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Vaivém sobre CPMF eleva descrédito de Dilma - JOSIAS DE SOUZA

DilmaAlvoradaAlanMarquesFolha3

Escravizada pela ruína econômica que produziu, Dilma Rousseff já demonstrou que pode ser a favor de tudo e contra qualquer outra coisa. Sempre foi considerada uma personalidade opaca. Mas fazia pose de intransigente e forte. Engolfada pela crise e pela onda de impopularidade, passou a ser vista por adversários e simpatizantes como fraca e inepta. Ao insistir na recriação da CPMF, potencializa a tese segunda a qual pratica um estelionato político, defendendo algo que jurava não estar nos seus planos. Dilma se autodesmoraliza. Leva água para o moinho do descrédito.

A ex-aversão de Dilma à CPMF está exposta num par de entrevistas eternizadas na internet. “Eu não penso em recriar a CPMF porque eu acredito que não seria correto”, disse ela no ano eleitoral de 2010. “Eu sou contra a CPMF”, declarou no ano seguinte, já instalada no gabinete presidencial. “Sabe por que a população era contra a CPMF? Porque a CPMF foi feita para ser uma coisa e virou outra. Acho que a CPMF foi um engodo nesse sentido.” Costuma-se dizer que o futuro a Deus pertence. E o passado? Quem se responsabilizará pelas declarações de Dilma?

Na campanha presidencial de 2014, período em que recitou no rádio e na tevê espertezas elaboradas pelo marqueteiro João Santana, Dilma satanizou os adversários. Informou ao eleitorado que Aécio Neves era o outro nome sacrifícios. Eleito, o tucano elevaria a carga tributária. Cortaria benefícios sociais, tornando vulneráveis os grupos sociais que o PT içara da miséria para a “classe média''.

Num debate eleitoral, usou a CPMF para fustigar a ex-petista Marina Silva. Na sequência, sua campanha levou ao ar um vídeo que espicaçava a antagonista. A peça explorava uma alegada contradição de Marina sobre votações da CPMF em sessões do Senado, ocorridas em 1995 e 1999. “Mudar de opinião, ainda vá lá. Agora, falar que fez o que não fez, isso tem outro nome'', dizia o narrador no comercial, supervisionado por João Santana e aprovado por Dilma.

Ao abraçar um tributo que dizia refugar, Dilma como que autoriza seus antogonistas a produzirem um comercial dizendo algo assim: “Mudar de opinião, ainda vá lá. Agora, fazer o que jurava que jamais faria tem outro nome: estelionato.” Por mal dos pecados, a presidente pede ao Congresso que aprove a CPMF em pleno ano de eleições municipais. Até os aliados do Planalto reconhecem que são pequenas, muito pequenas, diminutas as chances de deputados e senadores avalizarem a volta do imposto. Mas Dilma não se dá por achada.

Na última sexta-feira, dia em que o IBGE informou que o desemprego bateu em 9% entre agosto e outubro de 2015, Dilma declarou a um grupo de jornalistas que a perda de postos de trabalho é o que mais “preocupa” seu governo, exigindo a adoção de medidas “urgentes”. Ela emendou: “Reequilibrar o Brasil num quadro em que há queda de atividade implica necessariamente —a não ser que façamos uma fala demagógica— em ampliar impostos. Estou me referindo à CPMF.'' A volta do tributo “é fundamental para o país sair mais rápido da crise'', enfatizou.

Tomada ao pé da letra, o que a presidente afirmou, com outras palavras, foi o seguinte: “Tudo o que eu disse sobre a CPMF no passado recente é demagogia.” Difícil dizer do que é que Dilma abusa mais: da paciência da plateia ou da flexibilidade semântica? Num pocesso de autocombustão, Dilma parece perseguir uma inusitada marca de eficiência. Ela mesma desmantela a economia, ela mesma faz o diagnóstico e ela mesmo determina os sacrifícios que o brasileiro terá de fazer para consertar o estrago. O Falta-lhe apenas a credibilidade para exigir suplícios adicionais.

Dilma faz lembrar o personagem de um conto do escritor John Updike. A cena se passa na borda de uma piscina. Na água, o pai estimula o filho de quatro anos a pular. Assegura que irá segurá-lo. “Confie em mim'', ele diz. A criança confiou. E foi submetida às bolhas e ao pânico que se seguiram ao afundamento. Agarrado e suspenso nos braços do pai, desesperava-se em busca de ar quanto ouviu o estalo seco do tapa que a mãe pespegou no rosto do marido.

À frente de um governo perdulário, afogado em gastos, Dilma roga à sociedade: “Confie em mim. A CPMF trará de volta o superávit de caixa do governo. E o Brasil superará rapidamente a crise. O país surfará uma onda de crescimento econômico.” Submetido à temporada de asfixia inaugurada no primeiro mandato de Dilma, o brasileiro responde: “glub, glub, glub.” Alguém talvez precise desferir uma bofetada no rosto de Dilma Rousseff. Ainda que metafórica.

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