Então ele promete ao Guilherme Boulos (PSOL) que o apoiará ao governo de São Paulo, mas mantém a candidatura do Haddad. Em Pernambuco, fizeram tudo para derrotar o filho do Eduardo Campos no ano passado, mas agora Lula foi para lá e diz que sempre foi amigo de infância do PSB. Oferece o posto de vice ao PSB e, ao mesmo tempo, ao Josué Gomes.
Em setembro, o senhor e Lula se encontraram no Instituto Lula. Muita gente teve a impressão de que haveria uma reaproximação...
Foi nosso último encontro. Depois, nem por telefone. Naquela ocasião, estava um extremo azedume entre as nossas militâncias. E o Camilo Santana fez esforço enorme para unificar. Achei que devia colaborar. Mas Lula virou uma pessoa que, o que diz de manhã, já não serve de tarde. Está tomado de ódio. Tudo o que domina Lula hoje é a vontade de se vingar. Lula tem cinismo. A gente faz monitoramento de rede. Eles continuam atacando a mim e a outras pessoas na blogosfera. Lula dá a ordem, eles fazem. Se existe gabinete do ódio com Bolsonaro, com o PT é igualzinho.
Essa subida no tom da sua parte não inviabilizaria o eventual apoio do PT ao senhor caso vá para o segundo turno contra um candidato que não seja Lula?
O lulopetista fanático não me apoiará. Prefere Bolsonaro. E falo isso como alguém que foi contra o golpe de Estado contra Dilma, apesar de ela ter desastrado o país. No Senado, Renan Calheiros e Eunício Oliveira apoiaram o impeachment. Aí, eu parto para cima dessa gente. E, um ano depois, lá está Lula agarrado a eles. E ainda tem quem ache que devo alguma coisa ao PT. Nunca mais faço aliança com eles.
Elio Gaspari:O que falta a Bolsonaro é seriedade
Em 2018, muitos na esquerda o criticaram por viajar para Paris no segundo turno da eleição, em vez de declarar apoio a Haddad contra Bolsonaro. O senhor se arrepende disso?
Pelo contrário. Eu faria hoje com muito mais convicção. Em 2018, fiz com grande angústia. Aquela eleição já estava perdida. Mesmo somando meus votos com os do Haddad, não alcançaríamos Bolsonaro. Lula mentiu para o povo dizendo que era candidato quando todos sabiam que não seria. Manipulou até 22 dias antes da eleição, deixando parte da população excitada.
Em caso de segundo turno entre Bolsonaro e Lula em 2022, vai para Paris de novo?
Como brasileiros não podem viajar para a França pela pandemia, nesse caso vou para Tonga da Mironga do Kabuleté (referência à música de Vinicius de Moraes e Toquinho).
Defina Bolsonaro, Doria, Mandetta, Huck e Lula em uma palavra ou expressão para cada.
Genocida. Não conhece o Brasil. Bem intencionado. Animador de auditório. Ególatra.
Como caminhará o PDT no Rio e em São Paulo na disputa ao governo do estado?
Em São Paulo, a situação está indefinida. No Rio, podemos lançar o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT) ou apoiar o deputado Marcelo Freixo (PSOL).
Devagar com o andor - FOLHA DE SP
O estado de São Paulo atingiu o pico da segunda e devastadora onda da epidemia de Covid-19 na primeira semana de abril, a julgar pelos dados de internações em UTIs monitoradas pelo governo estadual. Desde então o volume de doentes em cuidado intensivo vem caindo em ritmo mais intenso a cada dia.
Na quinta (15), havia 11.598 pacientes nessa condição, uma redução de 1.521 em relação ao auge, em 1º de abril. Os óbitos no estado ora divulgam-se aos 700 por dia, se computada a média de duas semanas de ocorrências, indicador que ultrapassou 800 em 8 de abril.
Ao anunciar o relaxamento paulatino das restrições a atividades no estado, o governo João Doria (PSDB) deu mais peso ao filme, que mostra o arrefecimento da infecção, do que à foto, que revela cifras ainda assustadoramente elevadas.
Não se devem menosprezar as motivações de empreendedores do comércio e dos serviços considerados não essenciais, que vêm sendo castigados pelo resguardo de clientes temerosos de contágio e também pelas restrições governamentais há mais de um ano.
