PF investiga negócios de Bumlai com BR distribuidora
Pecuarista ganhou contrato de R$ 157 milhões e fez transações com um dos operadores de propina na estatal. DANIEL HAIDAR / ÉPOCA
Desde que foi preso pela Polícia Federal, no final de novembro, o pecuarista José Carlos Bumlai prestou apenas um depoimento, por insistência de seus advogados. Na ocasião, negou ter se aproveitado de qualquer tipo de proximidade com o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, para fazer negócios suspeitos com empresas estatais. Agora, após a análise de mais de 3 gigabytes do material apreendido com Bumlai e seus ex-sócios da família Bertin, os investigadores vão ouvi-lo com maior insistência. ÉPOCA teve acesso ao baú digital dos arquivos apreendidos. O acervo de fotografias, agendas e muitos documentos revela que Bumlai tem elos com outros episódios investigados pela Operação Lava Jato, além dos já conhecidos. Bumlai, já se sabia, é suspeito de ter participado de um esquema na Petrobras para ajudar a pagar uma dívida do PT e de receber comissão por um negócio com a Sete Brasil que nem mesmo se concretizou. Pelo material apreendido, Bumlai também pode ter operado com a BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras.
No dia 24 de novembro, policiais federais apreenderam contratos de empresas do pecuarista com a BR. Em um desses contratos, a estatal aparece como compradora de etanol da Usina São Fernando Açúcar e Álcool, de Bumlai, depois de receber um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Pela São Fernando, os representantes foram os diretores Guilherme Bumlai, filho do pecuarista, e Natalino Bertin. Pela Petrobras, assinou Sérgio Barbosa da Silveira, então gerente executivo de logística. A contratação previa o fornecimento de 1.800 metros cúbicos de etanol por mês, de dezembro de 2010 a março de 2011. De abril de 2011 a março de 2014, a venda subiria para 4.500 metros cúbicos mensais. A compra seria feita por R$ 157 milhões.
Em outros documentos, Bumlai aparece unido a um personagem fundamental para quem faz negócios com a BR Distribuidora: Pedro Paulo Leoni Ramos, conhecido como PP, ex-ministro e operador do ex-presidente Fernando Collor na estatal. No escritório da família Bumlai, em Campo Grande, os policiais encontraram um contrato de julho de 2014, pelo qual Leoni Ramos fez uma “opção de compra” para adquirir uma fazenda de Bumlai, a São Luiz. Pela propriedade de 1.900 hectares em Corumbá, seriam pagos R$ 17,1 milhões. O documento apresenta como compradores a Goldenbank, empresa de Leoni Ramos, e a Cialo Participações, de seu sócio Mauro Boschiero. O vendedor era Maurício Bumlai, outro dos filhos do pecuarista. Só o sinal para a garantia do negócio era de R$ 620 mil. A assessoria de imprensa de Leoni Ramos informou que “por razões comerciais” o negócio com Bumlai não foi concretizado e o dinheiro devolvido integralmente. “É importante reforçar que os valores da opção de compra e posterior devolução foram devidamente contabilizados nas empresas.”
Assim como Bumlai, Leoni Ramos é investigado pela Operação Lava Jato. Em fevereiro deste ano, ÉPOCA revelou parte do conteúdo da delação premiada do doleiro Alberto Youssef. Youssef disse que ele e Leoni Ramos intermediaram a propina paga em um negócio de R$ 300 milhões entre a BR Distribuidora e a DVBR – rede de postos de gasolina da qual o BTG Pactual, de André Esteves, é sócio. Youssef afirma que houve propina nesse negócio – e que ele foi o encarregado de entregar o dinheiro. No total, R$ 6 milhões – metade para Collor, uma parte para funcionários da BR e a outra para Leo¬ni Ramos. O doleiro diz ter sido acionado para o serviço porque Collor era padrinho de diretores da BR desde o segundo mandato de Lula (2007-2011)
Entre os documentos encontrados com Bumlai, os policiais descobriram algumas fotografias, lembranças dos tempos em que o pecuarista esteve perto do poder. Há fotos como a desta reportagem, na qual Bumlai aparece com Lula e dona Marisa. Em outra, ele está em uma festa junina na Granja do Torto. Conhecido de Lula desde a campanha eleitoral de 2002, Bumlai era uma referência entre os que queriam fazer negócios com o governo. Procurados, advogados de Bumlai não quiseram se manifestar. A Petrobras também não respondeu às perguntas sobre os negócios com Bumlai.