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Placar da Eleição da Câmara indica risco de infidelidade de deputados a partidos

Adriana Ferraz, Brenda Zacharias e Fernanda Boldrin, O Estado de S.Paulo

15 de janeiro de 2021 | 11h00

Dois anos depois de o comando da Câmara dos Deputados ser definido em uma votação folgada para Rodrigo Maia (DEM-RJ), a eleição que resultará em seu sucessor segue indefinida e totalmente imprevisível. Segundo placar do Estadãolançado nesta sexta, 15, a disputa indica potencial risco de infidelidade de parlamentares aos partidos que já formalizaram os apoios de suas bancadas na disputa.

O deputado Arthur Lira (PP-AL), candidato defendido pelo governo de Jair Bolsonaro, tem vantagem sobre Baleia Rossi (MDB-SP), que representa parte da oposição. Mas o número de parlamentares que não aceitaram declarar posição (a eleição é secreta) supera qualquer um dos concorrentes, levando a negociação por votos até o momento da urna. 

Veja o placar da eleição para presidente da Câmara.

Placar
Placar da Eleição da Câmara  Foto: Reprodução

A enquete feita com cada um dos 513 parlamentares nas últimas duas semanas aponta Lira com 163 votos e Baleia, com 106. Outros candidatos somam 20 votos. No total, 201 não quiseram responder - 39% da Casa - com a prerrogativa do sigilo da eleição ou mesmo de uma indefinição a respeito dos nomes colocados. O restante (23) não foi localizado pela reportagem, seja por meio de assessores, gabinete, e-mail ou celular. 

O placar mostra que, com exceção da Rede, que tem apenas uma representante na Câmara, e do Patriota, com seis, há ao menos um parlamentar que não quis revelar voto em todos os demais partidos, independentemente de a bancada ter declarado apoio oficial a Baleia ou Lira. O levantamento também contabiliza as candidaturas independentes, como a de André Janones (Avante-MG) e a de Alexandre Frota (PSDB-SP), ex-bolsonarista.

Considerados ambos nomes da situação, Lira e Baleia têm histórico de votos a favor do governo federal ao longo da atual legislatura. O compromisso de barrar a chamada pauta de comportamento e de não descartar previamente a abertura de um processo de impeachment de Bolsonaro aproximou o candidato do MDB de siglas da oposição a ponto de obter, mesmo sem unanimidade, o apoio da bancada do PT

O placar mostra que ao mesmo tempo em que agrega votos - são 52 deputados petistas -, a adesão da sigla também afasta potenciais aliados, especialmente aqueles eleitos na onda bolsonarista contra o petismo. A assessoria de Sargento Fahur (PSD-PR), por exemplo, diz que o deputado não declara voto, mas que "ele não votará em candidato apoiado pela esquerda."

No PSL, partido que abrigou Bolsonaro em 2018, rompeu com o presidente e hoje defende a candidatura de Baleia, o racha é evidente. O placar mostra 53% dos 53 deputados ao lado de Lira na disputa e apenas 7,5% com o emedebista. E o número de dissidentes pode ser ainda maior, de acordo com uma lista formulada por Major Vitor com 32 correligionários no bloco de Lira - e não 28, como revela a enquete.

Para se alcançar a vitória será preciso somar ao menos 257 votos em primeiro ou segundo turnos. Em tese, o bloco de Baleia reúne 278 deputados e o de Lira, 195. Mas nem todos os representantes consideram essa uma decisão de bancada, o que já gera dissidências e casos de infidelidade pública. "Apesar de meu partido apoiar Baleia, tenho mais afinidade com as pautas de Lira", afirma Luiz Carlos (PSDB-AP).

Colega de Maia no DEM, a deputada Norma Ayub (ES) diz que avalia as candidaturas colocadas."Ainda estou analisando as opções e conversando com o meu partido, embora não seja uma decisão partidária. Conheço todos os candidatos e o trabalho de cada um deles. É uma decisão muito importante e ainda temos cerca de 20 dias para a eleição", disse a parlamentar que, segundo decisão colegiada do partido, deveria votar em Baleia.

Sigilo

Seja por discordância partidária ou pelo caráter secreto da votação, definido por regimento interno da Câmara, a escolha de não declarar voto é reforçada como um "direito" por parte dos parlamentares. Foi o que responderam Jorge Braz (Republicanos-RJ), Alexandre Leite (DEM-SP) e Danillo Forte (PSDB-CE). "Prezada, o voto é secreto", justificou Zé Carlos (PT-MA).

Frota disse que, se eleito, teria a "coragem" de pautar o processo de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. "Sou o único que tem coragem de pautar no 1° dia de mandato o processo de impeachment. Vou fazer uma Câmara livre , com independência e combatendo a ideologia radical e suja dos Bolsonaro. E ainda vou convidar a Gleisi (Hoffmann, do PT) para ser presidente da comissão especial do processo. Quero lembrar que já protocolei três pedidos, sendo o primeiro deles em agosto de 2019.Bolsonaro não pode continuar."

Integrante do bloco de Lira, Capitão Wagner (Pros-CE) afirma que a eventual eleição de Baleia Rossi significaria uma continuidade da gestão Maia, o que, segundo ele, não seria salutar para o País. "A alternância de poder é salutar para a democracia, e a mudança periódica de lideranças em determinados cargos públicos é naturalmente positiva para a condução dos destinos de uma instituição que representa o nosso povo. Rodrigo Maia está no poder há três mandatos, tensionando com o governo federal. O Brasil vive momentos que exigem união e alguém com capacidade de diálogo sem ser subserviente. Por isso, voto em Arthur Lira", justificou Wagner.

Em campanha com o apoio do governo federal desde o ano passado, Lira tem tentado nas últimas semanas se deslocar da imagem de "candidato do Planalto" ao mesmo tempo em que reforça o alinhamento programático de seu concorrente com os projetos pautados por Bolsonaro.

Além de defenderem a "alternância de poder", os aliados de Lira rechaçam a possibilidade de mais um impeachment. "Precisamos proteger o governo contra pedidos de Impeachment, já que Rodrigo Maia conquistou apoio da esquerda com este condicionador", afirmou Aroldo Martins (Republicanos-PR) . 

Já quem defende a candidatura de Baleia fala em compromisso. "Voto no Baleia Rossi não somente por uma questão partidária, de ser meu colega, líder da nossa bancada e presidente do partido. É porque ele realmente é uma figura bastante agradável, leal, uma figura que assume compromissos e os cumpre", disse Giovani Feltes (MDB-RS).

Nesta semana, mais dois partidos anunciaram que terão candidato próprio na disputa: o Novo, com Marcel Van Hattem (RS), e o PSOL, com Luiza Erundina (SP). Dessa forma, o número de candidaturas pode chegar a oito, já que Fábio Ramalho (MDB-MG) e Capitão Augusto (PL-SP) também já declararam que se apresentarão como opção no dia 2. 

Dos 24 partidos com representação na Câmara, apenas Podemos e PTB não se posicionaram até aqui. Juntas, as siglas somam 21 votos. /COLABORARAM BIANCA GOMES, MATHEUS LARA, RENATO VASCONCELOS E TULIO KRUSE

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