CPI da Covid: inquérito ou palanque?
Catarina Rochamonte
Doutora em filosofia, autora do livro 'Um olhar liberal conservador sobre os dias atuais' e presidente do Instituto Liberal do Nordeste (ILIN).
O senador Tasso Jereissati afirmou que a CPI da Covid pode ser "a mais importante da história recente". Pode ser também a mais desastrosa, caso seja usada para fins político-eleitoreiros, transformada em palco de vaidades e interesses escusos.
Já houve CPIs exitosas, mas também houve as que se prestaram ao lamentável papel da chantagem e da politicagem e não deram em nada. Conduzida com responsabilidade, essa CPI cumprirá papel importantíssimo, pois é urgente —e já atrasado— investigar e responsabilizar as autoridades do governo central --e seus conexos nos estados e municípios-- que, por ação ou omissão, concorreram --ou ainda concorrem-- para o alastramento de uma pandemia que já ceifou cerca de 400 mil vidas.
As ações ou inações funestas no âmbito do Ministério da Saúde e os crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente da República não podem ficar impunes, nem impune deve ficar o desvio de verbas destinadas ao combate da Covid em alguns estados e municípios.
Não tem como não chamar à responsabilidade quem está à frente de uma nação que falhou terrivelmente no combate à pandemia; por outro lado, resta patente que alguns governadores e prefeitos tomaram medidas erráticas, enquanto outros estão se aproveitando da desgraça coletiva para fazer palanque eleitoral.
A CPI precisa ganhar legitimidade perante a sociedade; tarefa difícil se realmente conceder sua relatoria ao senador Renan Calheiros --que já esteve envolvido em vários escândalos e foi réu por corrupção-- e sua presidência ao senador Omar Aziz --que já foi alvo de operação da Polícia Federal por desvio de dinheiro da área da saúde quando era governador do Amazonas.
Mas a composição da CPI não é de todo ruim. Se há governistas que, como o escudeiro Ciro Nogueira, tentarão blindar o presidente Bolsonaro, também há os senadores independentes que não estão comprometidos nem com o governo nem com uma linha de oposição irresponsável. FOLHA DE SP