Mesmo proibidas por lei, homenagens a autoridades vivas se espalham pelo Brasil
A confusão atinge todas as regiões do Brasil, de Norte a Sul. No entanto, os estados do Norte e Nordeste se destacam. Apelidado pelos opositores da família Sarney de Sarneylândia, o Maranhão é o estado com mais homenagens irregulares em escolas do ensino básico.
No estado, Sarney batiza nomes de escola para todos os cargos diferentes que já ocupou: há a escola Presidente José Sarney, Senador José Sarney e Governador José Sarney. No Maranhão, outros políticos também recebem homenagens, como é o caso do ex-ministro e atual senador Edison Lobão (MDB-MA) que, junto com a sua mulher, Nice, batizam 18 estabelecimentos educacionais.
Em dezembro de 2016, o governador Flávio Dino, do PCdoB e oposição ao ex-presidente, publicou um decreto que retirou das escolas da rede estadual as homenagens a pessoas vivas, mas as escolas municipais mantiveram a prática ilegal.
Em 2008, o Conselho Nacional de Justiça, por meio de uma resolução, chegou a permitir a colocação de nome de pessoas vivas em repartições ou prédios públicos. Em 2011, no entanto, os conselheiros voltaram atrás.
Muitas interpretações
Em 2016, o deputado federal Hildo Rocha, do MDB do Maranhão, partido de Sarney, apresentou uma projeto de lei na Câmara que permitiria a homenagem a personalidades vivas em todo o país, mas o projeto está parado desde então.
Mesmo depois da morte, a reputação de personalidades ilustres são muitas vezes revistas. Com as pessoas ainda vivas, esse risco é muito maior.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi homenageado em sete escolas do Norte e Nordeste, criadas no auge da popularidade do petista, hoje preso. Em março de 2017, o senador por Rondônia Valdir Raupp (MDB), virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Mesmo com a acusação, a prefeitura de Buritis, em Rondônia, decidiu manter duas escolas com o sobrenome do senador. Além da EMEF Valdir Raupp de Matos, que leva seu nome, há a EMEF Marinha Raupp, nome da deputada e mulher do senador.
Outro problema é a definição da relevância dos serviços prestados, até mesmo no caso de homenagens dentro da lei, para pessoas que já morreram. No Tocantins, o tradicional político Siqueira Campos, quatro vezes governador do estado, não tem nenhuma escola com seu nome. No entanto, seu pai e sua mãe, Pacífico e Regina, batizam estabelecimentos.
A homenagem ilegal une adversários políticos no Pará. A família Barbalho é representada em diversos nomes de escolas em homenagem ao seu patriarca, Jader, e seus familiares. Mas a oposição à família Barbalho, o ex-governador Simão Jatene, também é o nome de pelo menos uma escola.