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Cid Gomes e seu tiro n'água

Ítalo Coriolano, editor-adjunto de Conjuntura / OPOVO

O ex-governador Cid Gomes (PDT) muito provavelmente sabe que seu pedido de impeachment contra o vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) não vai resultar em nada além de breve polêmica midiática. Apesar de endereçar a documentação ao vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PMDB-MA), o destino da papelada deverá ser mesmo a mais escura das gavetas do Congresso.

Ou Cid esqueceu que Waldir é braço direito de Eduardo Cunha, arquirrival responsável pela inesquecível sessão em plenário que provocou sua saída do Ministério da Educação? Waldir Maranhão, inclusive, foi peça fundamental nas manobras de Cunha para atrapalhar o processo de cassação de seu mandato no Conselho de Ética.

Mas não deixa de ser uma ousada jogada política de Cid. Ele entra na linha de frente de defesa da presidente Dilma no momento de maior desgaste da petista, quando os principais aliados procuram é se afastar dela para não serem contaminados pela falta de popularidade da chefe do Executivo. Tem eleição daqui a seis meses, vale lembrar. Cid Gomes mostra, neste momento, alto grau de fidelidade em relação a Dilma, o que merece ser reconhecido.

Talvez esteja querendo colher frutos lá na frente, já que tem um irmão costurando candidatura ao comando do País, e um possível apoio do PT não seria de todo o ruim. Entretanto, a estratégia é simultaneamente perigosa, já que o ex-governador do Ceará usa como base para endossar o impedimento de Temer delações premiadas que também envolvem Dilma Rousseff.

É o caso do acordo fechado pelo ex-líder do Governo no Senado, Delcídio do Amaral. Ao mesmo tempo em que coloca o vice-presidente como responsável pela indicação de diretores acusados de participar do esquema de corrupção da Petrobras, acusa Dilma de interferir nas investigações da Lava Jato.

Ao dar credibilidade à fala de Delcídio para atingir Temer, Cid indiretamente prejudica a presidente da República. Ressalte-se que todo o conteúdo da delação ainda precisa ser analisado pela Procuradoria Geral da República. Resta agora saber se a medida terá algum efeito na batalha nada silenciosa travada entre o Palácio do Planalto e o Palácio do Jaburu. Por enquanto, não foi mais que um tiro n’água. 

 

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