O problema é que, a depender de como a abertura seja conduzida, permanecerá ponderável o risco de eclodir a terceira onda da pandemia, o que levaria a uma nova rodada de infecções evitáveis, de saturação nos serviços hospitalares e de interditos a atividades.
A nota preocupante do estímulo ao aumento da circulação neste momento é a falta de defesa de uma parcela ainda muito ampla da população contra o novo coronavírus. A vacinação, em que pese a colaboração decisiva do governo paulista e do Instituto Butantan para a campanha, caminha devagar em razão da negligência federal.
O Brasil, com 16% dos maiores de 18 anos vacinados ao menos uma vez, tem aplicado pouco menos de 600 mil doses diárias em média. Nessa marcha, demora 28 dias para injetar uma dose do imunizante em 10% da população adulta. Os EUA, que já têm metade dos adultos inoculados, levam apenas 6 dias para cobrir 10% desse público.
O recuo de casos e mortes nesse contexto brasileiro, de baixa imunização, não assegura o controle da epidemia, como já se demonstrou com o coronavírus e outros patógenos pandêmicos na história.
Por isso há que ser cauteloso com o abrandamento das quarentenas, privilegiando o filme, e não a foto, também em situações hipotéticas de reversão do quadro. O cuidado deve ser redobrado com a mensagem que as lideranças vão passar à população. Estimular o “liberou geral” seria receita para catástrofe.
A pressa deve ser canalizada para ampliar logo a vacinação, e a memória cívica, para guardar o nome do responsável pelo fracasso mortífero: Jair Messias Bolsonaro.
80% das famílias de classe média tiveram alguma queda na renda
A empresária Lilian Varella, 60, se emociona ao ver o Drosophyla Bar, em São Paulo, vazio. Após oferecer, sem sucesso, um serviço de delivery, e reabrir por um curto período até janeiro, ela fechou as portas novamente. Sem clientes, viu o dinheiro que guardou nos últimos anos praticamente ir embora.
“O setor está acabado. O governo disse que em janeiro iria oferecer ajuda, mas estamos à deriva”, conta.
Para ajudar nas despesas, ela renegociou na Justiça o valor do aluguel e colocou à venda parte da mobília do bar, instalado em um casarão antigo —um sofá de seis lugares custa R$ 440; uma cadeira, R$ 350.
O aperto nas contas que Lilian teve de fazer não é um caso isolado. Ainda que os mais pobres formem a fatia mais vulnerável aos efeitos da Covid-19, com forte retração nos ganhos especialmente entre os que dependem do trabalho informal, a pandemia também impõe perdas para as camadas médias.
Oito em cada dez famílias em que o rendimento mensal com o trabalho fica acima de cinco salários mínimos perderam renda no quarto trimestre de 2020 ante igual período do ano anterior, e em termos reais, já considerada a inflação.
A maior parte desses domicílios de maior renda perdeu entre 20% e 50% do que costumava ganhar por mês, sendo que 7% dessas famílias perderam tudo o que habitualmente recebiam –ou seja, quem trabalhava naquela família ficou sem trabalho.
Os dados são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, compilados pela consultoria IDados. Domicílios com rendimento mensal acima de cinco salários (ou a partir de R$ 5.225, pelo valor do ano passado) são considerados das classes média, média-alta e alta.
A pesquisa, feita desde 2012 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), permite acompanhar um domicílio por até cinco trimestres. Com a pandemia, parte dessa amostragem foi prejudicada, pois os levantamentos deixaram de ser feitos presencialmente. A perda de amostra, porém, não afetou a análise do rendimento, explica a pesquisadora da IDados Mariana Leite.
Observando os dados, Mariana avalia que é difícil prever quando esses brasileiros que perderam renda, mesmo os da classe média e média-alta, vão conseguir repor parte das perdas que tiveram nos últimos meses. “O que parece claro é que a recuperação da economia vai continuar devagar.”
Os dados mais recentes da Pnad Contínua apontam que o desemprego no país era de 14,2% no trimestre que vai de novembro até janeiro, o equivalente a 14,3 milhões de pessoas na fila por um trabalho.
