Maternidade de SE que já deveria estar funcionando sequer saiu do chão
Mais um exemplo de desperdício do dinheiro público: uma maternidade em Aracaju que já deveria estar funcionando, mas sequer saiu do chão. Santa Maria é um bairro de Aracaju que tem nome de santa, mas está longe de ser o céu na terra. É só pensar em um problema, o Santa Maria tem. “A gente não tem posto de saúde, a iluminação aqui é horrível, à noite é escuro e segurança pra gente é complicado”, relata a dona de casa, Rosivania Santos.
Trinta e cinco mil pessoas enfrentam tudo isso. Dificuldades para quem vive no bairro e para quem ainda vai chegar. “Eu tinha que ir fazer o pré-natal, tomar as vacinas, nem isso eu tomei. As vacinas nada, tô aqui nas graças de Deus e seja o que Deus quiser”, diz a estudante Ana Márcia dos Santos.
Até o oitavo mês de gravidez, Ana Márcia não tinha feito o pré-natal, por falta de médico no posto. No final da gestação, a preocupação era uma só: “A maternidade, porque não tem como. Se tivesse uma maternidade aqui no Santa Maria, seria mais fácil, tudo seria mais fácil”.
Uma maternidade no bairro de Santa Maria facilitaria também a vida de Michele Barbosa, que espera o sétimo filho e tem medo de não achar vaga: “Não sei onde vou ter, porque nem vaga tem nas maternidades, é uma complicação danada”.
E pensar que a aflição das gestantes de Aracaju, especialmente as que moram nesse bairro, já poderia ter tido fim com uma obra que foi aguardada com muita ansiedade, mas ficou no meio do caminho. O que era para ser uma maternidade virou uma imensa área cercada por placas de zinco.
A cerca se espalha por um quarteirão inteiro e esconde o mato e algumas marcações no que restou do canteiro de obras da maternidade municipal. A construção começou em junho de 2015, na gestão do prefeito João Alves, do Democratas, que não conseguiu se reeleger. A obra deveria ficar pronta em um ano, mas o tempo passou e nada foi feito.
O valor do convênio entre o município de Aracaju e o ministério da Sáude passa de R$ 11 milhões. Pouco mais de R$ 1 milhão foi liberado, porque segundo o Ministério da Saúde, a liberação dos recursos só é feita com a comprovação do andamento da obra e menos de 8% estavam prontos na última vistoria.
O novo prefeito, Edvaldo Nogueira, do PCdoB, prometeu priorizar a continuidade dessa obra no primeiro ano de governo: “Nós vamos retomar aquelas obras para que a gente possa desafogar as maternidades de Aracaju e permitir que as mães que estão grávidas possam ter uma gravidez tranquila e um parto maravilhoso. Vamos fazer um estudo, ver em que pé está a obra, ver os recursos para que a gente possa começar”.
A maternidade municipal poderia fazer até 200 partos por mês. Era a saída para desafogar as duas maternidades públicas de Aracaju, que vivem lotadas.
Se a maternidade já estivesse pronta, Michele, que mora duas ruas atrás da obra parada, levaria três minutos de casa até lá. Ela vai precisar de muito mais tempo para tentar uma vaga na única maternidade que faz partos de médio e baixo riscos: “Não sei nem como é que vai ser, tô preocupada com o nascimento da minha bebê”.
O bebê da Ana Marcia deve nascer até nove de fevereiro. A futura mãe disse que conseguiu fazer um exame de sangue e tomar as vacinas recomendadas.
O Jornal Hoje procurou o ex-prefeito de Aracaju, João Alves. Em nota, a assessoria da gestão dele na Prefeitura disse que a empresa ganhadora da licitação desistiu da obra. Em nota, o Ministério da Saúde ressaltou que os recursos só são liberados depois que o gestor comprova o andamento da obra, que como se viu na reportagem, parou nos 8%. JORNAL HOJE