A ‘unanimidade’ contra Temer
O Estado de S.Paulo
02 Outubro 2017 | 05h00
Desde o início de seu governo, o presidente Michel Temer cercou-se de alguns assessores de duvidosa carreira no mundo político. Compreende-se que a formação de uma administração a toque de caixa, para garantir a governabilidade depois do impeachment de Dilma Rousseff, tenha obrigado Temer a recorrer a amigos e conhecidos, decerto confiante em sua capacidade de articulação para enfrentar aqueles difíceis momentos e recolocar o País no rumo da normalidade. Mas desde o início estava claro que os eventuais ganhos políticos obtidos com essas escolhas mal compensariam os esperados prejuízos para a imagem do governo e do presidente. As mais recentes pesquisas de opinião, contudo, mostram um fenômeno raríssimo em política: Temer, agora ele mesmo acusado de corrupção, é rejeitado pela quase totalidade dos eleitores.
Como toda a unanimidade, esta deve ser observada com cautela. Não se trata de questionar a metodologia das pesquisas, embora, de um modo geral, esses levantamentos misturem opinião sobre o desempenho dos políticos com intenção de voto, às vezes levando o entrevistado a responder como se estivesse avaliando um candidato. Trata-se de evitar a leitura simplista segundo a qual o Brasil inteiro é contra o presidente, o que obviamente é um despautério.
Em primeiro lugar, é preciso observar que Michel Temer, desde que assumiu o cargo, nunca foi exatamente popular. Em junho de 2016, logo depois de se tornar presidente interino, Temer contava com apoio de apenas 13% em pesquisa do Ibope, enquanto 39% dos entrevistados já o consideravam um presidente ruim. Portanto, de saída, Temer já não gozava da confiança dos consultados.
O que houve de lá para cá, contudo, foi uma deterioração de popularidade que não encontra paralelo na história do País. A avaliação negativa de Temer subiu de 39% para 77%, enquanto a positiva despencou de 13% para 3%. Considerando que a pesquisa tem margem de erro de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos, é possível concluir que quase ninguém no Brasil avalia positivamente o presidente.
Essa degradação é ainda mais espantosa porque se deu num período em que finalmente o Brasil começou a dar sinais alentadores de recuperação econômica, depois da trágica administração de Dilma Rousseff. Em pouco mais de um ano sob o governo Temer, a taxa básica de juros recuou de 14,25% ao ano para 8,25%; a inflação, que era de 9,28% em abril de 2016, deve fechar 2017 em torno de 3%, recuperando parte do poder de compra perdido durante os irresponsáveis anos petistas; o desemprego começou a ceder; e a produção da indústria, que chegou a cair 11,4% em março de 2016, voltou a subir, assim como as vendas do varejo.
Tudo isso aconteceu porque o atual governo agiu de forma célere e responsável para debelar a crise legada por Dilma, adotando políticas de austeridade e fazendo aprovar reformas com vista ao equilíbrio das contas públicas.
Mesmo assim, o porcentual de entrevistados pelo Ibope que consideram o governo de Temer melhor que o de Dilma é de apenas 8%, ao passo que 59% consideram o desempenho do atual presidente pior do que o da petista. São números que não encontram correspondência com a realidade, sob nenhum aspecto, e só podem ser resultado da desinformação que campeia nestes tempos de fake news.
Pode-se argumentar que Temer enfrenta essa inaudita impopularidade em razão do noticiário que o envolve em escândalos de corrupção, aspecto destacado na pesquisa. No entanto, é preciso um grande esforço retórico para considerar os atuais casos de corrupção mais graves do que os que marcaram os governos petistas, a ponto de conferir a Temer um índice de desaprovação sem paralelo.
Tudo considerado, essa quase unanimidade em relação a Temer indica que talvez falte ao presidente a disposição de engambelar os incautos demonstrada pelo ex-presidente Lula da Silva, que consegue manter apoio de 30% do eleitorado mesmo diante da montanha de evidências do grande mal que ele causou ao País.