Outro levantamento, feito também a partir da Pnad Contínua, mas pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mostra que os domicílios mais ricos sofreram a maior redução proporcional na renda vinda do trabalho. Entre a classe média e a classe alta, as perdas reais foram de 1,55% a 7,44% do rendimento no quarto trimestre, respectivamente.
“As famílias enfrentam uma queda de qualidade de vida e de consumo, também pelo aumento da inflação”, diz Sandro Sacchet de Carvalho, do Ipea.
Nos últimos meses, a classe média teve de trocar os filhos de escola e rever despesas com produtos mais caros, reorganizar o seu orçamento, ele lembra. E um dos grupos mais afetados foi o dos empregadores, donos de pequenos negócios, por exemplo.
"Virei, praticamente, uma morta-viva”, conta a empresária Tita Dias, 64, sócia do restaurante paulistano Canto Madalena. Depois de fazer um empréstimo, ela recorreu às economias para que o estabelecimento não fechasse de vez. "Foi como jogar dinheiro pela janela." Com o agravamento da crise sanitária, ela optou por não oferecer o serviço de delivery, para não colocar os funcionários em risco.
“A sorte é que também sou aposentada e não dependia do restaurante para me sustentar, mas o impacto foi grande. A família teve de negociar o preço do plano de saúde e evitamos um aumento no aluguel”, diz Tita. Agora, com a fase de transição no Plano SP, iniciada neste domingo (18), ela pretende reabrir aos finais de semana, a partir de sábado (24).
O Ipea também apontou que as famílias mais afetadas pela inflação em março foram as de classe média e de média-alta. A variação de preços para esses grupos passou de 0,98% e 0,97% em fevereiro, respectivamente, para 1,09% e 1,08%, sobretudo devido ao aumento dos combustíveis.
Parte das perdas de recursos que vêm do trabalho se deu também por reflexo dos programas de redução de jornada e suspensão de contrato, que, se por um lado serviram para preservar empregos, por outro afetaram o bolso dos trabalhadores.
Para possibilitar a jornada reduzida –com consequente redução no pagamento– foi criado o BEm (Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda), que repunha parte do corte salarial. Por pressão dos empresários, que tiveram de reduzir ou suspender atividades por causa do recrudescimento da pandemia, os acordos de suspensão de contratos e redução de jornadas devem ser retomados este ano.
A pandemia mudou a vida de Patrícia Polonca, 45. Antes da quarentena, a ex-promotora organizava eventos corporativos de grande porte ao lado do marido, Gustavo, 47. Com as medidas de isolamento impostas para ajudar a conter o vírus, o mercado de eventos minguou e a família precisou se ajustar.
“A gente estava há 20 anos no mercado, mas a demanda desapareceu. Os eventos virtuais existem, mas não são a mesma coisa", afirma.
Com a nova realidade, eles trocaram os filhos Pedro, 11, e Luca, 9, de uma escola tradicional na Vila Mariana, em São Paulo, pela Luminova, na Barra Funda, pagando menos da metade na mensalidade. “Eles se adaptaram rápido às aulas online”, conta.
Patrícia também aproveitou para retornar à antiga profissão, de designer de interiores. Hoje, dá consultoria pela internet para quem faz home office e precisa adequar a casa às novas necessidades da família. O marido transformou as consultas online como terapeuta holístico, que antes ajudavam a complementar a renda, em atividade principal.
“Todo esse cenário é preocupante para a classe média, mas também é importante lembrar que o número de pessoas que ganham até um salário mínimo estão em uma situação mais frágil no mercado de trabalho”, destaca Mariana, da IDados.
As famílias mais pobres sentem perda de renda quase que de imediato, e entre as famílias que ganham até um salário mínimo e perderam renda, quase 60% perderam tudo o que ganhavam no fim de 2020, ainda segundo a IDados.
A impossibilidade de trabalhar como informal durante a pandemia, por exemplo, poderia levar facilmente uma família com menos recursos ao desamparo, sem medidas de auxílio para compensar o baque causado pela pandemia.
O pagamento do auxílio emergencial (que já foi de R$ 600 em abril passado e deixou de ser pago em dezembro, quando a parcela já era de R$ 300) ajudou a amortecer a queda na renda dos mais pobres. Para este ano, apesar do agravamento da pandemia, o benefício aos mais desamparados voltou com quatro parcelas mensais de R$ 150 a R$ 375, conforme a situação da família.