A fala de Dilma sobre pedalada e cinto de segurança é tão despropositada que nem errada chega a ser
A presidente Dilma Rousseff costuma dizer coisas incompreensíveis. Vejam a declaração que deu sobre a CPMF. Atropela a economia, a sintaxe e o bom senso.
Mas a coisa pode ser pior quando a gente entende o que quis dizer — isto é, quando a sintaxe está minimamente ordenada. Ao negar que o governo tenha cometido ilegalidades no caso das pedaladas, ela se saiu com este juízo espantoso: “Não reconhecemos o erro porque, quando você não usa cinto de segurança, quando o cinto de segurança não era previsto na legislação, os 200 milhões de brasileiros não estavam cometendo nenhum equívoco. Simplesmente a legislação não previa. A mesma coisa aconteceu com o governo.”
O cinto, ainda o de duas pontas, só passou a ser obrigatório no Brasil em 1994, quando o Brasil tinha 159,4 milhões de pessoas, não 200 milhões. E os carros eram apenas 12.570.092. Que importância isso tem? Ora, a importância que devem ter os dados. Já que a comparação feita por Dilma é falsa em essência, cumpre evidenciar que ela é falsa também na contingência: 200 milhões não estariam cometendo equivoco nenhum porque não havia esse número de brasileiros. E, entre os quase 160 milhões, os carros eram menos de 13 milhões.
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Faço esse tipo de observação só para cobrar que governantes pensem um pouco melhor no que dizem. Mas agora vamos à essência, demostrando por que o raciocínio de Dilma viola os conceitos mais comezinhos de uma República.
O que a lei permite, o que a lei não proíbe Dilma, está demonstrado, não entende de estado de direito e de leis. Nós, os cidadãos, podemos fazer tudo o que a lei não proíbe. Como não era proibido andar sem o cinto, era o que fazia a maioria, embora, no mais das vezes, o instrumento estivesse ali, à mão. Quando passou a ser proibido, não recorrer à proteção passou a ser uma infração.
Mas e um servidor público? Bem, ESTE, À DIFERENÇA DO CIDADÃO COMUM, SÓ PODE FAZER O QUE LEI ESTABELECE. E a lei estabelece que o Tesouro tem de fazer os devidos repasses para os bancos públicos que executam programas do governo. E a lei estabelece que determinados gastos só podem ser feitos com a anuência no Congresso. A presidente não ignorava a lei.
Assim, a sua comparação com o cinto de segurança é um despropósito. Antes, não havia lei que proibisse o motorista de andar sem cinto; no caso das pedaladas, não havia lei que permitisse aquela lambança.
Oposição O senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do PSDB, reagiu à patacoada com uma nota: “Após a condenação pelo TCU, a presidente continuou negando e, agora, ela admite que as manobras ocorreram, fazendo uma curiosa alusão ao cinto de segurança, que, além de ser necessário para enfrentar as manobras temerárias que o governo comete, nos faz pensar que é exatamente este o principal problema hoje da presidente da República: ninguém mais confia na sua condução do país”.
Ronaldo Caiado, senador (GO) pelo DEM, preferiu comentar, também em nota, a declaração da presidente sobre a possível volta da CPMF, associada à reforma da Previdência: “A revolta será tamanha que temo o quadro de desobediência civil, com até a invasão do Congresso. E creio que até os petistas irão votar pelo impeachment de Dilma se ela insistir nessa tese. A população está revoltada e não admite mais impostos. O desemprego e a inflação são causados por erros do governo. Não foi a população que errou e gastou o que não tinha das contas públicas”.
Encerro A fala de Dilma, evidentemente, escarnece da inteligência alheia. Se vocês notaram, adere ao padrão de sempre do PT: admite-se o crime, mas ele é chamado de virtude.