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Maia: ‘Não temos a estrutura que o entorno do governo tem para viralizar tanta fake news’

Pedro Venceslau e Pedro Caramuru, O Estado de S.Paulo

06 de março de 2020 | 13h17
Atualizado 06 de março de 2020 | 22h51

A uma semana das manifestações contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), subiu o tom das críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Ao participar de um debate em São Paulo, nesta sexta-feira, Maia disse que o entorno do governo tem uma estrutura para “viralizar o ódio” por meio de fake news e que Bolsonaro afasta investidores ao gerar incertezas sobre seus compromissos com a democracia e o meio ambiente. 

Rodrigo Maia
Rodrigo Maia participou de palestra ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo Foto: HÉLVIO ROMERO / ESTADÃO

“Não temos os recursos e a estrutura que o entorno do governo tem para viralizar tantas fake news como tem sido feito nas últimas semanas”, afirmou o deputado do DEM, durante palestra sobre a agenda parlamentar em 2020 no Instituto Fernando Henrique Cardoso, no centro de São Paulo. Maia tem sido um dos principais alvos de mensagens contra o Congresso que circulam em redes sociais de apoiadores do governo. Ele buscou outras autoridades e empresários para tentar uma resposta conjunta ao que classifica como escalada autoritária. 

Maia abriu seu discurso dizendo que vivemos uma “contestação das democracias liberais” e que a tecnologia virou um campo de ataque às pessoas. “Nada disso custa pouco. Um robô custa US$ 12 por mês.” Em dezembro, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), antiga apoiadora de Bolsonaro, afirmou à CPMI das Fake News, que um dos mais ativos grupos de propagadores de notícias falsas e ataques pessoais é o chamado “gabinete do ódio”, integrado por assessores especiais da Presidência. Parlamentares que acompanham os trabalhos da CPMI estimam que uma estrutura deste tipo custaria R$ 1,5 milhão por mês. 

Dois dias após o anúncio do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado, que frustrou economistas, o presidente da Câmara afirmou que a omissão do governo pode levar ao “estancamento de reformas”. “O governo prometeu muito, mas não entregou. Tinha uma previsão de crescimento de 2,5% e cresceu 1.1%.” O parlamentar criticou, ainda, a demora no envio das propostas do Executivo para as reformas tributária e administrativa.

Segundo ele, a reforma da Previdência “foi abandonada pela equipe do governo”. “Foi o Parlamento quem colocou a pauta e tocou a pauta”, disse. Para Maia, “o Parlamento precisa não só reformar o Estado, mas também reformar os setores” como forma de atrair capital estrangeiro. 

‘O governo gera insegurança para os investidores’, afirma Maiaa

Enquanto comentava a economia, Maia lembrou um encontro recente com empresários europeus. Afirmou que investidores de outros países lhe disseram que deixaram de colocar dinheiro no Brasil por causa do presidente Bolsonaro. “O governo gera uma insegurança grande para sociedade e para os investidores. As pessoas estão deixando de investir pela questão do meio ambiente e pela questão democrática.”

Sentado ao lado Maia na palestra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também criticou o governo. “Quando o presidente não exerce o poder, outras forças exercem. Quando a liderança não exerce o papel de agregação, as coisas não andam”, afirmou o tucano, para quem falta rumo à gestão Bolsonaro. Ao final de seu comentário, FHC teceu elogios ao presidente da Câmara. “Graças a Deus temos lideranças no Congresso. A principal delas está aqui ao meu lado.”

Apesar disso, Maia afirmou que o Congresso não quer ter “um milímetro do que é responsabilidade do Executivo”. “Cria-se conflitos onde não existe em um País com 11 milhões de desempregados. Não podemos discutir uma coisa criada para viralizar o ódio, que é essa questão de parlamentarismo branco”, disse.

O termo parlamentarismo branco foi usado pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, flagrado em uma transmissão nas redes sociais em 18 de fevereiro dizendo que o governo “não pode aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo”, ao se referir ao Congresso. A divulgação das declarações do ministro passou a ser utilizada por grupos bolsonaristas para convocar para o ato contra os parlamentares. Em sua fala, Maia disse que Heleno tornou-se o “ministro do desequilíbrio”. “Transformam temas falsos em verdades nas redes sociais para gerar um inimigo contra o governo.”

PARA LEMBRAR: Rodrigo Maia já virou alvo nas ruas

Rodrigo Maia virou alvo nas ruas
Em 2019, Maia foi representado por um boneco inflável segurando sacos de dinheiro em atos nas capitais Foto: Fábio Grellet/Estadão

Em maio do ano passado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o bloco parlamentar conhecido como Centrão se tornaram alvo de protestos. Manifestantes foram às ruas em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e em defesa da reforma da Previdência e do pacote anticrime do ministro Sérgio Moro, mas os atos acabaram sendo marcados por ataques ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal. Em algumas capitais, Maia foi representado por um boneco inflável segurando sacos de dinheiro, ao lado de um boneco que retratava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como presidiário. “Quem é democrático não pode ficar chateado com manifestação”, afirmou Maia, na época.

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