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Planalto recorre a artifícios duvidosos e ajuda a reeleger Leonardo Picciani como líder do PMDB, mas a vitória não foi a esperada

Mel Bleil Gallo

Na quarta-feira 17, governistas respiravam aliviados com a reeleição de Leonardo Picciani (RJ) para a liderança do PMDB na Câmara. Por 37 votos a 30, ele venceu o paraibano Hugo Motta. Alinhado com o Planalto, Picciani promete impor à bancada peemedebista uma agenda que favoreça o governo Dilma. É de se imaginar, portanto, que a presidente tenha motivos de sobra para comemorar. Mas essa é uma análise superficial. O resultado permite duas reflexões. A primeira é óbvia: articulador da candidatura Motta, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, sofreu uma amarga derrota. Nas semanas anteriores, Cunha se empenhara pessoalmente para emplacar o aliado e recuperar o poder antes exercido sobre a bancada. Ele contava com o apoio de Motta para enfrentar o processo de cassação no Conselho de Ética e Decoro da Casa, além de promover a indicação de nomes conhecidos por fazer oposição ao governo para comandar comissões estratégicas. Agora, essas expectativas ficaram para trás. A segunda reflexão possível diz respeito a Dilma. O governo ganhou, mas se trata de uma vitória relativa.

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VITORIOSO 
''O problema é que eles não têm voto'', ironizou o líder do PMDB sobre os derrotados

A escolha de Picciani por uma margem ínfima obrigará o Planalto a enfrentar duras negociações no Congresso para a votação de medidas essenciais ao governo, como o ajuste fiscal, a CPMF e a Reforma da Previdência. Por isso mesmo, nos últimos dias o governo usou de uma série de artifícios para garantir a vitória de Picciani. O empenho desmedido provocou situações absurdas. O ministro da Saúde, Marcelo Castro, chegou a ser afastado temporariamente do cargo para participar da eleição. Castro tem mandato de deputado federal e, com a exoneração, retornou ao Congresso apenas para votar a favor dos interesses de Dilma. A operação, por si só, é surreal, mas pode ser considerada mais grave diante dos imensos desafios enfrentados por Castro. Num certo sentido, ele é um general em guerra – contra o mosquito Aedes aegypti, que tantos estragos tem provocado Brasil afora. Castro deixou a batalha mais importante para se dedicar a uma disputa meramente partidária.

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Passada a eleição formal, parte dos oposicionistas já sinaliza disposição em se reaproximar de Picciani e fortalecer o PMDB, inclusive para aumentar o poder de barganha da bancada junto ao Planalto. Hugo Motta foi um dos primeiros a adotar um tom conciliatório. “Essa disputa teve a digital clara do governo, mas estou pronto para continuar trabalhando pela unidade do PMDB”, disse o paraibano minutos após o resultado. Fiel escudeiro de Cunha, Manoel Junior (PB) teve postura semelhante e classificou a eleição como “uma disputa bonita e de alto nível, na qual Picciani mostrou seus méritos ao ir para a luta”. A mágoa é latente, porém, entre oposicionistas mais ferrenhos. Inconsolável, Osmar Serraglio (PMDB-PR) dizia buscar nos olhos dos correligionários sinais de traição. “Não sei como o Picciani vai conseguir administrar a bancada, porque o conflito foi muito grande”, questionou o paranaense. “Picciani foi um líder muito ruim e continuará muito ruim, porque é arrogante e se afundará com o governo”, completou Osmar Terra (PMDB-RS). À vontade com a vitória, o líder reeleito se limitou a sorrir diante das críticas dos colegas. “O problema é que eles não têm voto”, ironizou.

Foto: Alan Marques/Folhapress 

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