"O Congresso não vai virar as costas para a opinião pública"
Para o presidente do PSDB, Aécio Neves, impedimento de Dilma será capaz de tirar o Brasil do impasse
Débora Bergamasco / ISTOÉ
Logo após o anúncio da decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de acatar o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff na quarta-feira 2, parlamentares faziam fila para abraçar o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves (MG). O tucano, no entanto, procurou adotar um discurso de serenidade e cautela diante do que vem pela frente. Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, concedida no plenário do Senado, em meio ao calor dos acontecimentos, Aécio afirmou que a discussão sobre o impedimento da presidente pode levar o Brasil a “sair de um impasse”. “É preciso que haja uma decisão, qualquer que seja ela. Esse impasse e a incapacidade que a presidente Dilma tem demonstrado de tomar a iniciativa e inspirar confiança está levando o País a mergulhar em uma crise de profundidade que nós não havíamos vivido ainda”, afirmou o tucano. Sobre as alegações do Planalto e do PT de que apear Dilma do poder poderá ser “traumático para o País”, Aécio foi taxativo: “O trauma maior é um governo sem iniciativa, sem credibilidade e sem capacidade. Não a saída de um presidente”. Ao minimizar as circunstâncias que levaram Cunha a dar prosseguimento ao pedido de impeachment, Aécio deixou transparecer confiança quanto ao desfecho do processo destinado a tirar Dilma do poder. “E isso (o processo de impeachment) será apreciado pelas duas Casas e legitimado pela opinião pública. O Congresso é capaz de muitas coisas, mas não vai virar as costas para a opinião pública”. Segundo o tucano, caso seja confirmado o impeachment da presidente, o País poderá contar com o PSDB para a construção de um pacto nacional.
'O PSDB está disposto a ajudar na construção de um pacto nacional'
Istoé - O que a decisão de Eduardo Cunha sobre admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff significa para o País? Aécio Neves – Significa que o Brasil vai sair de um impasse. É preciso que haja uma decisão, qualquer que seja ela. Esse impasse e a incapacidade que a presidente Dilma Rousseff tem demonstrado de tomar a iniciativa e inspirar confiança em quem trabalha, em quem produz, em quem investe está levando o Brasil a mergulhar em uma crise que já não é mais econômica e moral apenas. É uma crise social, de profundidade que nós não havíamos vivido ainda. Então, é preciso que agora as instituições continuem funcionando.
ISTOÉ – Um processo de impeachment será suficiente para tirar o Brasil da crise? Aécio – O que vai nos tirar da crise é a solidez das nossas instituições e o Congresso Nacional vai ser uma delas. Então o Congresso tem que discutir essa questão com serenidade, garantido o amplo direito de defesa à presidente da República. Não se pode chamar isso, nem de perto, de golpe ou atalho. O que se faz agora não é inédito no Brasil. É seguir um rito constitucional.
ISTOÉ - O sr. acha que ela foi vítima de chantagem, como quer alardear o PT? Aécio – Não entro no mérito da questão do momento nem das motivações de que essa decisão foi tomada. O que me parece central para o futuro, inclusive de forma até pedagógica, é que ou se exige o cumprimento da lei por parte de todos os agentes públicos, em especial da presidente da República, ou então nós vamos criar quase que um salvo conduto. O presidente da República vai poder cometer crime de responsabilidade porque ele não vai responder por isso lá adiante. Ou esse presidente poderá cometer crime eleitoral, como investiga o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), porque é muito traumática a saída de um presidente. Não. O trauma maior é um governo sem iniciativa, sem credibilidade e sem capacidade. Este é o maior trauma.
ISTOÉ – O fato de ser um pedido aceito pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, coloca a decisão em xeque? Aécio – Não, eu acho que o presidente está no uso das suas atribuições. Suas motivações para nós são secundárias nesse instante. Foi cumprido um rito. E a posição do PSDB no Conselho de Ética (que pede a cassação do mandato de Cunha) jamais esteve em negociação. Nossa posição pela continuidade do processo (contra Cunha) continuará. Então estamos à vontade para exigirmos que se cumpra o rito regimental do pedido de impeachment de Dilma. E isso será apreciado pelas duas Casas e legitimado pela opinião pública. O Congresso é capaz de muitas coisas, mas não vai virar as costas para a opinião pública.
ISTOÉ – Se a presidente Dilma for deposta, qual será o posicionamento do sr., enquanto oposição? Aécio – O que estamos tratando agora é do momento atual. Não há qualquer interrupção da ordem, não há qualquer desvio regimental no momento em que essa medida é tomada. Se este episódio culminar com o afastamento da presidente, caberá, segundo a Constituição, ao vice-presidente da República demonstrar que tem condições de suceder a presidente, mas isso é um problema que nós só poderemos avaliar lá adiante. Isso não está na nossa agenda ainda.
ISTOÉ - Mas o Brasil vai poder contar com o sr. e o seu partido para um pacto nacional? Aécio – O PSDB está disposto a ajudar. O Brasil sempre contará conosco. Como contou até aqui e continuará contando. Vamos esperar que o desfecho ocorra adequadamente, sem antecipação de prazos e que se cumpra a Constituição.