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Em Florianópolis, vereadores criam vale-alimentação em questão de segundos.

Josias de Souza

13/07/2019 03h00

Local: Câmara Municipal de Florianópolis (SC). Data: 10 de julho, última quarta-feira. Assunto: projeto que institui, entre outras coisas, um auxílio-alimentação de R$ 1.091,89 para os próprios vereadores. O autobenefício tramitou com rara velocidade. Num mísero dia, passou por três comissões e chegou ao plenário. Presidente da Casa, o vereador Roberto Katumi (PSD) conduziu a sessão como se narrasse uma corrida de cavalos (repare no vídeo). O projeto foi aprovado em dois turnos de votação. Tudo em 26 segundos.

Atropelando as palavras, Katumi sacramentou o primeiro turno assim: "Faço o pedido para que seja incorporada à ordem do dia o PL 17.870/2019. Vereadores que concordam permaneçam como se encontram. Em discussão o PL. Não havendo quem queira discutir, está encerrada a discussão. Em votação o PL 17.870. Os vereadores que concordam permaneçam como se encontram".

Sem tomar fôlego, o presidente da Câmara de vereadores manteve o ritmo de hipódromo no segundo turno: "É o PL 17.870. Em discussão. Não havendo quem queira discutir está encerrada a discussão. Em votação o PL 17.870. Os vereadores que concordam permaneçam como se encontram. Está aprovado".

Na quinta-feira, o acinte ganhou destaque na mídia local. Na sexta, escalou as manchetes de telejornais nacionais. O vereador Katumi sentiu nas redes sociais o hálito quente do eleitorado. A ira dos moradores de Florianópolis foi despejada, por exemplo, na caixa de comentários de uma postagem feita por Katume no Facebook a pretexto de celebrar o "dia municipal do líder comunitário".

"Cara de pau, sem vergonha", escreveu Prudente Júnior Lins. Maicon Fernandes ecoou: "Quanta falta de vergonha na cara, falta de bom senso, decência, escrúpulos e humildade… Enojado com tamanha falta de respeito para com o eleitor que votou acreditando nessas escórias." Cláudio Danielli seguiu na mesma toada: "…O Brasil e o mundo vendo a narrativa de mulas qualificadas como vereadores".

Impressionado com a má repercussão, Roberto Katumi soltou uma nota na noite desta sexta-feira. Informou que vai propor aos seus pares, na segunda-feira, a revogação do auxílio-alimentação. Tenta evitar um novo vexame, pois o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, não perderia a oportunidade de vetar o Bolsa Comida que os vereadores se autoconcederam. Faltou explicar como a Câmara formalizará o recuo. Desaprovar lei já aprovada é algo tão inusitado quanto desfritar um ovo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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