A responsabilidade é de todos
O Estado de S.Paulo
10 Dezembro 2017 | 03h08
É notório que alguns grupos produzem abundante desinformação sobre a reforma da Previdência. Desinibidos, eles difundem acintosas mentiras, como a de que o sistema previdenciário não é deficitário ou de que a proposta do governo federal contempla uma idade mínima tão elevada que impediria os trabalhadores de se aposentarem. Sem qualquer compromisso com a realidade, o objetivo dessa turma, pequena, mas que faz intenso barulho, é simplesmente disseminar o terror, dizendo mentirosamente que, uma vez aprovada a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287/2016, as pessoas morrerão trabalhando.
São também notórias as deficiências de comunicação do governo federal, tantas vezes inábil para informar de forma clara, simples e diligente sobre a PEC 287/2016. Ou seja, esta batalha está fortemente desequilibrada. Vicejam as inverdades e escasseiam os esclarecimentos. Tem-se, assim, o perigo real de que o Congresso aprecie com pressupostos equivocados uma medida tão importante como é a reforma da Previdência.
Diante desse cenário, adquire especial relevância a responsabilidade da população, seja para não se tornar refém da mentira, seja para não dificultar ainda mais a prevalência do interesse público. Não é uma questão de transferir uma responsabilidade do governo para os ombros dos cidadãos, como se, além dos muitos desafios e labutas que lhes cabem, ainda precisassem assumir tarefas que prioritariamente são dos políticos. Convenhamos que a reforma da Previdência não é responsabilidade de determinado governo ou partido. Assegurar um sistema previdenciário minimamente justo e sustentável é tarefa de todos.
Quando o cidadão comum permite-se ficar alheio ao debate – quando não se informa a respeito do que ocorre com a Previdência, sem atinar para as consequências das atuais regras –, ocorre um fenômeno desastroso para ele próprio, para sua família e para a democracia. O espaço público fica dominado por algumas poucas vozes, justamente as daqueles grupos que, sem compromisso com a realidade e o bem do País, estão interessados em manter sua privilegiada situação.
Em tempos de redes sociais, não é preciso muito esforço, nem sequer má-fé, para difundir desinformação. Basta não estar devidamente informado, mas disposto a retransmitir postagens e mensagens que, às vezes, não têm qualquer respaldo nos fatos. É o desafio dos tempos atuais. Um comportamento privado aparentemente inofensivo, quando repetido por milhares de pessoas – às vezes, centenas de milhares de pessoas –, ganha proporções e efeitos deletérios para toda a sociedade. Sem que nada de especial aconteça, pode-se, por exemplo, inviabilizar a reforma da Previdência, simplesmente pela difusão “ingênua” de algumas inverdades.
Não é de hoje que a população se preocupa com a atuação dos políticos. Por variados motivos – entre eles, a facilidade de acesso à informação proporcionada pela tecnologia –, cresceu a consciência de que é preciso estar de olho nos representantes eleitos. Atualmente é consenso que o exercício responsável dos direitos políticos vai muito além da participação nas eleições. Da mesma maneira, é preciso dar-se conta da responsabilidade direta da população sobre as grandes questões de uma sociedade. Ignorar caso tão grave e de consequências tão sérias quanto o da Previdência, como se fosse um assunto que só interessa aos políticos, é uma demonstração de irresponsabilidade. Afinal, o futuro do País é do interesse de todos, e não apenas de Brasília.
Só faltaria que uma reforma da Previdência, tão decisiva para as novas gerações, isto é, tão importante para a maioria da população, tenha seu andamento no Congresso dificultado pela equivocada ideia de que se trata de uma medida impopular, como se a proposta fosse contrária aos interesses da população. Cabe a todos, políticos ou não, conhecer, dentro de suas possibilidades, o que está em discussão quando se fala em reforma da Previdência – qual é a situação real, qual é a proposta concreta analisada pelo Congresso e quais são as consequências de deixar tudo como está.
É necessário acompanhar e cobrar uma atitude positiva dos políticos. Para que o Congresso seja mais responsável, a participação da população é decisiva. Quando ela se omite, fica aberto o caminho para os inescrupulosos.